As manifestações em São Paulo conseguiram manter sua força e expandir suas articulações durante o período de férias. Quais são as perspectivas da volta às aulas? Por Passa Palavra
A luta contra o aumento em São Paulo está com tal intensidade que manter a publicação regular sobre seu cotidiano está difícil, isto porque estamos nos atos, nas reuniões, nas atividades. Semana passada foi bastante ativa e as próximas prometem ser mais.
No dia 2 de fevereiro os manifestantes conseguiram forçar os vereadores a chamar o secretário de Transportes, Marcelo Branco, para uma audiência pública no sábado, dia 12, às 9h, na Câmara dos Vereadores. Naturalmente, o Poder Público tentará tornar esta audiência o mais esvaziada possível politicamente, o que ficou evidente pela tentativa do presidente da Câmara de propor que fosse no dia 26 de fevereiro no auditório do Anhembi. O Movimento Passe Livre (MPL) e boa parte dos grupos envolvidos na luta contra o aumento sabem da importância que tem este canal de escuta aberto pelo Poder Público. Porém, têm a consciência de que isto só foi conquistado pela ação direta e é com ela que se conseguirá reverter aquele aumento.
Na quinta-feira, dia 03, mais de três mil pessoas participaram no quarto grande ato contra o aumento, caminhando da Av. Paulista até à Prefeitura, parando a Consolação, apesar da chuva que castigou a cidade até às 17 horas. Neste ato o batuque cresceu, graças ao apoio da bateria da Pedagogia da Universidade de São Paulo (USP). Porém, pareceu claro que os manifestantes, que já estão há um mês mobilizados, necessitam fazer ações mais ousadas do que as tomadas de ruas. No dia 10, às 17 horas, a concentração será novamente no Teatro Municipal, local tradicional das manifestações contra o aumento. É fundamental que as pessoas se apropriem do ato, levando suas intervenções, faixas contra o aumento e baterias.
Como já virou padrão nas cidades brasileiras, o aumento da tarifa em São Paulo ocorreu durante as férias escolares, com o intuito de desmobilizar os estudantes, que costumam ser os protagonistas na resistência a esta política. Porém, este ano a tática não deu certo. Durante todo o mês de janeiro milhares de pessoas foram para as ruas contra o aumento da passagem. Os manifestantes conseguiram manter uma intensa mobilização até o retorno das aulas das escolas secundaristas, e a perspectiva de volta ao trabalho em escolas, já comentada por nós em artigos anteriores, nunca se mostrou de forma tão clara.
Evidência disto são os atos locais que começam a ser organizados pela cidade. Nesta quarta-feira ocorre o primeiro, organizado por grêmios, a partir das 14 horas no Largo da Batata. Na semana seguinte podemos vislumbrar uma ampliação ainda maior desta luta: o SindSaúde está chamando um ato para o dia 14, na quarta-feira, dia 16, os grêmios prometem um novo ato, no dia 17 haverá o ato no centro e no dia 18 diversas entidades comunitárias vão fazer um ato às 17 horas no terminal Grajaú. A luta parece espalhar-se pela cidade, fruto do trabalho de base do MPL e da articulação com diversos setores contrários a este aumento.
Podemos perceber uma maior mobilização sindical contra o aumento. Os metroviários [funcionários do metro] e os ferroviários lançaram um fórum contra a privatização do transporte e o aumento das passagens, declarando seu apoio às manifestações já existentes e se posicionando contra o aumento previsto para domingo do trem [comboio] e do metrô (de R$2,65 para R$2,90). A disposição destes sindicatos é lutar junto aos usuários [utentes] por outro modelo de transporte em São Paulo. Também a APEOESP (sindicato dos professores do estado) sinaliza um apoio mais ativo à luta. Mesmo que o número de manifestantes não tenha crescido neste último ato, parece que as mobilizações continuam a se ampliar.
Fotos: Luiza Mandetta e Gabriel Prado