Os trabalhadores da cultura que estão há cinco dias ocupando a sede da Funarte foram ao encontro de uma ocupação de sem-teto localizada na mesma rua do centro (Alameda Nothmann) e que tinha ação de despejo marcada para hoje. Por Passa Palavra
Nesta manhã de 29 de julho, uma ação inusitada aconteceu em São Paulo. Os trabalhadores da cultura que estão há cinco dias ocupando a sede da Funarte foram ao encontro de uma ocupação de sem-teto localizada na mesma rua do centro (Alameda Nothmann) e que tinha ação de despejo marcada para hoje. O movimento dos artistas deliberou ontem à noite em assembleia que enviaria um grupo representante para solidarizar-se às cerca de 40 famílias que há nove meses ocupavam um prédio particular abandonado da região.
O grupo de aproximadamente 50 pessoas chegou ao local por volta das 7 horas, com batuques e palavras de ordem. Metade das famílias, amendrontadas com a ameaça da ação policial, já havia se retirado do prédio, mas as outras, sem ter para onde ir, estavam decididas a resistir. Enquanto aguardava-se uma resposta da Prefeitura e as medidas pelas quais os advogados dos sem-teto procuravam reverter a decisão judicial, o grupo de apoio se dividiu: uma parte entrou no prédio e outra engrossava a vigília do lado de fora.
Houve um tumulto quando moradores e apoiadores que estavam fora do prédio tentavam passar alimentos através de uma corda improvisada para os ocupantes que estavam dentro do prédio. Dito, advogado dos sem-teto, foi violentamente imobilizado pelos policiais quando entregava um pacote de pão às famílias resistentes. Acusado de desacato à autoridade, ele foi levado ao 77º Distrito Policial; estava ferido e iria ser encaminhado para o IML para fazer o exame de corpo de delito.
Jefferson e sua esposa Maria dos Anjos moravam no prédio desde o início da ocupação, há nove meses, que foi acontecendo de forma espontânea. Disseram que encontraram o local completamente abandonado e lamentavam-se de que, após tanto esforço, estavam sendo colocados para fora.
Por volta das 9h30, com a chegada do Corpo de Bombeiros e reforço policial, as famílias que resistiam começaram a desocupar o prédio. Logo após, com a ajuda de Juliana Avanci, também advogada dos moradores, eles começavam a reorganizar o realocamento das famílias. Havia uma grande preocupação em saber o que fazer com os poucos pertences das famílias e especial cuidado com o destino das crianças. Mesmo sem ter para onde ir, a maioria das famílias não estava disposta a seguir para os abrigos, única alternativa concreta apresentada pela Prefeitura.
Um dos ocupantes da Funarte que esteve dentro do prédio contou que, internamente, o clima era tenso, pois algumas famílias acreditavam mesmo que a liminar que autorizou a reintegração de posse pudesse ser revertida. Além disso, Juliana Avanci acrescentou que a liminar pegou os moradores de surpresa, tendo sido avisada apenas na semana passada. Para a advogada, nem mesmo se pode falar em reintegração de posse, uma vez que o proprietário que abandonou o imóvel não conseguiu caracterizar a posse do prédio.
Curiosamente, todos os membros da ocupação da Funarte que estiveram no prédio foram abordados pelos policiais e tiveram seus RGs anotados.
De volta às instalações da Funarte, os ocupantes fizeram um balanço da ação procurando integrar esta experiência ao próprio processo de luta que eles estão travando.
5º dia da ocupação
Hoje a ocupação do Movimento dos Trabalhadores da Cultura completa 5 dias. Internamente, o espaço parece estar bem limpo e organizado. As comissões discutem seus temas separadamente, mas todas as grandes decisões são submetidas à apreciação da assembleia.
Ontem, os ocupantes, entre outras coisas, discutiram em assembleia uma resposta à carta pública de Antônio Grassi, em que o Presidente da Fundação Nacional da Arte critica os métodos do movimento. Chegou a haver pequenos problemas na portaria da ocupação, quando a movimento recebeu a ingrata visita de uma pessoa infiltrada que, segundo acreditam, repassava informação para policiais do lado de fora. Resolvida a confusão, a noite da ocupação foi preenchida por diversas atividades. Após o debate público com Gilmar Mauro, militante do MST, aconteceram apresentações de Maracatú e um sarau com a presença do Sarau do Binho, coletivo de cultura da zona sul de São Paulo.
Para esta noite está sendo marcado um bate-papo ampliado com Cesar Vieira, do Teatro Popular União e Olho Vivo, e Alexandre Mate, professor da Unesp.
Leia aqui e aqui os relatos anteriores sobre a ocupação da Funarte.
Fotografias: Passa Palavra
Venho parabenizar o portal Passa Palavra pela cobertura e compromisso militante com as lutas sociais, além da sensibilidade em relatar os acontecimentos do despejos das famílias na Alameda Nothmann e o Movimento dos Trabalhadores da Cultura!
Abraços
Sandro B.O.
Força para a ocupação da FUNARTE.
Em conjunto é muito importante ocuparmos outros espaços do MinC.
Entendo que o site do MinC é um espaço que deve ser imediatamente ocupado.
O site está sob censura. Tentei postar mensagens de apoio à ocupação e eles simplesmente não postam as mensagens.
O site do MinC que é um espaço público que a Ana de Hollanda e sua turma estão tentando transformar num veículo de propaganda.
O DIÁLOGO SE TRANSFORMA EM EXIGÊNCIA OU…
DE TANTO TOMAR CAFÉ, PERDEMOS A PACIÊNCIA !!
29 de Julho
Primeira carta aberta produzida pelo Movimento dos Trabalhadores da Cultura como esclarecimento à sociedade e aos representantes do Estado sobre a ocupação da sede paulistana da FUNARTE
O Movimento dos Trabalhadores da Cultura vem sendo acusado pelo governo de antidemocrático e de se negar ao diálogo com as esferas representativas do poder público federal. Este breve histórico pretende esclarecer a sociedade sobre a falsidade destas acusações. É necessário compreender a história para compreender a luta.
Nos últimos nove anos, trabalhadores de teatro, organizados principalmente na forma de grupos, uniram-se nacionalmente para, entre outras coisas, discutir propostas de políticas públicas que se contrapusessem aos instrumentos de renúncia fiscal utilizados pelos governos.
Esses trabalhadores da cultura, na tentativa de diálogo, manifestaram sua recusa aos instrumentos de renúncia fiscal, já que eles reduzem a arte e a cultura a um negócio de marketing, desviando recursos públicos e a responsabilidade do Estado para as grandes corporações.
Os trabalhadores da cultura abriram diálogo constante com o governo, com o Ministério da Cultura e com o Poder Legislativo.
O governo anunciou a reforma da Lei Rouanet, tecnicamente a substituição do PRONAC pelo PROFIC, mais tarde conhecido como a nova lei da cultura ou PROCULTURA.
Em 27 de março de 2009, os trabalhadores da cultura ocuparam o prédio da FUNARTE para expor que a nova lei da cultura continuava sendo um instrumento de política pública com um único programa: de renúncia fiscal e (des)incentivo ao mercado. Buscando o diálogo, questionava-se: os senhores querem nos ouvir?
Ainda em 2009, formaram-se comissões mistas com representantes do governo e dos trabalhadores da cultura e, mais uma vez, apresentou-se a política de Estado defendida pela categoria organizada: criação de programas – e não um programa único – estabelecidos em leis – e não uma lei única – com orçamentos próprios, com regras claras e democráticas. Inúmeras reuniões foram feitas e o governo decidiu incluir, distorcendo, as propostas apresentadas pelos trabalhadores da cultura em sua reforma da lei de renúncia fiscal.
Em resumo, o texto apresentado pelo governo previa a criação de programas setoriais de arte estabelecidos em leis específicas. Mas o Prêmio Teatro Brasileiro, que seria apenas um exemplo disso, e que dependeria, portanto, de uma lei específica a ser encaminhada ao Congresso pelo governo, se reduz, no texto do Procultura, a uma idéia a ser regulamentada. Pelo Procultura, o regulamento pode ser via CNIC e o programa se equiparar a um edital dentro do Fundo Nacional de Cultura; ou ser um decreto de governo.
Por essas ‘pegadinhas’, acaba-se, na prática, com a idéia de um programa de Estado com orçamento próprio a ser aplicado por qualquer governo, de qualquer partido. Sem orçamento próprio e sem regras claras, tudo se reduz, novamente, à vontade e à ação do governo de plantão, sem qualquer garantia de cumprimento e continuidade.
Outro ponto importante nas negociações foi a defesa de um orçamento mínimo para o Fundo Nacional de Cultura, que não dependesse de cada governo. O máximo a que se chegou foi à equiparação da verba disponibilizada para a renúncia fiscal com a destinada ao Fundo;
Sem arredar pé quanto ao repúdio à renúncia fiscal e negando-se a qualquer tipo de diálogo sobre este tema, mas, sim, continuando o diálogo sobre a construção de uma política pública de Estado em contraposição a uma política mercantil de cultura, as conversas continuaram.
Em 2010 o movimento continuou seu debate com o governo.
A sociedade civil participou de inúmeras reuniões promovidas pelo Ministério da Cultura: as câmaras setoriais, os colegiados, etc. O governo apresentou o plano setorial que previa, entre outras coisas, a implementação do Prêmio Teatro Brasileiro.
Diálogo constante, trabalho constante para construção e efetivação das pautas do movimento. 2010 se passou, os editais prometidos pelo Ministério da Cultura (exemplo claro do que vem a ser uma ação de governo em detrimento a uma política de Estado), não foram lançados, isto é, foram transformados num Frankstein que junta setores e atividades diversas de Artes Cênicas num único balaio, um edital único e que, ainda por cima, se evaporou no ar, não existe mais, não passou de promessa ou lançamento irresponsável. Nenhuma explicação, nenhum respeito por parte do governo e seus representantes.
Em 2011 inicia-se o que foi prometido como continuidade: Dilma Roussef assume a presidência da República. Ana de Holanda assume o Ministério da Cultura.
Os grupos teatrais do País, com apoio de outras categorias artísticas, organizam em Osasco – SP, o Congresso Brasileiro de Teatro. Na tentativa de continuidade de diálogo foram recolocadas à Ministra e demais representantes do Ministério da Cultura as propostas já amplamente apresentadas e discutidas com a gestão anterior da pasta. A ministra publicamente disse que os artistas não precisam de tanto dinheiro para fazer arte e que apoiava nossa propostas.
O governo mantém as políticas públicas de incentivo ao mercado por intermédio da lei de renúncia fiscal, a lei Rouanet.
O Ministério da Cultura tem sua verba contingenciada, passando dos já insuportáveis 0,2% do orçamento da união para os inadmissíveis 0,06%.
Em julho de 2011, os trabalhadores da cultura perdem a paciência e ocupam novamente a FUNARTE exigindo o cumprimento de suas reivindicações históricas, contidas no manifesto É Hora de Perder a Paciência – disponível no site http://www.culturaja.com.
Que se diga, mais uma vez:
o que se defende é uma política pública de Estado, e não apenas de governo, estabelecida em leis com regras claras e democráticas, e com orçamentos próprios, o que obrigaria os governos, como Poder Executivo, a executá-las. O que se defende é uma abertura para programas e não um programa único como o incentivo fiscal. O que se defende são leis – a serem construídas no tempo – e não uma lei única como o Procultura. O Prêmio Teatro Brasileiro é um projeto de lei desta natureza e foi entregue ao governo para que ele o encaminhasse ao Congresso Nacional como UM exemplo disso, a ser seguido por outros, e não como um programa único de teatro. Mas o governo finge que não entende isso e não toma nenhuma providência para encaminhá-lo ao Legislativo;
o que se defende é um Fundo Nacional de Cultura, que não é programa mas um instrumento contábil para a ação dos governos, com orçamento e regras claras estabelecidas em leis; que seja administrado através de editais, que serão sempre refeitos e discutidos, tendo um caráter conjuntural, ao contrário dos programas acima, que têm caráter estrutural e estruturante, caráter de continuidade.
Frente à grandeza dessas propostas, o Presidente da Funarte vem oferecer Prêmio Myriam Muniz, Mambembão, liberação de recursos para pagar dívidas vencidas… E diz que isso é diálogo. Vamos falar sério?
O diálogo foi mantido durante anos, nossas pautas continuam sendo dinheiro público para a arte pública. Estão amplamente apresentadas em nosso manifesto, anteriormente divulgado, e claramente organizadas em nossas propostas de leis também apresentadas aos órgãos que compõem o governo.
Aos representantes do Estado exigimos impacientes que cumpram nossas exigências.
Nos últimos dias Zé Celso e sua Oficina Uzyna Uzona, contra os ocupantes da Funarte, também se entregaram de corpo e alma ao Côro do Pós-Rancor.
Não sem antes tentarem acabar com a ocupação dos trabalhadores da cultura, na base do “vamos gozar todos juntos bem longe da Funarte!”. Ao invés da violência da polícia, propuseram uma inovação tecnológica para os agentes repressivos do Estado: o “Despejo 2.0″, “Despejo Pós-Rancor”, em nome da Liberdade de Gozar Fora do Eixo do Estado – para que os mesmos continuem se lambuzando nas privadas verbas públicas do Pós-Estado.
Confiram o Libelo do Velho Antropofágico, absolutamente inovador na sua pós-caretice!!! Nesses quase 50 anos, nunca tínhamos ouvido o Zé Celso dizer essas tropicanalhices…Surpreendente!!!
“Libertemos a Cultura das suas Prisões
Ontem nós do Oficina Uzyna Uzona interrompemos nosso ensaio e fomos prestar solidariedade aos que ocuparam a Funarte com o objetivo de lutar pelo descontingenciamento da verba do Ministério da Cultura, do corte absurdo em dois terços de seu Orçamento.
Antes de sair para este encontro li o Manifesto do Movimento e fiquei chocado pela linguagem burocrática, “cover”, papagaiando a revolução árabe no CHEGA, no PERDER A PACIÊNCIA.
Um documento que seqüestra a Cultura num texto muito mal escrito, e a faz prisioneira da linguagem política de analfabetice acadêmica, cheia de ressentimento, “indignação”, “intimações”, “exigências”, etc..
Eu já estou há mais de 50 anos habituado com a linguagem de uma paródia da Esquerda que chamo de “a nível de”, ou “cuecona”, mas essa era uma esquerda democrática. Oficina e Arena eram amigos, trocavam suas divergências em forma de criação.
Como sou solidário a movimentos sociais que façam com que os que estão no Poder nos “representando” ajam não pelas razões de Estado, mas pela coisa concreta que nomeia seu Poder, a Cultura, fui para lá mesmo assim. Com desejo, acho que até por obrigação profissional e social, de transmitir nossas divergências em torno de um texto que parecia que não iria “bater”, e atingir nosso objetivo comum.
Nós do Oficina, por sincronia da história, estamos encenando nossa posição, diante das posições atuais que castram a Cultura, através da encenação do “Manifesto Urbano Antropófago” de Oswald de Andrade, encenado em forma de Macumba mesmo, mandinga, pra obter o que queremos dar ao mundo: o renascimento do Bixiga através de uma Praça da Paixão Cultural Urbana – que chamamos de “Anhangabaú da Feliz Cidade” – fruto de nossa luta com o Grupo Vídeo Financeiro SS. Silvio Santos, bicho humano adorável, depois de 30 anos de Guerra, nos propõe trocar seus Terrenos no entorno Tombado do Teatro Oficina, por terras da União, ou outros Poderes Públicos, para erguermos a Universidade Antropófaga, o Teatro de Estádio e o Reflorestamento do BIXIGA.
Expressamos culturalmente nosso desejo de Arte Pública através da Arte do Teatro e da Feitiçaria da Macumba.
Mas óbvio que comeremos e seremos comidos por outros Manifestos, Movimentos que visem o reconhecimento do Valor até Econômico específico do da Arte Teatral.
Fomos à ocupação, pois somos Posseiros há 50 anos do Teatro Oficina, temos uma algo em comum, mas não concordamos em assinar o Manifesto nos termos que os ocupantes da Funarte formularam.
Mas, vi o que nunca esperava ver: O prédio ocupado por artistas estava fechado com ferrolhos medievais. Pirei?!
Entrei na sala onde se realizava uma Assembleia, e no que anunciaram minha entrada na Sala, não pude deixar de perguntar: PORQUE OS PORTÕES ESTÃO FECHADOS? NÃO ENTENDI.
Numa ocupação dos SEM TETO ou do MST é normal que tomem-se medidas severas de segurança afinal são pessoas que vão morar nos lugares que tomam, sejam prédios ou acampamentos.
Mas numa “Ocupação de Cultura”, no processo que vivemos de democratização concreta da democracia formal, as portas desta ocupação têm de estar abertas às Multidões. Mesmo aos que nem fazem Arte ou produzem profissionalmente o “Cultivo Cultural”.
Se a Polícia comparecer nesta manifestação consentida pelo Estado, seria a oportunidade de ter o apoio dos seres terrenos da Polícia ao Movimento Cultural.
A Cultura fazemos para todos, de todas as classes, idades, para nós mesmos. É enorme a responsabilidade que temos nós artistas de produzir, na batucada cambiante de ritmos da Vida, a criação de Novos Valores Comuns que são Infraestrutura em que tudo se baseia.
Esta simbiose Cultura e criação da Vida é embaçada por Religiões, Ideologias, visões partidárias que querem monopolizar a Interpretação da vida.
E temos de produzir nossa obra, nossos frutos, a partir da própria árvore que é nosso Corpo de Bichos Humanos Iguais, em antropofagia, miscigenação, com nossos semelhantes.
Na Arte do Teatro por exemplo buscamos conhecer o mundo tanto Social como Cósmico em nosso corpo, e decobrimos quanto fomos colonizados quando descobrimos nossas pulsões vitais. Então vamos espatifando camadas e camadas de Meascaras, Couraças, com que a “Sociedade Colonizadora de Espetáculos” nos civilizou.
E fazemos isso sempre juntos onde buscamos o desenvolvimento máximo do nosso Potencial Individual e Coletivo. Nessas buscas criamos a energia, o combustível, o axé que devolve a nós todos colonizados, nossa percepção de termos Poder Humano de Liberdade e Criação para agirmos desconstruindo os velhos sistemas para nascerem novos.
Percebemos, fomos nós bichos humanos que criamos Estado, Corporações, Partidos, Religiões, Ciências, Economias, Sistemas, e que cabe, a partir de nós mesmos e de nossa Arte, intervir no que foi criado mas que agora no momento, empata, congestiona, enfarta, o movimento natural de procriação viva da natureza e das máquinas que nos servem. Enfim o belo verso de Marx: as forças de produção através dos mortais reunidos, mudam as relações que emperram o fluxo das pulsões vivas.
Chegando a Funarte como diretor de, não sei contar, entre 30 a 50 atuadores presentes na peça que ensaiávamos, pedi licença para dar nossa contribuição e apoio, no meio da Assembleia que rolava pois tínhamos que voltar ao Oficina pra ensaiar naquela noite. Expliquei: estreamos dia 16 de agosto, aniversário dos 50 anos do Teatro Oficina, e estamos atrasados porque estamos ensaiando há seis meses, em virtude dos cortes públicos na Área da Cultura, sem um tostão.
Tive a sorte de fazer uma ponta numa novela da Globo, e minha idenização pela Tortura ter chegado. Com esse capital, e algum dinheirinho que pinga na Casa de Produção do Oficina Uzyna Uzona, vou juntamente com todos que tem alguma coisa no Tyazo = Grupo de Teatro, compartilhando dinheiro, comida, cama, e buscando o dinheiro que precisamos pra podermos fazer a festa que queremos fazer dia 16.
O que nos move é que estamos apaixonados por nossa criação, ela nos inspira até a criar estratégias de sobrevivência.
Abrimos nossa intervenção na Ocupacãp Funarte, cantamos a Ciranda “Tupy or Not Tupy”, do falecido grande artista gênio popular Surubim Feliciano da Paixão, inspirada na resposta “Tupy” de Oswald à questão que a Arte do Teatro levantou para a espécie humana: Ser ou não Ser.
Apesar de alguns resmungarem “aqui não é lugar de festa mas de trabalho”, a Maioria aderiu e Cirandou.
Mas eu me atrevi a fazer comentários sobre o Manifesto dos Ocupantes, que havia lido, como uma forma crítica e democrática de conseguirmos nos juntar num texto mais eficaz tanto para o público como para o Poder conceder o que pretendemos: a reposição do dinheiro devido à área Cultural, decisivo neste momento em que o Brasil cresce e precisa do espírito Criador, inventivo, para atravessar os desafios das mudanças maravilhosas do Fim do Império Americano.
Mas quando eu disse que nós da Cultura não éramos “trabalhadores”, que vão à uma fabrica construir um carro e receber um salário mas sim “Cultivadores da Cultura”, o Tabu “Trabalhador” trouxe o inconsciente colonizado do Imaginário e do Repertório dos Gestos Clássicos do Trabalhador do século 19, dos Braços Cruzados ameaçadores dos Facistas Romanos, expelido por uma energia de bomba atômica recalcada de Ódio.
Estávamos sendo expulsos por discordarmos do Manifesto Xerox de velhas palavras, escrito sem capricho Cultural Específico.
Letícia Coura tentou puxar o “Samba do Teatro Brasileiro”, de Tião Graúna, Arroz e Flávio Rangel, mas começava nossa expulsão aos berros das “PALAVRAS DE ORDEM”.
Sons massacrantes nos fizeram sair em fila de 1, como na prisão dos estudantes da UNE em Ibiúna na ditadura militar.
Senti a Causa preciosa do Desbloqueio do Orçamento do Ministério da Cultura capturada por uma Máfia, de um dos “Hate Groups” que hoje são moda na agonia da velha Ordem Patriarcal do Capital.
A Ocupação é Autofágica. Não entra o Povo, nem a Mídia. Está restrita a um Grupo Comandado. Em vez de tocar a Funarte, fazer o Espaço Cultural funcionar como sonhamos, estudando inteligente e poeticamente estratégias eficazes, novas, que toquem os ouvidos com a sedução irresistível da Arte, vi um bando de Escoteiros Cabaços, mais preocupados com o revezamento na Cozinha que com a Cozinha Cultural do Brasil Hoje.
Neste isolamento anti-Antropofágico, repito Autofágico, cultuam a crença numa Ideologia de Almanaque que confunde a Luta da Esquerda em São Paulo, com os grupos de Skin Heads e a TFP. Estão tomados de uma fobia, d’uma Oficinofobia que não difere em nada da Homofobia. Acreditam numa verdade única que veio enlatada com as palavras “CHEGA”, “PERDEMOS PACIÊNCIA”, “ESTAMOS INDIGNADOS”. Como se alguém conseguisse a proeza de criar, na ansiedade, na indignação, no ódio, na perda da Pá-Ciência.
Estão, o que vi ontem, cultuando o Fundamentalista do Ódio. Atuam como uma Gangue que tomou o Movimento Cultural como refém, para no futuro virarem deputados e entrarem nas Gangues do Poder Público.
A Impressão que tive foi a pior possível mas boto fé, que alguns corpos-almas, que lá estavam, tenham percebido este Show de Ódio que a presença do OficinaUzynaUzona trouxe à tona e transmutem este Ódio em Amor à Vida, à Cultura, à Criação, à Diversidade.
Esta ocupação em nome da Cultura tem de abrir suas portas para todos, pois Cultura é desejo e necessidade de qualquer ser humano. E ouvir os que não estão de acordo com a forma de Ocupação. A Cultura faz parte da Biodiversidade. Sua maior inspiração é a Liberdade, a Arte de desejar contracenar com seus Contrários, sem “PALAVRAS DE ORDEM”.
É impossível um artista, um criador, que tem de inventar estratégia, valores, soluções, submeter-se às “PALAVRAS DE ORDEM” de consciências enlatadas.
O Movimento Social Cultural é Político em si, é Poder Humano, Livre, não serve á nenhuma Religião, Ideologia, Partido.
A Cultura não pode ser instrumentalizada pelo que chamam inconscientemente de “Consciência Política”.
Maiakowiski pra mim representa toda a luta da humanidade pela liberdade da Arte. Com seus versos provava, na Revolução Russa, que tinham o mesmo, ou mais valor, que as fábricas.
Em plena época do fracasso das religiões, ideologias, de todos os ismos, inclusive do capitalismo, temos a oportunidade extraordinária de ir ao encontro da ECONOMIA VERDE que, uma vez superados os Obstáculos dos Tabus Coloniais da era Industrial, chegará tão veloz quanto a Internet. Neste instante a Cultura é Ouro e existe contra ela um preconceito, percebi ontem, maior que o Racismo, a Homofobia. É preciso urgentemente que a partir de nossa criação lutemos para proclamar a Independência da Cultura, e o reconhecimento de seu Poder Incomensurável.
Escrevi nas eleições presidenciais um texto de apoio a Presidente Dilma Roussef, mesmo sentindo que na época ela como Caetano Veloso, não percebiam a importância no Governo Lula, do Ministério da Cultura potencializado em seu Orçamento pela primeira vez na História do Brasil e germinando uma Primavera Cultural para explodir no ano de 2011.
Sinto que nós, Artistas, podemos fazer ver à Presidente Dilma Roussef a importância do Orçamento do Ministério da Cultura, de que tanto nos orgulhamos na gestão Lula, Gil, Juca, para sua estratégia MARAVILHOSA DE ERRADICAÇÃO DA POBREZA NO BRASIL.
Sem criatividade, invenção, espírito científico e artístico, este objetivo não terá pulsão das multidões para acontecer.
O Entusiasmo do povo brasileiro pelo futebol, pelo carnaval, pela criação da cultura que produz é o PRÉ-SAL do FIM DA POBREZA DE CORPO E DE ESPÍRITO.
Desde 1968, foram os índios que nos ensinaram, a ocupação é uma forma de democracia direta legítima, sou inteiramente a favor, mas que não seja feita dentro de um cárcere.
Libertemos a Cultura das suas Prisões.
A dos Odiadores na Prisão Funarte.
A dos cofres do Ministério da Fazenda.
José Celso Martinez Corrêa
Sampã, 29 de julho de 2011”
Apoio do Movimento dos Trabalhadores da Cultura [ocupados na Funarte] contra o despejo de sem-tetos na Alameda Nothman.
Vídeo simples, mas com mensagem-denúncia contundente:
http://www.youtube.com/watch?v=GkEpAZjzczY&feature=mfu_in_order&list=UL
Mães de Maio perdem a paciência junto com os Trabalhadores da Cultura:
SALVE POVO DA CULTURA E DEMAIS INTERESSADOS!
As Mães de Maio vêm aqui somar força com os Trabalhadores da Cultura, ocupantes do prédio da Funarte. Contra a Arte Mercantilizada, para rico e inglês vê, tâmo junt@s até o fim com todas e todos vocês!
Num momento em que muitos ditos artistas se recusam a colocar o dedo nas feridas, nas questões da sociedade brasileira, nossa cara é a mesma de vocês, Guerreiros e Guerreiras,: que ousaram ocupar e resistir nas instalações dessa Fundação, enchendo de vida, calor e resistência toda sua tubulação, entre o patrocinador e a burocracia, entre o bidê e a privadaria.
Como diz um dos Guerreiros de nosso movimento, o poeta Armando Santos: “A arte vem do coração / A arte vem do homem para o homem / A arte não tem pátrias nem fronteiras, não tem dono! / A arte, felizmente! / Não tem chefe, ela tem que ser independente / ou será apenas e tão somente / Encenação de uma pobreza infeliz / E completamente incoerente”.
Sabemos que a Arte Mercantilizada, a Arte da Privada, não tem o menor interesse nas transformações! Pelo contrário, querem uma Vida Alienada. A Arte dos Banqueiros e de muitas Fundações não querem que os trabalhadores percam a paciência, mas que assistam com complacência o extermínio da maioria, do povo pobre e negro, morador de periferia.
Nós Mães de Maio, pelo contrário, seguimos de mãos dadas com todos os revoltados, prontas pra somar e fortalecer juntas ao Artistas Levantados, por uma Arte Comprometida com um Viver Compartilhado: Verdade, Justiça e Liberdade para todos os Explorados!
Estivemos ontem na ocupação; voltaremos hoje com nossa munição: nosso livro de Relatos, Análises e Poesias, feito nós por nós, Guerreir@s da Periferia.
Que essa Luta Comum contra os Ricos e seu Estado Privado, seja apenas o começo de um Longo Caminho a ser Trilhado!
Tâmo junto e misturado!
MÃES DE MAIO CONTRA O TERRORISMO DO ESTADO