Por Passa Palavra
Ocorre que já estão há mais de um ano e meio no Brasil, 57 deles em Mogi das Cruzes (São Paulo) e os demais no Rio Grande do Sul e Florianópolis. Já ao chegarem no país, foram pulverizados (intencionalmente?) entre três estados, sendo que no Rio Grande do Sul uma refugiada encontra-se sozinha numa cidade e outras famílias espalhadas nas cidades ao redor de Porto Alegre. Em Mogi das Cruzes os refugiados foram assentados em casas alugadas espalhadas em bairros muito distantes uns dos outros. Segundo relatam, no começo, quando nada sabiam falar em Português, saíam caminhando à deriva em direção ao centro da cidade, e acabavam se encontrando na rua. Houve caso de um refugiado que no início foi provisoriamente assentado em um asilo, onde sofreu maus-tratos (o impediam de sair), fugiu e passou uma noite ao relento em seguida.
Recebem, oficialmente, auxílio do ACNUR (um repasse de cerca de 300 dólares, dados através da Cáritas Diocesana, mas dos quais até hoje só chega uma parte diretamente nas mãos dos refugiados).
Se alojaram em casas alugadas, com dificuldades para pagar aluguel, e por muitos meses, devido a dificuldades linguísticas, não conseguiram encontrar empregos. Hoje, alguns já conseguiram montar pequenos negócios familiares (vender comida, lanhouse de garagem, pequeno lava-rápido, lojinha, etc), mas a renda proveniente destes não é suficiente para cobrir o aluguel e todos os custos de vida. Muitos continuam desempregados. As crianças e os jovens encontram dificuldades nas escolas públicas em que estudam – desde dificuldades de aprendizagem por razões de idioma até discriminações.
É claramente perceptível que há uma má-fé por parte das autoridades, organismos oficiais e políticos, que os receberam com todas as pompas possíveis, e depois os abandonaram à própria sorte. Igualmente é evidente o descaso do ACNUR e da Cáritas, que pouco fazem. Resultado: são algumas pessoas da população e movimentos sociais, além do importante papel do MOPAT (Movimento Palestina para Todos) a ajudá-los, ou ninguém os ajuda. Recentemente, brasileiros acompanharam algumas famílias para ajudá-las na inscrição para apartamentos de moradia popular. Quando a secretária das inscrições, que os atendeu de boa vontade, telefonou para a Cáritas diocesada para pedir orientações, foi mal-atendida e ouviu ainda dizerem que “os Palestinos dão muitos problemas”.
Atualmente, várias famílias de refugiados encontram-se acampadas na frente da sede do ACNUR, em Brasília, e têm feito vários protestos denunciando os maus-tratos, o descaso e abandono, e pedindo que sejam transferidos para outro país imediatamente. Foram retirados dali à força pela Polícia Federal, e acamparam em outro local, onde continuam dormindo no chão. Sofreram segunda tentativa de despejo, por mais de 20 viaturas e soldados com rifles (conferir matéria citada no final do artigo no Jornal O Rebate). O ACNUR exortava os vizinhos através de carta a não os ajudarem. Seu ato de protesto político pacífico foi tratado de forma criminalizadora. Os acampados resistem, alguns permanecem dias ao relento em frente ao ACNUR, sem que haja uma solução.
A imprensa local (Mogi das Cruzes) tem feito em geral um prolongado silêncio sobre a situação deles, e nas poucas vezes em que divulga alguma coisa, ainda os trata como “ingratos” que reclamariam a troco de nada. Quando alguns ativistas sociais e sindicais e coletivos fizeram eventos em apoio aos palestinos, a imprensa deturpou a primeira matéria e depois recusou-se a produzir mais matérias sobre os eventos, afirmando “serem tendenciosos” os temas tratados (como se pudesse haver abordagem neutra).
Cabe ainda relatar que militantes de certos partidos políticos à esquerda, que afirmavam ajudá-los quando eles chegaram, os deixaram depois relegados ao esquecimento, e quando inquiridos sobre suas condições de vida, balançam os ombros e se esquivam afirmando “eles estão muito bem, já abriram lojas, etc”. – talvez porque os palestinos não rendam votos.
No mês de setembro termina para alguns deles, e no mês de outubro termina para os demais, o repasse de verbas do ACNUR (de 2 anos). Os refugiados revelam sentir medo em relação ao futuro, e vários afirmam que sem esse dinheiro não conseguiriam pagar os caros aluguéis e que seus rendimentos não são suficientes para cobrir as despesas familiares. Um dos refugiados, que possui vários filhos, necessita de tratamentos médicos para a asma de seu filho pequeno, bem como cobertores, mas não tem condições de adquirir tais coisas por falta de dinheiro.
Torna-se necessário aos trabalhadores brasileiros e movimentos sociais que se organizem urgentemente em apoio aos trabalhadores palestinos refugiados. Depois da tragédia que se abateu sobre suas vidas pelo genocídio praticado por Israel contra o povo palestino e recusa dos próprios países árabes em recebê-los, e sua fuga do refúgio do Iraque, após a invasão americana, esperavam que pelo menos aqui no Brasil tivessem todas as condições para reconstruírem suas vidas.
Toda solidariedade aos trabalhadores palestinos refugiados no Brasil!
Para saber mais, acesse:
MOPAT
http://www.palestinalivre.org/
Liberdade Palestina
http://liberdadepalestina.blogspot.com/
Acampados do ACNUR http://acampadosnoacnur.blogspot.com/
Artigo no O Rebate (onde há notícia sobre os acampados do ACNUR e as tentativas de despejo) http://www.jornalorebate.com.br/site/index.php/index.php?option=com_content&task=view&id=3723&Itemid=42
Ola Gostei muito o artigo. Gostaria de saber como esta a situacao deles hoje?