Há alguns meses, uma articulação entre a Associação em Defesa da Moradia do Recanto Cocaia, o Fórum Popular da Saúde, a Rede Extremo Sul, bem como algumas lideranças comunitárias e membros de conselhos gestores ligados à saúde, no extremo sul de São Paulo, deu origem a um conjunto de lutas e outros processos organizativos em torno da questão da saúde.
De saída, buscamos levantar e denunciar os principais problemas do atendimento público de saúde em alguns bairros de nossa região, por meio de vídeos e pequenos protestos em frente de UBSs (os postos de saúde). Neles, os usuários dos postos encontraram lugar para compartilhar o sofrimento e a humilhação que são submetidos sempre que precisam de atendimento, mas também para exigir mudanças.
Em meio a esse processo, criamos um espaço permanente de discussão sobre o tema da saúde, e de planejamento e avaliação das lutas. Trata-se de uma reunião mensal, que ocorre todo 2º sábado de cada mês, a partir das 10h da manhã, na Associação em Defesa da Moradia do Recanto Cocaia. Nessas reuniões, todos e todas podemos participar aberta e ativamente, sem sofrer pressão da burocracia estatal, e nem de quem quer que seja. Com isso, a gente pretende apontar para um caminho no qual se construa um controle popular das estruturas de saúde, que não seja o domínio dos “especialistas” ou dos “iluminados”, e nem dos “profissionais da política” que falam em nome do povo, mas sim um controle que só vai existir quando for exercido pelo grosso das pessoas que utilizam o sistema de saúde, em pé de igualdade, e com base no respeito e no compromisso com a organização popular.
Também organizamos um ato no Terminal Grajaú, no sentido de denunciar mais amplamente a degradação do sistema público de saúde, e o fato de que, cada vez mais, as nossas doenças e a precariedade dos postos, dos pronto-socorros, dos hospitais são grandes fontes de lucro para umas poucas empresas que privatizaram a saúde, em meio a imensos processos de corrupção e favorecimentos envolvendo políticos corruptos.
Se com a gestão pública a coisa já era terrível, se o sistema de saúde já era uma fonte de corrupção e desvios de verba, se já era uma mina de ouro para fornecedores de materiais e equipamentos superfaturados, se aqui e ali já era usado como cabide de empregos, e se a população já não tinha voz ativa e controle sobre o que acontecia, com a privatização tudo isso piorou.
Contra essa quadro, e exigindo o cumprimento das promessas feitas pelo governo em relação à melhora no atendimento e à construção de novas UBSs, realizamos também um acorrentamento na Subprefeitura da Capela do Socorro.
Sabemos que esse é um comecinho de caminhada, que com o tempo vai aproximar mais companheiros e companheiras, e vai ganhar novos contornos. Também aqui, em relação ao atendimento de saúde, vimos mais uma vez que é possível lutar, e que as lutas podem trazer conquistas e melhorias reais para nossa região. Que outros focos de resistência e de luta se espalhem pela cidade, para que possamos deixar de ser considerados meros números em metas de produtividade, para benefício de meia dúzia de endinheirados.
Fórum Popular de Saúde e Rede Extremo Sul