Por Comitê de Apoio e Solidariedade ao Acampamento Pedro Nascimento
“Estávamos em uma atividade no centro e algumas pessoas do acampamento começaram a nos ligar, dizendo que a polícia estava rondando o acampamento, perguntando onde estava o pastor Lindomar” — devido à insistência das ligações, resolveram voltar ao acampamento. Quando lá chegaram “parecia que os policiais brotavam do chão” e, sem motivo aparente ou qualquer documentação, invadiram a casa de um dos acampados e começaram uma busca. Eram cerca de 20 policiais, entre fardados e à paisana, divididos em 3 viaturas e 2 carros civis.
Para mais informações sobre o início da ocupação consulte aqui e aqui.
“Foram muito agressivos, rasgaram uma lona e já pularam para dentro de uma barraca”. Enquanto alguns fizeram uma busca minuciosa, à procura de não se sabe o quê, outros tentavam intimidar: “rapaz, saia daqui, hoje viemos avisar, porque quando acontecer a reintegração nós vamos voltar aqui e arrebentar tudo, botar fogo no seu barraco e levar você preso”. Quando o morador tentou argumentar que estava ali porque precisa, começaram as agressões — tapas e socos no rosto, chutes, estrangulamento. A irmã de um dos que estavam sendo agredidos tentou perguntar o porquê de estarem fazendo isso e um dos policiais a mandou ir embora, dizendo uma infinidade de palavrões. Porém, quando ela disse que ligaria para advogados, outro a puxou pelos cabelos e a enforcando começou a bater sua cabeça contra a parede. Outra mulher teve os dedos esmagados com tanta força por um policial que isto lhe causou lesões musculares e nervosas. As agressões continuavam com vigor e “procuraram água por todo canto” com a finalidade de realizar algumas sessões de tortura por afogamento, que não deixam marcas visíveis; “ainda bem que não tinha, pois senão tinha sido muito pior”, disse uma das moradoras.
Quando soube que os policiais que estavam fazendo a busca não encontraram nada, o comandante da operação disse: “Não se preocupe, tenho uma coisa ali no carro”. E voltou com um pacote de algo que parecia ser droga, dizendo: “Rapaz, vou levar sua irmã e sua mulher presas, mas por sua causa, viu? Por sua causa, fique ciente disto.” Jogaram as mulheres algemadas no fundo da viatura e ainda as deixaram por horas debaixo do sol escaldante de Goiânia em um posto de gasolina próximo a um shopping da cidade, sendo que as pessoas presas não tinham oferecido qualquer resistência à prisão.
Na delegacia, depois de algumas horas de espera pela presença do delegado, estranhamente as pessoas foram liberadas sem que precisassem de qualquer auxílio jurídico de advogados e sem lavrarem qualquer tipo de ocorrência. Depois disso, quando o marido de uma das detidas disse “queria abrir queixa agora contra as agressões, a prisão ilegal e terem implantado drogas neles”, os policiais riram e disseram que era melhor ele ficar quieto e ir embora.
Frente a esta situação completamente ilegal, onde superficialmente constatamos irregularidades como abordagem de policiais do sexo masculino sobre mulheres, agressão, invasão de domicílio e ameaças, só podemos constatar que aqueles policiais foram ali a mando dos empresários e políticos que estão por trás da Sociedade Habitacional Norte, proprietária da área. Porém, a despeito das agressões e das intimidações, os moradores não se calam e hoje mesmo farão denúncia junto ao Ministério Público e Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa.
Porém, sabemos que a ida a estes órgãos públicos não garante absolutamente nada na atual situação política de Goiás e, portanto, solicitamos a todos os coletivos e militantes da causa social e de direitos humanos que ajudem na ampla divulgação dos abusos e iniquidades que estão ocorrendo por aqui.
Toda solidariedade ao acampamento Pedro Nascimento [*], pela moradia!
Nota
[*] Pedro Nascimento foi um dos companheiros assassinados pela PM de Goiás quando da operação de reintegração de posse da Ocupação “Sonho Real”, em 2005, no Parque Oeste Industrial, Goiânia.
Os ricos e poderosos querem continuar com a violência. Os ricos e poderosos querem continuar com o caixa 2 (corrupção). Eles se alimentam disso. Isso está na lógica do sistema corrupto que eles defendem. Um sistema que acredita que o tal “crescimento econômico” é mais importante que vidas, é mais importante que pessoas, é mais importante que morar,é mais importante que trabalhar, é mais importante que conviver, é mais imporante que as crianças e os rios.
Quem vai punir violência? Quem vai conter a violência? Cadê a liberdade conquistada? Cadê a democracia deste país?
Existe um Estado? Existe um país?
Ontem, o Major Bastos do 13º Batalhão da PM da região Noroeste de Goiânia afirmou que só foram ao local pois receberam uma denúncia anônima de tráfico, e que, pasmem, era verdadeira segundo a versão dele!
Indagado sobre a liberação das pessoas sem registro algum, o Major Bastos disse que isso ocorreu por conta da greve da Polícia Civil, mas que as pessoas detidas naquele dia responderão a inquérito sobre a acusãção de tráfico!
O que o Major disse é uma das coisas que eles sempre fazem para tentar criminalizar os movimentos sociais. O próprio artigo diz que no local não tinha droga nenhuma, e sim no carro da PM. Temos testemunhas!
Ainda não sabemos se já existe tal inquérito ou não, agora precisamos é unir nossas forças e denunciar estes caras!
O que ocorreu sábado é um absurdo! Não podemos ficar calados e deixá-los fazer o que quiserem.
Lutar pela moradia não é crime e estamos juntos nesta luta!