O meu amigo Eduardo era dono de uma loja de livros em segunda mão em Belo Horizonte, a melhor da cidade. O Eduardo tinha um site, também vendia on line. Mas para ele os livros deviam ser uma descoberta e as livrarias, lugares onde se ia. Pela internet compra-se algo que já se sabe o que é, o que o professor mandou ou o amigo recomendou. Mas percorrendo as estantes descobrem-se títulos de que nunca ouvíramos falar, folheia-se a obra, relega-se com um gesto de tédio ou abrimos os olhos de espanto perante uma página que nos ameaça com os perigos de uma ideia nova. Somos dessa época, o Eduardo e eu, de uma época morta e enterrada, em que os livros eram uma coisa séria. Conversei com ele tanto quanto lhe comprei livros. Ele é cristão e conservador e, sabendo que eu sou o contrário, gostava de conversar comigo, porque ele gosta do diferente. Falámos muito, ele oferecia-me café doce e fumava cigarros de palha. Os livros que o Eduardo me vendeu estão nas minhas estantes, dezenas deles. As ideias que me deu estão na minha cabeça. A livraria teve de fechar. João Bernardo
Eram dois e nenhum deles se chamava Eduardo. Ambos, meus amigos, diferentes entre si – e de mim! Um deles, jornalista e professor universitário, era místico e votava à esquerda… O outro, fez carreira na burocracia, era católico relapso e conservador em política.
Resumindo: estão mortos. Sinto enorme a falta de cada um deles…