Por Thrasybulus

Esta tradução nos foi gentilmente enviada pelo leitor Orlando Lima Pimentel. Seria oportuno que os leitores, caso se sintam contagiados pela iniciativa, nos enviem os textos (inéditos) que após analisados serão publicados o mais brevemente possível.

A ala de extrema-direita do partido Aurora Dourada tem conquistado mais atenção da mídia recentemente. Houve significtivas reportagens sobre Aurora Dourada da BBC e de The Guardian. Estas reportagens são úteis, mas os problemas na Grécia não são apenas provenientes do Aurora Dourada. Não esqueçamos do papel do Estado oficial grego na perseguição daqueles que são considerados estrangeiros.

O Estado grego está continuando sua política de batidas políciais e de deportação de não-gregos. A Operação Xenios Zeus continua e tem se expandido para diferentes partes da Grécia. Essa Operação começou em Agosto com a redistribuição massiva de policiais para o centro de Atenas. O que se seguiu foram milhares de prisões e o assédio à população não-grega. O número de pessoas interrogadas chegou a mais de 40.000 com alguns milhares de presos. Às vezes, centenas chegaram a ser presos em um único dia, como as 487 prisões relatadas só no fim de semana de 27 de outubro.

A ideia é deportar o máximo de pessoas possível via campos de detenção especiais, que estão sendo organizados em vários lugares do país. Tornou-se comum ver estas operações policiais em progresso no centro de Atenas. Policiais frequentemente descem a uma área largamente povoada por não-gregos e começam a questionar e deter aqueles com quem se depararem. Por vezes vans [furgonetas] policiais e ônibus [autocarros] cheios de pessoas que foram pegas [apanhadas] nessas operações alinham-se nas ruas. Ruas e praças uma vez agitadas e ocupadas podem agora se sentirem quietas e vazias.

Operações similares a essa foram iniciadas depois do período de eleições em Maio e Junho e intensificadas antes do estabelecimento do atual governo de coalizão. Esse governo é encabeçado pela Nova Democracia, cujo líder, Antonis Samaras, rotulava imigrantes como os “tiranos da sociedade Grega” em sua campanha eleitoral. O “problema” da imigração recebeu muita cobertura durante as eleições e era, às vezes, visto como sendo tão importante quanto o colapso econômico.

Com delegacias [esquadras] e prisões gregas já cheias, os detidos estão sendo mantidos em campos especiais. Em toda a Grécia mais de 50 destes campos estão sendo construídos. Os campos são ou recém-construídos ou convertidos de usos anteriores. A rede dos campos cobre uma ampla área da Grécia e será expandida em outras áreas.

Anteriores instalações de detenção gregas foram criticadas por grupos de direitos humanos. Uma reportagem do ano passado da Human Rights Watch declarou:

“As instituições de detenção onde eles [imigrantes detidos] eram mantidos não seguiam padrões mínimos de direitos humanos. Apesar de seu tratamento variar de lugar para lugar, o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem (TEDH) considerou que a detenção de migrantes na Grécia, em geral, constitui tratamento ‘desumano e degradante’ ”

Enquanto você poderia achar que a extrema-direita estaria feliz de que suas políticas de deportação de não-gregos pudessem estar sendo levadas a cabo e moradores locais pudessem estar protestando contra os campos de concentração, para a extrema-direita manter as pessoas nos campos tem sido muito tranquilo e houve queixas de que os campos foram construídos em propriedades ou da polícia ou dos militares.

Ao mesmo tempo que o Estado ataca a população imigrante de dentro da Grécia, também procura impedir qualquer nova chegada. Um muro ao longo do rio Evros, que demarca as bordas com a Turquia, está em fase de conclusão. Uma vez completo, o muro de 3 metros de altura percorrerá a distância de 12,5 km. Unidades fronteiriças têm sido previamente deslocadas para a área e houve repressão daqueles que tentaram entrar para a Grécia neste ponto nos últimos meses. Estas medidas fecharam muito essa entrada da Grécia.

Com o fechamento das fronteiras terrestres, muitas pessoas estão tentando atravessar para a Grécia via as Ilhas do Mar Egeu. Isso incluiu recentemente um numeroso grupo de pessoas que estavam fugindo da guerra civil na Síria. A resposta do Estado grego ao grande número de pessoas tentando escapar desesperadamente de uma crescente e cruel guerra civil tem sido organizar uma nova operação especial anti-imigração. A Operação Ione prevê mais campos de detenções construídos nas próprias ilhas gregas e forças concentradas no norte do Egeu. As travessias marítimas para a Grécia podem ser extremamente perigosas, como foi tragicamente demonstrado em Setembro, quando um barco afundou com a perda de dezenas de vidas.

Assim como os meios internacionais começaram a prestar mais atenção ao Aurora Dourada e aos fascistas itinerantes nas ruas, nós não deveríamos nos esquecer que isso é só um lado do ataque à população imigrante. Enquanto as gangues fascistas atacam e assassinam à noite, o Estado grego assedia, detém e deporta durante o dia. Batidas policiais, campos de detenção e deportações costumavam ser um sonho da extrema-direita. Agora isso é política oficial do Estado.

28 de outubro de 2012

Traduzido para o Passa Palavra por Orlando Lima Pimentel.
Publicado originariamente aqui.

3 COMENTÁRIOS

  1. Gostaria de ressaltar o quanto é interessante que leitores colaborem desta forma com o site. Assim pode-se ampliar a gama de assuntos, de um lado, e romper com o papel de leitor passivo, de outro.

  2. O artigo mostra o quão “patético” foi a entrevista do Chico de Oliveira no Roda Viva na qual o mesmo quando questionado sobre o avanço de ações de grupos fascistas na Grécia simplesmente responde que estas ações “não tendem a se alastrar”. Tal afirmação pode ser visto em http://www.youtube.com/watch?v=HOGGLZMPaq8, mais precisamente no minuto 59. Tanto tendem a se alastar como o próprio Estado assume tais ações para si…

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