Era época de greve e de ocupações estudantis. Eu e um companheiro, os dois participantes da primeira ocupação que foi criada para fortalecer a greve, havíamos sido escolhidos como delegados para uma assembleia no outro lado da cidade, em outra ocupação, e estávamos sem grana. Chegamos no motorista de ônibus, explicamos que íamos para um assembleia de greve e pedimos que nos deixasse entrar sem pagar no ônibus. Depois de alguma relutância, ele cedeu e travamos a conversar sobre greves, condições de trabalho e como ele confiava pouco nos colegas de trabalho e por isso não participava mais de greves. Aproximando do nosso destino, entrou no ônibus outro estudante que, sem falar nada, depois de muita hesitação, ameaçou passar debaixo da catraca. O motorista interpelou: “Quê que é cê tá fazendo, rapaz? Tem que pagar!” O estudante respondeu xingando o motorista e foi expulso do ônibus. Observamos calados, depois calados ficamos todos, e logo eu e o compa descemos do ônibus para a assembleia da outra ocupação, que tinha rachado da primeira por várias excelentes razões, sendo a qualidade dessas razões a única concordância a que conseguimos chegar. Passa Palavra