Um ama a tudo no escuro / Outro obedece na sala cheia. Por Arthur Moura Campos
Guardo um nome sujo
pra quando quero brincadeira
Um tanto gasto pelo uso
mas tão útil pela sujeira
Enlameio-o como um adulto
que num surto desnorteia
Intitula um jovem louco
que pede e rejeita a ceia
Guardo um nome sujo
pra quando quero brincadeira
Mas não é o meu único
tenho outro na carteira
Esse abraça o menor desejo
Aquele medita, pensa, receia
Um ama a tudo no escuro
Outro obedece na sala cheia
Guardo um nome sujo
pra quando quero brincadeira
Prefiro o que enferrujo
e prefiro o que é estrela
O que seria do brilho puro
sem a cara da sombra feia?
Pois o diamante que é duro
e o carvão quem incendeia
Guardo um nome sujo
pra quando quero brincadeira
Não lustre o que é imundo
nem lambuze o que asseia
Evite o nome confuso
Tenha uma só cadeira
Sempre algum no repouso
Sempre algum que passeia
Guardo um nome sujo
pra quando quero brincadeira
Meu tédio me deve muito
não nego nada que queira
Ilustração: quem será o autor desta fotografia? E da fotografia do destaque?
a verborragia é inimiga do razoamento, especialmente do dialético. É com a enxurrada de palavra que primeiro combatem ele. Hoje soma-se a isso a personalização dos usuários da internet, como um crachá que se deve usar ao entrar em uma biblioteca, ler um livro, acessar debates e participar neles. Deixa-se de estimar as palavras e a sintaxe para fiar-se em nomes e enunciadores.
Está bem que no contexto atual é muito importante também a capacidade de filtrar e buscar as informações de acordo com critérios que devem ser desenvolvidos pessoalmente (qual jornalista, qual meio de comunicação, como ler este jornal, etc). No entanto, ao exigir nomes próprios às idéias o que se consegue é valorizar a casca em detrimento da gema e da clara.