Desde 28 de Janeiro que a antiga clínica situada na Croix de Chavaux, em Montreuil [município da periferia na fronteira leste da cidade de Paris], vazia há anos, estava ocupada. Durante vários meses, este local possibilitou a uma vintena de pessoas um alojamento e, mais do que isso, organizarem-se perante os problemas de alojamento e as instituições sociais; e também projectarem filmes, organizarem refeitórios, rádios de rua em frente ao mercado, etc.
Foi expulsa em 8 de Julho às 6h da manhã por 200 policias [policiais], do RAID [polícia de choque] e seguranças privados. O bairro da Croix de Chavaux foi completamente esquadrinhado durante mais de duas horas.
Às 19 horas, juntámo-nos à entrada da rua pedonal [reservada aos pedestres], à volta de um refeitório de rua, para informar sobre a expulsão dessa manhã e para firmar que vamos continuar a ocupar a rua, aconteça o que acontecer. Distribuímos panfletos e tomámos a palavra. Vários carros de polícia vigiavam-nos a partir da praça. No fim do refeitório, os estoiros vindos da Clínica abrasaram o céu. Fomos para frente da Clínica gritar a nossa cólera, a nossa raiva de ver aquilo a que demos vida ser retomado pela bófia [policiais] e pelos seguranças, apenas com o objectivo de destruir.
Quando estávamos mesmo em frente, os polícias equiparam-se e carregaram violentamente. As pessoas começaram a correr para se protegerem. Foi então que eles atiraram com os flashball [1] à altura das cabeças.
Cinco pessoas foram feridas: ombro, clavícula e cabeça. Uma delas perdeu um olho.
Os polícias continuaram a perseguir as pessoas até à rua pedonal. Várias delas foram presas durante a tarde. Três pessoas estiveram presas na esquadra durante 48 horas. Duas delas sairam à espera de serem julgadas, a terceira foi entregue ao Ministério Público para julgamento. Como sempre, os polícias vão acusá-las para justificarem os seus actos.
Os tiros de flashball tinham a intenção de ferir, com o risco de mutilar ou de matar. Disparar vários tiros à queima-roupa à altura da cabeça não é um erro. À menor perturbação, as instruções são evidentes: esmagar. Não se pode dizer que a violência da polícia durante esta tarde foi um “erro ocasional”, ela inscreve-se numa tensão permanente: controlos de identidade, ameaças desde que veio a notificação da expulsão. A polícia faz o seu trabalho: no caso presente, defender uma propriedade privada no centro da cidade, evitar que haja barulho ou resistência na hora de uma expulsão, fazer com que nada aconteça.
Nós não queremos que a polícia expulse. Nós não queremos que a polícia atire contra as pessoas. Nós não queremos que isso aconteça e ninguém diga nada. Nós não queremos polícia nenhuma.
No domingo dia 12 de Julho, a partir das 15h, na praça do mercado da Croix de Chavaux:
Assembleia da Clínica-no-exílio
Manifestação segunda-feira 13 de Julho. Concentração na rua pedonal Croix de Chavaux, exactamente às 19h. PRIMEIRAS INFORMAÇÕES SOBRE A MANIF
Apareceram 500 pessoas, empunhando faixas. Ao fim de uma hora fomos atacados pelas costas pela polícia de Montreuil, à altura da Croix de Chavaux.
Na carga da polícia foram presas 11 pessoas. A seguir nós contra-atacámos, repelimos os policias e houve confrontos por toda a cidade.
A intenção da polícia e do Estado era clara: quebrar-nos, esmagar qualquer contestação com a repressão.
Nós não vamos deixar-nos levar. Vamos ocupar a rua, organizar-nos para nos protegermos. Vai ser dente-por-dente.
Para se informar do rumo dos acontecimentos, pode ir ao blogue da Clínica, aqui; e (o email) [email protected].
(Tradução Passa Palavra)
[1] A arma de balas defensivas (ABD, mais conhecida pelo nome de marca Flashball, é uma arma de mão subletal, isto é, concebida para ser menos letal do que as armas de fogo convencionais ou as armas de balas de borracha rígida. Destina-se principalmente a permitir às forças de polícia restabelecer a ordem no contexto de revoltas sem causar mortos.