Quem passeie pelas ruas de Lisboa com o nariz no ar aprecia um espectáculo curioso — as varandas. Originariamente concebidas para as pessoas se sentarem ao ar livre ou resguardadas da chuva pelas grandes vidraças, as varandas passaram a ser usadas na maioria dos casos como depósito de tralha que por um motivo ou outro não se quer deitar fora. E assim se exibem amontoados heteróclitos que permitiriam proceder à arqueologia da vida de cada cidadão. Mas, se a varanda já não serve para olhar a rua e para deixar a luz entrar, quem estiver dentro de casa condena-se a ficar às escuras ou pelo menos no lusco-fusco. Não tem importância nenhuma, porque ninguém olha para fora e sim para a televisão, e a penumbra realça as imagens. É esta a geografia da cidade, formada por células voltadas para dentro e que têm como horizonte único as programações do dia. Passa Palavra
ULISSÓPOLIS
Lisboetavarandadas mônadas mônicas autistas paranoides monturos heteróclitos retrocágados.