Os subversivos, por sua vez, / nada têm a esperar. / É nadar ou morrer. Por Poeta em Buenos Aires
Os subversivos
Não há de se encontrar
coletes salva-vidas
entre as estantes da biblioteca.
Você pode boiar e rezar
para que as rugas apareçam só no final.
Pode se ater às capas e títulos
nos quais se fia a juventude:
uma piscina rasa sem ralo.
Os subversivos, por sua vez,
nada têm a esperar.
É nadar ou morrer.
Envelhecem fora das raias
no mar aberto do livro
no nado do livre sentido
a sós até o nunca mais.
*
Rebelde sábio
Rebelde sábio escuta:
escuta. Rebelde sábio,
tu sabes criar, tu sabes,
tu lês e tu sabes.
Sê sábio, Rebelde,
cê sabe,
teu nome nunca será outro:
Rebelde.
*
Corinthians
Paulistano, Nordestino, você já leu as cartas
do apóstolo São Paulo?
Paulistano, Nordestino, já leu as cartas,
cartas sobre a morte e ressurreição?
Você nãos as leu.
Você ri e fala que sim…
Quem não as leu fui eu!
Paulistano, Nordestino, meu pai morreu em dia de final,
corinthians campeão.
Foi no dia em que sagrou o campeonato.
Faíscas mil e panos negros.
Paulistano, Nordestino,
uma partida bem jogada
quem é que joga?
Em toda partida de final
joga o corinthians,
para mim é sempre final,
já não entro mais
em padarias,
não fico perto de janelas.
Cada timão, cada corinthians…
Os céus explodem e os fogos vêm à terra,
aleluia, meu pai morreu!,
as massas às ruas, Salve o corinthians!,
meu pai morreu.
*
Max Beckmann, Os Acrobatas, 1939