Estampido advindo das armas, fumaça, mulheres desmaiando, pessoas desamparadas, sem rumo e com os rostos marcados pela dura vida. Tudo aquilo era para Teotônio a evidência de que ele mesmo era o messias. Por testemunha ocular Douglas Rodrigues Barros
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Junho de 2013
Na Praça da Sé, uma pequena multidão se aglomerava em torno de Teotônio. Era um dia maravilhoso, desses que apenas existem quando se é desprovido de qualquer afazer. O sol raiava sua luz luminosa, tão intensa que mesmo os restantes das flores penduradas sobre galho depenado não resistiam e se abriam fracas, jogando suas últimas pétalas ao chão: era quase inacreditável pensar que diante daquela Catedral e naquele dia existiam pessoas irritadas correndo para não se atrasar, mas… Deviam existir. Na brasa do concreto, coberto por um tumultuado pisar de todo tipo de pés, caminhavam no fluxo normal do cotidiano: policiais e ladrões, mendigos e ricos, loucos e sábios. Pensei numa frase de efeito para concluir o parágrafo e seguir minha lembrança sobre Teotônio, mas para quê? Do mais a mais, qualquer retórica é enfeite empolado. Bora ao que interessa.
– Amados irmãos é preciso reconhecer a verdade! – Gritava Teotônio com fervor – Jesus é o caminho… Sim, o caminho da verdade e da vida, está escrito, está na escritura… Temei irmãos! É chegado o grande dia, a fúria de Deus contra o pecador será feroz, não sobrará pedra sobre pedra! Aleluia! Glória a Deus!
– Glória a Deus! – Retrucou uma mulher fracamente, sem atinar para nada que acontecia ao redor.
– Não temamos o escárnio do maligno, cantemos um hino – Disse Teotônio e, abrindo sua harpa, começou a bradar – Ó quão cego andei e perdido vaguei….
Uns dispersavam e outros curiosos, sem romper com o trajeto, olhavam para Teotônio cantando a plenos pulmões. Os companheiros de nosso herói, da mesma igrejinha nos confins da Zona Leste, se juntavam ao coro desafinado e ardoroso:
– Converter-me não quis ao Senhor que por mim morreu na cruz!
Sentiam-se como que tomados por uma alegria reconfortante. No meio do concreto ainda era possível imaginar prados… O paraíso. Os homens de Deus não experimentavam nenhuma fadiga ante o exercício de levar a Palavra, postados na praça cantavam a plenos pulmões. Os transeuntes os olhavam, podia se dizer, até com amabilidade; respirava a pequena multidão uma espécie de alegria, dessas que surgem quando a música invade a alma.
De súbito, entretanto, se aproximou uma mulher descabelada, seu rosto era tão honesto quanto um livro de história empoeirado. Existia em sua aparição algo de muito comovente, difícil de exprimir, os olhos estampavam uma dessas alegrias que manifesta toda sua violência. Trazia neles um olhar altivo e sobre as bochechas marcas de uma beleza que se extinguira. Começou subitamente a dançar, seu balanço de corpo lembrava algo tão estranho quanto familiar…
– Um! Dois, Três e trá lá lá lalá lá! Trá lá lá lalá lá! Trá lá lá lalá lá! Trá lalalalala lá!
Os fiéis ao verem aquilo passaram a cantar mais alto:
– Foi na cruz, foi na cruz! – Enquanto a mulher sapateava com veemência.
Havia algo de difícil expressão em tudo aquilo; nos arredores da Praça da Sé quando a vida corrente se perfaz arrastando consigo toda alma em nome do tirânico trabalho, somente um raio de loucura nos obriga, sem mais, a ter conhecimento da loucura de todos. Com efeito, o inesperado espetáculo fez com que se ajuntassem mais curiosos; uma senhora de rosto macilento e corpo arredondado parou, seus olhos tristes e pensativos despertavam uma disparatada e inexplicável beleza; um mendigo de muletas carregando entre as mãos uma garrafa de aguardente parou; num canto, apoiada ao muro, estava uma mulher, parecia olhar com grande atenção para o inesperado, parecia não ver nada ao seu redor, a não ser o que ocorria distraída e pensativa. Mesmo os policiais, em sua viatura estacionada em frente a catedral, foram levados pela curiosidade. Num instante, todos estavam interessados pela cena. Todos juntavam-se ao tumulto provocado pela louca e pelos fieis de Cristo. O que será que acendia o riso e corava as faces daquele bando de mortos? Que terá então povoado os ares poluídos da praça de tão súbita beleza? Ao se encerrar o hino Teotônio então disse:
– Nosso Senhor amava os desvalidos e nós o seguimos nesse amor! Andava sempre com os mansos e humildes de coração, desprezava os orgulhosos e soberbos! – Ao contemplar a moça então perguntou – Filha qual o teu nome?
– Alexandra, irmão, sou A-l-e-x-a-n-d-r-a. Diva e cantora lírica indomável, mulher dos grandes teatros e palcos, da grande dança e beleza! – Disse estremecendo os lábios e corando o rosto e com um olhar, de repente, aflitivo concluiu – O senhor é Jesus?
– Não diga isso! Sou apenas um servo! Um trabalhador da obra de Cristo, apenas um humilde servidor da Palavra!
– Não, o senhor é Jesus, não me engane, é Jesus, sim! Esperei tanto te ver! Cruzei os palcos do mundo, estive em Roma e nunca senti o que sinto, veja… Não… Não sou louca, sei o que digo. Quando ainda era uma menina, minha mãe me disse que devia procurá-lo, mas me perverti pela glória… Glória e fama, hum! Esses dias, he-he-he! Dei de cara com a Glória e ela estava no bar da Rua das Flores, ali atrás, perto dos bombeiros. Bebia vodca, não tinha dentes e havia abandonado o marido por uma aventura, aliás para conhecer a Glória somente sendo aventureira, eu mesmo sou uma… Uma dessas aventureiras, até aqui fui… Me cansei, e depois a Glória era mó bagulhão, quero mesmo é a salvação! – Fez Alexandra ajoelhando-se ao que todos se puseram a gargalhar.
– Levanta daí, mulher! Vamos, se levante! Sou apenas um servo de Cristo e nada mais! Oxente, não sabe o que diz, talvez esteja tomada é por Satanás. Tua vida errante te consumiu, mas ainda é tempo de se arrepender, ainda é tempo de voltar atrás e sentir o esplendor de Cristo!
– É Jesus, sei que é… Vejo em teus olhos uma luz de Jesus, diz o que tenho de fazer! Pelo amor de Deus, diga ou canto um canto rebelde! – Do nada, a mulher começou a cantar maravilhosamente. Isso imediatamente pôs medo em todos, porque chegaram à conclusão que ela dizia uma meia verdade:
“Les tringles des sistres tintaient
avec un éclat métallique,
et sur cette étrange musique
les zingarellas se levaient” [1]
– Moça, não sou Jesus, não! Mas, deve se batizar em nome de Jesus e teus pecados serão perdoados e terá a vida eterna! – Bradava Teotônio querendo que a moça recuasse o canto que a todos deixava inebriado:
“Tambours de basque allaient leur train,
et les guitares forcenées
grinçaient sous des mains obstinées,
même chanson, même refrain,
même chanson, même refrain”.
– Jesus vai te perdoar, aceite o evangelho, se arrependa de teus pecados e será salva! – Teotônio levantava a cabeça para os céus porque a voz e timbre firme da moça fez com que naquele instante a Praça da Sé se convertesse num quadro de requinte e beleza. Firme como a rocha e célere como o vento.
“Tra la la la
tra la la la
tra la la la
tra la la la la la la la”.
De repente, como só aos loucos convém, Alexandra calou-se, respirou e concluiu:
– Ah! Jesus, quero para sempre te seguir!
– Glória a Deus! – Exclamou Teotônio e seguiu-se um murmurinho com as mesmas palavras.
Se fez um silêncio estranho, os companheiros de Teotônio notavam que pouco a pouco algo fazia corar as faces de seu amigo, se entreolhavam querendo fugir do embaraço. A perspectiva do pequeno espetáculo animava os espíritos, uma ordem estranha ecoava, via-se que Alexandra distinguia-se de todos os demais, provavelmente era uma atriz arruinada. Os mais humildes e esfarrapados sabiam que a normalidade se rompera, nos primeiros minutos não havia maneira de conseguir afastar uma espécie de mal-estar provocado pela música firmemente entoada. A verdade é que naquele instante o espetáculo visto era um milagre; milagre que, em todos os tempos, só pode nascer da heresia. Começaram assim a olhar Teotônio com ares de devoção, parecia que as pétalas róseas girando pelo chão, o canto profano encarnado na voz demoníaca, rompia os grilhões do tédio. Um silêncio fez-se pálido na face suada de Teotônio. Seus olhos eram fixos no nada, indicando que uma revelação o tomara.
No entanto, todo o silêncio esquisito que se seguiu da cena foi, subitamente, rompido por um estampido seco e alto.
Gritos de desespero e angústia tomaram a praça. Uma mulher foi atingida e caiu pelas dores causadas por estilhaços da bomba de efeito moral. Ambulantes corriam com meias e dvd’s piratas atados às costas, uns tropeçavam e caiam, perdiam o rumo e não sabiam para onde fugir. Mas, os esfomeados, agora companheiros de nosso herói, juntamente à cantora ainda esperavam por algo.
Ideias insólitas e um tanto disparatadas acorriam à cabeça de Teotônio:
“Tu és o filho de Deus, destinado a libertar Israel dos invasores?” – Ouvia uma voz emitida pelo seu privado juízo e lembrava-se da Escritura Sagrada.
“Tu, quem diz… Será que sou o filho do Homem? Sejamos fiéis a Deus… Sigamos o exemplo de Cristo…” – Nosso herói entrava num estado de excitação e lembrava-se de quando era criança:
“Fiz uma oração e minha mãe não mais sentiu aquela dor terrível… Agora me chamam de filho de Deus, e se for isso… Tudo faz sentido, sou o Messias!”
A estátua de Paulo impassível na praça da Sé, as flores caindo lentamente, centenas de pessoas correndo em imenso frenesi causado pela investida dos policiais. Estampido advindo das armas, fumaça, mulheres desmaiando, pessoas desamparadas, sem rumo e com os rostos marcados pela dura vida. Tudo aquilo era para Teotônio a evidência de que ele mesmo era o Messias. Naquele instante de pavor e loucura, Teotônio foi sagrado rei dos vagabundos.
– Mestre, que devemos fazer!
– Deixai tudo o que têm e segue-me!
Para a maioria que tinha ficado aos pés de Teotônio, porém, o convite feito pelo louco era a única coisa que tinham. Suas palavras messiânicas abrandaram os corações, que já não tendo o que perder, muito tinham a ganhar com a convicção. Eram mendigos e desempregados, trabalhadores escravos de seus empregos e domésticas, loucos e bêbados, putas e donas de casa. Os companheiros de Teotônio, que percebiam sua loucura, tentavam fazê-lo retroceder. No entanto, ao lhe encostarem as mãos para o levarem embora, pois a balburdia e correria passava e já chegava ao metrô, Teotônio exclamou:
– Não tocai em minhas vestes, deixai-me aqui com os meus irmãos e irmãs, digais lá em casa que começa hoje o meu ministério! – Com um olhar fora das órbitas, já poluído pela fumaça de gás lacrimogêneo, Teotônio bradou:
– Sigam-me! – Nesse instante, Teotônio deixou para trás sua vida de servo para ser o Rei da Sé.
Inacreditavelmente seus primeiros discípulos permaneciam calmos, como se nada ocorresse. Assim, certo de sua gloriosa presença, Teotônio fez com que todos os vagabundos o seguissem, a despeito de seus outrora companheiros e amigos de jornada evangelista. Saíram, pois, tranquilamente em caminhada e, numa curva da 15 de Novembro, se depararam com uma longa procissão a marchar indolentemente.
Na dianteira daquela procissão massiva seguiam mulheres e homens, uns mascarados, outros de preto. Havia bandeiras verde e amarela, pretas e vermelhas, caiam papeis picados dos prédios. Olhos desafiadores e risos tensos pareciam inclinar-se para o colosso que sempre ressurge com ventos favoráveis. Durante todo aquele espetáculo nosso herói olhava de tal modo, que logo se via que naquele entardecer seria posto a prova o seu ministério. Para Teotônio tudo era indício de sua entrada triunfal em Jerusalém. Todos estavam lá para atenderem seu chamado. Eram seus fiéis, faltavam-lhes somente os ramos e tudo estaria conforme as escrituras.
Alexandra ia a seu lado, os vagabundos o seguiam atrás e mesmo os cheiradores de cola largaram a sacolinha e iam junto com Teotônio à frente:
– Hoje saberão que o Reino de Deus é chegado à Terra!
– Gloria a Deus! – disse Alexandra – Se Deus é por nós quem será contra nós!
E assim sucedeu, pelo menos naquele dia todos os “-Istas” deixaram suas ideias e se converteram ao Teotonismo… viraram teotonistas. Um olhar de guerreiro, como se mil anjos estivessem a derredor, acompanhava a face do messias. Miguel arcanjo era a ponta da lança de um milhão de pés que rumavam para a frente da prefeitura de São Paulo. Não havia diferença: putas, virgens, pobres, ricos, loucos e sábios estavam agora sob a efígie de um só homem, o messias Teotônio. Naquelas ruas em que reinava o hábito do trabalho, naquele cemitério de vivos que regulava uma ordem canhestra e estabilizante, explodiu, de chofre, a verdade e a vida. O sal da terra caía nas pisadas dos teotonistas. E a verdade da vida era Teotônio, tudo se tornava claro como a luz do sol, um milagre irrompia no céu acompanhado dos últimos raios do sol. Todos, todos eram teotonistas!
Ao chegar a prefeitura, na qual Teotônio via o templo de Jerusalém, sem titubear o messias chutou um carro da imprensa pensando ser o comerciante de almas, e exclamou:
– Fizestes da casa de meu Pai um antro de ladrões! – Sua arremetida foi seguida por seus discípulos que logo passaram a atear fogo ao carro.
– Ei tu! – Fez Teotônio olhando para um rapaz que passava – Qual o teu nome?
– Mauro! – Redarguiu o rapaz com estremecimento, crendo ser Teotônio um policial infiltrado ou, como dizem, um P2. Entretanto, Alexandra que seguia lado-a-lado Teotônio também se aproximou e sacou por acaso um pequeno canivete no vivo intuito de limpar as unhas.
– Não faça nada comigo! – Disse o rapaz com assombro.
– Não farei mal a ti! Teu nome não é mais Mauro agora teu nome é Pedro! Abandona tudo o que tem e segue-me! – Mauro, que agora era Pedro, logo viu que se tratava de um bando de loucos, e continuou na multidão. Foi quando Teotônio, parado com centenas de milhares nas portas da prefeitura de São Paulo, bradou com a imperiosidade do filho do Homem.
– Vamos invadir o templo!
– Isso, abaixo os gestores do capital! – Se escutou ao fundo.
De repente, todos os milhares de discípulos de Teotônio começaram a fazer com que a tropa de choque romana, reunida para assegurar o patrimônio, recuasse. Pegaram as grades que protegiam o templo e arremessaram contra os filisteus. Estes, acuados, adentraram ao recinto e logo ativaram a grade de segurança interna, quando Teotônio ordenou a Pedro:
– Quebre tudo, Pedro! – Ao que este, no estado de total agitação, pegou uma grade e começou a quebrar os vidros e arremessar pedras nos soldados romanos.
Tudo era agora um grande espetáculo, os olhares, os feridos, a correria, os fogos e as bombas. Eram sicários, essênios, o povo de Deus reivindicando seu Reino, pelo menos assim era para Teotônio. Não demorou muito e a turba foi então dispersada pelas tropas romanas por ordem do imperador Geraldo Alckmin e seguiram-se cada qual para seu lado, mas os mais fiéis permaneceram junto a Teotônio e rumaram para a Líbero Badaró.
– Não deixem pedra sobre pedra! – Disse Teotônio aos homens de boa fé, que abriam portas de comércios e quebravam orelhões despudoradamente. Um menino de dez anos era visto arrastando uma televisão de sessenta polegadas.
Nunca se esquecerá daquela noite, os milhares de mascarados miravam tão orgulhosamente seus camaradas, que o coração de Teotônio se alegrava. A atormentada inquietação dos corações sempre dilacerados e crentes da desrazão de suas vidas, agora encontrava, pelo menos por instantes, um motivo para bater. E suas mãos acompanhavam esse batimento cardíaco, descontando sua castração social nos caixas eletrônicos de bancos.
Na São Bento, arremessavam coisas pelos ares e ateavam fogo ao lixo. Os soldados romanos corriam ensandecidos com seus tacos e suas balas. Sob a perspectiva da vida ordinária, não se via um rosto sequer que se encontrava habitualmente nesses mesmos locais, sempre a mesma hora e ao longo da eternidade, o desespero da mudança irrompia sob o fulgor da danação dos teotonistas. A eternidade de um mundo enfadonho parecia chegar ao fim e dar lugar a algo nascente… Vivo.
Nosso herói correu com seus desvalidos para a José Bonifácio. Deram na Quintino Bocaiúva e foram cercados pelas tropas romanas, não no Getsêmani, mas na Quintino! Os discípulos lutaram contra a tropa, mas não resistiram a seu arremedo e debandaram. Mesmo Alexandra saiu em desabalada carreira. Cercaram então Teotônio que, mesmo entregando-se passivamente como está escrito na Palavra, foi moído de pancadas. Chutaram o fígado, bateram com cassetete em seus rins e o mestre dos mestres sentiu um pouco de sangue na boca.
Nosso herói foi, assim, conduzido ao Sinédrio, quer dizer, a DP [Delegacia de Polícia] mais próxima. Lá estavam todos os teotonistas que, como seu mestre, estavam esbagaçados de porradas e spray de pimenta. Esses indícios não eram bons sinais para a loucura de nosso herói, de chofre, alguma coisa mudou no seu interior; nada nas escrituras podia corroborar com o que via. Os seguidores, conforme a Palavra, não deveriam estar presos, só ele que deveria ser crucificado e ninguém mais.
Como acontece frequentemente nesses casos de extrema sandice, num rompante de cólera, Teotônio começou a gritar e se debater no chiqueirinho. Não durou muito; uns policiais, desses fortes, cujo braço é uma coxa de pessoa normal, lhe moeram tanto de pancadas que o fizeram cair desacordado.
Nosso herói só no outro dia acordou, já com seus companheiros da igrejinha no entorno de seu leito. Sua mulher e seus filhos choravam ao pé na cama do hospital psiquiátrico. Tinha sido rei dos vagabundos da Sé num dia e no outro estava internado. Nada disse, só olhou os rostos contritos. Ao irem embora e deixá-lo a sós consigo mesmo, nosso herói mirou pela janela. Pelas ruas caudalosas pelo sol e concreto ardente viu escorrer os pés mágicos de Alexandra. E lá estava a libertadora dançando em nome da liberdade!
“Et surtout la chose enivrante:
la liberté! la liberté!”.
Suas faces coraram, Teotônio pulou da cama, se pendurou pela janela e fugiu do hospital… “A profecia ainda não foi cumprida!”, pensou…
Nota
[1] Trata-se da ópera Carmen de Bizet, mais especificamente do início de segundo ato quando Carmen chega ao famoso boteco de Lilas Pastia.
Velho! Captou a alma dos nossos tempos!
Na espera do próximo capítulo!
“Nos arredores da Praça da Sé quando a vida corrente se perfaz arrastando consigo toda alma em nome do tirânico trabalho, somente um raio de loucura nos obriga, sem mais, a ter conhecimento da loucura de todos”.
Esse trecho foi perfeito.
Excelente. Ansioso para o próximo capítulo.
Dizem que quando Kafka publicou a Metamorfose, todo santo dia ele corria na livraria próxima de sua casa para verificar se alguém tinha comprado seu livro. Passou cerca de 6 meses e nada, depois 10 meses e nada, nenhum livro vendido. Quando ia fazer um ano de publicação, alguém enfim comprou… Kafka pediu todos os detalhes da pessoa que tinha comprado, como era? como se vestia? se mulher ou homem? Dizem que foi uma moça, Kafka então se apaixonou pela desconhecida primeira leitora de seu Metamorfose…
Não estou dizendo que tenho a estatura de um Kafka, muito menos que minha novela se compare ao Metamorfose. Estou dizendo que minha ansiedade é idêntica ao do escritor do absurdo. Penso aqui com meus botões: o que será que Teotônio anda causando nas pessoas? será que alguém tem ouvidos para ouvir sua história?
Só resta agradecer a quem lê e humildemente agradecer pelos comentários que me impulsionam a contar tudo que vi e ouvi a respeito do velho Teo…
abraços
Douglas.
Nem sei o que dizer sobre essa novela que retrata a alma da nossa era atual tão intensamente, que enquanto lemos chegamos até a ficar sem fôlego!
Posso apenas dizer que estou ansiosa para continuar a ler a história sobre o velho Teo…