Tantos silêncios, muitos gemidos e alguma ação. Prefeitura promete começar a fazer uma encosta, com algum atraso e 11 mortes depois. Por Franciel Cruz

Barra. Sexta-feira, 22 de agosto, de 2014.

Muito barulho. Com pompa, circunstância e muitos shows (sim, a cidade virou um eterno palco de festivais celebrativos), moradores e visitantes pulavam. Eles festejavam a (mal) dita requalificação do turístico bairro, que foi entregue depois de consumir mais de 50 milhões dos cofres públicos. Era a primeira grande obra do atual alcaide que havia sido empossado há pouco mais de um ano de meio. Muitos aplausos e outros tantos de silêncios.

Barro Branco, segunda-feira, 27 de abril de 2015.

Muito barulho. Com choro, tristeza e ranger de dentes, moradores pulavam. Eles não tinham nada a festejar. Apenas corriam da tragédia provocada pelas chuvas e pela secular negligência do poder público, que ceifou naquela data 11 vidas. A atual gestão, que já comandava a cidade há mais de dois anos, não havia investido nada ali. Tantos silêncios, muitos gemidos e alguma ação. Prefeitura promete começar a fazer uma encosta, com algum atraso e 11 mortes depois.

Salvador, terça-feira, 3 de maio de 2016.

Muito barulho. A gloriosa obra no antigo Mercado do Peixe, que expulsou os barraqueiros e a colônia de pescadores e hoje abriga uma vila gourmet, foi à lona, à lama, junto com os 4 milhões que foram gastos apenas naquele local. Um grupo de 30 pessoas tomava café da manhã em um dos novos e chiques restaurantes quando o equipamento desabou. O proprietário do insípido recinto, que, óbvio, leva o grill no sobrenome, informou que ia servir a refeição ao grupo, já programada, em outro local. Menos mal que existem outros locais onde o alimento pode ser servido aos clientes.

Salvador, terça-feira, 3 de maio de 2016.

Muito barulho. As obras da encosta no Barro Branco, que começaram em outubro de 2015, só ficarão prontas em setembro deste ano. Serão investidos 7,7 milhões, pouco mais de 10% do que a mesma prefeitura gastou na badalada requalificação do Rio Vermelho.

Agora à noite, por volta das 21h30, uma escada desabou no local. Desesperados, os moradores reveem os ancestrais fantasmas. A terra volta a descer o morro. E o mais triste e trágico. Ao contrário dos comensais do restaurante, eles não podem resolver o problema indo comer e viver em outro local. Porém, ainda podem gritar por seus direitos. E já ligaram para a imprensa, com a esperança de que o poder público ouça suas dores e reivindicações.

Afinal, não é possível que, nesta província zuadenta da Bahia, continuemos a vibrar com muitos barulhos enquanto outros sons continuam a ser silenciados e negligenciados.

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Vista de casas próximas à encosta do Barro Branco. Foto de André Uzêda.

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