Por O Aluminista*

Ao trabalho, bejaminianos durante a ditadura, vamos ser cronistas dos dias de fascismo e de outros mundos possíveis. Jair Bolsonaro é um nome inexato, propositadamente, para uma racionalidade que está sendo implementada: um novo tipo de droga real que funciona em duas marchas. A primeira, a garantia da lei e da ordem e a promessa de seguridade do império e de que qualquer batimento cardíaco contrário será violentamente suprimido. A segunda marcha opera sobre a ilusão de ruptura e o sequestro da revolta “tudo vai ser diferente como era antigamente” ou “tem que mudar isso daí”. Essa nova droga, que está sendo sintetizada internacionalmente, expõe a rachadura no tecido da realidade social sendo impossível ou ineficaz a comunicação.

Acabou o tempo do diálogo, começou o tempo da disputa. Estão sendo fabricadas meticulosamente novas narrativas falaciosas que põem em risco tanto a história dos vivos quanto a memória dos mortos (falaciosa – mas quem se importa com a verdade no tempo dos robôs armados de notícias falsas? A mentira é autoconsciente e autodeclarada, mas justamente por isso alcança seus objetivos com primor). A atual partida da luta de classes no Brasil nos prova por A+B que a via da socialdemocracia (mesmo essa bem relativa) dá vazão à ascensão do fascismo, pois é incapaz de mobilizar os sentimentos de revolta e de realizar profundas mudanças nas relações sociais de trabalho. Mais uma vez o caminho do pacto social possibilita o ressentimento.

Faz-se necessário, portanto, recuperar o que foi perdido: o ensejo da mudança, o horizonte de emancipação que foi aberto no século XIX e que, tendo fracassado, é vertido em imagem a ser explorada e manipulada por todos que se propõem a ganhar eleições. Não é possível prever até que ponto as palavras do nosso projeto bufão de ditador se tornarão ações, mas sabemos quais fantasmas elas evocam e que o inimigo já se pôs em movimento acatando suas ordens. Mas a máquina xerox é um emblema de socialismo plantado em todo escritório de corporação. Os frutos da revolução não só estão podres como estão rebrotando de micro-organismos tóxicos em jazidas de metais perigosos. Ou recomeçamos a pensar política para além do espetáculo ou sucumbiremos.

*Texto retirado da atual edição do jornal “O Aluminista” com permissão dos autores.

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