Por Ana Bombassaro

A situação em Porto Alegre é bastante crítica para os atingidos pela cheia e mesmo para quem não foi atingido diretamente por não morar nas áreas de risco, perto do rio. O rio subiu e se mantém a um nível de 5,29m, o centro da cidade está alagado e todo o entorno, que compreende da zona sul à zona norte, com pessoas sendo resgatadas de suas casas o tempo todo por equipes e levadas para abrigos ou casa de parentes que estão fora dessa área. O dique da zona norte pode romper a qualquer momento e inundar ainda mais outras áreas. O sentimento de solidariedade é enorme e muita gente se envolve para ajudar de alguma forma, seja nos resgates, seja nos abrigos, nos postos de recolhimento, produzindo e distribuindo marmitas. A questão, porém, reside nos seis locais de tratamento e abastecimento de água, aonde quatro estão danificados por conta da enchente, e somente dois estão operando parcialmente. Isto significa que grande parte da população já está desabastecida e que, logo, logo, todos ficarão sem água potável. Está difícil encontrar água mineral para comprar, as prateleiras dos mercados estão se esvaziando de alguns itens e ainda têm todos os desabrigados de outras cidades que estão sendo acolhidos em Porto Alegre. A entrada e saída da cidade é somente pela RS 40, que se encontra sempre engarrafada, dificultando o trânsito de caminhões de abastecimento e logística de socorro das vítimas. Em entrevista no dia de ontem, o prefeito sugeriu que aqueles que tiverem casa na praia, se desloquem para lá a fim de contribuir com o esvaziamento da cidade.

O capitalismo gera as crises, uma vez que não possui a capacidade de atender as nossas necessidades reais pois não gera lucro. O número de mortos no RS até o momento está em torno de 90 pessoas, com cerca de 362 feridos e mais de 100 pessoas desaparecidas. Algumas cidades, como Eldorado do Sul, deixarão de existir mudando drasticamente o mapa do RS, pois estão completamente submersas.
Não é através das eleições, votando em candidatos “menos ruins”, que iremos conseguir resolver ou mesmo amenizar essa situação das enchentes. Estas tendem a ser cada vez mais catastróficas. É evidente que precisamos pressionar os governantes para que invistam em infraestrutura, contudo, sem cair na ingenuidade de que isso será realmente atendido. Nosso foco deve ser superar essas relações de controle e subordinação que nos tornam reféns do imobilismo, deixando-nos de mãos atadas para situações de emergência como ilustrada atualmente no Rio de Grande do Sul, no qual as decisões são tomadas por cima e a nós é imposto o papel de “colaboradores”, executando o que os governantes decidem, sem levarem em consideração as nossas necessidades reais. O governo, cinicamente, pede ajuda à população para que envie pix, enquanto corta verbas para assistência social, saúde, educação, setores da sociedade que são básicos para a manutenção da nossa existência numa sociedade marcada pela desigualdade social. Assim, o problema central do capitalismo não é este ou aquele governo, mas a sociedade como um todo; trata-se, portanto, das relações de produção capitalistas que devem ser contestadas.
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Enchente histórica no Estado do Rio Grande do Sul (RS) deixa moradores completamente ilhados necessitando serem resgatados e acolhidos em abrigos provisórios. Há também a devastação de algumas regiões do Estado que estão completamente ou parcialmente submersas, configurando um novo mapa do RS.

O que se vê atualmente é o despreparo dos governantes em lidar com a situação que coloca moradores em risco, revelando a incapacidade do Estado, expressão política da classe burguesa, em todas as suas frações e subdivisões, em atender as necessidades verdadeiramente humanas. O Estado é um aparato desumano de controle social para a reprodução da barbárie capitalista, contrário à preservação da vida.

Essa situação é uma experiência bastante trágica que estamos vivendo. Por isto, exige um posicionamento urgente através de uma análise mais aprofundada, que não caia em simples esquemas superficiais, vistos em vários meios que reproduzem a perspectiva da esquerda à direita do capital. O reducionismo político dessas duas alas do capital busca colocar a culpa neste ou naquele governante, como se fosse uma questão estritamente de “vontade política” e não da essência da perversa relação de exploração capitalista da força de trabalho e do meio ambiente. O capital degrada tudo que ele vê pela frente, deixando rastros de destruição por onde passa, como demonstrado por esses eventos climáticos extremos ao redor do planeta e que soa como um alerta do que virá pela frente enquanto essa relação de exploração não for abolida.

O jogo de empurra empurra, em buscar culpados para a tragédia que não possui nada de natural, pretende encobrir a realidade, que se mostra escancarada na nossa frente. Só não enxerga quem realmente não quer ver, ou seja, aqueles que possuem interesse em defender a existência do capitalismo. A sociedade que vivemos não corresponde às nossas necessidades e precisa ser destruída para que o novo surja – e o novo precisa ser radicalmente diferente. Somente a luta muda a vida, mas a luta por uma nova sociedade. Ao contrário dessa luta, as promessas e discursos ilusórios a favor deste ou daquele governo só prolongam continuamente o nosso sofrimento, à medida que suga como um vampiro as nossas forças e vitalidade para suprir as necessidades de uma minoria parasitária.

O Capitalismo é a catástrofe!

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