Por Marcelo Lopes de Souza[*]
A segunda parte deste artigo pode ser lida aqui.
A finalidade deste artigo é convidar à reflexão em torno do avanço da burocratização e da mediocridade no universo acadêmico. Burocratização e mediocridade essas que, no fundo, constituem realidades complementares e interdependentes, as quais produzem, como resultado, mais burocratização e mais mediocridade, em uma espiral ascendente em cujo contexto a dimensão qualitativa subjacente à ideia normativa da universidade como locus, entre outras coisas, de produção de conhecimento novo, é cada vez mais subjugada e engolida pela realidade da “lógica” burocrática. O resultado é, nos planos formal e informal, cada vez mais uma “caquistocracia” acadêmica, ou seja, um “governo dos piores” no interior das universidades.
Não se está a falar apenas do Brasil. O problema em questão não é exclusividade de nenhum país e de nenhum campo do conhecimento (“disciplinas” ou “campos interdisciplinares”). A burocratização do mundo universitário, atravessada e agravada por processos como a galopante mercantilização do saber acadêmico e as diversas formas e modalidades de “privatização” das universidades (que vão desde a pressão para o financiamento privado das pesquisas até a venda de serviços de consultoria e cursos para o universo empresarial como estratégia de complementação salarial), é algo observável em escala mundial. Entretanto, diferentes países e campos do conhecimento sofrem essa experiência de maneiras e com intensidades distintas.
Parece evidente que diversas características do capitalismo contemporâneo (de)formam o ambiente universitário, cada vez mais, de modo a transformar alunos e orientandos em “clientes”; docentes e pesquisadores em “prestadores de serviços intelectuais”; e o conhecimento gerado e transmitido em “produtos”, cuja medida de valor deve ser estabelecida pelo e por meio do mercado. É o mundo da mercadoria corrompendo e modelando o quotidiano dos ambientes de geração de saber que, por muito tempo, e não inteiramente sem razão, puderam ser considerados, mesmo por intelectuais críticos, como espaços criativos e de inovação, ainda que via de regra elitizados e altamente hierárquicos.
Não se deseja, com isso, parecer simplista, mas somente chamar a atenção para o fato de que juízos puramente morais não fornecem um padrão explicativo inteiramente válido do quadro que temos diante de nós. É seguro que isso não autoriza um enfoque “economicista”, o qual negligencie que um fator poderoso (e que não é simplesmente derivável de determinações econômicas) são as mudanças no plano simbólico-cultural, com o enfraquecimento de determinados valores e “freios morais” – fator esse que, no Brasil, tem sido farta e constantemente alimentado pelos “maus exemplos” dados por tantos e tantos agentes públicos, detentores de postos de mando no aparelho de Estado. Apenas sugere-se, com base na percepção de condicionantes dessa magnitude, que sermões e apelos à moralidade e aos brios constituem terapia insuficiente e, no limite, ingênua e tola (mas, do ângulo sistêmico, uma astuciosa e conveniente manobra diversionista).
Ocorre que, devido a tradições mais solidamente estabelecidas e a exigências e padrões de julgamento qualitativo do conhecimento mais bem assentados, em alguns países (geralmente os países centrais) a burocratização e a mercantilização não chegam a produzir como resultado uma mediocridade acachapante. É bem verdade que também neles, sem dúvida, o “produtivismo”, que é a concretização da máxima publish or perish (= publique ou pereça) levada ao paroxismo, cada vez mais gera uma quantidade de “produtos” (livros, artigos etc.) desproporcionalmente grande em comparação com a qualidade intelectual daí decorrente ou aí embutida. Entretanto, uma vez que o exemplo mais evidente de “produtivismo” científico no mundo de hoje, o ambiente acadêmico anglo-americano, possui a vantagem de uma incrível “economia de escala”, ali, “no atacado” [por grosso], o problema acaba tendo menor gravidade, valendo em parte o princípio de que “a quantidade gera qualidade”. Além disso, uma mescla de tradições e excelência gestorial (em sentido capitalista, precisamente) faz com que, apesar dos muitos (e crescentemente predominantes) “produtos intelectuais descartáveis” gerados nesse ambiente, parcela expressiva do que aí se faz tenha, de fato, ao menos algum mérito em matéria de inovação ou reflexão. Mesmo que essa qualidade engendrada em meio ao gigantesco aparato burocrático-capitalista de produção de “produtos de conhecimento” (publicações, congressos, periódicos, etc.) do mundo anglo-saxônico seja parcialmente ilusória ou muito discutível – e não só pela desproporção em relação à quantidade mas, também, intrinsecamente, enquanto inovação muitas vezes mais aparente que real, mais superficial que profunda –, o fato é que ela não é apenas ou inteiramente ilusória. A proliferação de cursos de MBA ditos de “altíssimo nível” (leia-se, em sentido capitalista: capazes de duplicar ou triplicar os salários dos portadores dos respectivos diplomas) ou a quantidade de ganhadores do Prêmio Nobel de que uma universidade pode gabar-se ter em seus quadros são critérios político-filosoficamente e eticamente muito contestáveis, é certo, quando a perspectiva é a de uma crítica da sociedade existente; no entanto, de um ponto de vista que é, precisamente, o do capitalismo e seus valores (da competição ao “desenvolvimento econômico”), muitas universidades norte-americanas e inglesas são espaços privilegiados de produção de “conhecimento útil”, isto é, com “valor de mercado”.
Em resumo, no contexto da rarefação político-intelectual do mundo contemporâneo (e que se reflete na usual falta de densidade das ciências sociais e da Filosofia), pode-se e deve-se, sem sombra de dúvida, questionar a originalidade e a profundidade da maior parte do que se publica mesmo nos melhores periódicos “internacionais” (que são, na verdade, em primeiríssimo lugar, periódicos em língua inglesa e editados por editoras norte-americanas ou inglesas, com tudo o que isso implica em matéria de vieses etnocêntricos). Todavia, ao mesmo tempo, há de se conceder que existe, no mínimo, uma substancial diferença de grau entre um ambiente universitário que produz predominantemente ideias conformistas ou não-arrojadas e um outro quase completamente estéril, que cada vez menos produz qualquer ideia original que seja. No Brasil, em que as universidades públicas são solapadas a partir de fora (deterioração ou estagnação em patamares baixos da remuneração de docentes e funcionários, obsolescência e degradação de equipamentos e infraestrutura, ausência de planos de carreira consistentes, falta de uma verdadeira autonomia universitária) e a partir de dentro (corporativismos, tradições “oligárquicas” incompatíveis com uma apreciação minimamente adequada de critérios de merecimento intelectual), a presença cada vez maior do conformismo e da falta de verdadeira originalidade chega quase a ser eclipsada pelo problema ainda mais grave que é a acelerada erosão da capacidade de produzir ideias consistentes, sejam elas conservadoras ou anticonservadoras. (Uma ressalva sobre o “a partir de fora” e o “a partir de dentro”: eles se acham, indiscutivelmente, entrelaçados, com aquilo que é exógeno condicionando e reforçando aquilo que é ou parece endógeno – e às vezes também vice-versa. Sem contar o fato de que, no plano individual e do grupo, comportamentos são afetados pelo meio social geral do capitalismo fin-de-siècle – estribado no consumismo desenfreado e na extremada competitividade interindividual e, por conseguinte, crescentemente indutor de alienação, despolitização e atitudes oportunistas.)
Os efeitos conjugados da burocratização e da mercantilização sobre o nível e a densidade intelectuais também variam bastante de acordo com a área do conhecimento a que estejamos nos referindo. Para as ciências naturais e as áreas tecnológicas, adaptar-se a esse quadro parece ser algo bem menos doloroso que para as ciências humanas e sociais. (A despeito dos altos graus de exploração e submissão individuais dos cientistas, em especial dos jovens pesquisadores mormente em uma época de “[hiper]precarização do mundo do trabalho”). Uma razão é o próprio padrão de financiamento: recursos são abundantemente direcionados para os campos capazes de gerar conhecimentos diretamente aplicáveis e úteis do ponto de vista da produção de novos produtos (processos produtivos, armamentos, artigos de consumo, etc.), e é óbvio que não se vai esperar que, mesmo remotamente, a mesma magnitude de suporte flanqueie a produção de conhecimentos referentes, muitas vezes, à crítica do sistema.
Não que o sistema não financie seus críticos, eventualmente tirando um razoável e multifacetado proveito disso; contudo, trata-se de uma prioridade concernente a outra ordem de grandeza. Para especialistas em engenharia genética, telemática ou química fina, cujos salários são excelentes, cujos laboratórios são moderníssimos, cujos alunos são comumente motivados (a começar pelas perspectivas de altos salários e “reconhecimento social”…) e para os quais, enfim, os recursos não são escassos (o que, evidentemente, varia bastante de país para país), muitas vezes pouco ou nada importa de onde vem o dinheiro para os projetos e que convênios ou acordos são necessários para obtê-lo. Não apenas por isso, mas também pelo fato de que, em meio à burocratização e à mercantilização ascendentes, são justamente os critérios e padrões de julgamento do valor acadêmico típicos das ciências naturais e das engenharias (mais facilmente amalgamáveis com o critério-base, de um ponto de vista capitalista, que é a perspectiva de um valor de troca significativo para o conhecimento gerado) que são tomados como modelares e impostos às ciências humanas e sociais para fins de avaliação de desempenho (e decidir sobre que projetos, candidatos a bolsistas, periódicos, programas de graduação e pós-graduação, etc., etc. apoiar), que os campos voltados para a geração de conhecimento reflexivo e crítico sobre a própria sociedade tendem a perder cada vez mais prestígio e relevância. E, em parte por isso, tendem, também, no longo prazo, a reproduzir de maneira ampliada a mediocridade e a irrelevância – a despeito da presença de algumas ilhas de excelência e resistência. Pesquisadores deficientemente formados serão mais cedo ou mais tarde responsáveis, enquanto docentes e orientadores de graduação e pós-graduação, pela formação de novos pesquisadores, os quais apresentarão, geralmente, deficiências ainda maiores do que eles, analogamente à perda de definição e qualidade ao comparar-se uma cópia xerox com o original, a cópia da cópia com a cópia, a cópia da cópia da cópia com a cópia da cópia, e por aí vai…
* * *
Diversas “espécies” constituem, em qualquer país e relativamente a qualquer campo do conhecimento, a “fauna acadêmica” que povoa as universidades. Várias dessas “espécies” são, por circunstâncias históricas, úteis, e não somente uma. Mas é justamente uma delas, e aquela que mais diretamente contribui para que as universidades sejam e se mantenham como ambientes produtores de inovação, que se acha, atualmente, muitas vezes acuada ou mesmo em processo de encolhimento, em especial nas ciências humanas e sociais (tendência que, no Brasil de hoje, tem comparecido de maneira superlativa): aquela que denominarei de os “inovadores”, que são os pesquisadores verdadeiramente criativos. Os verdadeiros intelectuais, e muito particularmente os intelectuais críticos (ou seja, que refletem criticamente sobre a sociedade e não se furtam a assumir posições publicamente), são um subconjunto dos “inovadores”.
Quanto às outras “espécies”, não tentarei nomeá-las todas. Buscarei identificar sistematicamente, a seguir, apenas aquelas “espécies” da nossa “fauna acadêmica” que, para os fins da presente exposição, são especialmente relevantes.
Os “disseminadores” são aqueles que, geralmente, não primam por gerar ideias novas, restringindo-se a, com maior ou menor competência, manejar, interpretar e repercutir o pensamento de outrem. Conquanto não sejam pesquisadores destacados, podem ser, eventualmente, excelentes professores, inspirados e inspiradores, prestando importante contribuição para a formação de novos pesquisadores e de novos profissionais em geral. Lamentavelmente, nos dias que correm, a tendência não parece ser a da ampliação do número desses “disseminadores” realmente inspirados e inspiradores, mas sim a hipertrofia do grupo daqueles que muito pobremente (e, cada vez mais, até mesmo plagiariamente) administram e reproduzem ideias alheias. São, em analogia com os corretores de imóveis, “corretores de ideias”. De qualquer forma, em meio às “mudanças ambientais” em curso, a espécie dos “disseminadores” se encontra, enquanto tal, menos ameaçada (e são provavelmente mais adaptáveis) que os “inovadores”.
Os “burocratas” são uma espécie particularmente em ascensão. Sua expertise básica não é a da geração de conhecimento novo, e muito menos de conhecimento socialmente crítico, nem tampouco a da disseminação competente do conhecimento científico disponível. Sua expertise básica refere-se ao domínio dos jogos de poder concernentes ao interior da máquina burocrático-acadêmica e às relações dessa máquina com o seu entorno (governos, agências de fomento, etc.). A linguagem dos “burocratas” é a do poder, e sua especialidade é conquistar, manter, traficar e barganhar influência. (Sem contar, obviamente, as formas semilegais ou mesmo ilegais de obter dinheiro utilizando-se da infraestrutura de instituições teoricamente públicas. “Teoricamente”, esclareça-se, porque universidades largamente elitistas e elitizadas jamais podem ser, a rigor, consideradas sem ressalvas como públicas, já que o acesso é tão restrito.) Os “burocratas” são, enfim, especialistas na reprodução (ampliada) do fisiologismo que se difunde a passos largos no capitalismo fin-de-siècle, sobretudo em sua (semi)periferia.
Os “(micro)empresários” são outra espécie em ascensão, ao menos em algumas áreas de conhecimento. Por convicção ou conveniência, para eles a universidade pública é um ambiente decrépito em meio ao qual, para sobreviver, é necessário introduzir formas e parâmetros “gerenciais” que mimetizem aqueles das empresas privadas. Entretanto, os arremedos de “parcerias público-privadas” por eles patrocinados costumam ser, analogamente às “parcerias público-privadas” do ambiente exterior à universidade, relacionamentos assimétricos, em que o “público” entra com o grosso dos custos e o “privado” absorve os maiores benefícios. Assim é que bolsas de estudo e de pesquisa (de iniciação científica, de mestrado e doutorado, etc.) e uma infraestrutura (espaço construído e utilizável, energia elétrica, equipamentos, etc.) financiadas pelos contribuintes pagadores de impostos são colocadas, mais e mais, a serviço de trabalhos privados de consultoria e projetos elaborados por encomenda de firmas privadas ou órgãos estatais – não raro em detrimento da dedicação à atividade docente e mesmo à atividade de pesquisa em sentido forte.
Os “caciques”, por fim, são aqueles que exercem um papel de liderança política. São os “medalhões”, aqueles em torno dos quais formam-se menos ou mais numerosos grupos de admiradores, seguidores e “disseminadores”. Dominam o idioma do poder, mas o utilizam de maneira não necessariamente semelhante à dos “burocratas”: enquanto que o típico “simples burocrata” pouco ou nada brilha, muitas vezes permanecendo todo ou quase todo o tempo na obscuridade, o “cacique”, que é uma figura de renome, empolga e arrebata plateias, influencia os debates e o tratamento de questões institucionais em sua área. Ou, pelo menos, costumava ser assim, já que, cada vez mais, testemunhamos a ação de “caciques” de reduzido talento oratório e pouca vocação para escrever e publicar coisas realmente importantes, mas que, em contrapartida, se mostram hábeis em agenciar o trabalho alheio (na base da superexploração de orientandos, por exemplo), assimilando alguns dos piores cacoetes de “burocratas” e “(micro)empresários”. Este assunto será retomado um pouco mais à frente.
As metáforas ecológicas acima empregadas (“fauna”, “espécies”, “mudanças ambientais”) foram escolhidas por permitirem a construção de uma imagem forte: a do risco de “extinção” ou, menos dramaticamente, de redução drástica da “população” de pesquisadores orientados e motivados para inovar e criar, para desafiar o conhecimento herdado. Utilizadas com o propósito de facilitar a comunicação (que é o propósito, aliás, de toda metáfora), essas metáforas merecem, a esta altura, um reparo crucial. Diferentemente de espécies biológicas, as “espécies” de que ora se trata constituem não tipos exclusivos, mas, isso sim, características básicas. Não necessariamente um indivíduo acadêmico concreto é apenas um “burocrata” ou um “inovador”; na esmagadora maioria dos casos de indivíduos acadêmicos concretos, diferentes características básicas se combinam – até mesmo porque cada um é obrigado ou encorajado a desenvolver, minimamente que seja, um certo conjunto variado de habilidades: saber pesquisar, saber ministrar boas aulas, saber lidar com a burocracia de seus próprios projetos de pesquisa (e, eventualmente, exercer, ainda que sem apetite para tal, cargos administrativos), e por aí vai. Por conseguinte, o que faz um indivíduo pertencer a uma determinada “espécie acadêmica” não é o fato de ele apresentar as características dessa “espécie” de modo exclusivo, mas sim de modo predominante e distintivo.
[*] Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Ilustrações: gravuras de Goya.
Parabéns pelo artigo.
Bem escrito e de excelente qualidade.
Obrigado.
A importância do tema e a qualidade do texto podem, lamentavelmente, em função mesmo do que nele se discute, serem inversamente proporcionais ao debate que ele deveria gerar.
Espero estar enganada e parabenizo Marcelo pela iniciativa e o site pela divulgação.
Ainda utilizando as metáforas ecológicas, creio que devemos perguntar: Será a universidade o habitat adequado para a sobrevivência do pensamento crítico?
Só para ilustrar um pouco minha pergunta, vale um exemplo histórico. É sempre bom lembrar que Karl Marx nunca conseguiu um lugar na Academia. Foi nas organizações políticas (Liga dos Justos, Liga Comunista, 1° Internancional, SDA…) e na imprensa alternativa que seu pensamento crítico ganhou vida.
Claro, no desenrolar da história a esquerda conquistou seu espaço na universidade. E em determinado momento histórico, a universidade lançou pontes para o mundo da ação política (para falarmos como Antônio Candido).
Acontece que hoje o exemplo de Marx parece muito distante (pois não temos organização política). E o horizonte do Antonio Candido está sendo desmontado.
Não porque as ciências humanas é a prima-pobre da história. Essa também é um campo privilegiado da burocratização e da mercantilização. Essa é barata e eficiente na formulação de políticas públicas, gestão de populações e etc.
Na falta de um habitat adequado, acredito que devemos ficar atentos para as espécies em extinção: Os intelectuais precários (para falar como Paulo Arantes). Esses se formam sem muita perspectiva (profissional), mas se politizam (a universidade aida permite algum convivio), entram em contato com movimentos sociais e, no limite, podem produzir teoria critica e/ou transformar-se em intelectuais orgânicos de movimentos sociais. É ai que está a possibilidade de algum tipo de vida para esses pobres bichinhos!
Gostei bastante da classificação no final do texto. Em um texto de não sei quando, havia feito distinção próxima observando que na universidade há intelectuais em primeira pessoa, os que possuem uma análise própria, e intelectuais em segunda pessoa, os que somente conseguem manejar ideias alheias.
Isso a respeito de perceber que o curso não ensinava pessoas a pensar a sociedade, mas em assimilar sem contextualização histórica e reproduzir o que outros pensaram. Grossa parte do método de ensino atual nas ciências humanas se centra em reler as escrituras dos autores tidos como localmente sagrados e depois mostrar nas provas o quanto se decorou daquilo tudo. Assim, pessoas decoram o que disse Adorno sobre educação mas não possuem o menor interesse em saber sequer quantos alunos há no país, quanto se investe per capita por nível de ensino, quantas escolas há, qual a relação escola/família, enfim, um mínimo de conhecimento sobre a realidade educacional. Esse método permite que se faça carreira estudando apenas um livro por toda a vida, uma vez que não se requer a constante renovação que a realidade traz.
Há setores que apontam a ideia de se garantir altos salários e liberdade de pesquisa apenas para a pequena parcela de pesquisadores inovadores e/ou altamente produtivos. Devendo-se enquadrar como simples professores os demais, aumentando a quantidade de aulas a serem dadas e diminuindo os salários. Haveria uma separação entre professores e professores/pesquisadores. É uma discussão que está na ordem do dia.
Parabéns pela análise real e sincera, do que infelizmente, em algumas áreas, tem se tornado na universidade pública e no ambiente acadêmico uma normalidade. Espero que o texto, possa servir de reflexão e motivo de debate.
Acho interessante ainda mais agora que, pensando depois de formado, vindo da indústria química e do setor técnico de nível médio, se não deveria retornar ao trabalho braçal já que ser professor passou a ser tão estressante e ganhando menos que o trabalho braçal.
A academia é um circuito fechado e as patotas acadêmicas que reproduzem os conflitos em organizações como a igreja medieval vão para muito além de direita e esquerda. Ser de direita e esquerda é uma coisa, que se liga ao mundo, dentro da academia, há grupos em conflito aos quais as pessoas se vinculam por acaso ou pelo que estudam e estes grupos, por sua vez, ganham postos nas universidades da vida em luta uns contra os outros.
Quando há um conflito político sério ou institucional na academia, como a ameaça de fechá-la, pode-se ver alguma coisa além. Mas passados estes casos, some direita e esquerda e volta-se à corporação medieval.
O problema é que somos reféns, nós universitários. Pesquisa por bolsa parece cada vez mais trabalho alienado num mundo de formados em curso superior sem emprego, postergando cada vez mais a entrada nos circuitos externos de produção de mais valia. Vai da IC ao mestrado.. pós -doc, etc…
E a enrolação burocrática, as produtividades abstratas, e os sistemas criados e renovados cada vez mais impedem a articulação do que entendia-se por trabalho acadêmico. Com estes pontos de produtividade e tal.
Mas enfim, faço a provocação para mostrar o paroxismo: você vai por isso no seu Currículo Lattes ?
otimo, espero a segunda parte
Caro Marcelo, é pena eu ter de concordar com o seu artigo, mas infelizmente concordo cem por cento. Acrescento uma observação. A insistência em que os trabalhos académicos citem só bibliografia recente tem como um dos efeitos inchar os curricula dos professores. Aplicando o velho provérbio inglês, «coça as minhas costas, que eu coço as tuas», criam-se grupos em que professores e alunos se citam todos uns aos outros, além de a eles mesmos, aumentando assim a pontuação dos respectivos curricula. Não sei por que está tanta gente preocupada com as bolhas financeiras e ninguém parece reparar na inflação académica, que torna o saber num enorme e cada vez maior balão vazio. Mas a preocupação exclusiva com a bibliografia recente tem outra consequência ainda, a de retirar qualquer profundidade histórica às pesquisas. Será que as pesquisas são como os iogurtes ou os ténis, em que os novos produtos são, por definição, melhores do que os anteriores? Procura-se esquecer que a problematização que neste momento vigora numa dada disciplina tem ela mesma uma história, e o conhecimento desta história mostraria que essa problematização é problemática. E assim a actividade científica, tanto nas ciências da natureza como nas ciências sociais, tornou-se alheia à história, a qual fica confinada numa disciplina própria, a da história das ciências, que é uma disciplina onde, evidentemente, não se estuda a história da história das ciências. A universidade hoje faz-me lembrar as lojas de animais domésticos, onde há dezenas de aquários, cada um com peixes dentro, sem que os peixes possam navegar nem pular entre os aquários. Só que eu acho mais divertido observar os peixes.
Faço minhas as palavras do Douglas. Sendo um pós-graduando, vendo o esgotamento do pensamento dentro da academia, e a proletarização absurda da profissão docente, sinceramente, flerto mesmo com me tornar um serralheiro ou marceneiro ou então entregar currículo em fábrica.
Não vejo mais um ímpeto de transformação social na academia. Vejo é uma corrida rumo a uma inflação dos anos de estudo e disputa por vagas na pós graduação, que reflete na verdade uma ânsia de ascensão social ou na melhor das hipoteses um salve-se quem puder. O currículo lattes é o que governa a academia hoje.
Por cima, vemos a universidade elitista como escola de formação de quadros gestores para gerir a planificação capitalista. E isso inclui também levas de intelectuais marxistas institucionais, que se formam como verdadeiros ciclos do espírito hegeliano, em levas que se tornam staff burocrático do governo seguinte, gestores coletivos do capital montados em quadros de estado.
A academia fica assim, cheia de oportunistas, de carreiristas, funciona amplamente para a reprodução pessoal e ascensão social de intelectuais a cargos e influências. Isso quando não fica repleta de narcisistas, burocratas e professores-estrela comedores de alunas.
Gangues, verdadeiras gangues políticas, disputam rasteiramente espaços, recursos, cargos, loteando entre si e suas correntes partidárias a universidade em feudos onde se entra desde que se faça parte do grupo. Nesse ponto, a esquerda institucional cai nas mesmas práticas que a direita.
Por baixo, temos na universidade a formaçao de uma “ralé” de força de trabalho cada vez mais precarizada. Precisei me formar numa universidade pública e cair no caos das escolas estaduais de periferia povoadas por cadeiras voadoras e extintores de incêndio fetichizados que criaram vida própria para entender isso, que eu era um proleta-professor-carcereiro de adolescentes; creio que a percepção dessa proletarização foi essencial para que estudantes saíssem feito desesperados a ocupar reitorias; mas a consciência sempre chega tarde demais.
Resumindo: por cima, trata-se da formação de verdadeiros stafs gestoriais. Por baixo, de pura produção alienada de força de trabalho. A universidade hoje está inserida plenamente na cadeia de geração de valor.
Como local de pensamento crítico, a academia virou uma lata vazia e barulhenta, puro ritual burocrático e quantitativo, sem conteúdo. É a pura forma sem conteúdo. Como sair disso, pergunto aos companheiros?
Mauricio Tragtenberg continua terrivelmente atual. Parece até que anteviu as coisas, com mais lucidez que nós.
http://www.pucsp.br/ponto-e-virgula/n5/artigos/pdf/pv5-01-tragtenberg.pdf
Irônicos. Me refiro, sobretudo, aos comentários.
As pessoas que fazem esses comentários simplistas, que jogam a universidade na vala comum, ignoram o papel da universidade na construção do conhecimento, as possibilidades que sugere para muitos jovens trabalhadores, ignoram que elas mesmas estudaram nessas universidades. Se a universidade é só burocracia que produz lixo sem crítica, como os aqui formados por ela se “emanciparam”? Gênios, heróis, portadores da luz frente a um mundo de alienados vendidos? Variações do mito individualista-liberal, crentes ingênuos na meritocracia?
Isso é simplificação. A universidade é uma realidade complexa. Qualquer explicação que espera ter resumido a situação, com o auxílio do charminho crítico-radical, é simplista. Existe submissão e imposição do produtivismo, mas existe, no interior da própria universidade, a crítica a isso. Os jovens que aprenderam a mobilizar categorias e conceitos das ciências humanas e que aqui escrevem retiraram muito disso da vivência na universidade. Ignorar isso é que é ignorar a realidade educacional atual. É olhar o mundo não de fora, mas de dentro de um aquário.
Muitas vezes esses comentários beiram o ressentimento, mais do que a crítica. “Oh, Marx foi excluído da academia alemã, eu da paulista ou da mineira, ou da paranaense, logo sou um proto marx tropical…”
Sempre acompanho esse site e os blogs da Veja. Impressiona a semelhança das idéias. É isso que os torna para mim um caso de estudo. O vazio ideológico aproximou as partes extremas…
Ninguem joga a universidade na vala comum. Penso que apenas nos limitamos a descrever o que ela é atualmente, mas isso implica que a crítica desta forma de universidade deve ser feita tanto de fora como de dentro dela.
Agora, é fato que a universidade se tornou anti-povo e voltou suas costas aos movimentos sociais – inclusive e principalmente a intelectualidade de esquerda que existe dentro dela, que prossegue uma crítica meramente lógica do capitalismo, faltando muito do elemento empírico-concreto nas análises. Essa inteligentsia não faz idéia do que ocorre dentro dos sindicatos, por exemplo.
Foi assim com o processo do PT. Constituia-se uma burocracia sindical que lançava mão de métodos pelegos e gangsteristas que incluiam contratação de bate-paus e espancamentos em eleições sindicais, e enquanto isso a intelligentsia de esquerda ficava dentro da academia ovacionando o “projeto popular” do PT. Depois, quando o PT chegou ao poder e deu nisso que sabemos, ficaram a arrancar os cabelos e fundar novos partidos.
Não vejo semelhança nenhuma entre o Passa Palavra e os blogs da Veja, não sei de onde você tirou isso, que me parece um contra-senso maluco. Mostre, por favor, exemplos concretos disso.
Não se trata de um ressentimento de nossa parte. Cursei universidade pública, mas foi fora dela que eu encontrei uma crítica social mais consistente, e se voltei a ela depois, foi com esse substrato adquirido fora dela, nas lutas sociais. Isso não exclui que possa haver críticas dentro da universidade, mas também não se pode tampar os olhos e negar que haja vida inteligente fora da academia.
Nossa, esse tal Observador ta louco(a)? Que isso daqui tem a ver com revista Veja, hein?? Revista Veja fala mal do MST o tempo todo, defende repressão, fala mal de greves, de lutas, de ocupações de reitorias e querem ver Cesare Battisti com a boca cheia de formigas. Pelo menos tenho visto exatamente o oposto no Passa Palavra…
Paulo e André, tudo bem?
Entendo que este é um site de extrema-esquerda, para a qual a única via de transformação legítima é o engajamento direto e físico-intelctual dos agentes sociais, sem mediações ou representações. É um dos ótimos espaços na net para o contato com idéias originais. Concordo muito pouco com os princípios políticos radicais, mas gosto de ler, pois tem alta qualidade na proposta e nas idéias.
Em relação às colocações, tento responder:
!. Dizer que a universidade pública é o espaço da burocratização, da alienação, do não-engajamento, da submissão, do produtivismo, enfim, caracterizar ela como uma empresa capitalista, é algo simplificador sim. As críticas podem surgir dentro das instÂncias de opressão e dominação. Dentro da universidade são produzidas teses, monografias, leituras, debates, movimentações que educam para a emancipação. Tem repressão? É óbvio. Mas cair no coro de que é um espaço sem criatividade e inútil é sim repetir o que os blogs da Veja dizem, com diferença nas motivações.
2. Semelhança entre extrema-esquerda e direita. Nesse ponto, acho que a grande semelhança se dá na forma pela qual não conseguem aceitar, por motivos diversos, alguns avanços nos últimos anos. Ambos são contra o Estado, contra o governo Lula, a organização sindical, veem burocracia em tudo. Em relação ao Batistti… vcs acham que se fosse em 1999, 2000 esse pedido ele já não estaria na Italia?
É isso. talvez sejam olhares de um analfabeto político.
Caro Observador
Obrigado pela atenção e pela cortesia no debate. Sempre é bom divergir mantendo um debate agradável.
1- Mesmo numa empresa capitalista, existe contestação e resistencia. É assim que se estabelece a lei do Valor como média social de produtividade. O elemento humano é o único que os gestores não conseguem planejar. Não dissemos em nenhum momento que não existe contestação dentro da universidade. Se assim o fosse, não teriam acontecido tantas ocupações de reitorias. Mas essencialmente, tambem em nenhum momento dissemos que não há luta ou que não se deva lutar por dentro da universidade.
2 – Sobre ser contra o Estado. Marx teve no final da vida, em A Guerra Civil em França, posições fortemente anti-estatais. Sua crítica da economia política aponta em direção a uma superação do estado.
Por outro lado, a direita não é anti-estado. Ela é anti regulamentação da exploração, mas eles são defensores do estado sim… da passagem do poder do âmbito do estado restrito, nacional, para o âmbito do Estado Amplo, que é a pura soberania das empresas, que são uma estrutura de poder político. A estrutura burocrática dentro de um grande monopólio não é uma governança social?
Sobre sindicatos. Não sou ou somos contra o sindicalismo. Minha crítica é a este sindicalismo burocratico e institucionalizado, que se integra aos aparelhos de estado capitalistas, que funciona como agência de enquadramento de força de trabalho para o capital. É desse meio que Lula e o grupo majoritario do PT sairam, e por mais que hajam alguns avanços sociais aqui ou ali, o PT no poder conseguiu consolidar e fortalecer o funcionamento capitalista no Brasil!
Olá Paulo e demais, tudo bem?
Obrigado pela resposta educada e bem elaborada.
Os processos de dominação implicados no uso cada vez maior da burocratização das universidades é um fato real e deve ser analisado e criticado. A lógica empresarial preside a universidade? Resposta afirmativa-absoluta me parece conclusão forte demais e precipitada. Reafirmo que a existência de movimentos estudantis, ocupações, greves, pensadotes críticos dentro da universidade etc, indicam que é impossível ler a universidade a partir de metáforas com a natureza e/ou a fábrica.
Entendo o viés crítico do artigo e aproveito para parabenizar pela qualidade, informando que já divulguei muito em minha região. Contudo, gostaria que o autor explorasse mais essas contradições internas da universidade, as formas de resitência a burocratização, as possibilidades que a universidade ainda possibilita de constituição de projetos emancipatórios. A lógica empresarial é dominante? SIm, é fato. Mas dentro dos aparelhos de estado ainda emergem contradições que nos aparelhos exclusivamente privados (a empresa, o supermercado etc) são bem restritas e reprimidas violentamente.
Sei que parece uma aberração aqui, mas, para mim, acho que o problema não é a existência do Estado e sim seu conteúdo e sua forma. Sei que é meio hegeliano e tudo…. isso quer dizer que a Universidade Pública é uma instituição central ainda e o grande problema é seu conteúdo e forma atuais.
É preciso ter cuidado com o uso da categoria qualidade. Sabemos que é uma noção construída sob um forte interesse ideologógico. Logo, dizer que se produz muito sem qualidade é uma precipitação, além de um romantismo. Conheço muitas teses que demoraram 8, 10 anos para ficar prontas e não tem “qualidade” positiva. assim como artigos feitos em 6 meses com ótima “qualidade”.
Alguns comentaristas acima precisam ter cuidado. Chegam a afirmar que só existem teóricos na universidade e pouco conhecimento da realidade empírica. Isso é sedutor e perigoso. Por um lado, exige que quem afirma isso, para não cair no erro que aponta, conheça a realidade de muitas universidade empiricamente.
O PT consolidou o capitalismo ainda mais no Brasil? Fortalecendo o Estado para tanto? Sim, mas em partes. Aqui retomo as universidades. A expansão destas significaria então mais exploração e dominação? Ou abriria possibilidades diversas para jovens trabalhadores? Creio que esse tipo de possibilidade não foi enfrentada pelo texto.
É isso. Desculpem a divagação.
Acho que devo ser um dos seguidores do site que mais gosta de acessá-lo e menos concorda com as idéias aqui.
Abraços.
Oito anos e um um mês depois da publicação…
Enquanto se produzia esse artigo, em 2010, havia jovens que viviam nas escolas para se tornarem gados prontos pro abate prum futuro que, para a época, era inimaginável o que viria a se tornar hoje enquanto realidade nacional e mundial.
Hoje, muitos jovens, como eu, estão nas universidades e, sabendo que não estávamos inventando a roda ao esboçar palavras e conceitos para descrever o cotidiano de nossos curso de graduação, aos poucos iamos nos deparando que o problema que está estampado em nossas caras estão, na realidade, incrustrados há décadas em nosso país e no mundo, na medida em que as antigas produções críticas sobre a universidade nos parecem contemporâneas e as recebemos de forma aberta e, de certa forma, aliviada por haver produção sobre essa realidade que nunca é falada no cotidiano universitário de forma aprofundada e crítica.
Se o peso que sentimos ao suportar esse problema de longa data é equivalente a uma jaula de aço das pesadas, e se os estudantes do ensino superior hoje encontram-se, como variados setores sociais, sedentários pela falsa sensação de representação que a UNE nos deu nessas décadas, sabemos que desse “controle remoto” condedido de cima pra baixo nos acomodou no sofá para reproduzir verborragias moralistas nas redes sociais e de dois em dois anos nos despertarmos para a falsa esperança política, como se portássemos amnésia e todo santo dia abríssemos a mesma geladeira vazia há 31 anos.
Somos estudantes idiotizados que descobrimos tarde demais problemas que já deveriam estar sendo combatidos desde que comunismo passou a significar carteirinha de estudante, como diz Paulo Arantes. E dessa urgência de pensarmos a atual crise nas universidades (e sociedade), se num momento nos enchemos de paixão e brilho nos olhos para nos debruçarmos no que foi produzido sobre o assunto há décadas e desenvolvermos uma consciência-de-si, por outro lado nos frustramos por lembrarmos das exigência de manter um trato fino nos CRs: precisamos dar atenção às bibliografias e temas colocados nas matérias nossas de cada semestre. Mas nosso espírito não é santo e nos recusamos dizer amém, pelo menos os/as estudantes que tomam consciência política de uns tempos para cá.
Após ler novamente, de forma pormenorizada, os dois artigos, comentarei por aqui, algo mais sistematizado e menos ensaístico. Perdoem-me a digressão, mas deste material saiu um pequeno desabafo de um estudante que encontra limites objetivos na organização e tomada de consciência do estudantado para não só persar o que a universidade faz conosco, mas também o que faremos com a universidade, como diz um intransigente economista bolivariano de Santa Catarina.
Parabéns pelo artigo, e que haja um ciclo de discussão sobre o assunto por aqui, novamente.
Excelente discussão!! Eu estou fazendomeu TCC do curso de enfermagem pela UFBA sobre o curriculo do curso na escola. Portanto, vou precisar, na discussão dos meus resultados falar sobre a burocratização pedagógica na Universidade. Alguém pode me indicar referencia de livro/artigo?? Agradeço imensamente, desde ja!