«Para que é esta pá das obras?», perguntei a um sexagenário alentejano, no bidonville [bairro de lata, favela] de Saint-Denis, nos subúrbios de Paris. O velho cumpria o seu terceiro ciclo de emigração e vivia numa barraca junto ao local onde os habitantes dos prédios vizinhos despejavam o lixo. Trabalhava na Citroen 12 horas por dia e, quando à noite voltava à barraca, encontrava o acesso à sua porta impedido por toneladas de lixo. «Tenho de ter esta pá aqui, do lado de fora. Porque, quando volto do trabalho, tenho de passar uma hora a abrir caminho por entre o lixo, para conseguir entrar em casa». Percebi, desde então, que a sociedade capitalista faz todos os dias exactamente o mesmo, à entrada das nossas consciências. Passa Palavra

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