Mais uma vez a prefeitura e os empresários do transporte coletivo de Florianópolis subestimaram a organização popular e resolveram aumentar ainda mais a tarifa do transporte público. Mas o que parece se esboçar na cidade é uma resistência de proporções muito maiores do que se viu nos anos posteriores a 2005. Por Passa Palavra

Acompanhe a cobertura completa da luta clicando aqui.

fpolis_contratarifa_1A partir da 0h deste domingo, 09 de maio, as tarifas do transporte público de Florianópolis sofreram um novo reajuste, passando de R$ 2,80 para R$ 2,95 em dinheiro e de R$ 2,20 para R$ 2,38 no cartão. Os novos valores da tarifa social são de R$ 1,60 no cartão e R$ 1,95 em dinheiro. Mais uma vez a população é desafiada a se organizar e resistir, lutando pela revogação do aumento e por mudanças efetivas no sistema de transporte da cidade, que há anos tem sido alvo de protestos, debates e a elaboração de projetos pelos movimentos da cidade, em especial o Movimento Passe Livre.

A reação ao anúncio do aumento não poderia ter sido melhor: na quinta-feira, poucas horas depois do prefeito anunciar o reajuste, uma reunião foi convocada às pressas pelo Diretório Central dos Estudantes da UFSC e pelo Grêmio do Colégio Aplicação. O chamado foi atendido por dezenas de pessoas que reorganizaram a Frente de Luta pelo Transporte Público.

fpolis_contratarifa_3Já na sexta-feira, um ato com centenas de pessoas saiu pela manhã do campus da UFSC em caminhada até o centro, encontrando estudantes de escolas do centro e de outras regiões da cidade, reunindo cerca de 500 pessoas em frente ao Terminal do Centro (Ticen). De lá a manifestação partiu para a sede do Sindicato das Empresas de Transporte Urbano de Florianópolis (Setuf), rapidamente ocupado com a reivindicação de que a planilha de custos das empresas fosse entregue à população. Nenhum dos responsáveis pelo órgão se apresentou para atender os manifestantes, que tentaram adentrar pacificamente nas salas administrativas do prédio e foram violentamente atacados por funcionários e seguranças do Setuf, que usaram de cadeiras e pedaços de ferro, além de socos e pontapés, para agredir os manifestantes. A violência dos funcionários do órgão gerou um princípio de confusão que acabou por causar pequenos ferimentos em ambos os lados.

fpolis_contratarifa_5Depois do incidente a manifestação caminhou até o prédio de atendimento da Secretaria Municipal de Transportes, mas o encontrou com as portas fechadas para a população. Os manifestantes resolveram então voltar para frente do Ticen e bloquearam por alguns minutos a entrada dos ônibus no terminal, sofrendo com a repressão da polícia, que usou armas de choque (tasers) nos manifestantes. O protesto terminou por volta das 14h em frente a prefeitura, que também estava de portas fechadas e recebeu a manifestação com a Guarda Municipal usando spray de pimenta.

No sábado, 08 de maio, mais uma grande reunião da Frente foi realizada e um calendário com diversas mobilizações para esta semana foi aprovado (veja aqui a agenda completa das mobilizações). Além de diversos atos descentralizados em todas as regiões da cidade, duas grandes manifestações ocorrerão no centro: uma na segunda (10/05) e outra na quinta (13/05), ambas com concentração às 17h em frente ao Ticen; na quarta-feira, uma grande assembléia convocatória para o grande ato de quinta será realizada a partir das 11h30, também na frente do Ticen.

O que parece se esboçar na cidade é uma resistência de proporções muito maiores do que se viu nos anos posteriores a 2005 – ano em que a cidade viveu a segunda Revolta da Catraca. A presença massiva de novos militantes, com destaque especial para os estudantes secundaristas, a disposição e revolta evidentes e a apropriação do movimento pelas diferentes pessoas e organizações que o compõem, dando voz a todos e garantindo pluralidade e autonomia nas diferentes ações, são apenas os primeiros indícios do que pode estourar nos próximos dias em Florianópolis.

fpolis_contratarifa_4As grandes assembléias de rua, inseridas num modelo de organização baseado na ação direta e no protagonismo popular, com uma estrutura horizontal que consegue ao mesmo tempo criar diversidade e unidade na ação, indicam as possibilidades de que novas formas de resistência e de organização podem ser gestadas durante o processo, ampliando a criatividade e massificando as intervenções do movimento.

Certamente, ainda é muito cedo para saber se nos próximos dias as manifestações irão ganhar corpo e uma ampla adesão popular, que ultrapasse o meio estudantil e possa criar chances efetivas de vitória. As dificuldades de superar a dispersão e fragmentação das diferentes lutas, bem como de enfrentar a dura repressão policial e a criminalização da resistência, são enormes. Mas o quadro apresentado, se ainda não nos permite sonhar alto, exige que sejamos otimistas.

A vitória desta luta depende de toda população de Florianópolis, da união prática em torno desta bandeira e da radicalidade que o movimento em gestação puder adquirir. Passa Palavra

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Fotos: Pira.

[*] Revolta da Catraca foi uma revolta popular vitoriosa contra aumentos nas tarifas de ônibus de Florianópolis em 2004 e 2005. Em 2004, por conta de um reajuste de 15,6% concedido pela Prefeitura e pelas empresas de ônibus, através do Conselho Municipal dos Transportes, milhares de pessoas saíram às ruas entre os dias 28 de junho e 8 de julho. Já no ano de 2005, os protestos duraram de 30 de maio à 21 de junho, quando a Prefeitura revogou aumento de 8,8%.

A radicalidade das manifestações foi fruto do desgaste do modelo de transporte perante a população, que sofria com aumentos intensos (quase 200% desde 1996) e a complexidade do novo Sistema Integrado de Transportes. A agressiva reação policial contribuiu significativamente para o acirramento da rebeldia popular, acabando por fazer com que mais e mais pessoas participassem das manifestações como forma de repudiar a violência contra os e as manifestantes.

Iniciados pela então Campanha pelo Passe Livre (futuro Movimento Passe Livre), os protestos logo foram abraçados por diversos setores da sociedade. Terminais de ônibus e principais vias da cidade foram ocupados; manifestantes abriam as portas traseiras para usuários entrarem sem pagar a tarifa ou simplesmente pulavam catracas; estudantes e associações de bairro organizavam passeatas e debates. Tudo isso num clima de democracia direta, sem o tradicional protagonismo partidário de mobilizações populares. (Retirado de: http://tarifazero.org/2009/07/22/revolta-da-catraca/)

Saiba mais sobre a Revolta da Catraca aqui e aqui.

4 COMENTÁRIOS

  1. Olá,

    Força e toda solidariedade para a organização e resistência que aí se inicia.

    Estaremos juntos, lado a lado, na luta contra aqueles que impedem o nosso deslocamento livre pelas cidades. Na luta, assim, por uma vida sem catracas!

    Grande abraço!

  2. Olá todxs!

    Toda a força para as mobilizações em Floripa. Cravar mais esse momento de luta no peito daqueles que exploram moradores e moradoras da Ilha só pode depender da mobilização popular. Floripa é prova disso: Um território em disputa! E todo o apoio possível estará ao lado dxs que lutam!

    Saudações!

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