25/05/2011, por volta das 8 horas da manhã, os ambientalistas *JOSÉ CLÁUDIO RIBEIRO DA SILVA* e sua esposa *MARIA DO ESPÍRITO SANTO SILVA*, foram assassinados a tiros no interior do Projeto de Assentamento Extrativista, Praia Alta Piranheira, no município de Nova Ipixuna, sudeste do Pará. José Cláudio e Maria do Espírito Santo se dirigiam de moto para a sede do município, localizada a 45 km, ao passarem por uma ponte, em péssimas condições de trafegabilidade, foram alvejados com vários tiros de escopeta e revólver calibre 38, disparados por dois pistoleiros que se encontravam de tocaia dentro do mato na cabeceira da ponte. Os dois ambientalistas morreram no local. Os pistoleiros cortarem uma das orelhas de José Cláudio e levaram como prova do crime.

José Cláudio e Maria do Espírito Santo foram pioneiros na criação da reserva extrativista do Assentamento Praia Alta Piranheira no ano de 1997. Uma área de 22 mil hectares, onde existia uma das últimas reservas de Castanha do Pará, da região sudeste do Estado. Além da Castanha do Pará a reserva é rica em açaí, andiroba, cupuaçu e outras espécies extrativistas. Devido à riqueza em madeira, a reserva era constantemente invadida por madeireiros do município de Nova Ipixuna e Jacundá. A área é também pressionada por fazendeiros que pretendem expandir a criação de gado no local.

“Eu defendo a floresta e seus habitantes em pé, mas devido esse meu trabalho sou ameaçado de morte pelos empresários da madeira, que não querem ver a floresta em Pé”, denunciava José Cláudio. Ele foi o primeiro presidente da associação do assentamento, foi sucedido na presidência da associação por sua espora Maria do Espírito Santo. Os dois ambientalistas eram incansáveis defensores da preservação da floresta extrativista. Inúmeras vezes interditaram estradas internas, pararam caminhões madeireiros dentro da reserva, anotaram as placas e encaminharam as denúncias ao IBAMA e Ministério Público Federal. Eram porta-vozes das mais de 300 famílias ali assentadas. Defendiam a floresta como suas próprias vidas. Nos últimos anos passaram a serem ameaçados de morte por madeireiros e fazendeiros. Por diversas vezes encaminharam denúncias de ameaças sofridas, através da CPT e do CNS, aos órgãos competentes, sempre nominando madeireiros e fazendeiros como responsáveis pelas ameaças. No final do ano passado, escaparam de uma emboscada, quando pistoleiros estiveram em sua casa procurando pelo casal.

Nos últimos anos, a CPT denunciou as ameaças contra o casal no caderno de conflitos no campo. Nem a floresta nem os ambientalistas foram protegidos pelo poder público. As castanheiras continuaram sendo derrubadas pelos madeireiros e as duas lideranças tombaram pelas balas criminosas de pistoleiros a mando de seus ameaçadores.

A responsabilidade pelas mortes dos ambientalistas recai sobre o INCRA, o IBAMA, a Polícia Federal que nada fizeram para coibirem a extração ilegal de castanheiras na reserva e a destruição da Floresta pelos madeireiros e carvoeiros. Recai ainda sobre o governo do Estado do Pará que não colocou a polícia para investigar as tantas denúncias feita por José Cláudio e Maria do Espírito Santo. Por fim, os dois ambientalistas são vítimas do atual modelo de desenvolvimento imposto para a Amazônia pelos sucessivos governantes, que prioriza a exploração desenfreada e criminosa das riquezas da floresta, em benefício do agronegócio, de madeireiros e mineradores.

As consequências são: a destruição da floresta, o saque de suas riquezas e a violência contra seus povos.

José Cláudio e Maria do Espírito Santo vivem na luta e na memória do povo!

Marabá, 24 de maio de 2011.

*Comissão Pastoral da Terra – CPT*

*Diocese de Marabá *


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Para José e Maria,
“A floresta é sustentável duas vezes mais em pé de que derribada.
Porque quando você derriba, você só tem uma vez.
E quando você deixa ela em pé, você tem ela pra sempre”.
(Zé Cláudio Ribeiro, nov. 2010 – assassinado em 24/05/2011 por jagunços ligados às madeireiras, às carvoarias e ao agronegócio)
Ele e sua companheira Maria, assassinada ao seu lado, são conhecidos nesta região amazônica pela intensa luta que travavam contra a destruição insana da floresta, sem a qual estamos diariamente, todos, sendo assassinados.
O carvão, juntando-se ao ferro, é a matéria prima do aço. O ferro sai das entranhas da terra e o carvão das árvores em sua superfície. O minério hoje é o principal produto na pauta de exportações do Brasil. O aço está em tudo o que nossas mãos alcançam. São coisas que usamos.  As pessoas estão morrendo, porque é preciso fabricar mais coisas. Chamam isso de desenvolvimento e de progresso.
Irei ao funeral de Zé Cláudio e de Maria do Espírito Santo Silva, assim como os demais companheiros que já estão velando seus corpos, com essa imensa sensação de impotência.
Quantos mais morrerão no varejo, antes que possamos resistir? Morreremos todos assim, um a um: por bala, na luta; por desnutrição na miséria ou por problemas respiratórios, em nossa inanição.
Desculpem, é apenas um desabafo. Quem sabe se somarmos nossa indignação, ela possa fazer algum eco para que mais Zés e Marias não morram em vão, lutando tão sós contra nossos assassinos!
Com profundo lamento,
Celia.

 

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