Afinal, os espaços de discussão, se quiserem ser algo frutífero e expansivo, não podem se limitar a resolver demandas criadas pela sua própria existência. Por Passa Palavra
Diferenças entre os contextos das revoluções no mundo Árabe, e no Norte e no Brasil
Foi no mundo Árabe onde muito se buscou inspiração – e, muitas vezes, semelhança – para as recentes acampadas que acontecem hoje em algumas cidades do Brasil, da Europa e dos Estados Unidos. Artigos deste mesmo site já tentaram contribuir com a desmistificação de alguns pontos e com a demarcação de diferença de contextos entre a situação Europeia e dos povos árabes em luta [1]. Resumidamente, podemos destacar aqui que a diferença básica entre o Norte, Sul e Leste é que, enquanto neste último as mobilizações buscavam derrubar ditaduras de decênios no poder, no países do Norte e no Brasil elas se limitam a questionar alguns aspectos dos seus sistemas políticos. Neste artigo, porém, o que mais importa é marcar as distinções entre os contextos do Norte (Europa e Estados Unidos) e o Brasil.
Assunto também já discutido por aqui [2], o contexto europeu e estadunidense é de uma crise interna aos seus mecanismos de expansão econômica. Assim, as grandes empresas monopolistas, ciosas por manterem suas taxas de crescimento, passaram a endurecer seus critérios sobre o conjunto de suas economias, promovendo um processo de centralização de capital sob o controle de um número menor de capitalistas. Esta situação se refletiu imediatamente sobre a parte dos capitalistas menos adaptados às novas condições competitivas, como também sobre uma massa enorme de pessoas que, como também já assinalado neste site [3], veem progressivamente decaírem suas condições de vida. Este é o substrato real das movimentações no Norte: a queda no padrão de vida é o impulso que retira da passividade uma grande massa de pessoas.
No Brasil a situação é completamente outra. Enquanto no Norte vê-se uma tendência à estagnação econômica, por aqui o que se assiste é ao momento histórico do “nunca antes neste país…”, com índices de crescimento econômicos somente comparados a de seus companheiros emergentes, os chamados BRICS. Três artigos recentres saídos na imprensa poderiam assinalar muito claramente o que dizemos [4]. Enquanto parte da esquerda no Brasil continua a perceber o país como um superexplorado pelo imperialismo, capitalistas do lado de lá e de cá do oceano começam a se organizar para as ondas de privatização que ocorrerão na Europa. Não é à toa que o governo brasileiro afirma não estarmos passando por tempos de pessimismo, e sim de oportunidades, hora de aproveitar para fortalecer a posição das empresas privadas no mercado europeu.
No entanto, disso não se conclui que em um quadro de crescimento econômico, como o verificado no Brasil, toda e qualquer luta social esteja impossibilitada de acontecer. Em sentido diverso, seria mais correto se perguntar, a nosso ver, em que termos elas podem ocorrer. Isto implica em desenvolver discussões e reflexões próprias, não ficando reféns à adesão de pautas e bandeiras emanadas de situações concretas tão distintas.
Assim, enquanto no contexto dos países do norte se vê com clareza o que fundamenta as ocupações e acampadas, por aqui, em sentido inverso, o que se vê é uma enorme dispersão e justaposição de pautas (não raramente, antagônicas), caminhando desde o ecologismo até as denúncias contra a corrupção, cujo substrato é fundamentalmente moralista.
Composição Social
No Norte, como consequência imediata da situação sócio-econômica, podemos observar que participam das ocupações um grande número de trabalhadores de diferentes setores, desempregados, estudantes e pessoas que de alguma maneira não querem que os governos nacionais arquem com as consequências da crise econômica. Embora em sua maioria se trate de jovens, não é possível restringir sua composição a uma única faixa etária, posto que os cortes governamentais, os chamados “fechamentos da torneiras”, recaem sobre uma ampla gama da população, rebaixando as condições daquilo que se chama de classe média.
No Brasil, porém, a composição social das acampadas parece ser muito mais restrita, girando em torno de estudantes universitários, alguns poucos secundaristas e moradores das ruas. A grande maioria dos manifestantes são jovens, em algumas regiões alguns ativistas “das antigas” dão o suporte necessário, sendo trabalhadores e moradores de rua (São Paulo) a aparecerem como coadjuvantes. Talvez por este motivo, e por não terem uma base social concreta sobre a qual projetar o movimento, é que se tornam por vezes tão caricatos e dispersantes em seus objetivos.
Além disso, cabe destacar que o fato de terem energia e não terem substrato e projeto político minimamente definidos, faz com que se abram muitas possibilidades aos movimentos, inclusivamente a de fundirem-se às indignações tipicamente conservadoras, como o são as marchas contra a corrupção, que abordam as questões do capitalismo de um ponto de vista altamente moralista e moralizador.
Ideia geral
Mas para o que exatamente se busca chamar a atenção?
Os diversos relatos que circulam pela rede, em geral, procuram salientar as acampadas como o prolegômeno de uma revolução, formadas por pessoas normais, sem filiação partidária ou sindical, que procuram dedicar um pouco do seu tempo para o bem comum e lutar contra as injustiças do sistema. Contudo, o que pode-se observar é que, sob lema da “indignação”, e baseado em estruturas de organização pouco claras e dispersantes, estes movimentos podem ter como triste fim a assimilação por parte dos velhos abutres de plantão, em suas profissionalíssimas formas de apropriação da luta alheia.
No geral, estas manifestações têm como ponto de partida convocatórias feitas pela internet, principalmente pela rede social mais utilizada do momento, o Facebook. Esta prática, que por um lado seria instrumento para garantir amplitude ao movimento e participação espontânea, acaba por salientar seu principal empecilho: a não participação real das pessoas na construção do processo de luta e seu consequente esvaziamento.
As convocatórias para as manifestações “aparecem” nas redes sociais “do nada”, marcando dia e hora para as pessoas saírem às ruas para protestar, com pautas, estrutura do movimento e ações previamente tiradas. Mas tiradas por quem, se é um movimento oriundo da rede?
Alguns relatos que chegaram até nós enfatizam o exposto acima: “[Em Salvador] Apareceu no Facebook uma ata de uma reunião que ninguém viu a convocatória, na qual se deliberou que os partidos poderiam levantar suas bandeiras, pois se tratava de uma mobilização em ‘pró da democracia’”. A divulgação desta ata, por mais irônico que isso seja, evidencia, pelo menos, uma preocupação com a participação popular, já que, segundo outro relato, de Goiânia, os organizadores do movimento nem com isso se preocuparam. As pessoas que compareceram na Praça Cívica de Goiânia mal sabiam como havia sido tirada a pauta que reivindicava o fim da corrupção, os 10% do PIB para a educação e luta por um mundo democrático e mais justo.[5]
Os atores
Do ponto de vista político, dezenas de tendências se embatem nestes movimentos. Dos tradicionais partidos, passando por diferentes organizações sociais, chegando em autônomos dos mais diversos carizes. É destacável que em São Paulo e no Rio de Janeiro estes grupos foram expulsos das acampadas, enquanto em Goiânia eles simplesmente foram neutralizados. Assim, dos que restam, como defini-los? A grande maioria adere a onda de manifestações em grande parte somente confirmando sua participação pela internet. Contudo, há aqueles que, mesmo sendo uma minoria, saem do mundo virtual e vão às ruas, dando assim uma estrutura concreta para as acampadas.
Mas é possível um movimento que não tenha uma construção coletiva obter alguma conquista? Percebemos que em algumas manifestações o que se vê é “Um microfone manipulado por dois ou três. [que] Vão andar o mesmo trajeto de sempre. Puxar as mesmas palavras de ordem de sempre.”. Ao mesmo tempo, em algumas localidades, uma vez contestada a forma de organização e pauta previamente tirada, e frente à nova proposta de estruturação e ações tiradas coletivamente, grande parte dos grupos se retiram. Alguns, pelo fato destas posições serem contrárias a de seus grupos partidários, outros porque se restringem à indignação, sendo que, para estas, “pouco importa o sistema, sua estrutura, organização econômica ou política, o que não querem é aguentar calados”.
Desta forma, as mobilizações e manifestações vão se transformando em um processo onde ”[…] essa história de juntar todas as reivindicações e ir pra rua não é, de forma nenhuma, construir novas relações sociais.”, cujo cume pode ser já previsto por alguns: “Mas isso me parece o maior ‘movimento para o nada’ que se pode dizer que o ‘movimento autônomo’ fez nos últimos anos (…) O que ocorre agora é algo semelhante (no público/na organização e nas oficinas), mas que com certeza não está no horizonte um movimento popular, isto é, que tenha a preocupação de envolver trabalhadores de outras classes em sua organização”.
Os acampamentos pelo Brasil
Estas são características gerais que se pode observar nas acampadas, mas a especificidade local também tem seu espaço, o que conduz estes movimentos a caminhos diferentes em algumas situações. De acordo com o relato de Goiânia, lá conseguiram transpor a pauta reivindicatória divulgada pelo facebook, organizando uma assembleia com o objetivo de decidir coletivamente quais seriam os rumos do movimento. E após o desconforto causado pela intervenção de uma mulher necessitada de ajuda, a assembleia decidiu por pautar um movimento de base, sendo que as novas investidas, decididas coletivamente, dar-se-iam sobre a precariedade do sistema de transporte coletivo.
Em Salvador, é flagrante o reduzido número de pessoas, que pode estar relacionado com a escolha do local, um espaço desligado da vida da cidade e à beira mar, que traz agravantes no que tange à sua estruturação, aliada às fortes chuvas do período, fazendo com que as principais atividades dos manifestantes ocorram em espaços diversos daquele onde estão acampados.
Em São Paulo, o movimento que resolveu acampar embaixo do Viaduto do Chá, nos primeiros dias se deparou com problemas de infra-estrutura, baixas temperaturas e chuvas que dificultaram a organização do espaço. Vencida esta etapa, neste instante parece contar com uma população flutuante que chega a picos de 200 pessoas.
No Rio de Janeiro, o movimento de ocupação que se estruturou somente uma semana após a convocatória do dia 15 de outubro, decidindo por ocupar a Cinelândia, hoje conta com cerca de 100 barracas e uma população flutuante próxima ao número de São Paulo. Em ambos os casos a principal tendência inicial foi a de discutir aspectos de organização interna, chegando em alguns momentos a patinar sobre o tema.
Obviamente que debates e divisões de tarefas que concernem à difícil arte da convivência coletiva serão sempre pertinentes e cruciais para definir os caminhos que tomará um dado movimento, contudo, quando tomam quase todo o expediente de trabalho de uma ocupação, podem ser, ironicamente, o sinal de que aquilo que era para ser tão-somente um meio para se atingir um objetivo esteja se tornando a própria finalidade, constituindo um verdadeiro processo de fetichização da organização. Afinal, os espaços de discussão, se quiserem ser algo frutífero e expansivo, não podem se limitar a resolver demandas criadas pela sua própria existência.
Em sentido inverso começa a se esboçar uma preocupação que passa pautar a inserção de discussões e temas que extrapolem o universo daqueles que estão ali acampados. Contudo, estas preocupações ainda não se tem transformado em ações efetivas. Se conseguirão ultrapassar este limite, só o tempo irá dizer, embora esteja claro que muitos problemas e contradições terão de ser vencidos.
Porém o mais preocupante de toda esta história está na dispersão de um forte potencial de mobilização presente nestas manifestações: ”Nos três casos [Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro], e mais fortemente nos dois primeiros, o que todos querem é falar, conversar, discutir, debater, embora poucos percebam que talvez estejam discutindo com espelhos. Como esta onda de ocupações de praça ainda está no começo, espero – e prefiro – estar errado, mas a impressão que tenho é de que todos voltarão para casa assim que seus patrões ou seus pais os chamarem de volta”.
A ação puramente simbólica e o caminho da politização
Antes que nos acusem de ser demasiadamente pessimistas ou imobilistas, convém assinalar que temos em conta os diferentes significados que tais manifestações podem assumir em suas localidades, em função da especificidade de contextos e base social que as compõem. Se o tratamos pelo termo manifestações, é porque temos por pressuposto que, de alguma maneira, estes eventos exprimam, ou sejam resultado de, um processo social que lhes de sustentação. Neste caso, impõe-se tomar como critério a seguinte questão: em que medida, e sob que aspectos, as acampadas manifestam uma construção coletiva anterior, que esteja de fato ampliando pelas bases processos consistentes e cotidianos de democracia direta? E mais: de que maneira elas representam um ataque aos fundamentos da ordem capitalista, que, se se deixa aparentar democrática no plano político formal, acolhendo críticas e indignações, não tolera qualquer ligeiro tremor nas suas estruturas produtivas? Parece-nos estas as perguntas a serem feitas para cada caso em particular. E, sob esta ótica, muitas vezes as iniciativas mais discretas podem ser mais frutíferas do que os grandes estardalhaços.
Assim, se se quer que as acampadas ultrapassem o número limitado de pessoas, que na maioria das vezes já contam com uma prévia identificação, é urgente e necessária a construção de uma ponte com o mundo do trabalho, com as empresas, com as periferias, com as escolas e faculdades, ou seja, com o mundo das pessoas comuns. Se um dos objetivos é a construção de uma democracia verdadeira, certamente isto não ocorrerá a partir de espaços que não têm relação alguma com o cotidiano das pessoas. Neste contexto, ganham dimensão e importância o velho trabalho de base, onde há a construção e expansão cotidiana de novas relações sociais. Para se superar a onda de proclamações abstratas e dispersantes, é necessário fazer o caminho da politização, que consiste em inserir o problema específico no contexto geral, e não o inverso, como tem sido a tônica. Se queremos que o acampamento tenha uma boa consistência, uma longa duração e grandes consequências políticas, é imprescindível que o próprio acampamento seja resultado de lutas concretas, de assembleias e comissões democráticas realizadas previamente em locais de trabalho, em bairros, em escolas, ou seja, em locais onde o que é decisivo para a vida acontece.
Do contrário, se se limitarem a existir enquanto o início de tudo, como as justificam em boa parte dos casos os seus entusiastas, e não como expressão de um acúmulo gerado a partir de processos de luta enraizados, então tudo não terá passado de mais um frenesi pós-moderno.
Notas
[1] Uganda: a luta da “ida a pé para o trabalho” e as lições do Soweto e da Praça Tahrir <http://passapalavra.info/?p=40752> e África e a “Revolução 2.0”: Activismo em rede e militância no terreno <http://passapalavra.info/?p=39994>.
[2] Série Ainda acerca da crise económica com 8 artigos, cujo primeiro o declínio dos Estados Unidos <http://passapalavra.info/?p=28011> traz os links dos demais ao final.
[3] Série Brasil hoje e amanhã com 8 artigos, cujo primeiro hesitações <http://passapalavra.info/?p=43646. traz os links dos demais ao final.
[4] Versão dos capitalistas brasileiros <http://www.valor.com.br/brasil/1071116/brasil-deve-aproveitar-onda-de-privatizacoes-na-europa-diz-mercadante>, dos capitalistas portugueses <http://www.publico.pt/Pol%C3%ADtica/passos-leva-a-dilma-luz-verde-para-a-privatizacao-da-edp-1518438> e a organização geral dos capitalistas <http://latinamerica.economist.com/event/brazil-summit-2011>.
[5] Goiânia e as manifestações de 15 de outubro <http://passapalavra.info/?p=47715>.
Acredito que a crítica é um ótimo dispositivo para tirar as pessoas da inércia. só acho uma pena que essa crítica seja feita por pessoas completamente alheias ao processo, alheias ao dia a dia das acampadas. Não sei exatamente quem escrveu esse texto mas imagino que essa pessoa não deva estar participando de nenhuma comissão, de nenhum grupo de trabalho. Talvez quem escreveu esse texto deva no máximo ter passado uma noite lá, e já com a idéia de colher material para o seu texto. Visão perspicaz a sua, mesmo distante conseguiu analisar razoávelmente bem o que está acontecendo lá.
Concordo com muita coisa que vc disse meu caro amigo crítico, mas eu estou no acampamento desde o primeiro dia tentando construir com as pessoas que estão lá.
Não digo nem que vcs são pessimistas nem imobilistas. digo que vcs estão em cima do muro. Numa frase vc diz: “Se se quer que as acampadas…” Já na outra vc se rende: ” Se queremos que o acampamento tenha uma boa consistência…” Pô meu irmão! desce do muro e vem pra de baixo do viaduto!
“Assim, se se quer que as acampadas ultrapassem o número limitado de pessoas, que na maioria das vezes já contam com uma prévia identificação, é urgente e necessária a construção de uma ponte com o mundo do trabalho, com as empresas, com as periferias, com as escolas e faculdades, ou seja, com o mundo das pessoas comuns.” Eu e muitas pessoas que estão fazendo parte do OCUPA SAMPA estamos tentando nos organizar para construir essa ponte. Não é fácil, requer tempo e disponibilidade das pessoas. Convido vc a nos ajudar.
Outra coisa, vc diz que os “moradores de rua” são coadjuvantes no processo. Tem muito “morador de rua” aqui que tem um puta tesão em escrever e adorariam aprender a escrever bonito assim como vcs… eles inclusive estão atrás de pessoas dispostas a ensinar, oq acham de passar a palavra a eles?
Tenho uma pergunta ao pessoal do PASSA PALAVRA vão ficar ai analisando a coisa de longe e esperando ver se da certo, ou vão se juntar a nós? Ou vcs vem alguma outra saída a não ser tentar? Se isso se tornar só mais um frenesi pós moderno oque vcs farão!? mais um belo texto suponho.
Meu nome é Caio Castor e sou parte do OCUPA/ACAMPA SAMPA e assumo nossas fraquezas, erros e contradições, mas tbm assumo a beleza de sermos eternos aprendizes.
Olá, Caio,
Com todo respeito, discordo de sua opinião. Se só pudéssemos emitir opinião acerca daquilo com que tratamos diretamente, toda e qualquer teoria ou acúmulo histórico seria impossível. Afinal, por mais universais que pretendamos ser, nossa prática permite que toquemos com as mãos apenas uma parte do mundo, e um momento da história.
Além disso, convém não ignorar que a experiência política não nasceu e não morrerá com as acampadas, de modo que, se uma pessoa não participa desta ou daquela ocupação, não significa que ela não seja atuante em outras dimensões da vida.
Também acho que a prática deve ser o fundamento de qualquer teorização, desde que não recaia num empiricismo que substime a existência de tantas outras frentes de luta acontecendo pelo mundo hoje em dia. E parece-me que foi também para isso que o artigo pretendeu chamar a atenção.
Abraços,
Taiguara
A primeira seção do artigo contém tudo que gostaria de dizer sobre o fenômeno dos acampamentos no Brasil.
Reproduzir no Brasil uma forma de manifestação que eclodiu em outras partes do mundo devido a um contexto aqui inexistente me parece bastante sem sentido.
De resto, embora não tenha subsídios suficientes para fazer tal crítica tão categoricamente, pelo que percebo concordo com o resto do artigo também.
De toda forma, espero que a experiência sirva de aprendizado a quem está participando (certamente servirá), como iniciativas mais bem ou menos bem sucedidas sempre serviram a todos nós. E que os participantes continuem atuando politicamente, posteriormente.
Os acampados no Brasil se resume a mais uma tentativa frustrada de repetir aquilo que ocorre em outros países. Simples assim. O sujeito vê na TV e quer fazer aqui. Tão sem base quanto as festas de São Valentin promovidas pelas escolas de inglês.
Vocês precisam ver a piada que é o acampamento de Campinas. Aquilo denigre os moradores de rua.
Caio Castor, fiquei com a impressão de que o que te incomodou no texto não foi exatamente o conteúdo (afinal você disse concordar com boa parte das análises), mas o fato de críticas tão pertinentes virem de pessoas que não estão envolvidas diretamente no processo de construção das acampadas.
Discordo que o Passa Palavra esteja em cima do muro. O site é assumidamente anticapitalista e é por esse viés que eles fazem a análise. Ou seja, estão do mesmo lado da barricada que nós. Portanto, ainda que o tom possa soar desrespeitoso, o artigo não é um ataque contra as acampadas, mas sim uma crítica que pode (e pretende) levar os envolvidos no movimento a pensar sobre a própria luta.
Bom lembrar também que os membros do Passa Palavra não ficam só escrevendo de longe. São militantes, que participaram de movimentos dos quais a acampada é uma herdeira direta (como o 1968 de Paris e a Ação Global dos Povos, http://passapalavra.info/?p=41710). Portanto, carregam uma experiência que não podemos menosprezar, pois com certeza já cometeram os mesmos erros que cometemos hoje, e é a partir do contato com os erros e acertos dos que vieram antes que podemos amadurecer as nossas lutas (http://passapalavra.info/?p=42773 e http://passapalavra.info/?p=48007).
Falei isso tudo não para defender o Passa Palavra, mas porque iniciei minha militância esse ano a partir das mobilizações contra o aumento de São Paulo, e tenho aprendido muito com os relatos e reflexões de militantes antigos. Vejo também que o próprio fato do texto ter sido escrito longe do calor das acampadas torna seu conteúdo mais sóbrio, menos embriagado pelo entusiasmo do momento de construção da luta, que normalmente ofusca nossa análise.
Publicado no Antitextos: http://fabriciokc.wordpress.com/2011/11/06/o-passa-palavra-e-as-acampadas-informacao-desinformada/
o Passa Palavra e as acampadas: informação desinformada
O sítio Passa Palavra publicou, no esforço continuado de entender os fenômenos políticos das acampadas no mundo inteiro, o artigo intitulado Entre símbolos e ações simbólicas: os indignados e as acampadas, que cita o Ocupa Salvador, movimento de movimentos que tenho participado. Passarei por alto por uma ou duas sérias contradições no texto das quais não quero me aproveitar, para ater-me somente ao essencial: o texto revela importantes questões sobre o atual estado viciado e anacrônico do discurso de certos agentes que se dizem anti-capitalistas. Cabe salientar que a minha resposta se dirige especificamente ao texto em questão, e não ao Coletivo Passa Palavra, sobre o qual não me sinto apto a emitir um juízo posto que não fiz um estudo sobre as suas publicações.
O Passa Palavra indica em seu sítio que o Coletivo constitui ”um grupo de orientação anticapitalista, independente de partidos e demais poderes políticos e econômicos, formado por colaboradores de Portugal e do Brasil, cujo intuito maior é o de construir um espaço comunicacional que contribua para a articulação e a unificação prática das lutas sociais.” (Clique para ler a apresentação do PP)
Sendo este o escopo do Passa Palavra, seria prudente aprofundar, sempre que possível, as pesquisas sobre os temas abordados, pelo menos na mesma proporção da suposta autoridade dos juízos de valor – do contrário, as opiniões afundam no mero tom declaratório que marcou todo o artigo em questão.
O Passa Palavra acerta em alguns pontos da análise sobre os movimentos Ocupa, sobretudo naqueles que se referem aos contextos europeus – talvez porque tais contextos foram amplamente abordados por comentadores europeus e norte-americanos. Quando os comentários são sobre o contexto brasileiro – mencionando o momento de crescimento econômico que desloca o Brasil dos contextos de crise interna “dos mecanismos de expansão econômica dos estadunidenses e europeus”, como coloca acertadamente, creio – é que o PP incorre no tom declaratório e traz, inclusive, informações falsas.
Por exemplo, o seguinte trecho do artigo do PP declara que:
“As convocatórias para as manifestações “aparecem” nas redes sociais “do nada”, marcando dia e hora para as pessoas saírem às ruas para protestar, com pautas, estrutura do movimento e ações previamente tiradas. Mas tiradas por quem, se é um movimento oriundo da rede?”
O trecho é confuso, para não recorrer a adjetivos mais adequados porém menos elegantes. A pergunta que o encerra é sofrível – o que é a rede para o PP? Talvez algo que não envolva…pessoas? Eu creio ter entendido a intenção, mas cabe uma reformulação para insinuar, de forma mais clara, as supostas dinâmicas escusas dos movimentos Ocupa.
Logo depois do referido trecho, segue:
“Alguns relatos que chegaram até nós enfatizam o exposto acima: ‘[Em Salvador] Apareceu no Facebook uma ata de uma reunião que ninguém viu a convocatória, na qual se deliberou que os partidos poderiam levantar suas bandeiras (…)”
Como integrante do Movimeto Ocupa Salvador, garanto que tal ata não existiu – e se os relatos que chegaram ao Passa Palavra mencionam tal documento, certamente ele não representa um documento elaborado pelo coletivo que forma o Ocupa Salvador, o que revela a pressa e a confusão dos argumentos do artigo do PP, elementos que acabaram por determinar o seu muito evidente tom declaratório.
Mural no Ocupa Rio
Algumas críticas e questionamentos, no entanto, são pertinentes, embora representem clichês, como o lance das possibilidades de conquistas dos movimentos ocupa, em outras palavras, a questão crucial que são problematizadas pelos próprios participantes dos movimentos e acampados em todo o mundo: de que modo essas diversificadas, controversas e plurais manifestações alcançarão graus efetivos nos contextos políticos e sociais das diversas esferas que compõem os seus anseios?
Enfim, recomendo a leitura crítica do artigo que critico aqui, contudo reitero que o Passa Palavra publicou informações confusas, imprecisas e inclusive falsas quando mencionou o movimento em Salvador, pelo menos, acertando somente ao apontar que “em Salvador, é flagrante o reduzido número de pessoas” que participam do movimento – porém, isso deveria facilitar a pesquisa e a busca de informações, e não concorrer para a publicação de informações falsas. Imprecisas e flagrantemente declaratórias.
Independente, entretanto, das controvérsias pontuais, o texto contribui para o debate sobre esses controversos movimentos contemporâneos que começam a avançar também no Brasil, salientando que o artigo não traz só contradições pontuais, mas também teóricas – isso, porém, fica para outro momento, pois não sou intelectual nem teórico, mas alguém que vivencia os movimentos e que, bem ou mal, os tornam reais juntamente com todos os outros “indignados”.
Ah! cai como uma luva mesmo nas mãos mais anacrônicas:
“Karl Marx disse: a tarefa não é somente entender o mundo, mas transformá-lo. Uma variante que convém ter em conta é que, se queremos com mais força mudar o mundo, vamos entendê-lo. Isso não significa escutar uma palestra ou ler um livro [ou um sítio na internet?], embora essas coisas às vezes ajudem. Aprende-se a participar. Aprende-se com os demais. Aprende-se com as pessoas com quem se quer organizar.
(Em artigo de Noam Chomsky – e eu concordo).
Em tempo, o artigo do PP ainda faz algumas críticas coerentes a elementos conservadores dentro dos movimentos Ocupa no Brasil, como modos do discuro moralizante anti-corrupção, mas somente para demonstrar mais uma vez o desconhecimento sobre a pluralidade destes movimentos no Brasil. Tais movimentos são processos, que por mais controversos que sejam, não merecem e nem mesmo podem ser atingidos pelo fogo amigo (e retórico) dos agentes anti-capitalistas “tradicionais”.
O engraçado que os erros que percebi ao longo desse ano, nunca vi por aqui, pq quem tropeçou e caiu não contou hehe, eu mesmo ainda não tive tempo de fazer um relato por estar demasiado nas ruas hehe
Fabrício,
seria muita inocência sua pretender ter controle sobre algo tão complexo quanto a internet. Imaginando que não seja este o caso, imagino, também, que você saiba que é perfeitamente possível ter existido uma “ata” como esta que se mencionou no artigo. E que uma “ata” como esta tanto poderia ter sido lançada por alguém que quis impor esta pauta ao Ocupa Salvador quanto por alguém de dentro do próprio acampamento, mas que prefere — sabe-se lá por quê — não se identificar. Um caso típico de “jogar o barro pra ver se cola”.
Acho que o problema todo, como já tivemos oportunidade de conversar ao vivo, é o de falta de maturidade para lidar com certas questões. Sua “réplica” concentra-se num suposto erro e em “afirmações taxativas”, tanto quanto as suas próprias ao acusar o Passa Palavra de discurso “viciado e anacrônico”, de escrever em “tom declaratório” e de escrever “clichês”. E não adianta dizer que não está atacando diretamente o coletivo e restringir-se ao texto quando se trata de um texto assinado pelo próprio coletivo; é ao coletivo que você está se referindo, porque assim como a internet é uma “rede de pessoas”, um artigo são as ideias de uma ou mais pessoas. Poderia igualmente dar nome bastante singelo ao seu professado e assumido anti-intelectualismo, mas prefiro manter o debate num tom de respeito.
Recomendaria sinceramente que você revisse ou aprofundasse suas críticas, porque, além de um suposto erro factual, você não faz outra coisa além de adjetivar. Como uma criança de quem tiram o brinquedo.
Nos vemos na atividade do dia 9.
Conheço um sujeito que inventou o robriquete. Depois de inventado, começou à procura para ver se o instrumento servia para alguma coisa. Até agora nem ele nem ninguém lhe descobriu utilidade nenhuma, mas, dizia-me outro dia, «quem sabe se, pelo facto de o robriquete existir, acabará por ter uma finalidade?».
Manolo,
Sua resposta lacônica e evasiva, embora quase cordial (relevando o ressentimentozinho mal disfarçado e adjetivado), não contribui para o debate proposto por minha réplica. :)
O erro factua que vc aponta e tenta minimizar compromete eticamente o artigo. Além do mais, nem no texto do PP nem em seu comentário, há qualquer sinal que possibilite a mim reconhecer a autoridade intelectual com a qual vc se reveste no discurso – inclusive professando orientações de conduta, condizindo o debate para um campo desnecessário.
Volte ao debate das ideias, creio que vc pode contribuir mais, do contrário eu não me daria ao trabalho de replicar o PP.
E embora o artigo seja coletivo, continuo não me sentindo capaz de criticar o PP como um todo, mas sim pontualmente no que concerne a este artigo. Se vc diz que este artigo representa sim o nível e a posição do PP, vc mesmo estende a minha crítica a todo o coletivo.
De novo, voltemos ao debate de ideias.
Sempre as ordens.
Abs
Postado no dia 11/10, às 2:04, na página “15O Salvador/Bahia”, no Facebook, com 44 comentários e 10 “curtir”. Aparentemente a autora é militante do PSOL e entre os 44 comentários há questionamentos a respeito desta reunião e um bom debate sobre as estratégias e localização da ocupação que estava por acontecer:
++++
Olá galera! Vou fazer aqui, bem brevemente o que discutimos hoje na reunião presencial do 15O juntamente com o comitê baiano pelos 10%do PIB para a educação.
1-Pautas:
Discutimos a necessidade de agregar o maior numero de coletivos e grupos que estejam na luta. Isso diz respeito a construção das pautas a partir das reivindicações. Como, por exemplo: Contra Belo MOnte; por 10%do PIB para a educação pública; contra o machismo e a opressão feminina;
2- Sobre as bandeiras de partidos. Este foi um ponto que ao meu vê, apesar de polêmico, conseguimos fazer um bom debate. Foram colocadas as diversas posições e discutimos em síntese que, há partido que estão na luta nessa construção, historicamente foi derramado muito sangue para que se pudesse levantar uma bandeira, nossa manifestação será muito rica a partir da unidade entre as diversas bandeiras, partidárias ou não, e que é um momento de se exercitar a nossa democracia. Reivindicamos democracia real, nada mais ligado a pauta do que poder se manifestar publicamente. E me parece que nos outros estados também foi feito este acordo, sem briga entre partidos, sem briga entre os coletivos, este é um momento de mostrar unidade.
3- Sobre o trajeto: Marcamos para nos encontrarmos na praça da piedade às 8h para oficina de cartazes, e sair em marcha até o elevador Lacerda.
4- Das comissões: Tiramos quatro comissões a serem incorporadas por tod@s
Estrutura: que verá o carro som, material para rodar panfleto e etc:
Comunicação: divulgação do 15O para os diversos movimentos e agitação convocando para a participação
Segurança: Pensar e realizar a segurança do trajeto
Agitação: Agitação durante a marcha com palavras de ordem que aglutinem as pautas.
Não coloquei os que já se dispuseram nas comissões por que não tenho de cabeça. Mas a ideia é nos incorporarmos para essa construção.
Bem, se esqueci de alguma coisa, me completem. Acho que no grosso, foi isso.
E vamos em frente com a nossa mobilização!
Salvador, rumo ao dias dos #Indignad@s!
#TomarAsRuas por Democracia Real Já!
Fabrício, de todas as acusações feitas ao PP a mais séria, no meu entender, é a de construir seus textos de forma apressada e confusa, quando, para mim, o zelo com a qualidade que o PP tem é a característica mais importante do site/coletivo. Acho que, com o aparecimento desta ata, o apressado e confuso passa a ser você, que não lê nem os encaminhamentos das reuniões do movimento que participa.
D. Caribe,
No dia 15 de outubro houve concentração na Piedade e havia vários militantes de partidos políticos, mais notadamente do PSOL e do PSTU. Participantes livres, alguns até anti-partidos, se opuseram às bandeiras partidárias e aconteceu ali mesmo uma assembleia aberta.
Nesta assembleia, prevaleceu a partcipação de pessoas (inclusive dos paridos) e ideias, mas sem faixas e bandeiras que poderiam confundir a opinião pública acerca da natureza da manifestação. Os militantes de partidos impuseram que só participariam com as bandeiras. Em monoria, preferiram se retirar e levaram consigo tudo o que haviam trazido. Assim nasceu o 15-o baiano, aberto a todos, mas sem participação dos partidos políticos.
O Movimento Ocupa Salvador (esse processo informe, mas criativo, ativo e realizador) se inciou e se mantém sem nenhuma sequer participação de partido ou de qualuqer entidade de qualquer natureza.
O movimento tem acontecido unicamente através da agregação de pessaoas, e contribuíram coletivos apartidários como o Carcará e o Anonymous.
Tudo o que tem resultado do movimento: diálogo com Michael Boroway, atividades culturais, o evento de hj (dia 07) com Vladimir Safatle, as dicussões sobre mobilidade com a Bicicletada Salvador e as tentativas de integração com movimentos sociais, tem acontecido unicamente a partir do esforço coletivo e colaborativo de pessoas.
Fabrício, não questiono a legitimidade da participação dos partidos nas manifestações. Por favor, não jogue o foco para outro palco. Enquanto sujeitos políticos, acho até que devem participar e os que entendem que estes sujeitos burocratizam as lutas e as usam para autopromoção devem limitar a ação deles, desde que esse não se torne o centro da ação, porque tudo que esses partidos querem atualmente é que percamos tempo discutindo se eles devem ou não levantar suas bandeiras. A questão aqui é outra. Você acusou o PP de algo muito sério no seu texto e eu provei aqui que você falou o que não devia ter falado. E falou o que falou porque foi apressado e não teve cuidado com o que fala e publica.
caribe,
Provou como?
Apresentando uma ata do dia 11 de outubro e atrubuindo-a a um movimento que começou no dia 15 de outubro sem a participação das pessoas que fizeram tal ata, simplesmente pq elas representavam partido e preferiram se retirar do 15-o depois de assembleia do dia 15?
Repito, o movimento começou no dia 15 (as articulações podem ter começado quando vc quiser).
Enfim, as coisas estão bem claras, embora vc tente retroce-las? Vc compreendeu o que significa essa postagem pontual que vc capturou no facebook? O movimento nem sequer existia quando ela foi feita.
Mias cautela e isenção para o bom andamento do debate.
Incluseive, só pra esclarecer, eu mesmo mantive postura conciliadora entre o movimento e os partdidos, defendendo que os partidos são fundamentais para a discussão política efetiva.
Mas a assembleia do dia 15 (que reuniu pessoas para além desse “documento” que vc copiou aí em cima) deliberou que não haveria participação de partidos, e os próprios partidos, represnetados pelas pessoas q ali estavam, se retiraram por vontade própria e mui zangados.
Qualquer dúvida, procure alguém do movimento Ocupa Salvador para esclarecer esses pontos claros, mas q parece confusos pra vcs…
Só mais uma coisa aos amigos, sobretudo a Manolo:
Como não posso fazer uma crítica pontual ao PP? Mesmo ue todos os artigos do PP fossem coletivos, eu e qualquer pessoa poderia concordar com um e discordar de outros, não?!
Inclusive, comecei a acessar o PP a partir da polêmica envolvendo o Coletivo Fora do Eixo, e até manifestei em meu blogue o quanto o PP foi esclarecedor e coerente, em minha opinião.
Está aqui, texto de junho de 2011 http://fabriciokc.wordpress.com/2011/06/23/nem-esquerda-nem-direita-nem-fora-do-eixo-ivana-bentes-e-o-artigo-do-passa-palavra/
É isso, Fabrício, você tem toda razão. A Ocupação Salvador deveria mudar de nome, inclusive. Que tal Big Bang? Afinal, foi no dia 15 de Outubro que o universo começou. O que teve antes não tem nada a ver com o que acontece agora. Foram esses sujeitos que se reuniram, do nada e sem articulação prévia, que deram início a tudo. BOOM! Desculpa meu engano, desta vez eu quem fui apressado e descuidado ao resgatar um texto da pré-história da humanidade.
Eu ia até pedir pra você me bater um abacate, mas essa fruta ainda não deve existir na sua Nova Era.
Assino embaixo da noção de que as ocupas brasileiras tem de buscar contato com a ‘sociedade em geral’ (assim como as ocuppys buscaram, ou os indignados) – a começar por sindicatos e associações locais, etc – ou serão ineficazes.
Também acho sábia a recomendação de se inteirarem da luta que já está rolando (muitas vezes há décadas). Aqui em BH há todo uma gama de movimentos já ‘em ação’ que poderiam se complementar muito junto às ocupas, falo de movimentos apartidários inclusive, como comitê dos atingidos pela copa, movimento fora lacerda (o prefeito), as ocupações urbanas…
Contudo, acho que pessoas que já estão atuando há tempo – e também as pessoas que estão cientes dos debates teóricos e estudos já realizados – tem a responsa de intervir nas acampadas, fomentando essas articulações, ensinando experiências de movidas passadas, etc. Cuidado pra não ficar só panfletando críticas: por mais que o OWS finque suas raízes em uma crise econômica, só se tornou o que se tornou porque ativistas já experientes das movidas anti-capitalistas anteriores INTERVIRAM.
( http://www.nakedcapitalism.com/2011/10/david-graeber-on-playing-by-the-rules-%E2%80%93-the-strange-success-of-occupy-wall-street.html )
Imagine assim: tem um influxo novo de indignados, e essas pessoas não tem nenhuma obrigação (e que bom!) de nos acatar como líderes, orientadores, ou mesmo de conhecer certas literaturas; cabe a nós impedir que esses movimentos sejam cooptados – principalmente pelos moralismos de direita e pelos esquemas verticalizados de certas ‘esquerdas’. Precisamos receber essas pessoas de braços abertos e oferecer de bom grado o que temos pra oferecer, enfim, trocar, afetar e ser afetado. E nisso eu acho que o texto falha parcialmente, mais pelo que dá a entender como seu tom de fala (que me evoca o eterno ciclo de panfletos sectários críticos que assola boa parte da esquerda histórica) e menos pelo conteúdo em si.
Enfim, de qualquer forma acho ótimo que essa discussão esteja em aberto. Sei que em alguns dos ocupas tem gente das movidas antigas que tá atuando pra questionar várias coisas. Esse movimento tem potencial, sim, de se tornar algo novo e diferente do que já existia – e muita possibilidade de COMPLEMENTAR os outros movimentos (e vice versa). Mas é necessário ligar os pontos – e pra isso todo mundo tem de passar por cima dos egos.
As ocupas e acampadas não precisam, ‘sozinhas’, fazer a revolução macro, nem mesmo uma reforma, mudar uma pauta da política oficial. Só de se manterem elas podem ser uma esquizoanálise em ato – o experimento, a experiência do desmonte das instâncias molares, verticais, e o emergir do desejo, e seu poder de articulação. O melhor futuro que vejo pro OWS – o da gringa mesmo – é se tornar um centro neural de um contrasistema, encravado no coração do capital mundial – e um exemplo duradouro de uma alternativa. Mas ser um ‘centro neural’ EXIGE conecção, exige rizoma, ou isso ou você é um neurônio pensando em sua bolhinha.
Caribe,
O 15-o foi se iniciou como uma articulação global. Não começou em Salvador, nem no Brasil… Desse simples dado infere-se a raiz de muitos de sues erros manifestados nos comentários.
Eu, paricularmente, valorizo as lutas políticas e sociais (e mui difíceis e muitas vezes heróicas) que configraram o mundo ao longo da história.
Sei que fui ríspido nos comentários (e talvez até na minha réplica) – o que lamento agora e acho sinceramente desnecessário.
Mas continuo firme de que o rechaço à crítica sem uma posição coerente não ajuda a cosntruir o pensamento.
Enfim, creio que estamos do mesmo lado, lutando pelas mesmas coisas, as vezes cometendo os mesmos erros – e sempre aprendendo mutuamente.
Creio sim que há erros sérios neste artigo do PP e em alguns argumrntos dos comentários, sobretudo pq o artigo faz declarações sobre um movimento do qual participo diariamnete, juntamnete com algumas outras pessoas, – seria importante informar-se para informar – foi essa a minha cr’tica e a mantenho (ressalvando se a manifestei com excesso ou não de rispidez).
abração cara!
Não fiquemos de mal! :)
Fabrício, qualquer veículo de informação de esquerda sério não perde tempo atacando pessoas. Faz críticas aos movimentos, instituições e práticas. Às pessoas e organizações só se deve centrar fogo quando elas se tornam uma das três anteriormente citadas. Há, de fato, movimento que se confundem com seus líderes e organizações e isso é um grande problema. A personificação da luta tira dela todo o dinamismo. É sintomático que você tenha levado pro lado pessoal uma crítica feita ao que acontece agora, no Brasil e em Salvador, e que tem pouco a ver com que acontece no resto do mundo.
Quanto às necessidades de se fazer crítica e de se assumir as nossas derrotas (sim, eu não estou participando deste movimento, mas me sinto parte desta geração e por isso me sinto também derrotado) eu deixo pra você as quatro ou cinco linhas do atual Flagrante Delito, que diz mais do que eu conseguiria em outras cem.
Sim a acampada da SP tem problemas internos. isso é um fato, são muitos e não tem como negar.
Mas falar que os moradores de rua são coadjuvantes é no mínimo um tremenda falta de informação (diria maldosa, inclusive). Pra quem não sabe, o movimento nacional da população de rua tá presente no OcupaSampa, tem voz na assembléia como qualquer um e mais, são referência em inúmeras questões la dentro, inúmeras mesmo. Além disso alguns moradores de rua (isso mesmo, alguns, não são todos, temos moradores de rua que não fazem nada e o pessoal da classe média que não faz nada tb) são FUNDAMENTAIS nas diferentes comissões. Colocar os moradores de rua presentes e ativos dentro do movimento na posição que esse texto coloca me soa preconceituoso pra caralho. E como alguém que conhece minimamente os militantes do coletivo passa palavra, eu sei que tão falando isso sem tanta propriedade sobre o acampamento, afinal não estão lá de fato. Fazem visitas, quando muito. Por isso, não tem como saber quem é coadjuvante lá ou não. Mas é morador de rua né? deve ser assim. O que dizer, meu contato com vários deles é fundamental pra minha formação política.
Ok, vamos continuar…
Demandas internas:
esse acamapamento é diferente de tudo que todo mundo que está lá ja viveu, mto diferente. A comissão de segurança lá, não é a comissão de segurança de um ato. Não é algo que tem início meio e fim, é mto diferente, é consatante. E além das leis do Estado, sobre a nossa cabeça imperam também as leis da rua.
Afinal, como lidar com crianças totalmente descontroladas pelo uso desmedido de solventes que vem atacar em massa o acampamento durante a madrugada? Devemos mandar prender? acionar a GCM? E mais, com se chegar a um concenso entre as diferentes opiniões sobre o que fazer com elas. Sabe, não é fácil, mesmo. E ah! Sempre tem o pessoal do libera tudo que nem sempre tá lá quando crianças usam tochas pra tentar invadir o acampamento.
Ou como uma parte do texto fala de uma moça ter pedido ajuda durante uma assembleia. Olha amigo, estamos no viaduto do chá, da pra se ter noção da quantidade de gente que sofre de problemas psiquiátricos e aparec lá pq agora existe um porto seguro pra quem mora na rua no centro de SP? (até chegarmos lá a polícia simplesmente te espancava se você tentasse) Eis que começamos a entender que a resposta esta em um contato com o movimento anti manicomial. E pasmem, a maioria das pessoas que “causam” ( e qdo digo causar é tirar a roupa, senhoras de idade mostrando os seios sabe, é nesse nível) é gente expulsa dos serviços públicos. Nisso estamos articulando uma aproximação com o pessoal dessa luta que foi hoje mesmo no acampamento conversar com a gente.
Sabe qual é um dos problemas grandes? cozinha…
Mas cozinha é política? Autogestão da alimentação nunca foi problema em um encontro de estudantes, ou quando soh estão os civilizados estudantes da Universidade de São Paulo ocupando a reitoria.. bom no Ocupa Sampa é diferente.
Vcs tem noção da quantidade de gente que vai lá soh pra comer. Vcs tem noção que a cozinha ja teve que fazer janta 3 vzs pq as pessoas que estavam na assembleia não saíram e a comida foi tda consumida por gente qeu passava por lá. Ai o que faremos? controle de quem é ou não do movimento? carteirinha do movimento ou faixa no braço, ou não vamos mais ter cozinha? Mas e os moradores de rua que são organicos no movimento e não tem dinheiro pra comer. O que fazer com o menino de rua que causou na noite anterior e agora ta com fome? vou negar comida pra ele?
Quando discutimos a cozinha ou a comissão de segurança, pra mim estamos começando a pensar qual é a forma de gestão alimentar para uma sociedade que queremos, qual é a política de segurança publica que queremos, esse tipo de coisas.
Mas cabe ressaltar algumas coisas. MEsmo com TODOS esses problemas, atacamos a abril e seguimos resistindo em ambiente hostil com coragem e pautando um discurso anticapitalista abaixo e a esquerda. O bom e velho trabalho de base funciona melhor quando eu durmo e como com os moradores de rua.. que por sinal eu n vejo como base, pq base pressupõem algo mandando e lá ninguem manda, mesmo se quiser. Certamente existem militantes mais experiêntes que se tornam referência, mas sabe o que é fantastico ver um morador de rua se tornar referência lá e isso ja ta acontecendo, resultado de um dia a dia politizado. Lá nada temos de perfeito, existem mtos problemas mas as vitórias são constantes. é bem claro, pra quem participa ativamente do processo que os tropeços com as demandas internas fazem parte de aprender a fazer uma nova política, a política do olho no olho como gostamos de falar.
O que eu tenho pra falar caberia em um livro e felizmente eu tenho a ocupa pra tocar e não tenho tempo pra isso apenas gostaria de deixar algumas palavras ao coletivo que escreveu esse artigo:
Certamente a crítica de vcs são extremamente importantes, mas o que me deixa intrigado é a certeza de que, com relação ao coletivo passa palavra, podemos sempre contar com a crítica, nunca com a solidariedade. Nesse sentido, buscando dar abertura para que o coletivo colabore em sanar os problemas que ele mesmo levanta, convido vcs a iram lá na Ocupa Sampa e fazerem um evento, participarem das comissões, enfim ajudarem a construir. É bem claro que só não reconhece o potencial do movimento quem não quer, e quero muito acreditar que o passa palavra, pela projeção que vem dando ao Ocupa Sampa, também vê esse potencial.
Grato.
Volto a dizer: quando se está completamente mergulhado na empolgação da mobilização, é difícil ter um distanciamento crítico, e conseguir enxergar as falhas do próprio movimento com sobriedade. A ponto de que, quando ouvimos críticas pertinentes, reagimos como se fosse um ataque pessoal.
Lembro de quando estourou por aqui a polêmica a respeito da Marcha da Liberdade. Na época, tinha companheiros que estavam participando da organização dos atos em São Paulo que ficaram indignados com as críticas. Passado o calor do momento, vejo os mesmos concordando com boa parte dos problemas apontados.
O calor da hora e o envolvimento com a luta são importantes. Mas se quisermos ver nossos movimentos se fortalecendo, é preciso conseguir também refrescar a cabeça e pensar sobre nossas perspectivas e objetivos, enxergar nossas falhas e acertos. Diferente do que sugere o Fabricio kc com a citação do Chomsky, não basta simplesmente entrar em ação. É preciso entrar em ação e pensar sobre a ação também. Sempre vi o PP como um site que faz isso. São militantes pensando sobre os movimentos.
No que tenho visto de material produzido pelo pessoal das acampadas pensando sobre a própria luta (de textos no site às postagens no Facebook – estou no grupo “Ágora” do “Anonymous SP”), vejo uma carência grande de teoria e de distanciamento. A maior parte dos textos se limita a elogiar a “revolução global que começa agora no dia 11 de novembro” (antes era 15de outubro), as “decisões tomadas em uma assembleia horizontal que funciona por consenso”, “a construção da democracia real na ágora”, etc etc. Talvez fosse bom ouvir de novo o alerta que o Slavoj Zizek deu ao OWS: “não se apaixonem por si mesmos”.
Entendo que não dá pra ficar só pensando, é preciso agir. Nossa geração (e nisso incluo também a dos anos 1990, “antiglobalização”, da qual alguns membros do PP fazem parte) é marcada por esse resgate da ação direta. Não sabemos ao certo que revolução queremos, mas sabemos que o problema é grande e por isso precisamos ir pra rua.
Só que não dá pra ficar só na rua. É preciso pensar, conhecer outras experiências… Estive em algumas assembleias do Acampa Sampa e fiquei muito frustrado. Embriagados pela empolgação da “democracia real”, continuam cometendo os mesmos erros que o movimento autônomo sempre comete (falo isso não como ataque, é autocrítica, pois estou no movimento autônomo e vejo a gente sempre cometendo os mesmos erros). É muito bonito consenso, horizontalidade e tal, mas será que não é melhor usar o voto em uma assembleia de 80 pessoas? E até que ponto essa horizontalidade não está virando fachada para tiranias?
A tentativa de praticar a autonomia tem fim em si mesma? A acampada existe para ser um espaço de democracia direta e ponto? (como sugere o último texto do site do 15-o http://15osp.org/2011/11/07/dia-6n/)
Vejo que o movimento só terá futuro se construir uma ponte de diálogo com a população, atuando junto com movimentos populares e construindo uma verdadeira organização popular. Caso contrário, ficará limitado aos grupos sociais que já participam dele hoje. Claro que não será em vão. Se uma coisa me deixou contente nas minhas idas ao Acampa Sampa é que com certeza está se formando lá um novo grupo de militantes. Muita gente a discutir e construir coletivamente, a transformar ideias em ação, operacionalizar ações e atividades, etc.
acho que a pergunta que não quer calar dentro de mim é cade o movimento autônomo para ajudar quem ta dentro do Ocupa Sampa a não cometer esses erros. Acho que é mto fácil apontar erros, o que é realmente difícil é econtrar soluções.
Do que adianta falar, “vcs estão comentendo os mesmos erros” se não existe uma disposição de se levar o acumulo de experiências para o movimento que surge?
O pensar descolado da ação não faz sentido algum para pessoas dispostas a se aventurar no impossível com a propria sitação do site sugere.
e o questionamento que fiz continua… a crítica sempre é bem vinda, mas a verdade é que observo nas palavras, inclusive do Caio, uma indisposição em ser solidário e participar do processo de acumulação política que o momento oferece.
Como eu disse, existem inumeros problemas no Ocupa Sampa, quem ta lá pode problematizar melhor do que qualquer um de fora, a questão não é distanciamento. Acho que a pergunta é, depois de problematizar tão bem, qual solução é proposta para o problema.
Não da pra desqualificar o Ocupa Sampa como desqualificou a Marcha da Liberdade. Não tem fora do eixo( que por sinal é bem mal visto por lá) e o movimento se declara anti capitalista … vai ficar no nível do distanciamento para melhor analisar o processo ou vai enfiar a mão na massa e trabalhar para o crecimento da coisa?
é melhor levar essa crítica de forma produtiva la pra dentro, é isso que estou falando. Coloca o debate lá, com as pessoas que estão lá, escuta qual é a problemática e pensa junto uma solução.
As análises se perdem quando esquecem de mencionar que esse é um movimento que procura apontar respostas para perguntas que quase caducam de tão velhas, embora tão latentes. Seria muita pretensão querer resposta pronta. Quando dizemos que somos contra o sistema (e não há nada de moralizante nisso), não há mal em não termos soluções para já. Loucura seria dizer que sim. E a proposta nunca foi essa também. A idéia lá é viabilizar o diálogo – amplo, aberto e em espaço público – e isso tem sido feito. É por isso que ficaria muito contente se o Passa Palavra aparecesse para expôr esse tipo de crítica em assembléia.
Grande parte da esquerda autônoma têm me assustado sistematicamente ao se entrincheirar em análises distantes e se ausentar do processo. Sobram palavras, falta ação. Falar que o problema é o calor do processo é pueril. A Ocupa Sampa tem visão crítica e não cansa de descer a chibata sobre as próprias costas. Quem tá lá sabe bem. Eu e mais uma porção de acampados poderíamos apresentar uma lista detalhada das problemáticas do movimento. Mas também com o que tem sido feito para superarmos cada um dos pontos. Vamos em frente, mesmo que aos tropeços. Acontece com quem está aprendendo a andar.
O que me incomoda é essa crítica de quem tocou no processo com nojinho, nas pontas dos dedos e preferencialmente só via teclado de computador e achou que cheira mal.
Problemas internos existem? Sim, senhor. E devem existir aí no Passa Palavra também. Lidar com a a autogestão não é tarefa simples e qualquer um que já tentou sabe. Entra dia e sai dia e a gente tá lá pensando em propostas para o transporte público e num ato contra a internação compulsória, mas também em como viabilizar banho quente para toda galera e como garantir captação de energia solar com material retirado do lixo. No duro.
A questão das drogas não é só a legalização da maconha, mas o que fazer com a garotada da cola. E é nessa hora que galera corre, porque o bicho pega de verdade. Discutir políticas que não se vivenciam é fácil. Difícil é propor só aquilo que você gostaria de ver implementado e que vai ter as manhas de fazer.
Falta politização? Falta. Mas também não se menciona que quem tá lá é gente querendo se politizar. Com boa vontade de largar a caminha quentinha e ir viver debaixo do viduto ou de mudar a maloca de lugar e trocar de turma. E a politização do grupo não é homogênea mesmo. Que bom! Assim como a condição financeira, sem que uma esteja atrelada a outra. Essa transversalidade é rica e solo fértil para aprofundar debate, trazer à tona novos métodos.
O grupo parece pequeno perto da quantidade de habitantes das cidades? Sim. Mas pelo menos sobre São Paulo, posso afirmar que cresce todos os dias. E reunimos hippies e punks e intelectuais e moradores de rua. Trabalhadores, desempregados e excluídos. Crianças, jovens e senhores. Com casa ou sem. Uma acampada diversa como qualquer embrião revolucionário precisa ser. É filho levando os pais para conhecer o projeto e pais trazendo os filhos para explicar a ausência em casa.
Falar que o movimento será facilmente aparelhável é outro ponto que mostra desconhecimento absoluto do processo. Quem viu os partidos sendo escurraçados de lá de dentro sabe que não é assim. E sabe que a diversidade, assim como o consenso, ajuda a garantir a manutenção da autonomia.
Peço a gentileza de que se somem para tentar resolver o desafio.
Penso que outra coisa não se está fazendo aqui senão tentando contribuir com a busca de soluções. Mas, para tanto, é preciso que todas as partes estejam abertas ao apontamento de críticas.
Com toda sinceridade, eu não entendo de onde vem tamanho receio e rejeição em receber qualquer tipo de opinião que não seja a elogiosa. Talvez isso seja resultado de um certo tipo de educação dita libertária que, ao invés de formar seres preparados para os embates da vida, tem criado uma legião de criaturas mimadas que se descontrolam ao menor sinal de serem contrariadas. Seja lá qual for a origem disso, parece-me que é algo que diz muito dos problemas inter-geracionais que o movimento social vai ter de encontrar algum modo de superar.
A esse respeito, é curioso notar que o critério da participação (da “mão na massa”), na esmagadora maioria dos casos, só se aplique às análises críticas, jamais aos intelectuais, especialistas e analistas que aportam nessas ocupações de quando em quando para rasgarem-lhe elogios. Antonio Negri, por exemplo, em breve fará uma conferência no Rio de Janeiro e tenho certeza de que ninguém irá contestar sua legitimidade pelo fato de ele não ter dormido no acampamento e não estar fazendo parte de nenhuma comissão.
Outra sintoma de formação egocentrada é a leitura – às vezes mais, às vezes menos explícita – de que a luta social se inicia e se encerra nos acampamentos. Quer dizer, ou a pessoa está lá ou ela uma babaca que não contribui em nada. Como se não existissem, paralelamente a isso, inúmeras outras frentes de luta, outras fontes de experiências, como se a gerações anteriores não tivessem transformado o mundo simplemente porque não tiraram suas bundas do sofá (ou, agora, do teclado) enfim, como se não existisse História.
Outra dado que apenas manifesta a concepção de é o meu umbigo que inaugura o mundo é o argumento de que as opiniões só são válidas se apresentadas naquele espaço específico, concretamente demarcado pela ocupação. Ora, se se recusa a admitir que é possível algum tipo de comunicação com elementos que, por inúmeras razões, estão fora do acapamento, é falaciosa a afirmação de que se está procurando construir as pontes com outros setores da sociedade, e novamente fortalece-se a tese de que o que está havendo é um diálogo com espelhos.
Então, acho que o Caio acertou em cheio ao lembrar a frase do Zizek: “não se apaixonem por si mesmos”.
Abraços,
Taiguara
Nina,
a certa altura você diz:
“não se menciona que quem tá lá é gente querendo se politizar”.
Ora, deixemos que as obviedades, que geralmente agradam, fiquem a cargo dos meios de comunicação da ordem. Poderia listar aqui uma infinidade de links de revistas e jornais – desde o The Economist até o Folhateen – que enfatizam justamente isso que você reclama. O que mais se anda dizendo por aí é isso: “A nova juventude que é antenada em política”, “Política não é mais assunto careta”, etc.
Parece-me que o intuito do artigo é trazer questões que, por motivos evidentes, não serão trazidas pela grande mídia.
Abraços,
Taiguara
Em momento algum falei que a acampada é o início da história, longe disso. Vejo que a acampada é sim mais uma parte do processo de aquecimento político de 2011. Soma-se a luta contra o aumento, marcha da maconha, da liberdade e da luta contra Belo Monte e Código Floresta… na verdade, pelo menos no caso paulista, a acampada é a continuação desses processos, e mesmos esses são resultados ou reverberações de coisa de antes e assim caminha a história. Mas basta ficar um pouco lá e ver várias pessoas que participaram desses movimentos. E eu não to falando de gente organica do MPL ou do Coletivo DAR ou do movimento anti globalização – essas também- mas de gente que ia nos atos.
Não estamos apaixonados por nós mesmo, mas sabemos da importância do que estamos fazendo, não é todo o dia que um acampamento no centro de SP acontece, certo? Criticas são bem vindas, mas sempre no sentido de buscar soluções para os problemas que surgem. Se o intenção do coletivo passa palavra é oferecer uma visão crítica do que está acontecendo, sugiro ao coletivo que marque com a comissão de programação do Ocupa Sampa um evento onde possamos debater publicamente tudo isso dando formação política para os acampados, para o coletivo passa palavra e pra quem mais estiver vendo.
O debate em espaço público é um dos princípios do Ocupa Sampa, pq não levar o questionamento para a forma que o movimento propõem, que mal há nisso? se a intensão é colaborar com o debate é soh chegar é isso que eu to falando. É UM CONVITE AO DEBATE.. ENTENDERAM?
Agora assim, que o que vcs falaram dos moradores de rua foi complicado, foi, desculpa. Da mesma forma que eu tenho que receber a crítica, vcs também tem. O coletivo Passa Palavra não esta isento de críticas. Acho que a forma como vcs pautaram a questão dos moradores de rua dentro do texto foi preconceituosa sim. Por sinal na primeira oportunidade que tiver vou mostrar esse texto para eles e pedir para que eles respondam. A conexão de internet no acampamento vai mal, por sinal. Vamos ver o que eles tem a dizer sobre isso também? pq não ir lá debater isso com eles? Afinal muitos deles não tem acesso a internet.
Abraço
Pedro Punk
O que eu não consigo entender é o seguinte: é mais fácil acusar um Coletivo que problematiza numa mídia aberta e livre – do qual, pelo que consta, inúmeras pessoas participam de diversas frentes de atuação social (e não precisam de datas globais, inspiração mundial e outras “coisas globais e históricas” para se movimentar – de ser “preconceituoso” com os moradores e falar de cozinhas e internet, do que de fato (e com a cabeça e mãos em movimento) admitir que os problemas da Acampada não são os mais importantes do mundo.
Todos que participam adoram certas formas de lidar com o mundo. Eis alguns exemplos: “aqui está acontecendo algo histórico”; “é uma experiência muito rica”; o exagero de sempre dizer que algo é “preconceituoso quando critica (afinal, acima de qualquer questão, são moradores de rua e estão com a gente)”; a vontade de ficar falando que algo é “fascista e autoritário”, por não estar com a mão na massa (lembra a ideia de que quem não estava na União Soviética não sabia dos problemas reais e não tentava construir uma nova sociedade – e, assim, só ficava criticando); fulano que faz críticas aos momentos de participação moderada dos moradores de rua (ou seja, que reconhece o tamanho do abismo que existe entre a classe média que toca os acampamentos no Brasil, com sua internet e seus computadores – e meios de comunicação) – tudo isso deve ser condenado.
Como disse o taiguara, falta quase um passo para alguém do Acampa Sampa virar e dizer – no próximo comentário – que o Passa Palavra foi chamado para debater, mas prefere o conforto de seu teclado.
E dá-lhe umbigo do mundo. Viva as acampadas – e as críticas que devem surgir de quem está disposto à ir nas assembleias e mudar tudo no cotidiano.
Pedro,
Você afirma que o Passa Palavra foi preconceituoso quanto aos moradores de rua e que eles não tem um papel coadjuvante. Porém pelo que pude observar não vi os moradores e moradoras de rua, que sei que estão cotidianamente construindo o Ocupa Sampa, sendo os facilitadores das assembléias, propondo as pautas das assembleias, cuidando da comunicação externa, enfim exercendo as atividades que dão visibilidade. Agora que eles são fundamentais para tarefas de manutenção da Ocupa, como cozinha, segurança, entre outras não se tem dúvida e que o trabalho com moradores de rua será sempre perpassado por contradições também não.
Outro ponto de vista publicado no PP, que traz uma réplica a dicussão aqui – ou seja, o PP nõa é uníssono, é espaço de debate (por isso a minha crítica foi dirigida a este artigo, e não ao coletivo).
http://passapalavra.info/?p=48081
A Ocupa Rio e sua inserção no movimento mundial
“As ocupações de praças públicas não são modismos importados do centro, mas respondem aos anseios por uma politização profunda da nossa questão social e devem ser encaradas como laboratórios de autoformação política. Por Eduardo Tomazine Teixeira”
fabricio kc, o artigo que menciona é assinado por outra pessoa e não pelo coletivo. E digo mais, parece que na sua preocupação em defender o movimento se esquece do obvio: se não se tratasse de uma experiência política, um laboratório, acho que estes movimentos não estariam sendo mencionados por aqui. Porém acreditar na simples vontade como edificador de processos sociais é desconsiderar todo o resto, é o erro conhecido como voluntarismo. Os sonhos funcionam muitas vezes como nuvens que não nos deixa ver o óbvio. É preciso ter as patas firmes no chão para poder caminhar.
Oi Adalberto,
Não estou tanto defendendo o coletivo quanto apontando erros pontuais no presente artigo do PP.
embora o PP se posicione como coletivo, abre espaço para diferentes opiniões assinadas por diferentes pessoas. Óbvio que, se o texto coletivo em questão representa a posição oficial do Passa Palavra sobre o assunto e sobre os métodos (a informação que apontei como errada revela, para mim, uma pesuisa displicente, a minha crítica se estende automaticamente ao Coletivo.
E o afã de defender o PP incorre no mesmo erro que vc acusa em mim, afinal, a vontade faz nascer as diversas formas de atuação e presença nos movimentos de transformação.
Bora discutir as questões relevantes levantadas por cada um destes textos e muitos dos comentários, ao invés de ficar nessa lenga-lenga sobre se o PP é isso ou aquilo, se eu estou com os pés mais na prática do que vocês, se a repimboca da parafuzeta de quem é mais verdadeiramente “mão-na-massa” ou quem é mais “verdadeiramente crítico”, etc etc etc.
Uma das coisas mais importantes que qualquer ativista ou movimento social deveria ter em conta hoje em dia é a sua capacidade de receber e lidar com as críticas, principalmente as auto-críticas que vêm de outros companheiros de movimentos. Porque a incapacidade de recebê-las e a tendência a reagir a qualquer discordância ou crítica como se fosse “fogo”, “amigo” ou “inimigo”, tem sido o principal sintoma disseminado pelos gestores, burocratas e/ou lideranças autoritárias que hoje comandam como vencedores as nossas grandes derrotas históricas. Sejam eles de partidos, sindicatos, ONGs, movimentos tradicionais, “novas economias”, “novas ocupações”, “novos processos”, ou o quê o valha.
Bora discutir sem medo de avançar na crítica e na construção coletiva em cada um desses nossos espaços?! Inclusive por aqui na internet, entre uma luta concreta e outra…
gente, nem perco meu tempo com essa ata que nem é oficial, o fato de ter uma reunião do comitê 10% do pib da educação sobre bandeiras e partidarios não tem nada a ver com o Ocupa Salvador, que nasceu a posteriori e não a priori dessa ata. O surgimento definiu na Praça Municipal e não na Praça da Piedade. Vocês considerarem isso como ata do ocupasalvador só por estar num grupo de facebook sem legitimidade do ‘coletivo’, permite acusar o Passa Palavra de inumeras coisas, que é melhor ficar calado. (:
Mas enxergo no futuro essas acampadas criarem a mesma coisas que a geraçao seatle.. um centro de midia independente obsoleto, um coletivo de criticas distanciadas, etc. (então é muito bom ouvir o que eles tem a dizer, pra não repetirmos os mesmos erros.)
A noção de que só é legítima uma crítica se participarmos na instituição criticada aplica-se unicamente às acampadas ou aplica-se a tudo? Se se aplica a tudo, além de se tornar materialmente impossível qualquer crítica histórica e qualquer crítica a acontecimentos geograficamente distantes, torna-se impossível também a crítica à administração das empresas, aos governos e às grandes organizações internacionais. Se se aplica só às acampadas, o que é que singulariza esses fenómenos? Curiosamente, uma das características do leninismo e do stalinismo foi pretender também que eram ilegítimas todas as críticas que não viessem «de dentro». O que mostra que o instinto de defesa das burocracias atinge igualmente aqueles movimentos que, em palavras, pretendem escapar à burocratização.
por mim nem existiriam barracas no brasil, poderiamos muito bem fazer quilombos, aldeias ocupar predios abandonados ou radios comerciais. se assim quiserem;;
joão bernardo uma coisa é distanciamento sem paixão outra coisa é desinformação similar a nossa querida midia televisiva. (:
vou sugerir ao ocupa brasil criar um site clone do passa palavra para legitimar os encaminhamentos descritos por aqui nos ultimos 3 anos ! enquanto isso o Egito pede pra ser lido e apoio para suas lutas !
é fato que qualquer um pode se apropriar de um evento de internet como será o dia 11 de novembro de 2011, mas chegando lá e o que surgir depois disso é que será legitimo e não os infelizes despotas.. pois é um processo, uma transição, não é algo acabado e pronto
Wagner Pyter,
Quero só ver onde tu vai chegar, velho…tu tá embalado rumo ladeira abaixo, viu?!
Por que tanto esforço em avaliar o Passa Palavra, mas não aplica a mesma energia para refletir sobre pontos importantes aqui colocados tanto pelo artigo quanto pelos comentadores? Aproveita a tua raiva e indignação para colocar as provocações ao acampa salvador para todos debaterem por lá, ao invés de pagar de visionário e ficar atacando. Peraí, “querida mídia”? O Passa Palavra dispensa defesa, mas, francamente, você querer comparar o PP com a mídia televisiva é de doer, hein? Agora é assim, fica com raiva e começa a perder o juízo, o bom senso?
Manos: pelamordedeus não fiquem esticando chiclete com esse povo que gosta de blablabla em torno de si, porque se não vem comentários em série. Deixa os meninos falá em volta de seus umbigos, mas não fiquem cutucando mais os umbigos deles, porque aí só dá os pobres falando pra eles mesmos. E sendo deselegante com todo mundo que quer discutir otras coisas. Vamo virando a página!
Não gosta de ser provocada? Se parar pra catar as provocações risiveis daqui.. tava rindo quando uma senhora disse que poderia fazer um CURTA, um filme com um texto do PASSA PALABRA, sendo que é tão REAL…
leia aqui: Curtir or not curtir
http://passapalavra.info/?p=46696
Quando aprenderem a escrever de forma coletiva, me chama! pq o unico texto bom que vi ultimamente foi A CARTA DA HUMANIDADE lá de santiago no chile.
a RODA já girou
Querido Pyter “Spider”,
Sua “filosofia política” foi muito bem resumida por vc mesmo nesse comentário há um mês:
“Nunca vi ter mais de 7 ou 10 “politizados” .. a maioria sempre foi “massa de manobra”. então, visualizo que com um trabalho constante a consciencia politica desses 7 ou 10 pode ir para 700 ou 1000. é o que se percebe nas ruas. Isso só tendo contato. Olhar de longe só vê formiga ou herois nas fotos” (http://passapalavra.info/?p=46696)
Como João Bernardo bem observou à época, discurso semelhante aos de Hitler ou Mussolini. A diferença é que, para seu azar, seu “carisma” é consideravelmente menor que o deles. O “detalhe” que vc ainda não percebeu é que sua “consciência política” não consegue manobrar 700 nem 70 nem 7… Vc é caricato não por estar sozinho, mas por, estando sozinho, achar que comanda um movimento… Se ligue, nem na ocupação ninguém come sua pilha, todo mundo lá já se deu conta de que pra você aquilo é uma terapia pra suprir sua carência emocional de ilusão de poder… Sem falar na piada que é você se apresentar por aí como “o Movimento Exu Tranca-Ruas”, e ainda se expressar nas redes sob o perfil de um Movimento… Seu comportamento oscila perigosamente entre a esquizofrenia e a picaretagem… Hitler e Mussolini devem estar se revirando no túmulo de vergonha de seu discípulo…
O auto-intitulado “homem-aranha” está nu e só, e não sabe… Só não pode reclamar que não foi avisado…
Então partindo do principio que não consigo manobrar, está tudo muito bem. (: A piada não seria eu, mas os tais Movimentos em si. Pra quem vive de carreira politica, de estudantes profissionais etc. E não sabendo que estou nu, mas todo mundo percebe, enquanto estão mascarados, se comportando como aquilo que ‘criticam’, é tudo bem mais visivel, assim, né.
O que me deixa intrigado é um aspecto tangenciado pelo texto: como uma mobilização que tão inovadora e contestadora como esta em questão assuma uma forma que, na prática, é mais vanguardista do que grande parte das vanguardas de esquerda que tanto criticamos? Mesmo que a intenção e o dicurso busquem sempre CHAMAR novas pessoas, movimentos e atores para os acampamentos, na pratica se percebe uma forma de mobilização que nao dialoga e agrega com aquela “gente comum” que é responsável de fato pelas transformações concretas. Sem falar que, ao menos no caso de SP, o acampamento e suas discussoes e tarefas voltam-se 99% para a propria manutença de tal espaço. Claro que a mera ocupaçao de espaço publico em outros moldes já é um avanço na vida cotidiana da cidade, mas acabar nisso ,como parece o caso, nao anima novas pessoas a se engajarem – inclusive por conta das limitaçoes aqui expostas, que se por um lado poderiam ser encaradas com melhor boa vontade por outro poderiam ser expressas de forma mais aberta e cordial por parte do coletivo aqui em questão. Mesmo que não haja intenção de uma postura arrogante, acredito que isto sendo sentido pelos leitores denota um problema de comunicação que poderia ser sanado.
Sobre drogas, como foi apontado de leve em alguns dos comentários, escrevi o seguinte texto. Menos do que sugerir algo sobre a gestão das substâncias psicoativas no acampamento de São Paulo – uma vez que nao estou mais no dia a dia do movimento, por conta de outras tarefas e prioridades – creio, humildemente, que cabe levantar novamente essa bola a fim de analisarmos como os movimentos contra-hegemonicos lidam com a questao.
http://coletivodar.org/2011/10/culpar-as-substancias-o-proibicionismo-dentro-do-movimento-social/
maria rita kehl, pablo ortelado, isabel loureiro, cristian dunker, paulo arantes, wladimir safatle etc etc. não vi nenhuma dona maria nenhum seu josé convidado pra dar aula publica na ocupa sampa, só esses intelectuais da usp de sempre. será que não tem nenhum outro tipo de conhecimento que mereça o nome de aula? os caras fazem o maior esforço pra ir acampar nas ruas do centro na boa intençãp pra levar o formato da universidade e a mesma turma junto com eles? não teriam o que aprender tb com otras histórias de vida?
Na ocupação que fizemos no dia 30 de setembro no elevador lacerda tem um video com um vendedor de picolé.
Desculpe Taiguara,
As críticas do artigo à Ocupa são o mesmo que dizer: “O Passa Palavra é apenas um site elitista que não soube lidar com a diversidade do movimento de midia independente e por isso resolveu se fechar para poder publicar coisas ‘coesas’ sem lidar com a diversidade de nov@s voluntári@s e pessoas de pensamentos diversos.”
É uma crítica externa e que não ajuda em nada em construir um outro Passa Palavra. Da mesma forma em que o Passa Palavra não conseguiu construir e abandonou toda a discussão de midia independente para ter um blog.
Deixem o saudosismo de lado. Deixem de justificar suas posições em torno da sua história de vida. Compreenda os movimentos dentro de uma perspectiva maior.
Midia Independente,
Tive vários amigos que participaram do CMI. Mas sinceramente, não dá para querer compararar ou discutir como se tivesse algo a ver um coletivo com princpipios anticapitalistas claros e uma proposta de mídia alternativa que na prática se tornou um veículo liberal que acredita no conto da neutralidade jornalística.
Quando se enxerga, por exemplo, o fascista ali do lado como “diversidade do movimento”, fica óbvio que se tratam de duas concepções totalmente diferentes. Esse limite da tolerância mostra o liberalismo na prática (e não um anticapitalismo), reproduz o princípio liberal do convívio em sociedade de todas as diversidades, inclusive de classe, hierarquia social etc.
Leo Vinicius, sim. É incomparável. Da mesma maneira que o artigo faz: reduzir o movimento de ocupações ao “liberalismo”.
Parabéns para vocês do passa palavra. Vocês são os verdadeiros revolucionários.
Você simplesmente menospreza toda a luta daqueles que construíram o CMI, daqueles que lutaram pela inclusão dos princípios anti-capitalistas no CMI. Daqueles que criaram as condições para o Passa Palavra ser o que é. Dos seus amigos.
Parabéns, você é do Passa Palavra: Agora você pode se dizer muito melhor que eles!
Parabéns por entregar todo o trabalho aos liberais. Eles adoram ganhar de graça o nosso esforço. O esforço meu e seu em conjunto.
Da mesma maneira, vocês não podem enxergar nada no horizonte que não seja vocês. O movimento de ocupações não foi um movimento de vocês, então ele merece esse tipo de crítica amorfa.
Eu não queria criticar o Passa Palavra, considero ele importante e gosto do trabalho de vocês. Mas nessa vocês erraram. Pisaram na bola e merecem.
Vocês são hoje, aquilo que criticavam há 10 anos atrás. Vocês são hoje um gueto.
Parabéns por não precisar de lidar com novos voluntários. Vocês não precisam de fazer movimento.
ao Midia Independente,
Só para deixar claro. Não sou nem nunca fui do Passa Palavra.
Não se trata nem nunca se tratou de desprezar o papel que já teve o CMI, ou que quem sabe ainda possa ter. É simplesmente questão de não ser acrítico. Engraçado, muita gente que foi fundadora e do PT e da CUT (apenas como exemplo próximo), hoje está longe e é crítica aos rumos que essas organizações tomaram. Estariam elas desrespeitando o passado dessas organizações, seus atuais e ex-militantes?
Claro que o CMI teve um papel muito importante em muitas lutas, e algumas das quais eu participei.
Mas eu teria que desligar o cérebro para não perceber que, além de não acompanhar o tempo, acabou prevalecendo nele uma hegemonia liberal (obviamente não consciente). E que se tenha claro isso.
Mas não acho que seja um problema só do CMI. Muitas práticas da juventude que se diz autônoma estão muito mais próximas do liberalismo do que de um suposto socialismo (ou anarquismo, que seja), algumas chegam a ser mesmo de um liberalismo extremado.
Vem cá, é sério o que estou lendo? O Mídia Independente aceita publicação até de integralistas mas quer censurar o Passapalavra por fazer uma análise?
Os valores estão trocados!
O Midia Independente é ainda uma grande promessa de mídia alternativa, que permitiria a tantos registrarem lutas e fatos não noticiados pela mídia empresarial. Entretanto, com a falta de seleção que ocorre, o site transformou-se em grande local para divulgação de tudo quanto é merda, sejam simples xingamentos e embates pessoais ou textos integralistas. Enfim, perdeu o foco.
Outra: não sei porque o postante se irrita com o Passapalavra. O site não é nenhum antípoda ao CMI, é apenas mais um grão de mídia independente.
Há uma confusão aqui: uma figura postando comentários com “Midia Independente”, e o Leo (e a Renata) entendendo como se tratasse de alguem do CMI.
Nada disso!
Brjs, Alface (voluntário do CMI)
Léo estão estão as publicações que mostram essa tal neutralidade jornalistica? Antes de fazer tais afirmações se perguntou quem ainda está no CMI? No coletivo de Floripa, por exemplo, dos 8 voluntários e voluntárias 5 trabalham, será que pode se esperar que o CMI tenha mesma cara de 5 anos atrás? Pautas, frequência de publicações e tempo para fazer as coberturas são fatores que devem ser levados em conta, não?
Bem antes de mais nada acho as tentativas de algumas pessoas compararem o CMI com o Passa Palavra é apenas para xaropear, o coletivos tem em comum a preocupação de publicizar as lutas sociais e apesar de não sermos imparciais não há no CMI a intensão fazer super analises sobre tais lutas como existe no Passa Palavra, que acho super válida…
Bem espero que críticas ao CMI sempre serão bem vindas, mas pelo menos que sejam com base nas nossa práticas e materiais que publicamos.
OBS. o nick mídia independente não fala em nome da rede CMI e por favor quem estiver utilizando o NICK que use seu nome para não confundir quem está lendo.
Pessoal,
Acredito que a discussão está perdendo o foco! Acredito que são bem vindas as críticas ao CMI, mas lembro que a pessoa que postou como Mídia Independente não fala pelo CMI. Não se trata de um ataque do CMI ao PassaPalavra, até porque considero os 2 espaços importantes para publicizar as lutas e enfrentar a grande mídia.
abraços
Marcio / Floripa
Olá,
Não estou querendo restringir a discussão de ninguém, mas um ponto me chama a questão:
– Será que alguém está, de fato, com vontade de debater as questões levantadas pelo artigo?
Algumas pessoas, é certo, já começaram a arranhar o(s) tema(s). Cabe dizer, no entanto, que a ideia de publicizar essa discussão tem a clara intenção de provocar o debate – e não simplesmente dar a palavra final.
Abraços.
cazé, minha crítica não teve nada a ver com pautas, número de pesosas que trabalham, editoriais etc. E foi muito mais no sentido de que ele tem a cara de 10 anos atrás. Mas enfim, essa não é a discussão do artigo.
Muito interessante este relato de um brasileiro no Egito, publicado pelo G1: http://g1.globo.com/revolta-arabe/noticia/2011/11/brasileiro-relata-confrontos-em-praca-do-cairo-e-diz-que-amigo-ficou-cego.html
Ocupações de praças que teve sua principal inspiração mundial no Egito. Por isso é importante atentar a algumas passagens do relato. O brasileiro salienta que, embora quase não se fale disso na imprensa, o governo Mubarak foi derrubado basicamente pelo movimento operário. O que mais há no Egito são greves, segundo ele. O movimento operário lá está em ascenção desde 2006.
Os jovens e a população que tomaram as ruas e praça eram basicamente de grupos de solidariedade ao movimento operário.
Outro trecho que achei interessante é de que os que estão na linha de frente nos violentos combates atuais com a polícia são as torcidas organizadas.
Resumindo, no Egito ocupação de praça foi só a cereja do bolo. E claro, a mídia mostrou isso e não a massa do bolo.
@leo vinicius: nunca duvidei disso(egito)! as ocupacoes de praca dificilmente teriam tomado esta proporcao.
@fabricio: gente, se as pessoas acampadas nestes lugares estao de fato querendo participar de alguma luta, devem procurar integrar os movimentos que ja existem nestes estados. caralho, é muita impáfia de menino novo sair dizendo q estao tentando criar pontes com outros setores. considerando que a maioria das pessoas independentes q participam dessas ocupaçoes deve ter 0 ou quase nenhuma experiencia politica, acho q seria interessante que vcs passasem a escutar as pessoas mais experientes q se aproximam nas suas localidades e as criticas de gente q viveu articulacoes coisas parecidas (como os militantes do pp que foram da AGP). quem ta comecando na militancia geralmente so conhece duas realidades: o bairro ou a escola/faculdade.
nem a impáfia do argumento de experiencia nem a impafia dos novos revolucionarios q acham q estao reinventando a roda, quando poderiam evitar muitos erros q os movimentos autonomos conhecem bem.
sobre a internet, muito facil alguem do psol ter forjado uma ata pra fingir q era do ocupa. o passa palavra deixa isso em aberto e foi a primeira coisa q eu pensei (vide 10% do pib na educacao).
leilane, vc não conhece todas as pessoas que estão lá, e te garanto que tem gente com mais experiencia que esses novatos de 10 anos atras.
não questionei a pauta 10% do pib da educação, pq era uma luta que estava acontecendo e podia acontecer uma integração das pautas pela educação na bahia. que ainda está em discussão, já que abrirá novas universidades no sul e sudoeste.
Os acontecimentos recentes mostram que este artigo estava equivocado. As acampadas foram um importante momento de acúmulo de forças e aprendizado em práticas de assembleia. Nem sempre é preciso “crise econômica” para haver levante popular, pois a vida social não é determinada mecanicamente pela economia. A relação entre a economia e as outras esferas da vida é dialética, ou melhor ainda, um rizoma, e não determinista. Nada mais contraditório com conceitos caros a Marx como a dialética e a práxis do que o determinismo econômico.
Gui,
tem certeza que você leu o artigo?
“disso não se conclui que em um quadro de crescimento econômico, como o verificado no Brasil, toda e qualquer luta social esteja impossibilitada de acontecer. Em sentido diverso, seria mais correto se perguntar, a nosso ver, em que termos elas podem ocorrer. Isto implica em desenvolver discussões e reflexões próprias, não ficando reféns à adesão de pautas e bandeiras emanadas de situações concretas tão distintas.”
Ele nao diz que aqui não poderiam ocorrer lutas, mas que elas teriam um caráter ou dinâmica diferente. Como de fato tiveram.