Por Mães de Maio
Leia aqui e aqui as 1ª e 2ª partes deste artigo.
Apontamentos (in)conclusivos
Até hoje, cinco anos depois de maio de 2006, não há um relatório oficial apurando todos os fatos e mortes ocorridas durante esse período. É inaceitável que uma crise aguda que resultou em centenas de mortes e ataques nas ruas, dezenas de rebeliões no sistema prisional e a paralisia e amedrontamento da maior metrópole da América do Sul, entre outras importantes cidades, não tenha motivado os governantes do estado de São Paulo nem de qualquer outra instância a realizarem qualquer procedimento público rigoroso, imparcial, célere e transparente para dar uma resposta unificada à população sobre o que aconteceu realmente, e o que deveria ser feito a respeito. Reproduz-se assim, em pleno dito “Estado democrático de direito”, os crimes autoritários de lesa-verdade e de lesa-justiça, tão recorrentes em toda a história do Brasil…
Não tem sido outra a razão da persistência incansável de nosso movimento buscando, ainda em 2011, pelas vias estaduais e federal (na Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e no Ministério da Justiça), a convocação de uma Audiência Pública direta com o governador do estado de São Paulo, Sr. Geraldo Alckmin, e com os respectivos chefes da Segurança Pública do estado [1]. O mesmo Sr. Geraldo Alckmin, que na época, recém-saído do governo paulista para concorrer às eleições presidenciais, já se esquivava de qualquer responsabilidade sobre os ocorridos cujas causas foram produzidas durante a sua gestão do estado.
A conclusão que se tira de tudo o que tem acontecido até o presente momento, conclusão baseada em muitos documentos e elementos concretos como estamos mostrando nesse texto, é que os Crimes de Maio de 2006, mais do que uma demonstração de uma suposta força do PCC, como se diz por aí, revelaram na verdade um Estado completamente envolvido nas tramas da violência contra sua própria população, a qual suas instituições e agentes dizem “representar”, “proteger” e “assegurar direitos”. Afinal, o Estado tem revelado não só permitir, mas, na prática, participar ativa e ser totalmente conivente com a tão alardeada “corrupção” que fortalece as verdadeiras facções criminosas; o Estado tem gerido seu sistema prisional multiplicando o número e a opressão contra detent@s e, quando lhe interessa, realizando ou quebrando acordos com as facções prisionais como ele bem entende; o Estado não tem dado mínimas condições, muito menos segurança, para a grande maioria da população, nem mesmo para muitos de seus próprios agentes públicos – geralmente aqueles mais pobres escalados para fazerem os trabalhos mais pesados.
Pelo contrário, o Estado tem costumado optar, e em maio de 2006 mais uma vez optou, pela reação violenta e pelo massacre de determinada parcela da população como “resposta” “preventiva” a uma situação de crise interna e/ou externa, aprofundando a violência pela qual seus agentes já agem cotidianamente há muito tempo. E, ao acobertar os Crimes de Maio, ou simplesmente fingir investigá-los – para ganhar tempo e driblar a sua própria lei – o Estado na verdade vem mantendo, ampliando e legitimando o corporativismo e a impunidade total de seus agentes, na prática livres para matar todos que eles consideram “suspeitos”.
São Paulo hoje
O resultado é que São Paulo hoje se encontra em uma situação igual, senão pior, à que estava na véspera dos Crimes de Maio. Os esquemas de “corrupção” – que na verdade são os mecanismos normais e corriqueiros, fundamentais – que sustentam o alto crime organizado, ligado ao Estado, persistem. E suas tramas são cada vez mais sofisticadas…
A classe trabalhadora – principalmente nas periferias afora, e até mesmo os próprios agentes públicos da parte mais pobre da cadeia estatal – continua vulnerável a inúmeras situações de risco à integridade física e psíquica, alimentando-se o ciclo vicioso da violência policial (pressão, extorsão, abusos, torturas, aprisionamento em massa, execuções em série).
Mesmo o decréscimo das taxas de homicídio no estado são questionáveis, como já vimos, e todos nós sabemos muito bem que não tem sido nenhuma melhora da atuação policial que tem gerado isso, e a que preço tal mudança está se dando… O modelo de gestão da segurança pública adotado no estado de São Paulo nos últimos tempos, diferente das já criticadas Unidades de Polícia “Pacificadora” (UPPs), que vêm sendo adotadas no Rio de Janeiro e outros estados, por aqui tem-se deliberado uma combinação perversa composta pela A) expansão acelerada do encarceramento em massa [2] (o sistema prisional paulista atualmente tem cerca de 170.000 pres@s, de um total de aproximadamente 495.000 em todo país); B) redução formal das estatísticas de homicídios sob métodos espúrios; C) Ampliação das frotas e dos quadros de policiais, cada vez mais armados com equipamentos de vigilância, monitoramento e de repressão de alta tecnologia (o quê não tem significado menor letalidade, muito ao contrário); D) a multiplicação de Operações Policiais em Favelas – via de regra relacionadas aos interesses da especulação imobiliária; E) Operações Policiais violentas casadas ao enraizamento e proliferação (com forte propaganda) difusa dos tais Conselhos Comunitários de Segurança(Consegs), que têm se instalado em diversos bairros promovendo alianças efetivas entre quadros gestores da polícia e as elites locais (comerciantes, políticos locais, subprefeituras, clientelas diversas etc), forjando-se crescentemente um questionável “diálogo” “cidadão” entre moradores e policiais, ditas “pessoas de Bem”, no mesmo espaço em que se fortalecem os ideais de “tolerância zero”, “repressiva” e “punitiva”, “contra a bandidagem”, “contra invasores”, “contra poluidores do meio-ambiente” etc. Uma experiência crescente, sobre a qual não poderemos tratar em profundidade nesse texto, mas que tem fomentado consigo, em muitos casos, uma ideologia repressiva e punitiva que, ato contínuo, tem se voltado contra os próprios moradores das comunidades-alvos – principalmente seus jovens pobres e negros alvos da polícia, além das famílias na mira dos despejos imobiliários -, contribuindo para a persistência de injustiças e opressões, dentro e fora dos presídios [3].
De toda forma, a violência e a letalidade policial têm permanecido em patamares elevados. Entre 2005 e 2009 a PM de São Paulo matou mais do que todas as polícias dos EUA juntas. Conforme demonstrou também a cartilha publicada em 2011 pela própria Ouvidoria da Polícia de São Paulo: em 2009 houve um aumento de 41% do número de casos de “resistência seguida de morte” frente a 2008: 524 pessoas foram mortas pela Polícia Militar de São Paulo, contra 397 no ano anterior. Acabam de sair ainda outros dados da Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP-SP) afirmando que “homicídios aumentam pelo 4° mês seguido no estado de SP nos últimos meses de 2011”. E, no primeiro semestre de 2011, o número de 40 ocorrências de “RSM” praticadas pela ROTA aumentou frente ao mesmo período de 2009 (21 casos) e 2010 (36 casos). Este Batalhão cujo sítio na internet celebra diversos massacres populares da história do país e cujo Comandante não tem vergonha de fazer apologia aos “Boina-Negras” com seu “Deus no Coração e a Pistola nas Mãos”.
Se os agentes policiais e paramilitares ligados ao Executivo têm essa conduta, de prender em massa e, muitas vezes, matar sumariamente, o Sistema Judiciário acaba por fomentar a condenação extensiva desses jovens ao terror dos presídios, e também a impunidade dos responsáveis por execuções, às vezes chegando ao ponto de recomendar aos policiais que aprimorem suas miras para matar, enterrando assim qualquer esperança nessa Justiça, junto aos corpos dos nossos jovens presos e mortos em massa. Como sempre dizemos: “a Polícia prende e mata, o Judiciário enterra!” [4].
Em resumo, a atitude do Estado frente aos Crimes de Maio, em particular, e a toda esta Democracia das Chacinas, em especial no estado de São Paulo, só tem feito piorar uma situação que ele próprio criou e reproduz. Situação que segue implodindo as cidades por dentro, de seus bairros, comunidades e instituições; situação que sempre tende a explodir pelas ruas novamente, nas tragédias que se sucedem em “baixa intensidade” ou estouram na forma de massacres em larga escala, das piores maneiras possíveis.
Próximos passos das Mães de Maio
De nossa parte, frente a tal cenário, seguiremos a nossa luta pelo direito à memória, à verdade e à justiça de todas as vítimas históricas do Estado brasileiro, ontem e hoje. Neste sentido são três as prioridades de nosso movimento para o próximo período: 1 – Seguir lutando, em todas as instâncias nacionais e internacionais possíveis, pela federalização das investigações dos Crimes de Maio de 2006 e dos Crimes de Abril de 2010, o devido julgamento e punição dos responsáveis (a começar pelo próprio Estado), bem como a legítima reparação das vítimas e familiares; 2 – Fortalecer, em nível nacional e internacional, a“Campanha pelo fim dos autos de resistência seguida de morte” e afins em todo o Brasil, esta verdadeira licença para matar que perpetua um efetivo estado de exceção contra a população pobre e negra do país – abolição que, aliás, está prevista no Programa Nacional de Direitos Humanos 3 (PNDH-3) como uma proposta das Mães; e 3 – Continuarmos engajad@s na luta pelo direito à memória, à verdade e à justiça de todos os massacres promovidos pelo Estado, em tempos de ditadura ou de democracia, com destaque particular, em 2012, para ampliação do alcance das Comissões de Verdade (e Justiça) esboçadas até aqui [5]; ao aniversário de 20 anos do Massacre do Carandiru; e aos 6 Anos dos Crimes de Maio. Desta vez deveremos fazer uma grande atividade nacional, em Maio de 2012, na Baixada Santista, juntamente com nossos companheiros e companheiras da Rede Nacional de Familiares e Amig@s das Vítimas do Estado Brasileiro.
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Frente à persistência desta barbárie, o fato é que a cada dia nos desiludimos mais e mais com isso que insistem em chamar de “democracia”. Enquanto muitos vibram hipnotizados à espera da próxima medalha nacional ou da próxima Copa do Mundo, de nossa parte só a luta mesmo, e o sonho de outra sociedade, é que nos dão forças para sobreviver em meio a este verdadeiro inferno…
NOTAS
[1] Nesta sexta-feira (18/11) convocamos mais uma Audiência Pública junto à Assembléia Legislativa de São Paulo, desta vez em Santos-SP, na qual o Governador Geraldo Alckmin, mais uma vez, não deverá comparecer. De todo modo, colocaremos aos presentes todas as questões que nós queremos que sejam respondidas, e seguiremos pressionando.
[2] Segundo o Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), o número de prisioneiros no Brasil já atinge quase 500.000 pessoas, tendo triplicado nos últimos 15 anos. E São Paulo representa mais de um terço deste contingente, tendo crescido aceleradamente nos últimos 10 anos, atingindo hoje cerca de 175.000 pres@s. Enquanto a população do Estado de São Paulo cresceu cerca de 25% entre 1994 e 2010, a população prisional, somando os presos existentes na SAP e na SSP, cresceu 197%, passando de 55 para 163 mil presos em 2010.
[3] Sobre a maneira como os Consegs têm se multiplicado, e o papel que têm cumprido, em diversas comunidades populares, pretendemos tratar com mais atenção numa outra oportunidade, inclusive se possível comparando-o com outros novos modelos de “políticas democráticas de segurança pública”, como as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) do Rio de Janeiro, ou as Polícias Cidadãs e seus projetos sociais tipo “Fica Vivo!” e “Juventude e Polícia” em Belo Horizonte, e outras experiências afins pelo país.
[4] Vamos ver se a recente decisão da Justiça de SP, favorável à mãe de maio Débora Maria da Silva, referente à toda responsabilidade do Estado na morte de seu filho Edson Rogério durante os Crimes de Maio de 2006, significará um primeiro passo efetivo de mudança na postura do conservador judiciário paulista nesse tipo de situação.
[5] Além da recém-aprovada Comissão da Verdade, a ser instituída pelo Governo Federal em tese para trazer à tona a verdade sobre a ditadura civil-militar, nós das Mães de Maio não temos como nos esquecer que, no final do ano passado, ainda sob o governo de Luiz Inácio da Silva, o então Ministro dos Direitos Humanos Paulo Vannuchi encaminhou a criação de uma Comissão Especial “Crimes de Maio”, dentro do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH), que a princípio ainda segue trabalhando. Nós estamos acompanhando de perto se tais iniciativas realmente avançarão no sentido do direito à memória e à verdade completa, para a sociedade como um todo, sobre cada um desses períodos (e referente a todos os trabalhadores vitimados, na ditadura e na democracia), criando também efetivas condições para que a justiça seja feita.
Nota do Passa Palavra: Chamamos atenção à bibliografia contida ao final da primeira parte deste artigo sob o título ESTUDOS, LIVROS E OUTROS ARTIGOS DE REFERÊNCIA. Lá o leitor poderá encontrar vasto material a respeito do assunto.
O semanário The Economist, a melhor revista mundial de informação política e económica, que exprime o ponto de vista das grandes empresas, publicou recentemente um artigo sobre o Brasil onde se lê (o original pode ser vistoaqui: http://www.economist.com/node/21538786 ):
«Uma das consequências de não se ter examinado a história do Brasil é que a repressão continua hoje, ainda que a violência esteja agora a cargo da polícia e não do exército. “Não é por acaso que a polícia reproduz um modelo de violações dos direitos humanos típico de uma ditadura militar”, diz Atila Roque, director da Amnistia Internacional no Brasil. O aparelho de segurança brasileiro foi criado pelos generais e não foi praticamente modificado. Só a polícia do estado do Rio de Janeira mata, por ano, cerca de 1.000 civis, a maior parte deles pobres e negros. Frequentemente são acusados de resistência à acção da polícia — mesmo aqueles que foram mortos com balas na nuca ou que mostram sinais de espancamento. Muitos políciais participam em redes de extorsão de dinheiro a comerciantes e matam quem interfere no negócio. Patrícia Acioli, uma juíza que condenou cerca de 60 policiais por pertencerem a esquadrões da morte e a milícias, foi morta a tiro no dia 11 de Agosto. Um oficial da polícia foi preso sob suspeita de ter ordenado o crime.
«As torturas praticadas pelos policiais são raramente punidas, e são frequentemente aplaudidas como constituindo a única alternativa à anarquia. No dia 12 de Novembro os brasileiros ficaram entusiasmados quando as forças de segurança entraram na Rocinha, uma favela do Rio de Janeiro que era dirigida pelo crime organizado. Por vezes os espectadores levantam-se e aplaudem quando o policial e torturador das forças especiais, no conhecido filme Tropa de Elite, entra em acção contra as suas vítimas. Os activistas de direitos humanos têm esperança de que a comissão pela verdade modifique este tipo de opiniões. “Algumas coisas acontecem se e quando uma sociedade está pronta”, diz Atila Roque. “Acho que estamos prontos”».
A polícia anda pelas ruas com ar raivoso e intimidatório. Quem simplesmente for pego, mesmo que sem querer, olhando para um dos policiais pode acabar vítima de espancamento. A legislação ao criar a tal possibilidade de prisão por desacato deu aos policiais passe livre para prender à vontade. É um clima de medo, de terror, de pânico, de intimidação que eles criam jogam para cima da população. Somente quando a polícia erra o alvo e atinge alguém da classe média é que surge alguma discussão. Quantos aos pobres, possuem total apoio para matar. As delegacias são centros de tortura, os matagais e rios de desova de corpos, as penitenciárias são verdadeiros campos de concentração, onde sobrevive-se junto aos ratos, tuberculose, AIDS, estupros, linchamentos, total abandono.
José Serra colocou um linha dura, ex secretário de administração penitenciária, para ser secretário de segurança pública. Trata-se de Antônio Ferreira Pinto. Recentemente, ele colocou um dos responsáveis pelo Massacre do Carandirú para ser comandante da ROTA. Não sei porque se fala tanto de fascismo no Brasil e pouco se fala da ROTA. Os policiais da ROTA e a própria instituição são de dar medo aos próprios SS.
O final dessa matéria do passa palavra chama atençaõ para algo tão preocupante quanto o lado repressivo discarado da polícia. Falo da atuação dos CONSEGS – conselhos comunitários de segurança que estão cada vez mais presentes e atuantes em nossas comunidades. Eles estão atraindo uma série de lideranças comunitárias para legitimar com ar de democracia e participação as propostas mais absurdas. Hoje mesmo saiu uma matéria no jornal folha de são paulo falando dessa barbaridade!! O coronel da sub-prefeitura do itaim paulista comandou uma operaçaõ com policiais e conselheiros tutelares pra caçar meninos e meninas que estavam faltando na escola, uma proposta que surgiu no CONSEG da região, vejam:
São Paulo: PM e prefeitura vão à caça de estudantes que matam aulas
Operação é acompanhada pelo Conselho Tutelar e tem o objetivo de combater a evasão escolar na zona leste
Defensoria Pública diz que ação fere os direitos da criança e do adolescente por ser uma medida coercitivaTALITA BEDINELLI
DE SÃO PAULO
VANDER RAMOS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Jovens pegas matando aula em parque da zona leste são levadas de Kombi para a escola
Uma força-tarefa, formada por cerca de 30 funcionários da Prefeitura de São Paulo, policiais militares, guardas-civis e conselheiros tutelares, fechou ontem as saídas de dois parques do Itaim Paulista, extremo leste da capital, atrás de alunos que matavam aulas ou consumiam drogas.
Os locais foram bloqueados por cerca de uma hora, até que todas as crianças e adolescentes fossem abordadas, revistadas e tivessem seus dados anotados.
Alguns jovens pularam as grades para fugir quando notaram a presença da polícia.
Entre os abordados havia uma criança de nove anos, que tremia, com medo de ser levada. Jovens ficaram em fila, com mãos para trás.
A ação faz parte de um projeto coordenado pela Subprefeitura do Itaim Paulista, que tem o objetivo de diminuir a evasão escolar.
A Folha acompanhou duas ações do grupo, orientado pelo tenente-coronel reformado da PM Sergio Payão, chefe de gabinete da Subprefeitura do Itaim Paulista.
ABORDAGEM
No primeiro local, o parque Chico Mendes, a ação aconteceu por volta de 9h30. Lá cerca de cem crianças e jovens, entre 11 e 28 anos, foram abordados.
O local é conhecido como “point” dos adolescentes e há relatos de uso de maconha e prática de sexo em público.
Aqueles que estavam matando aulas foram colocados em carros, levados para as escolas onde estudam e entregues à direção para que os pais fossem chamados. Eles também serão convocados pelo Conselho Tutelar.
Dois jovens, um menor de idade e outro maior, foram à delegacia por estarem com maconha, segundo Payão.
Do grupo, 23 meninas que assumiram estar cabulando aula foram levadas de volta para as escolas, mas 25 meninos foram liberados por não haver espaço no carro. “Sem as meninas, eles não vão ficar no parque”, disse Payão.
O segundo parque foi o Santa Amélia. No local, mais vazio, cerca de 20 meninos e meninas foram abordados.
Quatro meninos, entre 11 e 13 anos, que estavam cabulando aulas, foram colocados na Kombi e levados para a Escola Estadual República da Guatemala, onde estudam.
No carro, um deles perguntou se os pais seriam chamados. Ao ouvir “sim”, chorou o resto do caminho, dizendo que temia apanhar da mãe.
“A ação é positiva porque esses jovens vão pensar bem antes de cabular outra vez. Também pretendemos reprimir o uso de drogas, pois muitos jovens faltam às aulas para fazer o uso delas”, diz o conselheiro tutelar Francisco Carlos Barros.
Para Diego Vale de Medeiros, coordenador do núcleo da infância e juventude da Defensoria de São Paulo, a ação é ilegal.
“Pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, medidas coercitivas só podem ser empregadas quando o adolescente comete ato infracional”. Segundo ele, a ação fere ainda o direito constitucional de ir e vir.
O Conselho Tutelar disse que consultou a Vara da Infância e da Juventude sobre a fiscalização. A Folha não conseguiu falar com o órgão.
Colaborou VANESSA CORREA, de São Paulo
Operação na zona leste foi isolada, afirma subprefeito
Medida foi apoio à ação realizada pelo Conselho Comunitário de Segurança
De acordo com chefe de gabinete do Itaim Paulista, moradores se queixaram de evasão escolar e uso de drogasDE SÃO PAULO
O chefe de gabinete da Subprefeitura do Itaim Paulista, Sérgio Payão, disse à Folha que a proposta da ação é servir como projeto-piloto, que poderá ser levado para o restante da cidade.
Segundo ele, foi feita até uma reunião com representante da Secretaria de Coordenação das Subprefeituras, que manifestou interesse no projeto e pediu um relatório com o resultado das ações.
No meio da noite, no entanto, o subprefeito do Itaim Paulista, João dos Santos de Souza, por meio de nota, disse que seu chefe de gabinete estava equivocado e que a ação não será ampliada para outras regiões da cidade.
Segundo a nota, o trabalho da subprefeitura é dar apoio as ações realizadas pelo Conselho de Segurança e pelo Conselho Tutelar.
Ontem, antes da ação, Payão deu as diretrizes para os policiais e conselheiros envolvidos nas blitze.
À Folha ele explicou que a ideia surgiu no Conselho Comunitário de Segurança da região, após reclamações da comunidade de que havia um grande número de jovens em parques que matavam aulas e bebiam e usavam drogas. Ele defendeu que a medida não fere o direito de ir e vir dos jovens.
“Eles não têm discernimento e acabam se envolvendo com pessoal que usa drogas e bebidas”, disse. “Se estão cabulando aulas, os pais têm que saber.”
EVASÃO
A Secretaria Estadual de Educação de SP disse que a média de evasão do Estado caiu de 12,1% no ensino fundamental e de 26,5% no ensino médio para 1,5% e 5,4% entre 1986 e o ano passado.
Por favor, publiquem.
A Toda Sociedade Brasileira.
Abaixo, manifesto nacional por melhoria da condição de um povo com o estigma doloroso de vidas – 800000 pessoas, 90% analfabetos, segundo o IBGE – relegadas ao abandono e à execração pública diária. Resolvemos apelar para a compaixão e a responsabilidade civil de todos os segmentos da sociedade, por puro cansaço de anos de tentativa inglória de amenizar a dor do despertencimento.
Estamos enviando-lhes este manifesto de pedido de socorro imediato ao Povo Cigano, para que todos se sensibilizem e interfiram junto aos órgãos competentes, para incluí-los nas políticas públicas de saúde, educação, erradicação da miséria e de comportamentos preconceituosos que causam tanto sofrimento a esses seres à margem da vida.
Nós, voluntários do Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente, APAC, Casa de Passagem, e na cidade de Viçosa, Minas Gerais, além do Forum Mundial Social – Mineiro e diversas outras entidades requeremos as medidas emergenciais de inclusão destes brasileiros, que já nascem massacrados pelo fardo vitalício da dor do aviltamento e segregação atávica em nossa sociedade, desabrigados que são da prática do macroprincípio da dignidade da pessoa humana, telhado da Constituição.
Cliquem no link abaixo, no artigo da SEPPIR, que confirma a situação deles. E, por favor, leiam o anexo.
http://noticias.r7.com/brasil/noticias/falta-de-politicas-publicas-para-ciganos-e-desafio-para-o-governo-20110524.html
Se nosso país tornou-se referência em crescimento econômico, certamente conseguirá sê-lo também em compaixão e acolhimento dessa causa universal.
DE GENTE ESTRANHA, em caravana.
Dolorosamente incômoda.
Ciganos. Descobrimos, perplexos, que suas famílias são excluídas dos programas de bolsa-família, saúde, educação, profilaxia dentária, vacinas etc. Sua existência se torna mais dramática, pois não conseguem os benefícios do governo por não terem endereço fixo. Segundo o IBGE, são cerca de 800.000, 90% analfabetos.
Há seis anos, resolvemos visitar um acampamento em Teixeiras, perto de Viçosa. E o que vimos foi estarrecedor: idosas, quase cegas, com catarata. Pais silenciosamente angustiados, esperando os filhos aprenderem a ler em curto espaço de tempo, até serem despejados da cidade. Levamos ao médico crianças que “tinham problema de cabeça”. E eram normais. Apenas sofriam um tipo diferente de bullyng, ignoradas, invisíveis que são. Chefes de família com pressão altíssima e congelados pelo medo de deixarem os seus ao desamparo.
Vida itinerante. Numa bolha, impermeável. Forasteiros no próprio país. Dor sem volta. Passamos a visitar todos que aqui vem. E a conviver com o drama de mulheres grávidas, anêmicas e sem enxoval. Crianças analfabetas aos dez, onze anos.
Sugeriram-nos que eles precisam se organizar e reivindicar. Ora, alguém já viu seqüestrado negociar com sequestrador? Como pessoas reféns do analfabetismo, execradas publicamente todos os dias de suas vidas, amordaçadas pelo preconceito e com filhos para alimentar conseguirão lutar por algo? Vide a Pirâmide de Maslow. Quem tem que gritar somos nós. Para eles não sobra tempo de aprender o ofício da libertação, já que são compulsoriamente nômades – sempre partem porque os donos dos terrenos ou algum prefeito pressionado expede a ordem de saída.
A gente descobre, atordoada, que desde a primeira diáspora, quando passaram a viver à deriva, sempre expulsos, eles vivem numa cápsula do tempo. Conservam os mesmos hábitos daquela época, ou seja, sociedade patriarcal, vestuário, casamento prematuro, a prática de escambo e a mesma língua dos antepassados. Tudo isto PORQUE NÃO PARTICIPAM DAS TRANSFORMAÇÕES DA CIVILIZAÇÃO. Jamais tem acesso às benesses das pesquisas tecnológicas e científicas, aos programas governamentais de erradicação da miséria, às celebrações civis agregadoras ou sequer a proposta de ao menos um olhar de compaixão.
E, então, “civilizados” que somos, cristãos ou não, que gritamos por nossos direitos, que votamos a favor ou contra, que existimos, continuaremos a dormir em paz?
Agradecemos a todos que se sensibilizarem com a causa e nos ajudarem.
Abaixo, email recebido de uma senhora cigana , esposa de um professor de Viçosa.
Respeitosamente,
Profª.Bernadete Lage Rocha
[email protected]
031-88853369
Voluntariado:
APAC – Viçosa-MG
Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente
Conselho de Segurança Alimentar
MULHERES PELA PAZ
PASTORAL NÔMADE