No século XIX os conservadores argumentavam que o socialismo seria impossível porque não haveria ninguém para despejar os penicos. Blanqui, um revolucionário que passou em prisões variadas mais de metade da sua vida adulta, respondeu que no socialismo cada um limparia o seu próprio penico. Ele não previu que houvesse hoje quem defendesse que não é preciso ninguém limpar os penicos. Passa Palavra

10 COMENTÁRIOS

  1. Claro, ele deixou escapar o desenvolvimento das forças produtivas trocaria os penicos pela privada — e além dos varios produtos que tornam jogo rápido sua limpeza, não é tão remoto prever uma automatizacao dessa função ingrata…

  2. OK, mas no socialismo cada um limpará sua própria privada, certo? Ou o Estado proverá trabalhadorxs da faxina? E quem faxinará a casa dxs faxineirxs?

  3. Durante oito meses eu fui um dos que limpavam os 18 banheiros de uma empresa aqui na França. Não existe nada de “jogo rápido” na limpeza – claro, no banheirinho da sua casa, pode ser, ainda assim a depender do grau de higiene que te satisfaz. Também não me parece nada fácil prever a automatização dessa área quando se olha para a sociedade, para as empresas, para as fábricas, para longe do seu próprio penico. Fácil é delirar sem ter os pés no chão, sem ter os olhos de ver, fácil é falar dos supostos milagres que o tal desenvolvimento das forças produtivas pode trazer.
    Volto ao caso concreto, àquilo que tenho na memória, depois daqueles oito meses, e depois de já passados alguns meses, usando ele como exemplo de algo que para mim não parece ser nada fácil de ser resolvido, pelo contrário. A empresa em questão tem 18 banheiros, são 43 privadas, 15 duchas, 25 torneiras, 18 espelhos, 25 recipientes para sabão líquido de lavar as mãos, 25 recipientes para papel de secar as mãos, 43 recipientes para papel higiênico, 43 recipientes para papel de forrar a privada. Para limpar e organizar essas coisas – e outras – a empresa explorava dois trabalhadores, cinco dias por semana, sete horas de trabalho por dia; às vezes era necessário trabalhar aos sábados também, seis horas no dia, para terminar o que não foi feito durante a semana.
    Um penico em casa não tem nada a ver com a limpeza de um prédio, uma escola, um hospital.

  4. Caro Fernando,

    Outro dos célebres limpadores de banheiros, ou de retretes, como se diz em Portugal, chamava-se Charles Bukovswski. Sugiro que leiam as págs. 150-154 de Factotum (Santa Rosa: Black Sparrow Press, 1999). «Even the most horrible human beeing on earth desserves to wipe his ass». Aprende-se muito sobre uma possível sociedade comunista nessas páginas. Aprende-se sobre outras coisas também. Por que você não escreve um artigo sobre a bosta e o esterco?

  5. se cuidar de privadas e penicos já é trabalhoso, objetos inertes que são, imagine cuidar das crianças, deficientes e idosos que sequer chegam a usar tais receptáculos do excretado. Como funcionaria a automatização do trabalho nestes casos? Como as forças produtivas do capitalismo avançarão nesta indústria?

  6. MERDACOMILANÇA ou NEGRI RIDES AGAIN
    confraternizaram-se
    enfim
    o império da desfaçatez
    e a coprofágica multidão

  7. Lendo a experiência de Henry Chinarski limpando bosta na empresa jornalística e – com frustração – confesso que não extraí lições sobre a possivel sociedade comunista.
    Lições sobre o capitalismo e a miséria humana há muitas.

  8. Hank, eu penso que como a gente ainda não chegou lá, a possível sociedade comunista, o que podemos aprender desde já está justamente nessas misérias, nas coisas que foram e são feitas para suporta, contornar ou supera elas até hoje, bem como nos dramas que toda essa gente carrega consigo e que não tem comunismo que dê jeito, já que são dramas humanos e um faxineiro no capitalismo ou no comunismo vai sempre chorar e sentir profundamente quando o irmão que ele mais ama se mata por amor. A gente aprende também sobre ela – a sociedade comunista – quando alguns poucos colegas faxineiros se organizam para comprar pão ou marmita, conforme o dinheiro deles alcançava, por alguns dias, na hora do almoço, para que um faxineiro tenha também o que comer.
    João Bernardo, veremos o que consigo escrever.

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