Activistas portugueses e israelitas apelam à cantora Ana Moura para que cancele o seu concerto em Israel

 

Ao tomar conhecimento de que a cantora portuguesa Ana Moura tencionava actuar em Televive no dia 27 de Janeiro 2012, o Comité de Solidariedade com a Palestina enviou-lhe uma carta pedindo-lhe que não o fizesse e que se juntasse assim ao movimento internacional de boicote contra a política israelita de ocupação e de apartheid.

Este tipo de apelo tem sido lançado em todo o mundo e dirigido a muitas dezenas de artistas, em particular músicos e realizadores. Elvis Costello, Roger Waters, Marianne Faithless são apenas alguns dos que aderiram à campanha de boicote e se recusaram a actuar em Israel. O realizador britânico Ken Loach é talvez o mais conhecido dos que se recusaram a participar em festivais israelitas.

Portugal não ficou fora desse movimento. Em Janeiro deste ano, Dulce Pontes acabou por cancelar um concerto seu programado em Telavive, após a insistência de vários activistas portugueses e internacionais. Uns meses antes, várias organizações, entre as quais Panteras Rosa, Comité de Solidariedade com a Palestina, SOS Racismo e Colectivo Mumia Abu-Jamal – tinham-se juntado para pressionar a organização do Festival Queer de cinema a recusar o apoio da embaixada de Israel ao festival. O realizador canadiano John Greyson obrigou o festival a retirar dois filmes seus quando soube que Israel apoiava o evento. O resultado foi que na edição de 2011, o Queer Lisboa já não estava associado a um Estado cuja história é marcada pelo roubo e a ocupação de um território de onde o seu povo é expulso e oprimido.

Os apelos para que Ana Moura não ajude a branquear os crimes desse Estado partem também dos próprios israelitas, como é o caso da organização BOYCOTT! Supporting the Palestinian BDS Call from Within (http://boycottisrael.info/), que se dirigem à cantora nestes termos: “Os palestinianos fãs da sua música que vivem na Cisjordânia, numa terra governada por Israel, estão sob a lei marcial e não serão autorizados a deslocar-se até Telavive para desfrutar do seu concerto. (…) Performances de alta qualidade como o seu concerto agendado têm servido para branquear os crimes [de Israel] e a criar uma imagem de Israel como a de um ‘Estado moderno’, onde as celebridades vêm actuar e ver as localidades turísticas. Na verdade, algumas das localidades estão situadas em território ocupado, e mais de 3 milhões de pessoas, incluindo fãs seus palestinianos, não podem assistir aos concertos em Telavive, mesmo quando estão a viver sob o controlo israelita, nomeadamente a ocupação”.

Em Portugal, juntamo-nos às vozes palestinianas e israelitas que apelam a uma tomada de posição de Ana Moura : a arte, a boa música e o talento da cantora não devem ser postos ao serviço de um regime de apartheid e limpeza étnica.


5 COMENTÁRIOS

  1. Aposto que quem tenta intimidar a artista desta maneira não se importa minimamente de agir lado a lado com anti-semitas e negacionistas do holocausto. Basta lembrar o recente caso da publicação pelo Avante de material anti-semita.
    No Brasil basta lembrar o apoio da esquerda ao PCB, depois deste ter publicado um texto do anti-semita argentino Manuel Freytas, e no Reino Unido, os convites ao anti-semita Atzmon para tocar em concertos.
    Gostava de ver o nome individual dos que fazem este apelo e das suas posições sobre o que acabei de referir.
    Na esquerda ninguém boicota o Latuff depois deste ter concorrido e ganho a um concurso de negacionistas do holocausto.
    As pessoas por trás desta iniciativa são as mesmas que elogiam o regime fascista da Coreia do Norte, do Irão ou da Síria.

  2. Por acaso, as pessoas que estão “por detrás desta iniciativa”, isto é, que aderem ao amplo movimento internacional de Boicote, Desinvestimento e Sanções ao Estado pária e criminoso de Israel, não elogiam as ditaduras da Coreia do norte, do Irão ou da Síria. São pessoas que defenderam a mesma estratégia para isolar o regime de apartheid da África do Sul nos anos 90, que defendem os direitos dos povos contra o colonialismo e qualquer outra forma de opressão.
    Contra a acusação de sermos anti-semitas, nem vale a pena argumentar, sr. Carlos, é uma chantagem que não pega. Toda a gente sabe ver a diferença entre o anti-semitismo e o anti-sionismo. Não se aproveite do extermínio de milhões de judeus sob o holocausto para justificar os métodos inspirados do nazismo que o Estado de Israel utiliza hoje contra o povo palestiniano. Dá-me vómitos.

  3. O comentário de Carlos trouxe-me à memória que no ano passado publiquei neste site um artigo ( http://passapalavra.info/?p=24723 ) que foi depois bastante divulgado noutros sites, não só de língua portuguesa mas também em inglês e em espanhol. Nesse artigo eu parti da distinção entre judaico e sionista e mostrei como o programa político do sionismo foi sistematicamente contrário aos interesses do povo judaico. O artigo cobre unicamente o período até ao final da segunda guerra mundial. Depois disso o Estado de Israel tem pretendido legitimar-se invocando o genocídio dos judeus e, do mesmo modo que o Carlos daquele comentário, confundindo anti-sionista com anti-semita. Tal como Elsa, e tal como muitas outras pessoas por todo o mundo, sou anti-sionista. Seria engraçado se me classificassem também como anti-semita.

  4. João Bernardo, acha o texto do Manuel Freytas, publicado pelo PCB, anti-sionista ou anti-semita?
    O texto encontra-se aqui: http://www.pcb.org.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=1724:os-donos-do-sistema&catid=43:imperialismo&Itemid=1

    Parece então que o anti-semitismo é uma invenção sionista, quem o denuncia é sionista e tudo isto tem muita graça. Basta chamar sionismo à figura do judeu tal como é classicamente apresentada nos Protocolos que se pode repudiar qualquer crítica e se pode aceitar a companhia de qualquer negacionista do holocausto.

    O estado de Israel tem uma necessidade particular de justificar-se? Senhor João Bernardo, eu não estou a fazer nenhuma confusão. Eu fiz-lhe uma pergunta directa e gostaria que me respondesse, pois perante a sua reacção um texto concreto, ficaria esclarecido sobre a acusação que me faz a mim. O Manuel Freytas é simplesmente um anti-sionista?

  5. Em resposta às questões colocadas por Carlos,
    1) O artigo de Manuel Freytas é anti-semita.
    Esse artigo, como todos os desse tipo, não são mais do que uma actualização da célebre invenção dos Protocolos dos Sábios de Sion. A passagem dos partidos comunistas da luta de classes para a geopolítica, que ocorreu ainda em vida de Lenin, torna-os especialmente atreitos às especulações da teoria da conspiração, de que o artigo de Manuel Freytas é um dos exemplos.
    2) Eu nunca escrevi que «o anti-semitismo é uma invenção sionista» nem que «quem o denuncia é sionista». O que afirmo e continuo a afirmar é que se lança a acusação de anti-semita aos que atacam o sionismo.
    3) Todos aqueles que, na esquerda, atacam o sionismo devem ter o maior cuidado em não aceitar a companhia de figuras que de um ou outro modo negam a política nazi de extermínio dos judeus. A última parte do artigo citado no meu comentário anterior, intitulada «Será que o leitor não vê onde eu pretendo chegar?», destinou-se precisamente a estabelecer essa linha de demarcação, que em caso nenhum deve ser ultrapassada.
    4) O Estado de Israel tem, com efeito, «uma necessidade particular de justificar-se» e o sionismo constitui precisamente essa justificação.
    A terminar, convém não esquecer a questão que suscitou esta troca de comentários — a campanha de boicote do Estado de Israel. Trata-se de um Estado que pratica o apartheid. E trata-se de um povo palestiniano que é urgente defender, antes que seja tarde demais. Ora, o boicote do Estado de Israel e a defesa do povo palestiniano são causas válidas, que não são postas em causa pelos erros políticos que possam ser cometidos por quaisquer organizações de esquerda. Não é a linha política dessas organizações que está aqui em jogo. É o tratamento que o Estado sionista inflige aos palestinianos. É este, e só este, o conteúdo desse Apelo.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here