Ao historiador amparado na obra de Marx, como diz Benjamin, cabe reconstituir a história dos silenciados pela historiografia oficial. Por Eder Maciel da Silva

A história é útil quando serve
para a vida e para a ação

Nietzsche
(NIETZSCHE apud LOWY, 2O11: 108)

O presente texto pretende discutir a relação entre tempo e história, partindo do referencial teórico oferecido por Walter Benjamin nas teses Sobre o Conceito de História (1940) e também dialogando com alguns de seus comentadores. Com base no pensamento de Benjamin oferecido pelas teses, trataremos de articular neste artigo o papel do historiador como agente de um processo histórico, não apenas como pesquisador de um determinado tema, mas como continuador da luta travada por aqueles sobre os quais a pesquisa de cunho bibliográfico se debruçou.

De acordo com os parâmetros apontados anteriormente, trataremos de discutir a relação entre tempo, sociedade e historiador a partir das seguintes problematizações: quais as interconexões entre os tempos vividos, passado e presente? O que muda e o que permanece? E nos movimentos mais gerais da sociedade, como se dariam essas conexões? E como a relação entre presente, passado e futuro estão historicamente ligadas? Quais as heranças, descasos e incertezas com relação ao movimento da história? O que permanece? O que muda? E qual o papel do tempo presente na constituição, articulação e alteração dos tempos históricos?

Nunca é demais dizer que não temos com este texto a mínima pretensão de neutralidade. Pelo contrário, marcados pela luta de classes e pela radicalidade das teses Sobre o Conceito de História, enraizadas na literatura marxista, escrevemos este trabalho sempre dentro de uma perspectiva dos oprimidos, historicamente derrotados e, por que não dizer, historicamente deixados de lado pela historiografia oficial (com o risco do exagero) em todos os tempos e em todas as sociedades.

“A luta de classes, que um historiador escolado em Marx tem sempre diante dos olhos, é uma luta pelas coisas brutas e materiais, sem as quais não há coisas finas e espirituais. Apesar disso, estas últimas estão presentes na luta de classes de outra maneira que a representação que toca o vencedor. Elas estão vivas nesta luta como confiança, como coragem, como humor, como astúcia, como tenacidade elas retroagem no fundo longínquo do tempo.” (BENJAMIN tese VI apud LOWY: 2010: 58)

A luta de classes é nosso ponto de partida e é a partir de uma discussão relativa ao tempo e ao papel do historiador como parte da reconstrução deste tempo que vamos trabalhar. Depois de Marx e da Escola dos Annales não se pode dizer que não se produziu uma história vista de baixo. Todavia, em Benjamin encontramos um aspecto importantíssimo para a reconstrução do passado, não como ele exatamente foi, mas como uma fagulha com a qual ele se apresenta num “momento de perigo”, “quando aqueles que outrora lhes tiveram negado o direito às coisas brutas e materiais,” (LOWY, 2010.) passando ao largo as coisas finas e espirituais, uma história que se repete como tragédia (Marx: 2011), um tempo presente de imensa riqueza, de um lado, e, de outro lado, na mesma proporção, um tempo presente de assustadora miséria, como já mencionara Marx, em 1844, em seus Manuscritos Econômico-Filosóficos: “A situação mais rica da sociedade – um ideal que é, contudo, aproximadamente alcançado, é pelo menos a finalidade da economia nacional, assim como da sociedade burguesa – é miséria estacionária para os trabalhadores” (MARX, 2009: 30) [1]. Ou, como nos diz Konder,: “[…] O sonho da burguesia se corporificava: o luxo do paraíso encobria o inferno da exploração […]” (KONDER, 1999: 93)

Angelus Novus, quadro de Paul Klee

Todo o otimismo em torno do progresso desconsidera ou faz vistas grossas para os efeitos negativos que derivam do avanço deste; se, de um lado, os apologistas burgueses têm o progresso como uma necessidade — haja em vista que seus interesses e privilégios de classe têm como pressuposto o avanço das forças produtivas e, consequentemente, a concentração das mesmas —, do outro lado, há o otimismo de um “marxismo vulgar”, tanto da II quanto da III internacional [2], “[…] um certo ‘materialismo histórico’ impregnado de excessiva confiança nas vantagens do desenvolvimento tecnológico. Essa confiança tranquilizadora — comum à socialdemocracia e ao stalinismo…” (KONDER, 1999: 103), que, em nome dos trabalhadores, aposta no progresso como resolução dos problemas da classe trabalhadora, relegando a essa o papel de predicado, enquanto o progresso, ou seja, as forças produtivas, assumem o papel de sujeito.

Há aqui uma inversão de papéis, tal qual a crítica a que Marx submete Hegel, quando este transforma o Estado em sujeito e a sociedade em predicado (MARX, 2010). Sem a pretensão de traçar uma ideia comum acerca do progresso entre Marx e Benjamin, haja em vista que estes estão separados por quase um século — porque “[…] Para nosso autor, (Benjamin) as condições históricas do século XX mostravam no capitalismo uma capacidade maior do que Marx, genial pensador do século XIX, poderia imaginar” (KONDER, 1999: 167-168) — porém vale deixar claro que para ambos o progresso tem positividades. O primeiro autor enxerga no progresso algo civilizador, que rompe com o atraso das formas societais anteriores — aqui falando da Europa dos meados do século XIX, quando a forma de produção capitalista se encontra em contradição com as relações sociais vividas, ou seja, a massa do proletariado que produz um excedente absurdo de riqueza tem seus meios de vida reduzidos à miséria. Tomando isso em conta, Marx e Engels concluem que é hora do proletariado assumir a dianteira do processo de produção da vida, submetendo o progresso aos interesses de todos e não de uma classe em particular e, junto com a Liga dos Comunistas, conclamam o proletariado a fazer a revolução.

Cabe ao historiador, como sujeito organizador e produtor do conhecimento histórico, do ponto de vista da disciplina do conhecimento, captar esta fagulha e a partir daí dar novamente voz àqueles que foram calados pela opressão dos dominantes, porque, de acordo com Benjamin: “O dom de atear ao passado uma centelha de esperança pertence somente àquele historiador que está perpassado pela convicção de que também os mortos não estarão seguros diante do inimigo se ele for vitorioso. E esse inimigo não tem cessado de vencer”. (BENJAMIN apud, LOWY, 2010: 65) [3]

“Perpassados” por esta concepção benjaminiana é que encontramos historiadores ligados à luta dos oprimidos e empenhados em trazer de volta as derrotas sofridas pelos vencidos de ontem. Não se trata de uma memória apenas daqueles que “jazem por terra”, soterrados pelos escombros da história oficial, mas é necessário que esta história seja trazida na sua complexidade, não como fatos dados, mas como algo que se reproduz ainda nos dias atuais. Não é de hoje que pessoas são “esfoladas” todos os dias em seu trabalho e não possuem os bens materiais mínimos para uma vida digna e muito menos acesso aos bens materiais e culturais mais sofisticados. (Cf. LOWY, 2010: 65-66)

Cabe ao historiador engajado com as lutas sociais articular a relação entre as lutas do passado e as atuais, dando sentido para os acontecimentos do presente. História é também continuidade, tanto é que os dominadores de hoje são herdeiros dos dominadores de ontem. Assim sendo, a este historiador compete — a partir de seu ofício e de sua consciência de que é possível pensarmos e lutarmos por uma sociedade sem dominação — buscar na resistência daqueles que em tempos passados reagiram contra as mais diferentes formas de dominação, pois: “[…] O pretenso historiador neutro, que acede diretamente os fatos ‘reais’, na verdade apenas confirma a visão dos vencedores, dos reis, dos papas, dos imperadores — tema privilegiado na historiografia de Ranke — de todas as épocas”. (LOWY, 2010: 65).

O tempo é um dos elementos centrais nas teses de Benjamin, assim como o é para o historiador. Estamos num período em que os tempos estão bastante misturados, não há uma distinção entre passado, presente e futuro. É comum hoje encontrarmos em obras de arte elementos da antiguidade, medievais e modernos numa mesma obra, como se a temporalidade se dissolvesse e se perdesse em suas especificidades. (ROUNAET, 1987).

Benjamin nos diz que o tempo da sociedade capitalista é marcado e definido, e que tem como objetivo chegar a um fim determinado. Este fim, em termos absolutos, é o lucro. Todavia, uma sociedade não é marcada apenas por questões objetivas, mas também subjetivas. Assim, o autor faz uma crítica, em seu texto “O Narrador” (1936), ao romance e, sobretudo, à forma de informação burguesa que se encerra num tempo presente e de forma absoluta, sem abrir margem para outras interpretações — como faziam as antigas narrativas —, nos levando à interpretação de que a história da sociedade burguesa é o fim da história; informação que nos inspira uma verificação imediata. Antes de qualquer coisa, ela precisa DE ser compreensível “em si e para si”. (BENJAMIN, 1994: 203)

Em O Narrador Benjamin aponta a questão do tempo na sociedade capitalista e é neste sentido que o historiador tem que estar atento: deve fazer como fazia o narrador presente em Walter Benjamim, que, em sua narrativa dos contos populares e da tradição oral, sempre deixa uma margem de seguimento da narrativa para os leitores. O historiador é, sob certo aspecto, narrador, pois, quando traz à luz sua pesquisa, tem de ter consciência de que ela é aberta a novas interpretações e até mesmo continuada por outro historiador, que se colocará certamente outras questões, diante de um novo “lampejo” que se lhe apresenta. Benjamin, em sua crítica ao “progressismo” capitalista de tipo positivista, não poupou ninguém, inclusive os marxistas da II e da III Internacional, sendo esses objeto de severas críticas. Como podemos acompanhar nas teses X e XI (BENJAMIN apud LOWY, 2010: 96 e 100), quando o autor aponta os equívocos dos marxistas por acreditarem que a sociedade caminha invariavelmente para o socialismo, como se o tempo fosse linear, vazio e homogêneo ou fosse preenchido pela lei irreversível do progresso, que levaria a “classe trabalhadora ao paraíso”:

“Em uma das notas preparatórias, Benjamin trata da ‘confiança na acumulação quantitativa’, que está na base tanto da fé obstinada no progresso quanto da confiança na ‘base de massa’” (GS I, 3, P. 1232). Ele critica, aqui, o artigo de fé essencial do marxismo subserviente e reducionista, comum às duas principais correntes da esquerda: a acumulação quantitativa e ao mesmo tempo das forças produtivas, das conquistas do movimento operário, do número de membros e de eleitores do partido, em um movimento de progresso linear, irreversível e ‘automático’. O materialismo histórico é assim reduzido ao boneco – o autômato descrito na tese I.” (LOWY, 2010: 98)

Na citação acima, Lowy demonstra como Benjamin encara a questão da temporalidade do progresso, que até os dias de hoje tem servido aos dominantes de turno (na atualidade, a burguesia e suas variações: capital financeiro, capital produtivo, fusão entre estas duas variações, comerciantes, a formação dos grandes trustes etc.) “Ao longo d’O Capital, Marx demonstra à exaustão a dinâmica permanentemente ampliada do capital, condição socialmente trágica de sua reprodução” (FONTES, 2010: 22). [4] A despeito do caráter destrutivo da forma de produção capitalista, o progressismo contagiou aqueles que, “vulgarizando” o marxismo, acreditaram num tempo evolucionista de superação das contradições da sociedade de classes, apenas por questões objetivas, retirando o protagonismo dos sujeitos, colocando-os em um tempo de progresso ininterrupto, do qual o máximo seria acelerar o processo como fez o “comunismo” soviético da era stalinista.

“Segundo Benjamin, a dinâmica do imperialismo vinha se definindo desde o século passado, quando a Paris, sob o governo de Napoleão III, era a capital do século XIX […] Já naquele tempo, a mercadoria estava se tornando, cada vez mais, objeto de culto e adoração: ela passava a se exibir, com crescente impacto, em vitrinas, galerias e até exposições internacionais”. (KONDER, 1999: 92)

De outro lado, sabemos que ele, quando se remete ao passado, não o faz na perspetiva de trazer o passado como ele foi. Não há uma intenção de rodar o relógio em sentido contrário e sim de que o passado seja retomado em suas promessas, que assaltem o presente, e que a luta de classes, hoje deixa de lado ou jogada no esquecimento, sirva de ferramenta histórica da realização das promessas do passado no tempo presente, que a Comuna de Paris seja redimida e finalmente vitoriosa. É, pois, este passado que Benjamin quer trazer de volta segundo Michel Lowy:

“[…] O que lhe interessa, no passado, não é o desenvolvimento das forças produtivas, a contradição entre força e relações produtivas, formas de propriedade ou de Estado, a evolução dos modos de produção – tema essenciais da obra de Marx – mas a luta até à morte entre opressores e oprimidos, exploradores e explorados, dominantes e dominados” (2010: 59).

Marx, quando pensa o desenvolvimento das forças produtivas, o pensa como um elemento potencialmente libertador. Todavia, nas sociedades de classes, o mais precário desenvolvimento dos meios de produção, assim como o mais avançado, não podem cumprir este papel libertador, pelo simples e terrível fato de as forças produtivas estarem submetidas a uma relação social de produção fundada na propriedade privada. Sendo assim, é necessário, segundo Marx, uma superação de tal relação social:

“[…] A estrutura do processo vital da sociedade, isto é, do processo de produção material, só pode desprender-se do seu véu nebuloso e místico no dia em que for obra dos homens livremente associados, submetida a seu controle consciente e planejado. Para isso, precisa a sociedade de uma base material ou de uma série de condições materiais de existência, que, por sua vez, só podem ser o resultado natural de um longo e penoso processo de desenvolvimento.” (MARX, 2010: 101)

A citação acima traz em si uma dimensão do progresso, a qual, à época de Marx, é vista como um objetivo humano necessário, reservando em si um caráter teleológico, que não está livre de sofrimento, embora a mesma citação já mostre em si mesma a possibilidade de superação deste sofrimento a partir de condições materiais favoráveis. Não há liberdade na miséria, só há liberdade na riqueza, entendendo aqui a riqueza como produção material da vida, sendo esta permeada de subjetividades, as coisas finas e espirituais das quais nos fala. (BENJAMIN apud LOWY, 2010: 58).

“O caráter teleológico que se encontra na obra de Marx tem que ser visto como uma práxis social, na qual o trabalho cumpre papel central. Desse modo, a categoria ontologicamente central, presente no processo do trabalho, é anunciada: ‘através do trabalho, uma posição teleológica é realizada no interior do ser material, como nascimento de uma nova objetividade. A primeira consequência é que o trabalho torna-se protoforma de toda a práxis social […] sua forma original desde que o ser se constitui. O simples fato de que o trabalho é a realização de uma posição teleológica é para todos uma experiência elementar da vida cotidiana… Por isso — acrescenta Lukács — pensadores como Aristóteles e Hegel se aperceberam com toda a lucidez do caráter teleológico do trabalho. O problema emerge quando se constata que eles elevaram a teleologia para além da esfera da práxis social, convertendo-a numa categoria cosmológica universal. Em Hegel, por exemplo, a teleologia se converteu em ‘motor da história’ […] entretanto em Marx o trabalho não é entendido como uma das diversas formas fenomênicas da teleologia em geral, mas como o único ponto onde a teleologia pode ser ontologicamente demonstrada como um momento efetivo da realidade material […]” (LUKÁCS apud ANTUNES, 2009: 137)

Este caráter teleológico da obra de Marx parece-nos possível de ser encontrado nas teses Sobre o Conceito de História, haja em vista que Benjamin reivindica um passado que se apresentara como promessa e não se realizou, um passado de luta dos oprimidos, que tem que ser retomado no presente, no bojo da luta anticapitalista, como já citado anteriormente no texto. Benjamin não quer um passado como ele realmente foi, mas retomar do passado a promessa de libertação que não se realizou. É nesse sentido que inferimos o caráter teleológico de Benjamin. (GAGNEBIN, 2004; LOWY, 2010.)

O historiador como sujeito da transformação

“Escovar a história a contrapelo — expressão de um formidável alcance historiográfico e político — significa, então, em primeiro lugar, a recusa em se juntar, de uma maneira ou outra, ao cortejo triunfal que continua ainda hoje, a marchar sobre aqueles que jazem por terra […]” (LOWY, 2010: 73). É tarefa do historiador, assim como Benjamin, olhar para a sociedade como agente de um tempo e perceber a humanidade recheada de contradições, de uma luta travada até à morte, em que os vencidos estão soterrados pela pompa da vitória dos dominantes. O historiador que se propõe a fazer uma história “vista de baixo”, pelo olhar dos vencidos, tem que se colocar como meta trazer à luz um tempo remoto, não como forma de fato isolado, como faz o historiador positivista (Cf. KONDER, 1999: 103), mas como experiência que pode ser vista do e pelo tempo presente, pelas questões que tal historiador se coloca.

Para o “historiador do historicismo”, de esquerda ou de direita, o tempo se apresenta em geral como homogêneo e vazio, como se não carregasse consigo uma “constelação” de acontecimentos. “[…] Em oposição à narração que enumera a sequência dos acontecimentos como a conta de um rosário, este procedimento, que faz emergir momentos privilegiados para fora do continuum cronológico, é definido, no fim das “teses”, como apreensão de uma constelação salvadora. (GAGNEBIN, 2004: 15). [5]

A história oficial sempre deixou de lado a história dos vencidos, haja em vista que o historiador positivista, quando articula a história, o faz com empatia pelos vencedores. “[…] A natureza dessa tristeza torna-se mais nítida quando se levanta a questão de saber com quem, afinal, propriamente o historiador do historicismo se identifica efetivamente? A resposta é, inegavelmente, com o vencedor.” (BENJAMIN apud LOWY, 2010: 70-71) Sem problematizar as formas de escrita e as circunstâncias em que foram escritos os documentos com os quais fazem e constroem a sua narrativa historiográfica, limitando-se a fazer uma história de transcrição documental, que não percorre os meandros do vivido e do que não foi documentado.

Uma historiografia que tem apenas documentos oficiais como fontes é por certo identificada com os dominantes, ou seja, com aqueles que controlam os instrumentos que permitem ao historiador historicista ter acesso a tais fontes. Neste caso, toda a pretensa neutralidade científica que estes pretendem arrogar à sua pesquisa histórica já contém, em si mesma, uma parcialidade, a de apenas analisar os documentos oficiais; logo, esta é a história contada pelos dominantes: história dos grandes homens, grandes fatos.

Ocorre-nos que na boa tradição marxiana e benjaminiana é necessário que uma leitura da história seja feita a partir daqueles que não são registrados pela historia oficial. Em Marx, o proletariado tem uma missão, que é a de realizar a filosofia. “Assim como a filosofia encontra suas armas materiais no proletariado, o proletariado encontra na filosofia suas armas espirituais […] A filosofia não pode se efetivar sem a suprassunção [Aufhebung] do proletariado, o proletariado não pode se suprassumir sem a efetivação da filosofia” (MARX, 2010: 156-157)

Ao historiador amparado na obra de Marx, como diz Benjamin, cabe reconstituir a história dos silenciados pela historiografia oficial, o que não significa que esta reconstituição deva ser feita somente a partir dos acontecimentos mais marcantes das lutas operárias, mas tem que descer até o subterrâneo, inclusive da história operária, tem que recuperar a história das mulheres e de todos os discriminados e oprimidos que sofreram a opressão no interior da própria classe dos trabalhadores, mas que resistem, e buscam as formas de resistência e que, quando derrotados, não o foram por força de uma lei imutável da história, segundo a qual chegaríamos, neste momento, como se estivesse assim determinado por uma marcha infalível do tempo, mas por contradições internas à sociedade, que as levaram a ser derrotadas.

A atualidade do pensamento está focada no presente por ser o tempo imediato liberado “hipoteticamente” de suas mediações com tempos passados, que retira a perspectiva de futuro, de uma realização possível de um concreto vivido, no qual uma promessa de futuro se efetive sobretudo na realização plena da humanidade, ou seja, o momento em que todos tenham suas necessidade básicas plenamente atendidas, tornando-se cada vez mais amplas e complexas as necessidades subjetivas, que também podem ser chamadas de espirituais. O presentismo típico dos tempos atuais está em total consonância com os interesses particulares das classes dominantes, não apenas por relegar o passado ao esquecimento, mas, sobretudo, por retirar a promessa de um futuro de plena realização humana.

Ao historiador cabe primeiro restaurar a conexão entre presente e passado, haja vista que na materialidade da vida esta conexão se realiza o tempo todo, se realiza sobretudo como dominação; as classes sociais não são um privilégio da sociedade capitalista, mas resultado histórico de uma conexão “involuntária” ou, melhor dizendo, de um processo histórico que, embora tenha a humanidade como sujeito da história, esta só faz sob um conjunto de circunstância (MARX, 2011) ou, nas palavras de Benjamin, uma “constelação” de acontecimentos, que fazem parte de um agrupamento de determinações, levando a um resultado histórico que, depois das sociedades primitivas — ou nas palavras de Marx e Engels: depois do “comunismo primitivo” —, o espaço tem sido marcado pela luta de classes. (MARX; ENGELS, 2008).

É sobre o prisma da luta de classes que o historiador “amparado pela leitura de Marx” tem que se debruçar sobre seu objeto. Já dissemos que no seio das classes sociais se manifestam os mais diversos tipos de dominação e preconceito; logo, não se pode deduzir que, ao enfatizar apenas o caráter de classe da sociedade, todos eles podem ser superados. Por outro lado, não se pode também negar que, mesmo dentro do capitalismo, podem se empunhar bandeiras de luta contra os preconceitos, sem com isso superar a sociedade de classes. Embora seja pouco provável que em uma sociedade marcada pelo individualismo e alimentada pela concorrência se possam extinguir os preconceitos e discriminações dos vários tipos encontrados na sociedade capitalista. (WOOD, 2003)

Na esteira da luta de classes — na qual, conforme Benjamin enfatiza fortemente em suas “teses”, o historiador “escolado em Marx” tem que se referenciar, para trazer à luz as derrotas do passado, não para tê-las no âmbito da memória apenas, mas para atualizá-las a partir das lutas travadas no presente — a “[…] Rememoração dos combates esquecidos e salvamento das tentativas fora do tempo, a apocatástase [6] dos momentos utópicos “perdidos” do socialismo não é uma operação contemplativa dos surrealistas: ela está a serviço da reflexão e da prática revolucionária do presente, aqui e agora — jetzt!” (LOWY: 2010: 57).

Partindo do que nos apresenta Lowy, em sua interpretação da postura de Walter Benjamin acerca das lutas do passado, podemos concluir que, para nosso autor, mais do que lembrar o passado, o historiador comprometido com os derrotados dos tempos anteriores, com as promessas não realizadas, busca retomar a sua memória e, com isso, retomar a sua luta no presente. Para Benjamin, o estudioso de uma sociedade está de uma forma ou de outra ligado às lutas de seu tempo, ou ao lado dos vencidos ou ao lado dos vencedores:

“[…] há o caso daqueles que estão em um terreno escorregadio, nesse caso, não se sabe para que lado irá cair, mas em momentos de acirramentos na luta de classes cai, pois a pretensa neutralidade dos historicistas sempre produziu uma história dos dominantes.” (BENJAMIN apud LOWY, 2010: 70)

Benjamin combate, como intelectual, qualquer moderação intelectual, quando analisa a postura de Döblin em seu texto O Autor como Produtor (de 1934), acerca de uma resposta que este dá:

“[…] a uma pergunta de um jovem – Döblin o chama de Sr Hocke – que se dirigiu ao celebre autor com a pergunta ‘ O que fazer?’. Döblin o convida a aderir à causa socialista, mas sob condições problemáticas. O socialismo, segundo Döblin, significa ‘liberdade espontânea dos homens, recusa de toda a coação, indignação contra a injustiça e a violência, humanidade e tolerância, opiniões pacíficas’. Qualquer que seja a definição a validade dessa definição, Döblin faz de tal socialismo uma arma contra o movimento operário radical […]” (BENJAMIN, 1994: 126-127).

Benjamin, segundo nossa interpretação, rejeita qualquer intelectualismo desconectado da atividade real, a qual ele concebe como processo produtivo. Para ele:

“A palavra de ordem que resume as exigências do “ativismo” é logocracia, ou o reinado da inteligência. A expressão pode ser facilmente substituída por “reinado dos intelectuais” (Geistige). […] Podemos observar imediatamente que esse conceito foi cunhado sem levar em conta a posição da inteligência no processo produtivo. O teórico do ativismo, Hiller, não concebe os intelectuais como ‘membros de certos ramos profissionais’, mas como ‘representantes de um certo tipo caracteriológico’”. (BENJAMIN, 1994: 126)

Benjamin critica duramente esse intelectualismo, primeiro, porque é preconceituoso:

“Quando Hiller repudia a figura do líder partidário, ele admite que esse líder tem muitas qualidades; ele pode ‘ser mais bem informado em temas importantes […] falar a linguagem mais próxima do povo […] combater mais corajosamente’ que o intelectual, mas uma coisa é certa: ‘ele pensa deficitariamente’ […]” (BENJAMIN, 1994: 126)

Nesse caso, o que se pode dizer de Lenin, Trotsky, entre tantos dirigentes políticos e intelectuais de gigantesca envergadura? Seguindo com nosso autor:

“[…] O ativismo tentou substituir a dialética materialista pela categoria, indeterminável em termos de classe, de senso comum. Seus intelectuais representam, na melhor das hipóteses, um estamento . Em outras palavras: o princípio utilizado para definir essa coletividade é reacionário; não é de admirar, portanto,que ela não haja nunca exercido uma influência revolucionária.” (BENJAMIN, 1994: 126)

O que estamos tentando demonstrar com o trecho acima não é apenas a polêmica em si mesma. O leitor interessado encontrá-la-á de forma bem mais completa e coerente no texto de Benjamin. Aqui o objetivo é elucidar a postura de nosso autor a respeito do papel do intelectual na sociedade de classes, ou seja, na sociedade capitalista. Vemos aqui para onde conduz a concepção do “intelectual” como um tipo definido por suas opiniões, convicções e disposições, e não por sua posição no processo produtivo. Como diz Döblin, ele deve encontrar lugar ao lado do proletariado. Que lugar é esse? O lugar de um protetor, de um mecenas ideológico. Um lugar impossível. E assim voltamos à tese inicial: o lugar do intelectual na luta de classes só pode ser determinado, ou escolhido, em função de sua posição no processo produtivo. (BENJAMIN, 1994: 127).

Aqui se faz nítida a posição de Benjamin como intelectual: não há dúvidas de sua radicalidade e sua posição de classe — a qual podemos perceber em sua crítica a um intelectual (Döblin) que se propõe a apoiar a luta do proletariado, posição que Benjamin declara impossível, e mais, enfatiza que só como agente do processo produtivo o intelectual pode se somar à luta dos trabalhadores como parte dessa classe, o que indica um domínio tamanho da sociedade capitalista. Por sua vez, também a atividade intelectual está submetida ao “imperativo da mercadoria”.

Parece-nos que, mesmo o intelectual que se proponha a certa autonomia, ele acaba se esbarrando nas determinações impostas pelo sistema, para isso concorrendo o fato de que os resultados de sua atividade intelectual podem sucumbir ao imperativo da mercadoria:

“[…] A modernidade da mercadoria impunha a novidade e ao mesmo tempo reduzia-a à mesmice do sempre ‘igual’: não havia como escapar ao círculo vicioso. ‘Baudelaire não para de trair sua classe; mas nem por isso deixa de pertencer a ela[…]” (KONDER, 1999: 99)

Acima, trouxemos um exemplo de que pouca coisa escapa à mercadoria. É nesse contexto que o intelectual tem que se perceber. Assim sendo, o historiador intelectual tem de ter em mente a sociedade e os interesses que estão em jogo e que fazem parte de um tempo de interesses mais ou menos dissimulado, pois tem ligações profundas com o passado. Assim se comportam as classes dominantes:

“Um exemplo latino-americano recente permite ilustrar o significado da exigência de ‘escovar a história a contrapelo’: a comemoração do V centenário da descoberta das Américas (1492 – 1992). As festividades culturais, organizadas pelo Estado pela Igreja e por iniciativas privadas, são exemplos da empatia com os vencedores do século XVI – uma Einfühlung que beneficia invariavelmente os dirigentes atuais: as elites financeiras locais e multinacionais que herdaram o poder do antigos conquistadores.” (LOWY, 2010: 80)

O exemplo que Lowy nos traz demonstra exatamente como a classe dominante fortalece sua dominação, dando manutenção à ideia de que a América só pode ser vista depois de sua “descoberta” pelos espanhóis. Isso, intencionalmente, indica que os povos anteriores não tinham e não têm história; logo, não têm direitos, pois tais classes dominantes seriam as únicas e verdadeiras legatárias de uma história que as põe em evidência culturalmente e as torna únicas herdeiras de um passado vitorioso que deve ser perpetuado, para com isso perpetuar também as conquistas; ou seja, no sacrifício de seus ancestrais, perpetuar suas riquezas conquistada pela bravura e suor dos conquistadores. [7]

Essa perpetuação de sua própria vitória, a dos vencedores, é a história que deve ser combatida pelo historiador que tem em Benjamin e suas teses uma referência de como reconstruir e narrar a história dos vencidos. Todavia, parece-nos certo que o terreno para “redimir” nosso passado, retirar séculos de escombros de cima das “promessas” sufocadas, só é possível no campo da luta social, da luta contra os privilégios, que é, logo, a luta contra a miséria nas suas mais variadas feições, tanto econômicas quanto culturais, duas categorias que a nosso ver são inseparáveis. Não se pode ser culturalmente rico quando se vive na miséria e vice-versa, sobretudo na sociedade das mercadorias, onde até a cultura é produzida sob estes paradigmas, o que indica quem pode ou não pagar por ela e, dependendo da quantia de dinheiro que se tem no bolso, que mercadoria se poderá consumir.

O historiador que não navega nas caravelas dos conquistadores de outrora se opõe em menor ou maior medida ao cortejo triunfal dos dominadores de hoje, ainda que isso possa se limitar ao plano da atividade intelectual, que é por certo muito mais difícil e “trabalhosa” do que a do historiador do “historicismo”, haja em vista que esse tem acesso a documentação com mais tranquilidade e o apoio das classes dominantes, principal interessada em naturalizar a história. No entanto, para avançar para além da narrativa historicista, o historiador ao qual nos referimos há de se colocar o desafio de efetivar no presente a vitória de seu “objeto” de pesquisa, fazer desse objeto novamente “sujeito” da transformação.

“[…] O passado leva consigo um índice secreto certo pelo qual ele é remetido à redenção. Não nos afaga, pois, levemente um sopro de ar que envolveu os que nos precederam? Não ressoa nas vozes a que damos ouvidos um eco das que estão agora caladas? E as mulheres que cortejamos não têm irmãs que jamais conheceram? Se assim é, um encontro secreto está então marcado entre as gerações passadas e a nossa. Então fomos esperados sobre a terra. Então foi dada, assim, a cada geração que nos precedeu um fraca força messiânica, à qual o passado tem pretensão. Essa pretensão não pode ser descartada sem custo. O materialismo histórico sabe disso.” (BENJAMIN apud, LOWY, 2010: 48).

A tese II traz em si um desafio para as gerações futuras. Este desafio não consiste apenas em um acerto de contas com o passado, mas é sobretudo uma missão de redimir no presente aqueles que foram derrotados no passado. Essa redenção já começa a se realizar quando o historiador recupera a história dos vencidos. Todavia, ela só se realiza plenamente no plano da luta social, no atender ao chamado dos derrotados do passado. De contrário, ”[..] não haverá redenção para geração presente se ela fizer pouco caso da reivindicação (Anspruch) das vítimas do passado. (LOWY, 2010: 52).

Atender as reivindicações do passado ou, como já dissemos anteriormente, fazer do “objeto sujeito”, não é ressuscitar os mortos, tampouco relegá-los à condição de esquecidos, como fizeram os historiadores oficiais (ou tradicionais/positivistas). Fazer do “objeto sujeito” é, em um primeiro momento, admitir a legitimidade de sua luta e, em um segundo momento, levar adiante essa luta: o primeiro momento é realizado na pesquisa e no seu resultado, o segundo se estabelece no terreno da luta social e seus desdobramentos. A nosso ver, o historiador ao qual se refere Benjamin não está apenas ligado ao primeiro momento, mas se situa sobretudo na relação entre o primeiro e o segundo momento.

Porque, quando imaginamos o intelectual, não o fazemos como se este fosse um ente aparte da sociedade, como o único capaz de fazer uma leitura científica e imparcial. Pelo contrário, como vimos discutindo a todo o momento no texto, essa leitura é parcial e determinada por interesses, o que não lhe retira o caráter científico. Afinal, não está tratando de ciências pura e simplesmente, mas de humanidade, a qual não cabe em nenhum esquema fechado. Assim sendo, concebemos o historiador como parte constituinte da sociedade, logo, movido por interesses, que podem ser mais ou menos particulares. Em sociedades de classes se apresentam como particulares para se tornarem universais, onde o universal pode atender mais a interesses particulares, como no caso da burguesia, ao mesmo tempo em que o particular pode ser o universal, como é o caso da luta pelo socialismo. Aqui o debate circula entre a aparência e a essência do que é estabelecido na práxis social. [8]

Voltando ao historiador, o sabemos como intelectual ligado aos momentos que descrevemos acima. Se por nós assim é compreendido, precisamos então conceber o historiador para além da profissão e do ofício. É necessário entendê-lo na esteira das relações sociais de seu tempo, relações essas que o levam a investigar a história; e, ao fazer isso, faz uma escolha que está intrinsecamente ligada às suas angústias e questões sobre a humanidade, pois, como nos lembra Marc Bloch, o historiador assumiria a postura de um ogro, onde fareja carne humana ali ele aparece (BLOCH, 2001). São essa angústias e questões que fazem o historiador escolher seu objeto de pesquisa.

Feita a escolha, vem o processo de investigação no qual ele exercerá a atividade intelectual, o primeiro momento, em que, identificado com seu objeto, levará adiante sua pesquisa e, como pesquisador, submeter-la-á à crítica. O historiador que opta pelos vencidos, que tem na “escola de Benjamin” um sentido, que é o de retomar a promessa como nos apresenta Michel Lowy, tem que avançar para o segundo momento, o momento da luta social, pois acreditamos ser apenas neste que o historiador se realiza plenamente; é quando a promessa se restabelece em vias de realização.

Queremos dizer com isso que o historiador, como intelectual, deve estar atento às lutas de seu tempo, porque, para nós, como já dissemos, o intelectual é parte constituinte da sociedade e, como tal, é diretamente atingido pelos conflitos de seu tempo histórico. Assim, o historiador materialista histórico deve estar diretamente ligado ao segundo momento, o momento da luta social. Não é de hoje que intelectuais, estudiosos de “suas” sociedades, se empenham na luta pelas transformações sociais: poderíamos citar, certamente, mais de uma dezena dos quais temos conhecimento, mas lembraremos apenas alguns nomes como Ernesto Guevara — o Che, Trostsky e Lenin. “Foi o grande êxito da Revolução Russa, em outubro de 1917 – liderada pelos bolcheviques Lenin e Trotsky – que universalizou a visão intelectual e a política revolucionária”. (MATOS, 1993: 13)

Grandes estudiosos e líderes revolucionários, Lenin e Trotsky desfizeram qualquer separação entre interpretação da realidade e ação prática, pois, além de profundos pesquisadores de suas sociedades, eram acima de tudo sujeitos da transformação, ao fazeram de suas atividades intelectuais objetos da transformação. Dessa forma concebemos o historiador ao qual se refere Benjamin, o “historiador escolado em Marx”, para além de sua atividade como pesquisador, mas como um sujeito que, preocupado com as questões de seu tempo, faz da pesquisa algo transformador e olha para o passado não para contemplá-lo. Sua pesquisa não é destinada a ornamentação, mas transforma-se em arma da crítica e ferramenta da transformação. Este historiador busca no passado o elemento da revolução, pois é na experiência de luta e nas batalhas perdidas que se encontra a possibilidade concreta da vitória, da supressão da sociedade de classes. Como nos diz Walter Benjamin:

“[..] Certamente só à humanidade redimida cabe o passado em sua inteireza. Isso que dizer: só à humanidade redimida o seu passado tornou-se citável em cada um dos seus instantes. Cada um dos instantes vividos por ela torna-se uma citationn à l’ ordre du jour – dia que é justamente, o do juízo final.” (BENJAMIN apud LOWY, 2010: 54).

Notas

[1] Não apenas nos Manuscritos aqui citados, mas em toda a obra de Marx e Engels a problemática dos trabalhadores e dos donos dos meios de produção é uma constante.

[2] A história do movimento operário, e sua necessidade de se organizar internacionalmente, criou as internacionais: AIT (Associação Internacional dos Trabalhadores), também conhecida como Primeira Internacional, de 1864, à 1876; a Segunda Internacional 1889, sob a Direção de Engels e seus seguidores, Kautsky e Bernstein; e a Terceira Internacional, fundada após a revolução russa, em 1919, pelo Partido Bolchevique sob a liderança de Lênin.

[3] Optei por citar as teses Sobre o Conceito de História extraindo as citações do livro de Lowy, cuja tradução é feita por Jeane Marie Gagnebin, e não da tradução da obra de Benjamin (Magia e Técnica – Arte e Política. Obras Escolhidas), cuja tradução é de Sérgio Paulo Rouanet, por julgar, segundo minhas impressões literárias, que a tradução de Gagnebin transmite melhor o sentimento de Benjamin. Os leitores observem o mesmo trecho na tradução e tirem suas conclusões: “O dom de despertar no passado as centelhas de esperança é privilégio exclusivo do historiador convencido de que nem os mortos estarão em segurança se o inimigo vencer. E esse inimigo não tem cessado de vencer” (BENJAMIN, 1994: 224).

[4] Marx, no capítulo 23 de O Capital, já anuncia a tendência de acumulação ampliada e a centralização de capitais. Ver também a pequena brochura de Lênin intitulada Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo onde este aprofunda o caráter concentrador do capitalismo.

[5] Ver também ROUNAET, 1987: 42-43

[6] O termo messiânico apocatástase é o equivalente ao termo judaico tikkun, significa a volta às origens, ao paraíso. (Cf. LOWY, 2010: 54)

[7] Grifos meus.

[8] Debate que no momento não cabe devido aos limites do texto e de quem o elabora.

Referências

ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do Trabalho. São Paulo, Boitempo, 2005.
— O Caracol e sua Concha. São Paulo, Boitempo, 2005.
BENJAMIN, Walter. Magia e técnica: Arte e política (Obras Escolhidas). São Paulo, Brasiliense, 1994.
BLOCH, Marc. Apologia da História: ou o ofício de historiador. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2001.
BRAZ, Marcelo. Partido e Revolução (1848-1989). São Paulo, Expressão Popular, 2011.
FONTES, Virgínia. O Brasil e o Capital-Imperialismo: Teoria e História. Rio de Janeiro, UFRJ, 2010.
GAGNEBIN, Jeanne Marie. Historia e Narração em Walter Benjamin. São Paulo, Editora Perspectiva, 2004.
— Walter Benjamin: Os cacos da história. São Paulo, Editora Brasiliense, 1993.
KONDER, Leandro. Walter Benjamin: O marxismo da melancolia. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1999.
LOWY, Michel. Walter Benjamim: aviso de incêndio. (Uma leitura das teses sobre o conceito de história). São Paulo, Boitempo, 2010.
MARX, K.; ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista. São Paulo, Expressão Popular, 2008.
MARX, Karl. O capital: Critica da economia política. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2010.
— Crítica à Filosofia do Direito de Hegel. São Paulo, Boitempo, 2010.
— Manuscritos Econômicos-Filosóficos. São Paulo, Boitempo, 2004.
— O 18 Brumário de Luís Bonaparte. São Paulo, Boitempo, 2011.
MATOS, Olgária C. F. A Escola de Frankfurt: Luzes e Sombras do Iluminismo. São Paulo, Moderna, 1993.
ROUANET, Sergio Paulo. As Razões do Iluminismo. São Paulo, Companhia das Letras, 1987.
WOOD, Ellen Meiksins. A origem do capitalismo. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2001.
— Democracia contra Capitalismo. a renovação do materialismo histórico. São Paulo, Boitempo, 2003.

Ilustrações: com exceção da primeira e segunda imagens, quadros de James Ensor.

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