A greve na PSA-Peugeot-Citroen não esmoreceu e a determinação aumenta a cada dia que passa. Por um correspondente da Lutte Ouvrière

Mantida durante toda a semana passada, a greve recomeçou na segunda-feira, 4 de Fevereiro [1]. Nesse dia, os grevistas encontraram-se em igual número, entre 300 e 350, às 6 horas diante dos portões para acolher os autocarros [ônibus]. E a administração ficou sem possibilidade de retomar a produção na fábrica. A greve não esmoreceu – o número de grevistas registados ultrapassou os 480 – e a determinação aumenta a cada dia que passa.

Uma greve que a administração não consegue quebrar

Durante toda a semana, uma centena de seguranças permaneceu no parque de estacionamento da fábrica. Advertido diversas vezes desta presença ilegal, o governador civil [autoridade máximo no Departamento] não deu ouvidos. A administração organizou também grupos de quadros no interior da fábrica para andarem atrás dos grevistas e tentar impedir as discussões com outros trabalhadores. Tanto os seguranças como os quadros não estavam ali para tratar de repor a montagem em andamento – eles não saberiam fazê-lo – mas para criarem uma tensão que levasse a situação a degenerar. Foi a consciência dos grevistas que permitiu evitar confrontações. Por fim a campanha de insultos e calúnias da administração voltou-se contra ela própria. À força de dar a entender que na fábrica reinava um clima de guerra civil, ela acabou por convencer muitos assalariados das outras oficinas a não se deslocarem a Aulnay. Até há chefes e quadros que já não se oferecem para virem pressionar os grevistas.

A greve organiza-se

Do seu lado, os grevistas continuam a contactar o conjunto dos assalariados da fábrica. Na sexta-feira, alguns deles foram oferecer café aos trabalhadores temporários e aos não-grevistas. Prosseguem as discussões para os convencer a juntarem-se à luta.

Alguns monitores recusaram as ordens da administração para colocarem os temporários a trabalhar, porque tinham consciência de que ela só visava uma nova forma de provocação. Por isso os grevistas têm o apoio até de trabalhadores não-grevistas. O que permite segurar a greve e continuar a luta.

Todos os dias os trabalhadores em luta encontram-se na place de grève [2] da fábrica. Discutem e tomam as suas decisões colectivamente em assembleias gerais. E isso apesar da presença de dezenas de quadros enviados em grupo pela administração para impressionar os grevistas, mas que acabam por se parecer mais com jarrões de flores inúteis e murchas do que com comandos aterradores.

O comité de greve empenha-se em organizar as iniciativas necessárias à luta, em particular as acções que visam popularizar a greve e alimentar o fundo da greve. Os grevistas continuam a ir à porta das outras empresas, aos centros comerciais [shoppings] e às estações para discutirem com os trabalhadores os combates a travar em comum e para apelarem à solidariedade financeira. De toda a parte chegam manifestações de solidariedade do mundo do trabalho – na forma de textos de apoio ou testemunhos de simpatia – que dão força moral aos grevistas. O fundo de greve enche-se com cheques de centenas de pessoas, mas também com os contributos dos municípios contactados pelos grevistas.

Na segunda-feira, 4 de Fevereiro, a retoma da greve deu lugar a um verdadeiro banquete organizado por aquele a quem os grevistas chamam “o mágico”, que tem permitido que todos possam comer juntos desde há duas semanas. Alguns grevistas também fabricaram doçarias e, com ajuda da música, o ambiente manteve-se festivo durante todo o dia. Mas ninguém compreende porque é que os quadros, a quem os grevistas dão a ouvir música todo o dia – parece que com o som muito alto – no entanto não querem dançar.

“Somos operários, e não desordeiros. Os desordeiros são os patrões”

A administração mandou apresentar queixa contra pelo menos oito militantes da greve. Estes foram convocados pela polícia a pretexto de agressão contra um oficial de diligências… que não declarou nenhum dia de ITT [3] e se pavoneava em plena forma pela fábrica depois da sua pretensa agressão. De facto, a administração da PSA contrata oficiais de diligências com o fito único de apresentarem queixas contra os grevistas. Porém o dossiê fica ridiculamente vazio, basta suprimir as mentiras da administração.

Na sexta-feira, 1 de Fevereiro, 450 grevistas e militantes sindicais do distrito juntaram-se à frente do comissariado [esquadra, delegacia] de Bobigny, para onde foram convocados dois dos grevistas, para protestarem contra essas queixas cujo único objectivo é quebrarem a greve e para denunciarem a cumplicidade aberta do governo.

Na terça-feira, 5 de Fevereiro, estava prevista nova reunião de negociação na sede da PSA. Entretanto a direcção da fábrica tinha convocado quatro militantes da greve para conversações visando o despedimento. Para muitos trabalhadores isso apresentava-se como mais um exemplo do “diálogo social exemplar”. Logo pela manhã, perto de 300 grevistas tinham formado uma guarda de honra para acompanhar o primeiro sancionado, fazendo questão de mostrarem claramente à administração que não querem, em caso algum, aceitar esses despedimentos.

Exprime-se a solidariedade por esta luta que abre caminho

Terça-feira, 5 de Fevereiro, estava previsto um comício de apoio no parque de estacionamento da fábrica, para responder à campanha de calúnias da direcção e também para fazer pressão sobre o governo para parar os processos judiciais contra militantes da greve. Numerosas personalidades políticas e representantes dos sindicatos, da Renault, da PSA, da Air France, da Goodyear, da Faurecia, etc., vieram trazer o seu apoio e afirmar a necessidade de um combate comum. Mas a administração, com o assentimento do prefeito [governador civil] proibiu a realização do comício no estacionamento. Por isso ele foi realizado na avenida em frente à fábrica. E todos puderam constatar a presença dos esbirros da administração. Dezenas de seguranças em uniforme negro postaram-se ao longo do gradeamento, como se as personalidades convidadas fossem perigosos delinquentes. Para virem participar no comício, os trabalhadores tinham portanto de passar por um primeiro cordão de quadros e depois por um segundo cordão de seguranças. Que mais é preciso para saber quem é que faz reinar o terror nesta fábrica? Mas nem isso impediu alguns não-grevistas de se juntarem ao movimento nesse dia. Era uma maneira de esses trabalhadores exprimirem o seu desacordo com os métodos da PSA.

A continuação da greve inquieta a administração da PSA. Ela não consegue vergar os grevistas nem isolá-los nem obrigá-los a voltar ao trabalho. Para além da paragem da produção dos C3 [4], o que a administração e o governo temem é a possibilidade de o movimento se alargar.

Com efeito, todos os trabalhadores do [sector] automóvel estão a ser atacados de igual modo pelos acordos de competitividade – que são acordos de sobre-exploração – e pelas supressões de postos de trabalho. As greves-relâmpago na Renault mostram aliás que todos os trabalhadores do automóvel são atingidos.

É por isso que o governo se obstina, por um lado, em apoiar a administração da PSA no combate contra os grevistas de Aulnay e, por outro, em convencer os trabalhadores da Renault, da Goodyear e outras, de que é preciso “refrear os ânimos”, como afirma Montebourg [5]. Vindos de alguém cujo único objectivo é encher a barriga ao patronato, estes apelos à resignação não surpreendem.

Enquanto isso, a via aberta pela luta dos trabalhadores da PSA, longe de qualquer resignação, é a via de um combate colectivo contra os ataques do patronato.

Notas

[1] Ver aqui um comunicado do comité de greve, datado de 5 de Fevereiro.
[2] Referência à Place de Grève, em Paris, que em 1803 passou a chamar-se Place de l’Hotel de Ville [da Prefeitura]. Junto às margens do rio Sena, o seu nome vinha da palavra grève que significa cascalho ou areia grossa, característica de certas praias e margens de rios. Ali se descarregavam os barcos de mercadorias no chamado “Port de Grève”. Os operários sem trabalho juntavam-se aí de manhãzinha na esperança de serem contratados como carregadores: “ils allaient en Grève”, eles iam para a “greve”. De onde o contrasenso de, mais tarde, se começar a chamar “grevistas” aos operários que paravam de trabalhar como forma de luta.
[3] Incapacidade temporária de trabalho, em Portugal “baixa por doença”.
[4] Modelo de automóvel da Citroen.
[5] Actual ministro francês da Recuperação da Produção.

Tradução e notas do Passa Palavra.

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