Por Passa Palavra

Após os seguidos atos de repressão aos manifestantes de diversas cidades do país que lutavam contra o aumento da tarifa do transporte urbano, foi marcada em Salvador uma reunião em solidariedade, ontem (15/06) às 14h. A reunião, convocada pelo Facebook, contou com quase nove mil confirmações. A expectativa em torno do número real que compareceria e, principalmente, das deliberações que dali sairiam era enorme.

No Passeio Público, aos pouco foram chegando mais e mais pessoas e, por volta das 14:30, deram início à reunião. A reunião começou com aproximadamente duzentas pessoas, mas uma hora e meia depois já era algo bem maior, com aproximadamente mil pessoas. A reunião, que naquela altura já havia virado plenária, de plenária já sofria a pressão para virar também manifestação. Na maioria ali presente, inegavelmente, havia o desejo de tomar as ruas, enquanto outros se preocupavam mais com as futuras ações.

A maioria das pessoas ali estava diante da sua primeira mobilização social e isto pautou tanto as falas quanto as palavras de ordem. Para outros, que já haviam participado de mobilizações pretéritas, a sensação era a de que após anos de letargia, ainda era possível ir às ruas e participar de novas lutas. Enquanto havia um nítido desejo de, entre os mais jovens, “fazer algo”, independentemente do que fosse, entre os que participaram de lutas recentes, como a Revolta do Buzu (clique aqui, aqui e aqui), havia o desejo de ligar um momento ao outro.

Por isto que, mesmo pautados pela solidariedade a outras lutas, principalmente às que acontecem agora em São Paulo, e de terem intitulado o evento de “Reunião do Passe Livre Salvador”, muitas outras pautas emergiram. Havia aqueles que queriam dar um caráter cívico e patriótico ao movimento. Outros que desejavam mesmo testar a polícia e radicalizar nas ações. Outros queriam implantar novas pautas ao ato, como a luta contra a PEC 37 ou contra a corrupção, ou pautavam situações particulares da cidade de Salvador, como a inexistência do metrô. Além disto, havia uma indignação geral contra às Copas [Copa das Confederações e Copa do Mundo], cujo primeiro jogo acontecia exatamente na hora da reunião

Devido a profusão de pautas e de pessoas, em determinado momento a reunião parecia que iria implodir. Muitos já não viam sentido naquele debate que se prolongava por horas e se dirigiram à rua, fechando a pista mais próxima. A reunião continuou por mais uma hora e meia após este racha, mas ao final se juntaram aos outros que haviam saído primeiro e se direcionaram todos à Estação da Lapa, a maior da cidade. Isto por volta das 18h, início da noite de um sábado. O ato terminou duas horas depois, com a abertura das portas dos ônibus para que os usuários do sistema de transporte pudessem entrar sem pagar. Em nenhum momento aconteceram incidentes, muito menos confrontos.

De qualquer forma, a reunião conseguiu tirar importantes deliberações e duas novas ações. As duas próximas ações acontecerão já nesta semana, sendo a primeira no Iguatemi, às 17h da próxima segunda-feira (17/06). O outro ato será na quinta-feira (20/06), concentração marcada para às 16h, com saída do Campo Grande em direção à Arena Fonte Nova. Quanto a este segundo ato, por ser dia de jogo da Copa das Confederações, há receio de que aconteça repressão por parte da polícia, a exemplo das outras cidades.

Quanto às deliberações, a reunião conseguiu delimitar o movimento em torno da luta pelo transporte público, mas não havia possibilidade nenhuma de tornar concreta esta pauta. Não foi possível construir entre os participantes o consenso em torno da tarifa zero ou do passe livre, por exemplo. Muitos continuavam achando esta pauta inviável. Entretanto, durante a manifestação que se seguiu, as palavras de ordem em torno do passe livre ganharam voz, rivalizando de igual para igual com as de rejeição às Copas.

Enfim, foi um ato que superou todas as expectativas e que conseguiu se auto-organizar durante os debates, superando as divergências e mantendo a unidade. Se apresentou ali um conjunto significativo de jovens que estão com vontade de “fazer algo”, de se sentirem parte da onda de lutas que acontece desde a Primavera Árabe em diversos países. Mas se será a luta pelo passe livre, contra a Copa do Mundo ou outra qualquer que continuará a mobilizar estas pessoas, aí só com o tempo saberemos.

1 COMENTÁRIO

  1. Que salvador consiga ter a força da Revolta do Buzu, novamente. Precisamos de respeito!

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