Por Paulo Gustavo

O período de lutas nas ruas parece ter inaugurado um novo cenário político no Brasil. Algo totalmente inédito para o contexto de conciliação de classes no qual o país vivia. É a partir desta perspectiva que poderíamos começar a compreender o atual estágio da luta de classes em terras tupiniquins.

Para isso, faz-se necessário lançar mão de um conceito, não menos polêmico, empregado por André Singer para analisar a base de sustentação do governo petista nas últimas eleições, o “lulismo” [1]. Este conceito é empregado pelo autor para indicar um realinhamento eleitoral que afastou as classes médias do perímetro de abrangência dos eleitores do PT. O afastamento deste setor deu lugar a uma fração de classe a que o PT, segundo a hipótese de Singer, não tinha conseguido chegar antes das eleições de 2002. Tal fração de classe constitui o que se chama de “subproletariado”, o extrato da classe trabalhadora que não possui carteira assinada (proletariado) e tampouco se encontra na zona mórbida do lumpesinato (bandidos, prostitutas, moradores de ruas e etc.).

Para Singer, “teria havido, a partir de 2003, uma orientação que permitiu, contando com a mudança da conjuntura econômica internacional, a adoção de políticas para reduzir a pobreza – com destaque para o combate à miséria – e para a ativação do mercado interno, sem confronto com o capital” [2]. Deste modo, pode-se compreender as políticas econômicas que alavancaram o crescimento brasileiro. A inclusão do “subproletariado” no mercado interno se deu a partir de uma política econômica baseada no tripé: construção civil, crédito fácil e programas sociais.

No primeiro caso, aquele exército de reserva de mão-de-obra da era Fernando Henrique Cardoso foi, em parte, incorporado no setor da construção civil, que, sem necessidade de qualificação, conseguiu sair da zona de “desemprego permanente”; neste sentido, o crédito fácil para os trabalhadores, que compõem este extrato social, permitiu alavancar outros setores do mercado interno, impulsionando assim o consumo de eletrodomésticos, carros, casas, etc. Por último, os programas sociais do governo tiveram a finalidade de reduzir a extrema pobreza. O resultado desta política foi a incorporação de pelo menos 40 milhões de brasileiro no mercado interno. Assim, ao invés de concentrar suas atividades no setor agro-exportador (minério, soja, gado, milho, etc.), o Brasil passou a consumir parte da produção de bens de consumo local e global (lembremos que na “era FHC” a sobrevalorização do real frente ao dólar tinha como objetivo escoar a produção global – produtos importados – em detrimento da produção local, que foi desmantelada por essa política econômica).

Além disso, foi preciso que houvesse “ganhos reais” no salário mínimo para manter a roda da economia girando, pois o aumento do mercado interno implica no aumento da demanda e, por sua vez, na alta dos preços. Assim, fazer com que o salário mínimo fosse superior ao índice da inflação permitiu ao trabalhador continuar experimentando um “ascenso” econômico. Irrisório se comparado com o ascenso econômico dos bancos e do capital investido no Brasil; no entanto, se visto a partir das condições de extrema pobreza na qual os trabalhadores do país viviam no período “Collor-FHC”, este ascenso passa a ser “satisfatório”. Ao que parece, está aqui a chave para compreender o processo de convulsão social que o Brasil tem vivido.

Enquanto houve estabilidade econômica, também houve estabilidade política. Na medida em que a classe trabalhadora passou a sentir os “efeitos” da diminuição do poder aquisitivo “conquistado” sob a “era Lula”, é natural que haja uma reação. Deste modo, é dentro desta perspectiva que o cenário de enfrentamento contra o aumento da tarifa precisa ser visto, caso queiramos compreendê-lo na sua plenitude. Com isso, o que parece estar em xeque é o esgotamento do projeto de conciliação de classes, pois, desde a crise de 2009, a economia brasileira não consegue crescer mais do que 3% ao ano. Sendo que no ano de 2012 o crescimento do Produto Interno Bruto foi pífio, o setor de indústrias registrou um decrescimento de 0,8% . Segundo o Estadão, “o consumo das famílias desacelerou e subiu 3,1% no ano passado, o pior desempenho desde 2003, quando caiu 0,8%”. Assim, com o término das obras da Copa do Mundo e os demais projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (alguns deles abandonados), o setor da construção civil – e o conjunto do setor industrial esboçado acima – já começa a sentir os efeitos da estagnação, embora com isso não queremos afirmar que este projeto tenha se esgotado completamente.

O governo parece estar numa encruzilhada. Há pelo menos duas “soluções”: a primeira buscaria reabilitar a saída clássica neoliberal, em que a redução dos impostos (diminuição do Estado) e o corte do “gastos” do governo (leia-se, corte do orçamento no que tange aos direitos sociais dos trabalhadores) seriam a tônica deste novo modo de condução da economia brasileira. Já a segunda “solução” para a recessão econômica pode ser o aprofundamento do processo inaugurado pelo “lulismo”. Isto é, para manter o mercado interno aquecido, seria preciso manter a massa dos trabalhadores consumindo, e tal só seria possível caso houvesse uma diminuição nos gastos dos trabalhadores com bens essenciais para a reprodução da força de trabalho, tal como transporte, saúde, educação, telefonia. Para ter uma ideia, com a passagem de ônibus custando R$ 3,30 em Campinas (ressalto que o prefeito acabou de revogar o aumento), o trabalhador que recebe um salário mínimo (R$678,00) gasta em média 24% com transporte no mês, supondo que ele vá e volte do trabalho com apenas um ônibus. Esse número tende a crescer se levarmos em conta que o transporte não é usado somente para ir e voltar do trabalho.

No entanto, para que essa segunda “solução” fosse possível, o governo precisaria forçar a diminuição da taxa de lucro extraída do transporte coletivo, o que geraria uma fissura nos setores da burguesia que geram os contratos de licitação do transporte e também naqueles que dependem do setor automobilístico, que terminariam diminuindo suas vendas em função do barateamento do uso do transporte coletivo.

Ao que tudo indica, essa via já está sendo implementada pela presidência da república. Segundo a Folha, “a presidente Dilma reúne hoje governadores e prefeitos de capitais para tentar fechar um pacote de medidas nas áreas da saúde, educação, mobilidade urbana e transparência pública”. Isso deve significar um realinhamento das forças políticas, pois, além do setor da burguesia ligado aos transportes, também entrarão em cena os cartéis dos planos de saúde e das escolas privadas.

Portanto, pode notar-se que qualquer saída já implica em romper com o pacto de conciliação de classes (tanto por cima, como por baixo). Não é à toa que a presidenta Dilma está convocando a oposição para um novo pacto [3]. Se esta análise se limita à esfera econômica, ainda assim podemos conceber um mesmo panorama no plano político. Os extratos da classe trabalhadora não aceitarão de bom grado “voltar” ao estágio anterior de pobreza extrema. Deste modo, o consenso também parece estar em xeque no terreno político. Uma das jogadas do governo é ameaçar a população, isto é, apresentar a (im)possibilidade de um golpe de Estado caso o povo siga fazendo exigências que rompam tal pacto social imposto pelo “lulismo”. Já conhecemos a saída reformista da classe, a frente de esquerda que se desenha entre setores da classe trabalhadora que vai do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) ao PSTU, passando por PSOL, PT e outros grupos que buscam defender a presidenta Dilma (leia-se, o projeto de conciliação de classes) em detrimento de um possível golpe [4].

A população nas ruas é a única forma de barrar o avanço da direita. Só a mobilização crescente impõe derrotas à classe dominante. Não aceitaremos mais chantagem, chega de migalhas. Parafraseando um compa, não podemos ter medo da nossa própria força. No momento em que conseguimos fazer o capital recuar e arrancamos a revogação do aumento na principal cidade econômica do Brasil, a esquerda parece titubear frente ao novo cenário que se abre, a luta nas ruas.

Notas

[1] Ver SINGER, A. “Raízes sociais e ideológicas do lulismo”, in Novos Estudos, n. 85, nov. 2009, pp 83-102. O autor também publicou um livro que aprofunda a análise do governo Lula a partir deste novo conceito, o Lulismo. SINGER, A. Os sentidos do Lulismo. Reforma Gradual e Pacto Conservador. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, pp. 36-3

[2] (SINGER, 2012, p. 13).

[3] São 5 Pactos proposta pela presidenta:
1. Responsabilidade fiscal e estabilidade; 2. Plebiscito/corrupção; 3. Saúde; 4. Transporte público; 5. Educação pública. A necessidade de impor um novo pacto social às diferentes forças sociais é sintoma de um realinhamento político que está acontecendo. Ver aqui.

[4] Para melhor compreender este “pacto” da esquerda, veja a carta que os movimentos sociais enviaram para Dilma. Na carta, os movimentos sociais convocam o governo para uma reunião nacional, “que envolva os governos estaduais, os prefeitos das principais capitais, e os representantes de todos os movimentos sociais”. Semelhante estratégia foi utilizada pelo governo no último pronunciamento da presidenta da república, na quinta-feira. Cabe se perguntar quem escreveu a carta, os movimentos sociais ou o governo? Veja aqui.

22 COMENTÁRIOS

  1. Acho que o que há que se melhorar nesta análise parte dos seguintes fatos: a redução do crescimento no Brasil afeta principalmente as classes altas, ou seja, os problemas de ordem mais bem econômicos não está hoje no Brasil afetando a esta massa de brasileiros que saiu da extrema pobreza. Estamos falando de um país com taxa de desemprego próxima a 5%, independente de PIB. Nas pesquisas o que aparece como maior insatisfação nacional são justamente as áreas dos serviços públicos (saúde sendo de longe o mais citado)

    Outro ponto é que quem estalou os protestos tampouco foi esta massa que abandonou a extrema pobreza, mas sim as classes médias, estas talvez sim mais preocupadas com a falta de crescimento do PIB e com a instabilidade e precariedade empregatícia.

  2. ARISTOTELIZANDO O FENÔMENO
    Gênero comum: populismo.
    Espécies [diferenças / semelhanças]: getulismo, ademarismo, janguismo, janismo, malufismo, brizolismo, lulismo…

    ESQUEMATIZANDO diferenças e semelhanças, no que tange às clientelas mais ou menos amorfas, nas relações – colaboração / conflito – de cooptação mais ou menos explícita com os sindicatos e movimentos sociais, delinearemos a singularidade dessa variante corporativo-institucionalista do populismo que é o lulismo.

  3. Vou mais pela linha de pensamento do Caio.

    Me incomoda um pouco as análises que buscam explicar esses fenômenos de ações diretas relativamente massivas, de enfrentamento nas ruas, ou de quebra de uma disciplina, como se queira, com base em análises puramente econômicas. Ainda mais quando segue-se o raciocínio que as pessoas foram para a rua porque a economia estagnou, ou vai mal, ou coisa do tipo.
    No caso, talvez seja o contrário. Embora não ache que explique o fenômeno também, para mim faz mais sentido o que o Legume falou no Roda Viva: agora as pessoas não tem que se preocupar em saber se vai ter comida no fim do dia e podem se preocupar e reivindicar outras coisas.

    A explicação para o que ocorreu para mim é muito mais trivial. O fato é que há 10 anos, com altos e baixos, tem havido mobilizações impactantes em torno da tarifa do transporte em inúmeras cidades brasileiras. É uma necessidade e um desejo das pessoas se locomoverem, e as tarifas tem subido e pesado muito, independentemente se o PIB está alto ou baixo, se a economia cresce ou não (e a base social que deu início a tudo é a mesma de 10 anos atrás). Isso não tem algo a ver com a conjuntura econômica deste ano.

    Dessa vez foi em São Paulo (e também no Rio) que o trabalho de militância se juntou com as condições objetivas e subjetivas e as mobilizações massivas ocorreram – cidades que concentram o capital mais que quaisquer outras. Por esse motivo e por outros, tudo que acontece em São Paulo vira notícia nacional, e o poder de propagação pelo Brasil é muito maior do que o ocorrido em Goiânia ou Porto Alegre. E então veio a tentativa de ampliar e diluir as manifestações como forma de controlá-las e direcioná-las, por parte da grande imprensa, o que criou esse impacto de mobilizações imensas que não eram vistas há décadas.

    Mas concordo que se abriu a possibilidade do governo, pressionado, tentar rever lucros dos empresários etc. Embora a tendência é que se não existe pressão constante, isso acabe não se concretizando e continuemos no mesmo “pacto” de antes.

    Não consigo enxergar o PSTU defendendo a Dilma. E olha que às vezes eu até gostaria de ver isso.

  4. Comp@s, gostaria de fazer alguns apontamentos que ajudam a compreender a hipótese que busco sustentar neste artigo: as bases do projeto de conciliação de classes, levado a cabo pelo “lulismo”, e seu possível esgotamento.

    Há ao menos três adendos necessário para uma melhor compreensão desta hipótese: 1) O estopim tem como ator principal a “classe média”, composta em grande número pelos estudantes como afirma a Folha, “a maioria dos manifestantes têm entre 21 e 35 anos (63%), têm ensino superior (78%)”, o que não inviabiliza a análise proposta, pelos motivos que veremos a seguir; 2) O lugar que a “classe média” ocupa no processo produtivo; 3) a relação entre o “subproletariado” e os “extratos médios” no plano eleitoral e político.

    1) O estopim de junho precisa ser visto como o primeiro ato de uma peça de teatro. Por mais que, na sua maioria, foram os estudantes que tomaram as ruas, a falência do projeto tende a se agravar, e fazer com que os demais seguimentos da classe trabalhadora (precarizados, desempregados, empregados) se incorpore a esta massa (seja por uma saída à esquerda ou à direita). Também precisamos levar em conta o fato dos estudantes no Brasil de hoje não se restringirem às classes mais altas. Com o advento das políticas públicas no setor educacional privado, foi incorporada uma camada da população que tampouco tinha acesso ao ensino superior; isso também aconteceu nas universidades públicas com o REUNI, e pode ser notado facilmente por meio das reivindicações do estudantes grevistas em 2011 e 2012, sendo que a pauta econômica sempre esteve em primeiro plano.

    2) Sobre a “classe média”: Se a tese de Singer for correta, os extratos identificados como base de apoio do lulismo não poderiam ter saído às ruas agora pois são os setores mais vulneráveis às mudanças econômicas. Mas disso não se segue que não se incorporarão ao movimento num segundo momento de instabilidade política. Neste sentido, a mobilização da “classe média”, ou seja, em sua maioria composta por estudantes, foi possível justamente pela posição de segurança que este setor ocupa no processo produtivo, portanto foi o primeiro a se mobilizar. Agora o significado da luta de classes está em disputa, assim a capitalização dos processos de mobilizações dependerão de como as organizações da esquerda vão responder a este processo. Seu atrelamento ao governo, por um lado, permite o avanço da ultradireita, e por outro, também permite que novas organizações da classe possam se tornar hegemônicas no processo de representação dos interesses dos trabalhadores.

    3) Há ainda um terceiro elemento que deve ser levado em conta para compreender e dar acabamento para esta hipótese. Se no plano eleitoral esse extrato de classe chamado por Singer de “subproletariado” tiver a tendência de ser conservador, como apontam alguns dados do seu livro “Os sentidos do lulismo”. E, por sua vez, os extratos de classe dos setores médios (leia-se, proletariado – termo empregado por Singer), são menos suscetíveis às mudanças políticas, pois não afetariam diretamente a estabilidade conseguida por este setor dos trabalhadores, e por isso compunham a base eleitoral do Partido dos Trabalhadores até 2002. No plano político isso se se inverte. Tanto é assim que, na década de 90, o movimento de massas que teve, em alguns momentos, lampejos de movimento revolucionário foi o MST. Um dos fatores disso pode ter sido a sua base social, que em parte era composta justamente por este mesmo setor da população, trabalhadores(as) desempregados/precarizados que vivam em péssimas condições nas cidades. Assim, com o acirramento da luta de classes, o extrato de classe que possui mais estabilidade econômico tende a ser mais conservador (embora seja o primeiro a se mobilizar pela sua condição de estabilidade), enquanto os extratos mais baixos tende a ser mais radicais (apesar de que sua adesão só se dê mais adiante), pois já não possuem nada a perder com o tencionamento social. (Disso não se segue que será a esquerda que conseguirá “canalizar” esta tensão social; há diversos exemplos de conversão à direita dos processos de acirramento da luta de classes, como o fascismo alemão)

    Leo Vinicius

    Claro que estas considerações perdem de vista o elemento particular esboçado por Leo Vinícius, o trabalho de base realizado pelo MPL que se funde com o problema econômico que é sentido imediatamente com o abusivo aumento da tarifa; sem um a fusão de alguns elementos, a convulsão social não pode ser entendida.

    No entanto, a partir desta perspectiva mais geral, pode-se ao menos vislubrar a (re)articulação do poder no Brasil, na medida em que o esgotamento do projeto de conciliação de classes levado a cabo pelo PT coloca em xeque sua própria permanencia no governo (o que não significa ceder às suas chantagens). Diante disso, uma volta ao cenário anterior (máxima diminuição do Estado) parece ser suicídio político, tanto pela via da direita como pela centro-esquerda. Por isso não podemos ceder ao novo “pacto” que está sendo proposto pelo governo.

    Não seria a adesão da CSP-Conlutas à paralização no dia 11 de julho a maior prova da aliança “tática” entre o governo e esta central sindical, dirigida pelo PSTU? Qual o sentido da mobilização das centrais sindicais (CUT, UGT, Força Sindical, CGTB, CTB, CSB e NCS) se não a defesa do governo (ou seja, deste novo pacto)? Cabe lembrar que o MST também aderiu a esta “greve geral”.

    Portanto, mais do que compreender e explicar a especificidade da convulsão social, busquei extrair deste evento algumas considerações que permitem traçar “possíveis” mudanças no cenário político (e também eleitoral) no Brasil.

  5. Esgotamento? Desemprego de 5% denota esgotamento? O que está ocorrendo não tem haver com esgotamento dos ganhos da classe trabalhadora mais não. Tem haver com retomada do poder e reação de classe média à perda de distinção social, tem haver com exigências de transferir recurso de gastos sociais para o capital financeiro…
    Este site vai na mesma toada no “Brasil pode mais” e do “quanto pior melhor”. O triste é lembrar que como a extrema-esquerda sempre se abstêm de se responsabilizar por sua colaboração indireta com os golpes.
    OK, o texto é contra o que chama de “pacto”, como se houvesse forças de esquerda capazes de capitanear a derrubada do governo. Não existem. Será apenas uma retomada na ortodoxia liberal. Seu comentário tenta esclarecer “diante disso, uma volta ao cenário anterior (máxima diminuição do Estado) parece ser suicídio político, tanto pela via da direita como pela centro-esquerda”… Ora, como se algum movimento de esquerda hoje fosse capaz de barrar isso. O golpe em curso redundará na máxima redução do estado, sobretudo dos gastos sociais. Para a extrema-esquerda (a do pior melhor) isso pode ser insignificante, mas não o é para quem saiu da miséria, entre os quais me incluo.
    “Os extratos da classe trabalhadora não aceitarão de bom grado “voltar” ao estágio anterior de pobreza extrema.” Nossa, como pobreza extrema ou ameça dela fosse revolucionária… Terão que voltar sim, ou será que a extrema-esquerda acha mesmo que a polícia do Alckmin, que viu o povo passear passear, vai deixar a brincadeira durar para sempre.
    Grato pelas leituras passapalavra.

  6. Este comentador, Robson, podia ter arranjado tempo para ler outros artigos, nomeadamente a série que o Passa Palavra dedicou ao Programa Bolsa Família, para ver que o alvo não está onde ele imagina. Aliás, bastar-lhe-ia ler um artigo igualmente em destaque, «Lições do Brasil para Portugal» (http://passapalavra.info/2013/06/80169 ), da autoria do próprio Passa Palavra, em que se afirma que «aqueles estratos a que os jornalistas insistem em chamar classes médias, e que são na realidade os novos proletários qualificados da mais-valia relativa, vêem com desgosto que o crescimento económico da última década tornou os miseráveis um pouco menos miseráveis e os pobres um pouco menos pobres. Assim, no preciso momento em que foi abolida a especificidade económica das antigas classes médias, diminuiu a distância que, no plano dos rendimentos, as separa do proletariado menos qualificado. Esta conjugação de factores é a razão de fundo da revolta que anima os coxinhas. A falsa consciência aqui consiste em recusarem a noção de uma classe trabalhadora à qual gostariam de não pertencer, transformando-a num ressentimento moralista contra os de cima, acusados de corruptos, e contra os de baixo, acusados de bandidos, e pretendendo fechá-los a todos nas mesmas prisões».
    Nesse artigo o Passa Palavra escreve também: «[…] na última década o Brasil se afirmou como um neo-imperialismo, com uma economia transnacionalizada e em expansão. Uma evolução para o fascismo é impossível nessas circunstâncias. A Revolta dos Coxinhas consolidou, não sabemos por quanto tempo, um movimento fascizante no interior da sociedade brasileira, mas, a manterem-se as actuais condições económicas, aquele movimento não conseguirá dar lugar a um regime fascista. É mesmo possível que a governação do PT saia reforçada, como indicam as manobras de bastidores nos últimos dias, em que algumas eminências pardas se encontraram com algumas pessoas pretensamente próximas dos manifestantes de esquerda».
    Ora, um dos factores desse reforço do actual governo capitalista brasileiro é a tentativa de mobilização de uma certa esquerda militante, com o argumento de que estaria em curso um golpe de extrema-direita. O comentário de Robson é um dos exemplos de um tal estado de espírito. Na realidade os grandes capitalistas brasileiros precisariam de ser loucos para mudar um governo que tão bem tem servido o desenvolvimento económico e que tantos instrumentos possui para enlear os trabalhadores na teia do Estado.

  7. Robson,
    Se não há nenhuma força de esquerda capaz de pôr em causa alguma coisa (com o que estou de acordo), e se não há esgotamento do modelo econômico (com o que também estou de acordo), por que haveria um “golpe em curso”? Mero sadismo no coração dos capitalistas?

  8. Cito João Bernardo:

    “Ora, um dos factores desse reforço do actual governo capitalista brasileiro é a tentativa de mobilização de uma certa esquerda militante, com o argumento de que estaria em curso um golpe de extrema-direita. O comentário de Robson é um dos exemplos de um tal estado de espírito. Na realidade os grandes capitalistas brasileiros precisariam de ser loucos para mudar um governo que tão bem tem servido o desenvolvimento económico e que tantos instrumentos possui para enlear os trabalhadores na teia do Estado.”

    E como me incluo entre os militantes dessa certa esquerda à qual João Bernardo se refere, aproveito a deixa para perguntar, sem ironia, duas coisas:
    1. O que seria exatamente a mobilização à qual vc se refere aqui? O que, exatamente, em termos de apoio ao governo Dilma e à ordem democrática (ainda que, por enquanto, liberal), vai necessariamente redundar em cooptação?
    2. Apesar das comparações pertinentes com o fascismo do século XX, a configuração geopolítica contemporâneae e nossa tradição histórica de capitalismo dependente não podem interferir também?

  9. Paulo Gustavo,

    Na minha leitura eu não acho que a CSP-Conlutas esteja querendo defender o governo Dilma. Melhor ainda, não acho que a mobilização das centrais sindicais convocadas para o próximo dia 11 tenha a ver com defesa do governo. Vendo a pauta de reivindicações delas para o dia, não há nada próximo de defesa do governo.
    Minha leitura é que para não perder o bonde da história(vende deus e o mundo saírem às ruas para fazerem as reivindicações mais diversas), ela resolveram chamar mobilização para não perderem o momentum e gritarem suas reivindicações também.

  10. Talitha,
    1) A cooptação está feita desde há muito. Remeto para o artigo «Estado e movimentos sociais» (http://passapalavra.info/2012/02/52448 ) e para os três artigos da série «MST S.A.» (o primeiro aqui http://passapalavra.info/2013/04/75172 , os outros estão linkados). E esta cooptação agrava-se quando uma esquerda se mobiliza em defesa do governo contra um perigo inexistente.
    2) O Brasil deixou de se classificar como um capitalismo dependente. Por um lado, devido às transformações sofridas pela própria geopolítica, que eu procurei analisar no artigo «A geopolítica das companhias transnacionais» (http://passapalavra.info/2011/05/39343 ). Por outro lado, porque o Brasil se configura hoje como um neo-imperialismo. O Passa Palavra publicou todo um conjunto de artigos nesta perspectiva, que se encontram reunidos aqui: http://passapalavra.info/tag/nunca_antes_na_historia_deste_pais . Colaborei para esse conjunto, especialmente com uma série de artigos sobre a economia brasileira actual, «Brasil hoje e amanhã» (o primeiro aqui http://passapalavra.info/2011/08/43646 , os seguintes estão linkados).
    Concluindo, a cooptação a que eu me referi depende de um encadeado de noções. Parte-se de uma dada concepção económica centro/periferia. Em seguida, coloca-se o Brasil na periferia. A partir daí, deduzem-se alianças de classe. Depois, extrapolam-se essas alianças de classe para alianças entre formações políticas. E na sequência destes passos o prestidigitador pode tirar o coelho vermelho do chapéu do governo.

  11. A propósito do texto e também dos comentários de Talitha e João Bernardo, gostaria de colocar algumas indagações: Mesmo não havendo diferenças estruturais, por assim dizer, entre os governos do PT e os governos anteriores (que estariam apenas a disputar quem melhor gere o capitalismo), não haveria maior disposição, hoje, para a adoção de medidas, ainda que modestíssimas, menos condescendentes com o poder econômico, com o nosso patronato político? Se revoluções ocorrem sobretudo no plano “événementiel”, qualquer possibilidade de avanço, ainda que modestíssima, através da participação institucional, não lhes parece conveniente? Ou já não haveria, na opinião de vocês (e talvez na minha também) espaço para nenhuma atuação nesse plano? Isto não reduziria em muito a ação? Manifestações de rua e outras formas de ação direta não seriam formas de luta limitadas, restritas à apresentação de pautas que, mesmo sendo concretas, no fim das contas se mostram capazes apenas de influir, apenas tangencialmente, nos rumos das políticas públicas estatais?

  12. Acho um pouco estranho o posicionamento de que a “economia vai bem”, me parece semelhante o efeito de tomar um paracetamol e achar que foi curado aquilo que gerou a febre.

    Se olharmos para o aspecto macro-econômico, veremos que houve uma continuação na condução da política economia brasileira na era FHC e Lula/Dilma. Segundo Pereira-bresser, manteve-se o tripé econômico que tem como base uma superávit primário, câmbio flutuante e meta de inflação. Esta política macro-econômica foi fruto do chamado “Novo Consenso Econômico”, que passou a vigorar desde 1990, quando se achava que a alta do juros seria uma mecanismo ideal para o controle da inflação.

    Disso não se segue que tudo continuou igual, houve sim o advento de uma política econômica que incorporou uma “massa”de trabalhadores no mercado interno (como apontei no texto).

    Segundo Pereira-bresser, “em vez de o país buscar a estabilidade financeira garantida por uma taxa de câmbio competitiva, decidiu consumir no curto prazo e apresentar déficits crônicos em conta corrente; e em vez de visar o aumento da produtividade pela industrialização, ou, mais genericamente, pela transferência de mão de obra de setores com baixo valor adicionado per capita para setores com alto valor adicionado per capita, que são tecnologicamente mais sofisticados e pagam maiores salários, o Brasil, desde 1994, aceita reduzir o aumento da produtividade da economia através da transferência inversa e a transformação da economia brasileira na “fazenda do mundo”.

    Pode-se extrair disso algumas considerações: 1) o aumento do consumo do mercado interno não foi baseado na industrialização do país, ao contrário, com a taxa de câmbio sobrevalorizava, o mercado interno absorve os produtos importados em detrimento da produção nacional, que não consegue exportar sua produção; além disso, com o real valorizado, mantém-se aquecido o mercado de commodities. Portanto, a inclusão dos extratos mais baixos da classe trabalahdora no mercado interno se deu por via do setor de serviços. 2)O pagamento do superavit primário impede o país de criar fundos de reserva para investmimentos em setores que não são de interesses do capital rentista, tais como o fortalecimento de uma industria nacional.

    Há também outro fator importante apontado por esse mesmo autor, o aparente paradoxo de ter baixo crescimento e pleno emprego: “Na verdade, não há nada de paradoxal nisso. Há simplesmente uma política econômica ortodoxa absurda para a qual não há diferença para o país entre produzir “potato
    chips” e ‘digital chips'”. Portanto, para o capital rentista, não importa o que o país produz (commodities) ou produtos com capital agregado, mas apenas as políticas econômicas que permitem a continuação da reprodução do capital rentista.

    Disse tudo isso com o objetivo de responder @s comp@s que acreditam que a “economia vai bem”. O incremento do mercado interno realizada pelo “lulismo”, apenas significou uma leve mudança na política econômica do país. Além de possibilitar o consenso de classes, ao incluir no mercado interno grande parte daquele exército de mão-de-obra de reverva, também permitiu absorver uma maior parte da produção global. Manteve intacta as políticas macro-econômicas e as políticas de exportação de commodities.

    Como o artigo pretendeu mostrar, as medidas emergenciais que incluiram este extrato dos trabalhadores que estavam à margem do mercado, parecem começar a mostrar seu esgotamento. Com isso não estou sendo leviano em dizer que se esgotou. Mas os trabalhadores já não conseguem mais manter seu padrão de consumo como acontecia a dois anos atrás. Não foi à toa que o governo lançou mão da redução do ipi (imposto sobre produtos industrializados), uma medida de curtíssimo prazo que visava apenas a manutenção do mercado interno.

    Portanto, a saída que o “lulismo” tem para se manter consiste no aprofundamento desta política, e para isso precisa desonerar a folha salarial dos trabalhadores. No entanto, isso tocará nos interesses de setores que possuem um grande domínio político e econômico, como o setor automobilístico.

    É nesta fenda, neste conflito de interesses, que a esquerda precisa agir. Ficar a reboque do “lulismo” significa ter que aceitar as constantes chantagens do governo, assim como seu projeto de conciliação de classes.

  13. Se alguns leitores estiverem interessados em ler uma crítica às concepções de Bresser Pereira mencionadas acima, remeto-os para o segundo artigo, «Desindustrialização ou avanço tecnológico?» (http://passapalavra.info/2011/08/43703 ) da série que intitulei «Brasil hoje e amanhã». É interessante verificar que um certo tipo de esquerda reencontra em Bresser Pereira o seu ideólogo e papagueia acriticamente as teses que nos últimos anos ele passou a defender.

  14. Caio, também os pobres serão afetados com um crescimento econômico menor prolongado. É questão de tempo. Ademais, a crise abre horizontes pra os dois lados. tanto pra direita avançar via “reformas”, quanto pra esquerda.

    Este governo não tem que ser defendido, mas discordo um pouco do pessoal que acha que os capitalistas não têm motivo para substitui-lo. Parte do capital quer gestores dispostos a manter as “conquistas para o capital” dos últimos anos conjugadas à inovações, chamadas por esses setores, curiosamente, de reformas estruturais. Obviamente a direita também tem as suas.

    E, por fim, essa análise do Bresser é furada, mas estou sem tempo de explicar. O “rentista” não é mais vilão que o “não-rentista”. As sombras sempre têm relação com a realidade.

  15. Comp@s, não se trata defender o capital não-rentista frente ao rentista, mas apenas de compreender a base econômica na qual foi possível a inclusão do subproletariado no mercado interno.

    O fator econômico – o aumento da tarifa – foi o gatilho disparador das revoltas no Brasil. No entanto, isso não explica o que fez com que a situação continuasse mesmo com a revogação do aumento da tarifa. Para isso, talvez fosse necessário lançar mão do conceito de sobredeterminação de Althusser. Retomando Mao, Althusser procura pensar o processo histórico a partir de (algumas) contradições que, num determinado momento, entram em fusão, gerando assim uma explosão (revolução, no caso de Althusser) social. Claro que a relação entre as contradições são determinadas, em última instância, pela contradição econômica. Tal como parece ter ocorrido em São Paulo. Um problema econômico trouxe a tona diversos outros problemas (contradições) juntos.

    Relendo o texto a partir desta nota é possível extrair algumas considerações: 1) o excessivo foco econômico do “lulismo” apenas colocou panos quentes nos problemas que, com o aumento do poder econômico, foram deixados de lado, mas na medida em que o remédio vai perdendo efeito, a “doença” volta aparecer;
    2)O modo pelo qual a esquerda vai lidar com esta fenda histórica vai depender da capacidade de se apresentar como oposição real ao padrão (conciliatório) vigente. Não foi a toa que o MPL conseguiu despontar neste cenário, um coletivo que não precisa fazer “cálculos” políticos para saber se é viável ou não uma ação, consegue, dependendo da situação, impor uma agenda política de lutas que as organizações clássicas e com mais “estruturas” não conseguem.

    3)Além disso, gostaria de acrescentar que as diversas pautas específicas não eram apenas um modo da direita de desviar o foco das manifestações, mas, estas pautas específicas também encontravam eco nos problemas “vividos” pela massa que saiu as ruas. Claro que o foco no aumento da tarifa proporcionou uma vitória inimaginável, mas tratar as outras pautas como manobra da “direita” é não ter capacidade de reverter seu significado em nosso favor: por exemplo, o tema da corrupção precisa ser abordado mediante a perspectiva de que isso é inerente ao capitalismo, não precisamos de leis ou novas sanções, mas precisamos acabar com este sistema corrupto (o capitalismo) – tal saída semelhante foi pensada pela cúpula petista: transformar a corrupção em crime hediondo é buscar responder certos anseios que encontram ecos em diversos setores da sociedade brasileira..

    Tem uma metáfora que simboliza bem o “lulismo”: Um veterinário chegou numa fazenda em que fazia 20 anos que ninguém cuidava dos bichos. Logo de cara, o veterinário aplicou um vermífugo, depois de um tempo os bichos ficaram gordos e bonitos. Mas essa política só funciona por um tempo, depois que o efeito acaba, volta à tona os males que causaram os problemas. O mesmo parece acontecer com o “lulismo”. Seu prazo de validade está contado, e os efeitos já estão sendo sentidos nas ruas.

  16. A crítica revolucionária do capitalismo tem que começar reafirmando os conceitos de dominação formal e de dominação real, como fases históricas do desenvolvimento capitalista.
    Se não o fizer, será forçada a substituir a teoria do proletariado – a crítica da economia política – por sua caricatura, uma apologia da sociedade capitalista: a ideologia socialdemocrata, que inclui o leninismo e o anarquismo.

  17. Práxis revolucionária:
    a) pensar&agir “classista” e, simultaneamente,
    b) afirmar a tese “aclassista” da necessária autossupressão comunista do proletariado, na comunidade humana mundial.

  18. Recomendo @s comp@s a leitura do último artigo do Arbex “Conjuntura no Brasil pode desembocar em crise revolucionária”.

    http://www.viomundo.com.br/politica/jose-arbex-jr-conjuntura-no-brasil-pode-desembocar-em-crise-revolucionaria.html

    Para além da tese da crise revolucionária, acho que este texto ajuda esclarecer um pouco os pontos delineados pelo texto comentado.

    “Do ponto de vista do capital financeiro mundial, a conjuntura ideal seria aquela que lhe permitisse manter taxas de lucro astronômicas no Brasil (como as exibidas pelos bancos), numa situação de “ordem” e estabilidade social.

    Mas rimar paraíso financeiro com ordem social não será mais possível no Brasil. O capital não pode abrir mão da taxa de lucros, ainda que isso signifique pressionar o governo para arrancar da população as poucas conquistas sociais já alcançadas (por exemplo, com investimentos ainda menores nos setores de educação e saúde, para assegurar a remuneração do capital, por meio do superávit primário).

    Dilma está entre a cruz e a espada. Para atender ao capital, terá que enfrentar a população nas ruas; para atender às demandas da população, terá que romper, ou pelo menos resistir ao capital.

    Os prazos são cada vez mais curtos, como mostra a valorização crescente do dólar (mais de 10% em dois meses), e com ela o preço do petróleo importado, dos insumos agrícolas e das máquinas que empregam tecnologia de ponta, com todas as consequências para a vida.

    Até quando o governo federal conseguirá manobrar para impedir que a população sinta em cheio os efeitos da crise econômica?

    Dilma procura “enquadrar” o movimento das ruas, canalizando as energias para as vias institucionais, configuradas pelas propostas de Constituinte (que teve curtíssima vida) e de plebiscito sobre a reforma política (incapaz, até o momento, de agregar um núcleo capaz de lhe dar forma concreta e eficaz).”

  19. A recorrente crise econômica demonstra que a atual dinâmica da acumulação do capital não permite ou impede que o valor, em escala mundial, seja produzido e mensurado pelo trabalho vivo. Com a aplicação da robótica e da micro-eletrônica, o trabalho vivo tende desaparecer.
    O dinheiro começa a perder fundamento e fica “sem pé nem cabeça” – a crise se agrava ininterruptamente. A sobrevivência do capitalismo é autofagia e autodestruição. Programatica e pragmaticamente falando, a meta da abolição revolucionária do trabalho assalariado deixou de ser utópica.

  20. Indico @s leitor@s o texto do André Singer que saiu hoje na Folha. Acredito que estes dados apresentados pelo Singer ajuda a corroborar a hip[otese que apresentei no texto divulgado pelo Passapalvra.

    Leiam e tirem as suas dúvidas.

    Desemprego e manifestações

    ” O relatório de junho, divulgado pelo IBGE na quarta-feira, revela que, embora pequeno, o crescimento da taxa de desemprego aponta para uma inversão de tendência. Enquanto antes as oscilações eram sazonais, com a curva de longo prazo inclinada para o aumento da demanda por mão de obra, agora se percebe um avanço paulatino da desocupação.

    Se o dado for lido em conjunto com os resultados das pesquisas de opinião do mês passado, veremos que a população intuiu a reversão de sinal, o que ajuda a entender as jornadas de protestos. A situação do mercado de trabalho está longe de ser a explicação única ou definitiva,
    Editoria de Arte/Editoria de Arte/Folhapress

    mas pode ter sido o pano de fundo para o mal-estar que explodiu de repente.

    Convém olhar em conjunto os números que expressam a dificuldade de encontrar postos com carteira assinada e os que dão conta da percepção a respeito por parte dos eleitores.
    De um lado, temos a suave curva ascendente dos que não conseguem achar lugar no mercado (gráfico ao lado).

    De outro, vê-se a queda abrupta dos que opinam no sentido de que tal situação vai melhorar (gráfico ao lado).
    Editoria de Arte/Editoria de Arte/Folhapress

    Deduz-se de ambas as informações que a retração, mesmo que moderada, das oportunidades de trabalho, provavelmente somada aos sintomas de que há um baixo ritmo de atividade econômica, levou os entrevistados a concluírem que o horizonte turvou.

    Observando uma série histórica apresentada pelo Datafolha desde 2007, o único ponto abaixo do atual no que diz respeito à expectativa de queda do desemprego se encontra em março de 2009. Naquele momento, quando se vivia o pior da crise financeira internacional no Brasil, apenas 17% do eleitorado acreditava que a desocupação iria diminuir. Agora são 19%.

    Para que não reste dúvida sobre causa e consequência, note-se que o grosso da mudança na expectativa de melhora do emprego já havia ocorrido quando do início das demonstrações de massa. Foi capturada pelo “survey” fechado em 7 de junho, como se comprova no segundo gráfico. A voz das ruas só potencializou o pessimismo”.

    http://www1.folha.uol.com.br/colunas/andresinger/2013/07/1317669-desemprego-e-manifestacoes.shtml

  21. Uma boa parte dos comentários (especialmente no viés do “anarco”-petismo de Leo Vinícius) e da visão de mundo presente no texto: a farsa dos “ganhos reais” no salário mínimo, jogando fora de questão a desvalorização do real nos últimos 21 anos, uma suposta “saída da pobreza” (ou da miséria conforme o gosto e a manipulação estatística de quem fala), dando a entender que do ponto de vista proletário ou as manifestações foram inválidas ou foram coisa de uma elite que supostamente empobreceu (pasme!!!) – independente do lucro bancário no país ser o maior do mundo e independente do agronegócio. Está claro que o aumento das passagens de ônibus foi só o golpe derradeiro de uma série de broncas acumuladas desde a década anterior, resultante de todos os golpes praticados pelo governo petista (o continuísmo tucano) e respaldados pela aparelhagem sindical articulada com o Estado. Os aparelhos auxiliares (M$T, MPL e outros) tentaram extinguir o mais rápido possível a revolta em favor do Estado e do petismo (“perigo de direita!”, dirão)- e isso não questiona o que estava em jogo: a luta não ocorreu por causa do MPL, mas apesar dele.

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