Com a ecologia os capitalistas jogam nos dois tabuleiros, suscitando a multiplicação de investimentos e pressionando à mais-valia absoluta quando e onde lhes convém. Por João Bernardo
Os ecologistas e os arautos do decrescimento económico obtiveram um notável triunfo. Conseguiram que todos os governos, em toda a parte do mundo, discutam seriamente questões cuja única base são dados insuficientes, conclusões apressadas e projecções selectivas.
1.
A partir de uma rede de departamentos universitários, e incapazes de fazer a maioria dos cientistas aceitar teses precipitadas e nebulosas, talvez também desinteressados de se expandirem nas melhores universidades e nos mais reputados centros de pesquisa, os ecologistas começaram a pressionar directamente os governos através de lobbies, muitos deles disfarçados de ONGs, e a pressioná-los indirectamente mediante a mobilização da opinião pública alcançada pelos jornais, pela televisão e pela internet. No quarto artigo desta série recordei que, sem nenhuma base científica, o ecologista Norman Myers afirmou em 1979 que um milhão de espécies seria extinto no último quartel do século XX. Este alarmismo sem fundamento serviu, se não foi até montado, como munição para os lobbies, e em 1980 o Global 2000 Report to the President, um relatório apresentado ao presidente dos Estados Unidos pelo Departamento de Estado e pelo America’s Council for Environmental Quality, Conselho Americano para a Qualidade Ambiental, afirmou que «entre meio milhão e dois milhões de espécies — 15% a 20% de todas as espécies no planeta — poderão estar extintas no ano 2000». Na realidade, limitou-se a nove o número de pássaros e mamíferos extintos entre 1980 e 2000. Mas não importa que de cada vez a histeria se revele sem fundamento, porque outro tema surge para substituir os anteriores desacreditados. Foi o esgotamento do petróleo, a chuva ácida, os buracos no ozono, o efeito de estufa, outra vez o declínio da biodiversidade, agora o aquecimento global, o que é necessário é manter o público permanentemente apavorado. E os governos vão promulgando medidas para sossegar a população.
Seria uma pesquisa interessante, a que averiguasse as fontes de financiamento dos lobbies e das ONGs ecologistas. Interessante mas morosa e muito delicada, e já não disponho de tanta vida que possa dedicar um ano ou mais a este assunto. Mas deparo com algumas informações. É sabido que várias famílias reais europeias estiveram e estão por detrás do antigo World Wildlife Fund, hoje World Wide Fund for Nature, e embora as majestades costumem ser parcimoniosas, têm uma grande capacidade de convencer os ricos snobs a gastar dinheiro. Mas quem diria, por exemplo, que ainda recentemente, na Califórnia, quando estava em discussão uma lei que prejudicaria o marketing dos alimentos geneticamente modificados, duas empresas de alimentos orgânicos tivessem gasto mais dinheiro em lobbies do que as empresas de biotecnologia e os supermercados? E será que os fanáticos da bicicleta que consideram The Limits to Growth a nova Bíblia sabem que a elaboração deste relatório foi subsidiada pela Fundação Volkswagen? Talvez haja entre os leitores alguém que venha a interessar-se por esta linha de pesquisa. Ora, o facto de grandes empresas e grandes fortunas financiarem movimentos ecológicos deveria ser suficientemente esclarecedor, porque se alguma coisa temos de reconhecer aos capitalistas é que eles não gastam dinheiro em vão.
2.
Mas a questão é complexa e multifacetada e não podemos compreendê-la sem recordar a sua outra extremidade, porque os grupos de pressão não se limitam a actuar entre as elites e arrastam consigo um número colossal de seguidores populares. Os entusiasmos juvenis — e outros não tão jovens — por uma mudança de sociedade, que em décadas passadas haviam sido mobilizados pelas organizações da esquerda, são agora acolhidos e orientados por ONGs ecológicas. Aliás, a fronteira é muito ténue entre algumas ONGs e partidos e grupúsculos de esquerda, o que lhes permite lançar os tentáculos ainda mais longe. A ecologia cobre a totalidade do espectro político, de um a outro extremo e incluindo todas as nuances intermédias. É esta dualidade do movimento, absorvendo de um lado fundos capitalistas e agitando do outro lado inquietações populares, que lhe assegura a eficácia.
A mobilização deve ser entendida no sentido forte, porque toca aquilo que há de mais profundo nas convicções, o irracionalismo da fé. Evocando a Mãe Terra como um ser vivo, um organismo, os ecologistas lançaram os fundamentos de uma nova religiosidade. Surgiram verdadeiros cultos, inseridos no que em sentido lato se denomina ecologia profunda e propiciados pelo multiculturalismo e pela restauração académica de mitos arcaicos como se lhes coubesse uma pertinência actual. Nada está mais próximo do que haviam sido entre os SS os Gottgläubig, os Crentes em Deus, que erigiram o sangue e o solo em objecto de um culto anticristão e que os historiadores, numa expressão infeliz, denominam neopagãos. Em alguns casos a filiação é conhecida, mas ocultada por razões políticas evidentes, e os doutrinadores mantêm os discípulos na ignorância histórica. Assim como a esmagadora maioria dos agroecologistas desconhece a linha de filiação directa que os liga ao Ministério da Agricultura do Terceiro Reich, também a esmagadora maioria dos que veneram a Mãe Terra e a natureza como um organismo vivo nunca ouviu falar dos Gottgläubig e do misticismo de Himmler nem de Der Mythus des 20. Jahrhunderts de Rosenberg e menos ainda de Alwin Seifert. Talvez até sejam estes os casos mais interessantes, em que as coisas foram inventadas de novo, sem que nenhum dos adeptos conheça o passado das suas ideias, porque situações assim confirmam que basta a existência de dadas pressões sociais para se chegar aos mesmos resultados.
Tudo somado, porém, esses cultos movem uma pequena minoria e não seriam significativos se não estivessem unidos por uma forte rede ideológica ao núcleo do lugar-comum da ecologia. Não é preciso venerar a Mãe Terra nem recolher o sangue menstrual e vertê-lo no solo para participar na noção difusa de que a natureza seria um organismo em equilíbrio delicado e que a moral, para a humanidade, consistiria em não violar esse equilíbrio. E é precisamente este o lugar-comum difundido entre todos os que compartilham preocupações ecológicas. A civilização urbana, que edificou um modo de vida inteiramente artificial, é vista como o grande Mal, com maiúscula, e a sociedade industrial é recusada pelo facto de as suas técnicas violarem o suposto equilíbrio natural e, pior ainda, introduzirem na relação com a natureza uma noção utilitária. Este ataque ao racionalismo científico e à mentalidade técnica é um dos pontos em que a religiosidade ecológica difusa se encontra com o multiculturalismo.
3.
A questão consiste em saber se o racionalismo científico e técnico constitui ou não a forma de pensamento apropriada à civilização urbana e à sociedade industrial, porque então quem a recusa condena-se a viver com ideias inadequadas. Ora, a falsa consciência nunca se limita ao plano das divagações verbais e requer a edificação de uma certa materialidade, uma falsa infra-estrutura que ela toma como se fosse a verdadeira. E assim se criou um submodo de produção — a agroecologia, as hortas urbanas — economicamente fictício, já que a sua escassa produtividade não lhe permite uma reprodução autónoma, mas servindo de encenação infra-estrutural para essa falsa consciência.
A parte mais substancial da reciclagem doméstica e pessoal obrigatória deve incluir-se naquela encenação. Para materiais como o metal a reciclagem é economicamente eficiente. Para o papel e o vidro, porém, o custo da reciclagem, directamente e pela energia exigida, é muito superior ao custo representado pela colocação do lixo em aterros sanitários, somado ao custo do fabrico a partir de matérias-primas não utilizadas previamente. Segundo vários estudos, trata-se de uma actividade economicamente fútil, que na sua ponta inicial é trabalho-intensiva, exigindo uma grande aplicação de tempo não pago, e na sua ponta terminal é energia-intensiva, de custos elevados. Finalmente, os plásticos suscitam outro tipo de problemas. A incineração liberta substâncias tóxicas, algumas lançadas na atmosfera. Os aterros sanitários são preferíveis e, apesar de os lixos plásticos subsistirem mais de 20 anos nestes aterros, a área que eles ocupam tem sido muitíssimo exagerada pelos ecologistas. A pior alternativa é a sua reciclagem, pois têm impurezas e substâncias nocivas que comprometem o processo, lhe diminuem a rentabilidade e contribuem para a má qualidade do material reutilizado. Além disto, e mesmo sem levar em consideração o trabalho individual de separação dos lixos domésticos, certas fases da reciclagem do plástico são trabalho-intensivas, o que dificulta a sua rentabilização. Tanto sob o ponto de vista químico como económico, a biodegradação é a melhor solução dos problemas ocasionados por este tipo de lixo. E embora em muitos casos a degradação progressiva do plástico, até chegar ao estádio da metabolização por microrganismos, possa demorar 50 anos ou mais, não só se tem conseguido aumentar o grau de biodegradação dos plásticos mais correntes como nos últimos dez anos os cientistas têm procurado criar novos polímeros biodegradáveis.
Por outro lado, os ecologistas, tão adeptos da contabilização dos efeitos secundários, esquecem oportunamente que a reciclagem é uma actividade industrial, geradora também de efeitos secundários. Ora, os aterros sanitários, além de mais baratos, produzem os gases metano e dióxido de carbono, emitidos durante a decomposição anaeróbica natural do lixo orgânico, aproveitáveis para a energia industrial e para a iluminação. Em suma, se a maior parte da reciclagem implica um esbanjamento de recursos, tanto pessoais como materiais, e não é justificada por motivos económicos, então ela constitui fundamentalmente um ritual de submissão às normas de escassez e equilíbrio ditadas pelos ecologistas. Reciclar é assumido como uma obrigação moral. No código de conduta que substituiu as relações entre os humanos pelas relações dos humanos com a natureza, reciclar ocupa o lugar antes detido pela máxima de amar o próximo como a nós mesmos. Talvez até a reciclagem corresponda, nesta sociedade industrial e laica, ao que nas sociedades agrárias e religiosas foi o mito da morte e ressurreição. A ressurreição do lixo na forma de produto reciclado é o paraíso do misticismo ecológico.
4.
Chegados a este ponto, em que o delírio adquiriu substância palpável, recordemos a extremidade oposta às encenações da falsa consciência, o lado dos homens do dinheiro que financiam isto tudo e nunca gastam um tostão se não anteciparem um ganho. Se a ecologia é a fraude do nosso tempo, como lhe chamei num artigo, em que beneficiam os homens do dinheiro com a agenda política da ecologia? É certo que o capitalismo é diversificado e não faltam no seu interior os conflitos de interesses, mas o que lucram aqueles sectores capitalistas mais directamente envolvidos na promoção da ecologia?
O interesse destes capitalistas pela ecologia parece tanto mais paradoxal quanto ela não tem objecto ou, talvez melhor, desvia o objecto. A sociedade usa as técnicas ou para se proteger da natureza ou para se expandir sobre a natureza, assimilá-la e transformá-la. A existência do homo faber ditou o fim da natureza; e as sociedades providas de tecnologia criaram um novo natural, tão artificial como tudo o que é produzido pelas técnicas. Assim, os problemas surgidos na relação da sociedade com a pretensa natureza não têm nenhuma especificidade relativamente aos problemas surgidos em qualquer outro domínio da tecnologia. Quando uma técnica começa a não funcionar ou a ocasionar efeitos paralelos nocivos, o próprio capitalismo dispõe de mecanismos de alerta e de correcção. Outros modos de produção, dispondo de outras tecnologias, ou nem sequer tiveram mecanismos correctores ou eles operaram tão vagarosamente que muitas vezes as consequências nocivas eram já irreversíveis. No segundo artigo desta série formulei uma regra que convém ter sempre presente, a de que os danos eventualmente provocados pelas tecnologias contemporâneas, que em termos absolutos parecem maiores do que os provocados pelas tecnologias arcaicas, são incomparavelmente menores proporcionalmente ao nível de produção atingido e que as tecnologias contemporâneas têm uma capacidade de corrigir tais danos muito superior à que poderiam ter as tecnologias arcaicas.
Para somar mais exemplos desta regra, e já que a biodiversidade ainda não saiu de moda, os métodos actuais de análise paleontológica permitem estabelecer que os navegadores oriundos da Polinésia levaram à extinção de entre 50% a 90% das espécies de aves nas ilhas que colonizaram. Só os antepassados dos maoris, quando chegaram à Nova Zelândia na segunda metade do século XIII, provocaram a liquidação de mais de cinquenta espécies de pássaros, além de várias espécies de rãs, lagartos e peixes. Este tipo de casos levou à formulação da tese de que as sociedades humanas, ao migrarem da África para outros continentes, provocaram aí o extermínio generalizado dos animais de grandes dimensões. Podemos assim compreender mais facilmente o segundo membro daquela regra, de que as tecnologias contemporâneas têm uma capacidade de corrigir tais danos muito superior à que poderiam ter as tecnologias arcaicas.
Ora, é aqui que os ecologistas podem ser úteis aos donos e gestores das grandes empresas, de três formas. Por um lado, porque podem contribuir para sinalizar a existência de problemas. É certo que desviam o lugar dos problemas, reportando-os do interior da tecnologia para a pretensa oposição da sociedade à natureza, mas os institutos de pesquisa controlados pelos capitalistas corrigem facilmente este desvio. Por outro lado, o exagero dos ecologistas, o seu alarde catastrofista, embora improcedente no plano científico, constitui uma demagogia proveitosa, porque mobiliza o eleitorado para pressionar os governos a concederem subsídios para a remodelação das técnicas vigentes, e sem isto seriam os capitalistas visados a ter que arcar com todos os custos. Mas há outra coisa ainda.
5.
Acima de tudo, a ecologia cumpre hoje a função que o fascismo executou entre as duas guerras mundiais, constituir um grande movimento de massas acima das classes sociais ou, mais exactamente, que as una pela criação de uma ideologia e de rituais práticos comuns. Não foram os grandes capitalistas e os senhores de grande fortuna quem inventou a ecologia, mas rapidamente a encaminharam no sentido que lhes interessa quando lhe reconheceram a potencialidade de um movimento de massas alheio à questão fundamental do nosso tempo, a exploração capitalista. Mais do que alheio, porque a ecologia, ao considerar a indústria como uma unidade social homogénea, patrões e trabalhadores incluídos, tem como função primordial e imediata negar os antagonismos de classe. Se o planeta é uma nave em risco de soçobrar, dizem, unamo-nos todos enquanto é tempo. Reside nesta mentalidade o principal interesse da ecologia para os capitalistas, e quanto mais histérica e delirante se tornar, melhor para eles.
A convergência de funções entre a ecologia actual e o fascismo de outrora é mais nítida ainda quando observamos a recente expansão do âmbito do policiamento. Fala-se muito das espécies em risco de extinção, mas o que sucede quando são umas espécies que ameaçam as outras? Na ilha de Ascensão, no Atlântico Sul, a empresa de consultoria ecológica Wildlife Management International (WMIL) matou todos os gatos selvagens para converter aquela área numa reserva exclusiva de pássaros. Com efeito, o site desta empresa anuncia: «A WMIL extinguiu com êxito ratos, ratazanas (Rattus rattus, R. norvegicus e R. exulans), coelhos, lebres, gatos selvagens e cabras em mais de 40 ilhas em todo o mundo […]». Como sucede nas religiões, o paraíso da biodiversidade exige o inferno das espécies condenadas e a tecnocracia ecologista deu assim mais um passo. Não se satisfazendo com policiar a relação entre a sociedade e a natureza, começou a policiar a própria natureza. Se tivessem começado antes, a selecção natural nunca teria funcionado e estaríamos na época da primeira amiba. Será que ainda vão a tempo?
Ernst Haeckel, que pela sua participação em 1919 na Thule Gesellschaft estabeleceu um elo ininterrupto de continuidade entre a ecologia científica e a extrema-direita racista, formulou a definição de que «a política é biologia aplicada». Os hitlerianos parafrasearam-no, com as consequências bem conhecidas, ao definirem que «o nacional-socialismo não é mais do que biologia aplicada». Ora, o programa que os nacionais-socialistas pretenderam realizar com a biologia tornou-se agora muito mais amplo, já que os ecologistas ambicionam que a política se converta numa ecologia aplicada, e a ecologia abrange não só a biologia mas a totalidade do meio ambiente. Estão hoje reproduzidas as condições geradoras do mais catastrófico dos fascismos, que invocou as pretensas leis da natureza como caução da sua política. Pior ainda, porque aquilo a que por uma lastimável degenerescência terminológica continua a chamar-se esquerda deu um passo adiante e apresenta-se agora sob a bandeira da ecologia política.
O fanatismo e a religiosidade difusa que confirmam a ecologia como uma fé são necessários ao grande capital que a financia, porque sem a fé é impossível manter a opinião pública num estado de excitação que pressione os governantes. Se a fé não fosse impermeável às experiências práticas e aos argumentos racionais, o movimento ecológico estaria hoje inteiramente desacreditado porque ou não consegue reunir os dados suficientes para provar as suas asserções ou sofre sucessivos desmentidos às suas profecias. Apesar disto, fixa em todo o mundo uma parte considerável da agenda política.
6.
Tudo o que os capitalistas têm a fazer é controlar discreta mas eficazmente — e o dinheiro tem ambas as qualidades — os lobbies e as ONGs e, através de uma criteriosa selecção de prioridades, colocar em primeiro plano os objectivos práticos que realmente lhes interessam.
Antes de mais, as medidas governamentais ditadas pelo mito do equilíbrio natural e pelo controlo da poluição e destinadas a impor a sustentabilidade precipitam a obsolescência de técnicas anteriores e implicam a abertura de novos ramos industriais, proporcionando uma oportunidade de investimentos maciços, muito bem-vinda numa época de crise económica nos antigos centros mais desenvolvidos. E já que num sistema altamente integrado, como é hoje o capitalismo, as mudanças de técnica suscitam efeitos em cadeia, essas possibilidades de investimento multiplicam-se. Além disso, incorporam mecanismos de autoperpetuação. No duo Research & Development, pesquisa e desenvolvimento, que enquadra a actividade científica, o grande capital dispõe de meios para orientar a pesquisa científica fundamental, mas nunca consegue fazê-lo inteiramente e nem sempre é dono das descobertas. Já no que diz respeito ao desenvolvimento, ou seja, à aplicação prática das descobertas da pesquisa, o grande capital controla os objectivos e apropria-se antecipadamente dos resultados; assim, uma parte da actividade científica actual é ditada, em última instância, pelos lobbies ecologistas e pela mobilização de pavores histéricos. Melhor ainda para os capitalistas que com elas lucram, as novas técnicas verdes beneficiam de subsídios governamentais, porque o eleitorado, apesar de renitente a novas despesas, aceita de bom grado o argumento dos lobbies e dos jornalistas de que aqueles subsídios, com os impostos que os facultam, são indispensáveis para salvar o planeta e cada um de nós com ele.
Além disso, o uso de argumentos ecológicos para impor novas técnicas tem constituído uma forma dissimulada de proteccionismo. Sob o pretexto de que são poluentes ou de qualquer outro modo escapam ao dogma verde, é impedida a importação de bens de consumo e meios de produção oriundos de países menos desenvolvidos, os quais frequentemente se industrializam imitando a anterior geração dos processos de fabrico dos países avançados. Hoje, que o aquecimento global substituiu os terrores precedentes, muitas das discussões internacionais acerca da emissão de dióxido de carbono têm como objectivo refrear a industrialização de países que iniciaram tardiamente o seu desenvolvimento. A ecologia é uma arma na concorrência entre capitalistas, em benefício dos centros em declínio e virada contra os novos centros em ascensão.
Cabe aqui uma digressão. Desde há muitos anos deixa-me perplexo a falta de investimentos suficientes nos projectos de fusão nuclear. Sou avesso às teorias de conspiração, porque tanto na história como na economia aprendi a trabalhar com a noção de processos regidos pela lei dos grandes números e obedecendo a determinações situadas no plano social, alheio à vontade e à consciência individual. Mas neste caso é difícil não pensar que os lobbies do petróleo se activam ainda mais para desviar fundos das pesquisas científicas relativas à fusão nuclear do que para aumentar o pânico relativo à fissão. É certo que a diversificação das fontes de energia, com as novas técnicas que proporciona, se é imediatamente rentável para capitalistas em busca de novas áreas de investimento, a longo prazo pode ser rentável também para os capitalistas ligados a técnicas mais antigas, que procurem assegurar a continuidade dos seus lucros numa época futura. Mas já a entrada em funcionamento de processos controlados de fusão nuclear, aptos a ultrapassar rapidamente em capacidade multiplicadora as fontes de energia hoje industrializadas, implicaria a desvalorização maciça dos capitais investidos nas técnicas precipitadas de súbito para o arcaísmo. Mais estranho ainda é que os ecologistas, tão preocupados com a poluição e outros efeitos secundários negativos, não orientem os seus lobbies em apoio aos projectos de fusão nuclear, que nem é uma energia poluente nem esgota recursos considerados finitos. Tal como o cão que não ladrou, também aqui o silêncio dos ecologistas é o indício mais significativo, porque só pode servir para sustentar a todo o custo o decrescimento económico.
Mas como pode o decrescimento ser rentável para capitalistas que, por definição, têm como único objectivo acumular capital e, portanto, fazer progredir a economia?
7.
Ao mesmo tempo que, pressionando os governos a decretarem a adopção de técnicas verdes, os ecologistas abrem novas oportunidades de investimento e, portanto, de crescimento económico, eles defendem também o decrescimento. Como explicar o paradoxo?
As novas oportunidades de crescimento proporcionadas pelas técnicas verdes localizam-se na actividade fabril e nas condições gerais de produção, neste caso, nas infra-estruturas materiais. O decrescimento, porém, diz directamente respeito ao consumo particular. Desprezando um dos eixos tradicionais da teoria económica, focado na produção, os ecologistas e os defensores do decrescimento reatam a linhagem teórica mais conservadora, centrada no consumo, e transferem para ali os velhos fantasmas religiosos, culpabilizando os consumidores pelo facto de consumirem. Para os ecologistas o problema decorreria das pressões que a procura particular exerce sobre recursos naturais alegadamente limitados, quer esta procura venha do crescimento demográfico quer do crescimento salarial. E chegamos assim a um dos aspectos centrais, porque, na perspectiva ecológica, a estabilidade demográfica seria inútil se continuasse a permitir-se o aumento dos salários e a melhoria do nível de vida. A travagem dos rendimentos materiais dos trabalhadores é uma consequência imediata dos limites do crescimento e tem como ponta-de-lança a agroecologia.
Os capitalistas jogam, assim, nos dois tabuleiros, por um lado suscitando a multiplicação de investimentos, por outro lado pressionando à mais-valia absoluta quando e onde lhes convém. Se o jogo for bem combinado, resulta o paraíso dos lucros. A ecologia serve para isto mesmo e os ecologistas pretendem inaugurar uma nova «acumulação primitiva» do capital. Escrevi no primeiro artigo desta série que a ecologia tomou o lugar da economia soviética na pressão para a redução do consumo particular e na concentração das atenções no sector dos meios de produção. Por um caminho diferente, chego agora à mesma conclusão.
A baixa produtividade da agroecologia e em geral da agricultura familiar que lhe serve de quadro condena-as a reforçarem a extorsão da mais-valia absoluta. Assim, e contrariamente ao que alguma esquerda pretende, em vez de serem um quadro de mobilização contra o capitalismo, ajudam a sustentar as formas de capitalismo mais degradadas. Só o crescimento da produtividade permite agravar a exploração ao mesmo tempo que melhora a remuneração material, porque enquanto faz com que aumente o tempo de trabalho despendido pelos trabalhadores, graças ao aumento da intensidade do processo de laboração e ao aumento das qualificações do pessoal, faz com que os bens adquiridos pelos trabalhadores representem menos tempo de trabalho incorporado. Sem uma coisa nem a outra, a agricultura familiar subsiste mediante a não contabilização do trabalho da família como custo de produção.
A situação é tanto mais grave quanto maior for a percentagem do mercado interno de alimentos abastecida por explorações pouco produtivas e, por conseguinte, a preços mais altos do que seriam praticados se o fornecimento se devesse a explorações mais produtivas, o que leva à diminuição da capacidade aquisitiva dos salários. Quer dizer que com a mesma remuneração nominal os trabalhadores poderiam comprar mais bens alimentares se eles fossem produzidos com maior produtividade e, portanto, vendidos mais barato. Ora, como a mecanização das fainas agrícolas e, em geral, a industrialização da agricultura e as economias de escala são indispensáveis para aumentar a produtividade na produção de alimentos, conclui-se que quanto maior for a contribuição da agroecologia e da agricultura familiar para o abastecimento do mercado, tanto mais se elevam os preços dos alimentos e mais se deteriora a capacidade aquisitiva dos trabalhadores. Assim, a agroecologia e a agricultura familiar não se limitam a constituir um quadro de mais-valia absoluta mas elas mesmas fomentam a mais-valia absoluta na economia em geral.
Segundo uma equipa de cientistas dirigida por David Tilman, da Universidade do Minnesota, é verosímil que a procura de alimentos duplique até aos meados deste século, já que as Nações Unidas calculam nesse período um aumento demográfico de 1/3, passando a população mundial de quase 7,2 milhares de milhões (bilhões no Brasil) para cerca de 9,6 milhares de milhões, e deve ter-se em conta que o desenvolvimento económico, com a consequente melhoria do nível material de vida, leva o consumo alimentar a crescer mais rapidamente do que a população. Ora, se a produtividade agrícola permanecesse estacionária, seria necessário duplicar a área cultivada, o que é impossível porque ela representa já 40% da superfície terrestre sólida. Neste quadro apreciamos a gravidade da diminuição do rendimento da produção por hectare resultante da aplicação das técnicas agroecológicas, tal como expliquei no quarto artigo desta série. A propaganda contra o uso de pesticidas e fertilizantes químicos industriais e contra a modificação genética conduzida laboratorialmente tem como resultado a diminuição da produtividade, com o correlativo aumento dos preços, o declínio da capacidade aquisitiva do salário nominal, a queda do salário real e o aumento da mais-valia absoluta.
A questão fica mais clara ainda, se possível, quando observamos que a agricultura orgânica é vocacionada para as faixas de mercado correspondentes à população de rendimentos mais elevados. Segundo a Organic Trade Association, os principais mercados de produtos orgânicos são os Estados Unidos, a Alemanha e a França e, considerado per capita, o consumo mais elevado deste tipo de produtos deve-se à Dinamarca, à Suíça e à Áustria, ou seja, países com um elevado nível médio de rendimentos. O Brasil não é excepção e, de acordo com Arnoldo de Campos, director de Agregação de Valor do Ministério do Desenvolvimento Agrário, citado pela Agência Brasil, o crescimento da chamada classe média suscitou o aumento do consumo de produtos orgânicos, cujas vendas progrediram à taxa anual de 40%, a crer no Organic Market Report 2012, da Soil Association. Depois de recordar que «um cultivo feito nas condições de sobre-exploração típicas da economia doméstica vai beneficiar preferencialmente, no mundo e no Brasil, os estratos sociais mais abastados», o Passa Palavra concluiu num artigo: «Por aqui se pode aferir a demagogia de quem afirma que a agricultura orgânica familiar fornece alimentos para os pobres. Pelo contrário, são os pobres a fornecer alimentos para os ricos». Como salientaram Verena Seufert et al. num artigo publicado na Nature, «a agricultura orgânica nos países em desenvolvimento é com frequência um sistema orientado para as exportações e dependente da emissão de certificados por organismos internacionais» (pág. 231). Em suma, a agroecologia e a agricultura familiar contribuem para o agravamento das modalidades mais toscas de exploração.
8.
Podemos agora aperceber-nos em toda a dimensão das consequências da hostilidade da ecologia à civilização urbana e à sociedade industrial. Tal hostilidade leva-a a encarar as empresas não no antagonismo interno que as rompe mas como uma totalidade social homogénea. Os trabalhadores são considerados simplesmente como uma das engrenagens do capital. Isto significa que os ecologistas se preocupam com o lado de fora das empresas e não com o que se passa lá dentro, com a poluição exterior e não com os acidentes de trabalho, com as eventuais alterações introduzidas no meio ambiente e não com o desemprego motivado pela falta de empreendimentos. Esta divisão física corresponde a uma divisão sócio-económica, pois os trabalhadores, enquanto trabalhadores, reivindicam no interior do quadro traçado pelas relações de produção e os ecologistas reivindicam exteriormente a esse quadro.
As reivindicações dos trabalhadores, pelo menos na fase inicial, integram-se normalmente em duas grandes categorias: a diminuição da jornada de trabalho, quer medida pelo relógio quer medida em intensidade; e o aumento da remuneração, quer directamente na forma de salário quer indirectamente na forma de assistência médica ou outros benefícios. Ora, as questões relativas à jornada de trabalho dizem imediatamente respeito ao processo de produção. E as questões relativas à remuneração, se à primeira vista podem parecer viradas para o consumo, já que se trata de capacidade aquisitiva, na realidade incidem num dos aspectos centrais do processo de produção, a formação e a renovação da capacidade de exercício da força de trabalho. Um trabalhador não produz só bens materiais ou serviços, produz-se e reproduz-se a si mesmo. A extorsão de mais-valia assenta na disparidade entre o tempo de trabalho incorporado na força de trabalho — o tempo de trabalho necessário para produzir e reproduzir o trabalhador, e é aqui que entra a questão da remuneração — e o tempo de trabalho que a força de trabalho é capaz de despender no processo produtivo propriamente dito. Assim, o complexo de reivindicações típico da classe trabalhadora inscreve-se no processo de produção, considerado no seu antagonismo interno. Nos últimos anos, com o crescimento da terceirização, tornou-se frequente outra reivindicação, a de estabilidade de emprego, que diz igualmente respeito ao processo de produção.
As exigências dos ecologistas e dos defensores da ecologia, porém, processam-se todas elas exteriormente às relações de trabalho. Ora, precisamente por estarem alheadas dos antagonismos do processo produtivo, essas exigências só podem ter como efeito directo ou indirecto a pressão para o aumento da exploração da força de trabalho.
O facto de as lutas contra a poluição ou contra a real ou presumida degradação do meio ambiente aparecerem separadas de uma luta contra os acidentes de trabalho não denota apenas um egoísmo social, mas exerce efeitos nocivos sobre a situação dos trabalhadores no processo de laboração. Analisando o caso português, Rita Delgado e eu tivemos ocasião de mostrar num artigo que 3/4 dos acidentes de trabalho mortais ocorridos entre 1979 e 1984 deveram-se a tecnologias primitivas ou à utilização arcaica de tecnologias mais evoluídas. A modernização tecnológica, que em todos os casos os ecologistas encaram como uma perturbação e uma ameaça fora das empresas, representava na nossa pesquisa uma redução do risco de acidentes mortais de trabalho no interior das empresas.
Só conheço uma situação em que os ecologistas se preocupam com os acidentes de trabalho, quando os invocam como argumento contra o uso dos pesticidas, no contexto de uma campanha que, se resultasse, teria como consequência a redução drástica da produtividade agrícola e do volume de produção de alimentos. Num dos artigos de crítica à ecologia que publiquei no Passa Palavra escrevi, a respeito daquilo que a agroecologia classifica como «agrotóxicos», que, vendo o progressivo aumento da esperança média de vida, «estes “venenos” são bons para a saúde». A indignação que a frase provocou é curiosa no Brasil, um país onde a homeopatia é tão difundida. Ou será que ignoram as noções de Paracelsus? Mas, abandonando o registo irónico, os críticos do uso de pesticidas citam por vezes os acidentes de trabalho provocados pelo seu manuseamento. Ora, os acidentes de trabalho com produtos químicos ocorrem quando os patrões não fornecem aos trabalhadores meios de protecção adequados ou, no caso da agricultura familiar, tão estimada pelos ecologistas, porque os membros da família não contabilizam a sua própria força de trabalho como um custo e facilmente a põem em risco. Aliás, estão em desenvolvimento formas de tratamento das sementes que são mais produtivas e têm menos efeitos secundários do que a pulverização das culturas, mas isto os agroecologistas não querem sequer ouvir. Nos campos como em qualquer outra área de actividade, a modernização tecnológica oferece condições para a redução dos acidentes de trabalho, com uma ressalva — que os trabalhadores consigam pressionar as administrações das empresas a garantir condições de segurança no manuseamento dessas tecnologias. Mas os ecologistas não participam nessas lutas, porque só encaram a economia do ponto de vista de um consumo alheado do processo produtivo.
O capitalismo procura hoje converter todas as formas de contestação em movimentos ecológicos exteriores às relações de trabalho, porque só eles são admissíveis no sistema. A única barreira prática que se lhes ergue são as reivindicações da classe trabalhadora no âmbito do processo de produção, incidindo na formação e na renovação da capacidade de exercício da sua própria força de trabalho, o que em termos de valor de uso corresponde a uma melhoria do nível de vida. Não foi por acaso que, como recordei na primeira parte desta série, o debate sobre a ecologia começou no Passa Palavra com o meu artigo «Socialismo da abundância, socialismo da miséria». Não há outra esperança contra a ecologia senão a luta prática dos trabalhadores pressionando pelo crescimento económico e pela melhoria do nível de vida.
Agradecimento
Agradeço a Rita Delgado as numerosas críticas e sugestões feitas durante a redacção destes artigos.
Referências
A citação do Global 2000 Report to the President encontra-se em Special Report: Biodiversity, The Economist, 14 de Setembro de 2013, pág. 6. A definição de política dada por Haeckel encontra-se em University of California Museum of Paleontology, Ernst Haeckel (1834-1919). A definição de política dada pelos nacionais-socialistas encontra-se em Edwin Black, War Against the Weak. Eugenics and America’s Campaign to Create a Master Race, Nova Iorque e Londres: Four Walls Eight Windows, 2003, págs. 270, 318 e Stefan Kühl, The Nazi Connection. Eugenics, American Racism, and German National Socialism, Nova Iorque e Oxford: Oxford University Press, 1994, págs. 36, 121 n. 39. O estudo dirigido por David Tilman et al. vem mencionado em Special Report: Biodiversity, The Economist, 14 de Setembro de 2013, pág. 16. O artigo de Verena Seufert, Navin Ramankutty e Jonathan A. Foley é: «Comparing the Yields of Organic and Conventional Agriculture», Nature, nº 485, 2012. O artigo de Rita Delgado e meu é: «Acidentes de Trabalho — Contribuição para uma Análise», Revista de Administração de Empresas, vol. 27, nº 3, 1987.
Este artigo é ilustrado com obras de Ai Weiwei: várias instalações e, no final, uma fotografia.
A série Post-scriptum: contra a ecologia é formada pelos seguintes artigos:
1) a raiz de um debate
2) o lugar-comum dos nossos dias
3) a hostilidade à civilização urbana
4) a agroecologia e a mais-valia absoluta
5) Georgescu-Roegen e o decrescimento económico
6) Malthus, teórico do crescimento económico
7) «Os Limites do Crescimento» ou crescimento sem limites?
8) oportunidades de investimento e agravamento da exploração
O financiamento do movimento ambientalista provem das grandes corporações que “supostamente” estariam combatendo, isto é, empresas químicas e de petróleo que têm os seus departamentos ambientais. Basta um produto que está em domínio público e que não pode ser cobrado os royaltes, imediatamente cria-se um problema para forçar a substituição de um produto chave, o qual gera um processo de troca em cadeia. Basta um factoide, por exemplo, o acidente ocorrido no Japão em 1969, quando milhares de pessoas comeram arroz contaminado com o PCB (Befenil Policlorados) e muito desses desenvolveram erupção cutânea, fadiga, náusea, etc para forçar a substituição desse produto, mas somente após algum tempo descobre por meio de pesquisas, que o PCB não foi responsável totalmente pelo que aconteceu, pois o conteúdo de PCB foi de 50% e que houve intercâmbio de calor em alta temperatura que converteu o material em dibenzofuranos policlorados que são extremamente tóxicos, mas a culpa foi para o PCB. E quando fizeram pesquisas sobre os efeitos do produto nos operários, os pesquisadores não verificaram nenhum efeito nocivo a ponto de proibir o produto!, pois o PCB não permanecem no ambiente porque há uma variedade de bactérias aeróbicas e anaeróbicas que degradam os PCB. Isso mostra um bom exemplo de como os ecologistas só vejam a poluição no lado de fora e esquecem ou ignoram por razões ideológicas as condições de trabalho, a exposição do material no interior da fábrica, a higiene do local e dos trabalhadores, a tecnologia empregada, entre outros. Outros exemplos são Ascarel, Merthiolate, CFCs, DDTs etc, produtos que de repente somem no mercado. O DDT, por exemplo, nunca ninguém comprovou que causasse câncer, leucemia! Eu por exemplo li reportagens antes de sua proibição, nos anos 70 no acervo da folha, e diversos pesquisadores demonstraram que não é possível detectar efeito maligno, embora o DDT se acumula no tecido ardicoso humsno ou animal e foi substituído por produtos mais tóxicos como aldrin e o paratinol e entre outros que são mais caros, pois o DDT caiu em domínio público. Da mesma forma, foram os CFCs que era controlada por um cartel DU Pont, ICI e sua patente estava vencendo, pois já tinham fábricas em outros países que sintetizaram a molécula de CFC e estavam fazendo concorrência, a partir da sua proibição veio os HFC, que são bons, mas apresentam desvantagem ao produto anteiror são corrosivos, ao contrário do CFC, que foi a molécula mais versátil criada na história e graças a ela foi possível a popularização da refrigeração em escala mundial porque antes de ser inventada, as empresas usavam dióxido de enxofre e querosene e eram bastante prejudiciais a saúde dos trabalhadores e muitos morreram por falta de ventilação. A teoria do “buraco” da camada de ozônio partiu de uma curiosidade “cientifica”, primeiro responsabilizaram os aviões supersônicos e em seguida os CFC, e muitos estudos mostraram antes de sua proibição já mostravam que não encontram CFC por simples razão eram pesados 4 a 5 vezes mais pesados do que o ar. Basta observar a tabela periódica dos produtos composto de CFCs Cloro, Fluor e Carbono (que eram Cl3FC e Cl2F2C) ver a massa molecular do ar para ver como isso era uma fraude. Além de que o “buraco” é apenas uma anamolia natural que existe nos polos já descoberta por pesquisadores nos ano 50. Aí vem Protocolo de Montreal em 1987 – prejuízo nos países tropicais que necessitam de refrigeração barata – substituição CFC – HFCs 20 vezes mais caros e assim os HFC serão substituídos porque causam aquecimento global e blá, blá.
E nós estamos vendo a ecologia a direita que serve para controlar os recursos minerais e naturais sobre os países subdesenvolvidos para deixar intacta a divisão internacional do trabalho e tecnológica e a “esquerda” com discurso que o capitalismo vai destruir o planeta, necessitamos de agroecologia para combater o agronegócio e seus venenos, os transgênicos, “aproveitar a biomassa” (lenha é considerada fator energético), além das energias alternativas solar e eólica, caras de qualidade duvidosa, trabalhosa e criar uma massa de acéfalos com “consciência ambiental”. Os países subdesenvolvidos vão agravar a fome e pagar energia mais cara. Isso tudo sobre o controle da ONU e a sua burocracia transnacional com o agravante da esquerda e seus integrantes convertidos a melancias a participarem numa espécie de baixo clero.
Isso demonstra como o ambientalismo é reacionário em todas as suas matizes ideológicas por considerar o homem apenas como ser extrativista, esquecendo que antes de tudo o ser humano é criador e por isso a sua ação criadora transforma a “natureza” e esta sempre se transforma. E nem mesmo o capitalismo por mais devastador e degradador que seja pode “destruir o planeta”.
E é sempre bom lembrar que Marx converteu ao comunismo quando foi criada a lei de repressão ao roubo a lenha dos bosques privados. Na África existe muitos parques nacionais controlados pela WWF e entre outros, e que impossibilita a agricultura dos povos africanos, mas as suas vozes são silenciadas como bem afirmou Jorge Orduna no excelente livro ecofascismo.
Se quiser saber mais sobre o assunto o Ricardo Felício e seu grupo de estudo na USP, assim como a Daniela Souza Onça acreditam que o Capitalismo vai passar para outra fase chamada de capitalismo verde. Capitalismo comercial, industrial, financeiro e agora verde. Esse capitalismo visa a frear o desenvolvimento das forças produtivas, impedindo a construção de industria de base nos países subdesenvolvidos com seus tratados internacionais, para mantê-los na dependência científica e tecnológica e ao mesmo tempo deixar intacta a sociedade de consumo, ou seja, a mesma sociedade produtora do consumismo agora vai criar o culto a frugalidade e a criação artificial de escassez.
É por esse motivo que está criando uma rebelião de alguns setores da burguesia anti-ambientalista e em razão da conversão da esquerda a ecologia, afirmam baseados em teorias conspirativas que haverá um governo supranacional, semelhante ao totalitarismo soviético e nazista. E mesmo se eles têm certa dose de razão, a esquerda vai ignorá-los porque está tão doutrinados pela ecologia que acham que o capitalismo vai destruir tudo e blá, blá, blá. (Isso sem contar que a agroecologia é uma relação em que grupos ecológicos estão doutrinando organizações camponesas do terceiro mundo.)
Parabéns por essa série de artigos! o inimigo oculto tornou-se o inimigo real.
Sobre o financiamento de manifestações concretas do ecologismo cabe lembrar que a EDP (empresa transnacional da electricidade controlada por capitais portugueses e chineses) financia, através da sua fundação, hortas solidárias no montante de 130 mil euros: http://www.fundacaoedp.pt/folder/galeria/ficheiro/26_AF_R&C_FEDP_2012_PT(versa%C3%82%C2%A6%C3%83%C2%A2o%20digital)_5whl8c0k18.pdf (página 30 do documento)
É um valor pequeno mas é-o porque a própria produtividade dessas hortas é ridícula. O que interessa é, como vem referido no artigo do João Bernardo, criar uma montra para fora e para os crentes ecologistas. Como os capitalistas se devem rir das próprias patranhas que fomentam junto dos patetas. Ainda por cima, quando as hortas são assumidas como formas de minoração de fenómenos de exclusão social e de pobreza. No fundo, os gestores assumem que as hortas só servem para compensar irrisoriamente a miséria. E ainda há gente que se acha de esquerda e que vê naquilo um modelo alternativo de sociedade… Como muito bem afirma o comentário anterior de Jayro, o inimigo oculto tornou-se o inimigo real. Sendo real é também oculto, não fosse a sua dimensão ideológica extraordinariamente potente para iludir os seus fundamentos na maioria da população.
Jayro,
Este seu último comentário justificaria mais uma série de artigos. Para me limitar à questão do financiamento das actividades ecológicas, vale a pena consultar com mais detalhe o Relatório e Contas 2012 da fundação EDP, citado pelo João Valente Aguiar, e que pode ser lido aqui:
http://www.fundacaoedp.pt/folder/galeria/ficheiro/26_AF_R&C_FEDP_2012_PT%28versa%C3%82%C2%A6%C3%83%C2%A2o%20digital%29_5whl8c0k18.pdf
Limitando-me às hortas urbanas, o seu financiamento é mencionado em 13 páginas do Relatório, mas aconselho os leitores interessados a usarem o mecanismo de busca, porque vale a pena ver em detalhe. Especificamente quanto ao projecto Hortas Solidárias pode também ler-se aqui:
http://www.fundacaoedp.pt/inovacao-social/hortas-solidarias/hortas-solidarias/62
Quanto à EDP, que ocupa uma posição significativa no âmbito mundial e hoje tem a Three Gorges Corporation, da China, como principal accionista, pode ter-se uma visão rápida aqui:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Energias_de_Portugal
Se recordarmos o que escrevi acerca da função estritamente simbólica e ideológica das hortas urbanas, e se recordarmos também que elas constituem um dos apetrechos mais queridos de uma certa esquerda, concluímos que as grandes empresas subvencionam a baixo custo os delírios que tornam inócua a esquerda actual.
Seria muito importante proceder a uma análise sistemática das actividades sociais mencionadas nos relatórios das grandes empresas, incluindo os maiores bancos. Encontraríamos aí a verdadeira infra-estrutura económica da ecologia. Há tantos estudantes em busca de assuntos de tese…
Aqui está o antigo blog de Jorge Orduna e a repercussão dos meios de comunicação argentino sobre o livro ecofascismo:
http://jorgeorduna.blogspot.com.br/
Quanto a estrutura econômica da ecologia, em especial a hipótese convertida em teoria do aquecimento global é essa:
http://joannenova.com.au/2011/10/map-the-climate-change-scare-machine-the-perpetual-self-feeding-cycle-of-alarm/
Aqui mostra a tenebrosa história do WWF
http://joanfliz.blogspot.com.br/2011/01/tenebrosa-historia-del-wwf-la.html
E quanto ao último paragrafo que escrevi de fato merece uma analise mais sistemática, mas por exemplo, o príncipe Charles está entre os colaboradores de ONGs como o Navdanya de Vandana Shiva na sua luta contra a Monsanto. Pode falar tudo da Monsanto, mas ninguém fala do financiamento de multinacionais como Auchan que fatura 1,5 a duas vezes que são contra os organismo geneticamente modificados
http://www.organicconsumers.org/articles/article_14274.cfm
Ela vive afirmando que o suicídios entre os agricultores começou quando a Monsanto chegou na Índia e estava tirando o direito dos agricultores de salvar sementes, mas esta versão tem sido desmentida até mesmo pelo citado Mark Lynas, na realidade os suicídios já eram alarmantes antes mesmo da chegada da Monsanto e o que o algodão BT foi pirateado dentro da Índia.
http://www.nature.com/news/case-studies-a-hard-look-at-gm-crops-1.12907
O alto número de suicídio é em razão de que a empresa exerce o monopólio de mercado e os agricultores não podem reproduzir as sementes e devem pagar os tais direitos de uso.
Agora fica uma questão: Como a classe operária pode gerir os meios de produção abdicando de todo o avanço técnico e científico desenvolvido pela sociedade capitalista? É o verdadeiro elogio a alienação!
Achei esses dois últimos artigos da série possivelmente os melhores sobre ecologia publicados no Passa Palavra, pelo menos pelos que me lembro.
Dito isso, discordo, pelo menos em grande parte, do que foi dito aqui: “Ora, os acidentes de trabalho com produtos químicos ocorrem quando os patrões não fornecem aos trabalhadores meios de protecção adequados ou, no caso da agricultura familiar, tão estimada pelos ecologistas, porque os membros da família não contabilizam a sua própria força de trabalho como um custo e facilmente a põem em risco.”
Não vou me basear em nenhum estudo específico sobre agravos à saúde dos trabalhadores rurais, mas em conhecimentos gerais sobre acidentes de trabalho.
Se se tratasse simplesmente de fornecimento de Equipamentos de Proteção Individual ou mesmo Coletiva, a situação, tanto para o patrão quanto para o trabalhador seria bem mais simples.
Em termos de prevenção existem medidas em sequência, sendo o fornecimento de EPI a menos recomendável, apenas um último recurso. Na ordem: elimina-se do processo produtivo a substância tóxica; muda-se o processo produtivo para não haver exposição a ela; utiliza-se Equipamento de Proteção Coletiva; utiliza-se o EPI. Para o patrão é sempre mais fácil, e mais barato, fornecer o EPI. Só que fornecer o EPI não diz nada sobre a utilização do EPI, e a possibilidade real de sua utilização para desempenhar a tarefa. Em geral são desconfortáveis e dificultam o trabalho. Se não existe efetiva condição de organização do trabalho para uso do EPI, fornece-lo não significará muita coisa. É natural que o trabalhador acabe não usando o EPI pelo desconforto e por dificultar o trabalho, ou diminuir sua produção (o que o leva muitas vezes a ter uma jornada maior ou receber menos).
Sendo assim, tendo a discordar que os trabalhadores da agricultura familiar se coloquem em risco por não se contabilizarem como custo. O trabalhador empregado que não usa o EPI não o faz por não contabilizar o prejuízo que terá se tiver um agravo à saúde? Não.
Mais provável que o agricultor familiar se envenene mais, se é o caso, por falta de informação e por ter uma determinada percepção de risco que o faz pesar mais os fatores contrários ao uso do EPI do que os favoráveis ao seu uso. Enquanto isso o empregado, com sua autonomia de decisão mais limitada, segue relativamente o que o patrão manda.
A posição que parte do interesse do produtor, do trabalhador, em termos de prevenção, é o de eliminar a fonte de risco, e não o de usar EPI. Nesse sentido, o seu interesse é de que as substância tóxicas sejam eliminadas do processo produtivo. Em outros termos a questão não é terem meios de proteção, mas simplesmente não serem atacados.
Pelos vistos ontem o guru do decrescimento, Serge Latouche, foi à Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, dar uma palestra sobre o assunto. Entretanto, o director do jornal Diabo escreveu um artigo sobre a conferência do decrescimento. Interessante como a extrema-direita e os ecologistas de esquerda partilham a mesma defesa de uma austeridade permanente: http://penaeespada.blogspot.pt/2013/11/decrescer-uma-solucao-para-crise.html
E depois ainda ficam escandalizados quando se mostram as ligações entre ambos os pólos políticos. Aliás, Latouche terá até elogiado Benoist… Só faltaram os nazis lá pelo meio.
João Bernardo,
você conhece o livro de “A ecologia de Marx: materialismo e natureza” de John Bellamy Foster??
Se leu, resumidamente, qual sua opinião sobre ele??
[Ainda não li toda essa série, estou na metade ainda, mas há algumas divergências entre os pontos de vista seu e o dele.]
TM,
Eu interesso-me pouco pela Monthly Review actualmente e pelos autores ligados a ela. As minhas leituras têm seguido outros rumos. Mas, em compensação, sempre me interessei por Marx e é curioso ver o esforço de algumas pessoas para invocá-lo em abono da ecologia, isto apesar das noções de Marx acerca das forças produtivas, da tecnologia, da aplicação da nova química científica à agricultura, etc. Foi a dialéctica de Hegel que inspirou Marx, não a de Schelling.
Fazendo uma pesquisa esses dias encontrei por acaso uma foto de um caso que ilustra bem o comentário que fiz acima:
http://www.centrodocumentazionemarghera.it/sicap/ShowDialog.aspx?TITLE=VIEWERTITLE&TBL=F&ID=312716&Ext=jpg&Folder=&MODE=VIEW&OPAC=Marghera&WEB=Venezia
Foto de operários na fábrica Petrolchimico, em Porto Marghera, Itália, por volta de 1973.
Em meio a greves contra os agravos à saúde, autoridades locais chamaram as partes, e após ouví-las decidiram que a partir de então os operários teriam que usar máscaras de gás (os Equipamentos de Proteção Individual). O sindicato, para parecer combativo, queria que o uso das máscaras fosse estendido para as fábricas das áreas vizinhas a Porto Marghera.
Os operários que constituíam a Assembléia Autônoma de Porto Marghera construíram esse crucifixo com um boneco com uma máscara de gás, durante a greve, e o colocaram na frente de um dos portões da fábrica, com um cartaz: “Montedison te deixa morrer uma segunda vez”. [Montedison é a empresa dona da fábica].
O que os operários na sua luta autônoma a sindicatos e partidos reivindicavam era que a empresa descobrisse a causa dos agravos à saúde e a eliminasse, fechando a planta e o setor até que a causa fosse eliminada, mantendo o pagamento do salário dos trabalhadores.
Esse crucifixo é uma ilustração genial do que significa o uso do EPI para o trabalhador.
O relato sobre essa luta e o crucifixo pode ser lido no depoimento de Italo Sbrogiò aqui: http://libcom.org/files/firebrands_booklet_2_horizontal.pdf
No seu indubitável pendor místico, a ecologia retomou o velho mito da Árvore da Sabedoria e do Pecado Original. Possuidor da técnica e, pior ainda, da ciência e dos laboratórios, o ser humano teria passado a exercer uma acção destrutiva sobre a natureza, ou seja, sobre o paraíso. Para nos remir deste pecado surgiu um novo Messias, só que agora na forma colectiva do movimento ecológico. E como não há Messias sem polícia atrás, rapidamente os ecologistas somaram às suas outras competências, ou incompetências, a de fiscalizadores dos costumes. Nos últimos tempos, porém, o policiamento ecológico deixou de parar nos seres humanos e passou a incluir o resto da natureza. É assim que em vários países os ecologistas proclamaram contra os eucaliptos um ódio mortal, a tal ponto que onde antes a esquerda gritava «Morte aos capitalistas», hoje aquilo a que alguns ainda chamam esquerda berra «Morte ao eucaliptal». Neste artigo evoquei o caso da empresa de consultoria ecológica Wildlife Management International (WMIL) que matou todos os gatos selvagens na ilha de Ascensão, situada no Atlântico Sul, para converter aquela área numa reserva exclusiva de pássaros, estendendo este afã exterminador a mais de quarenta ilhas em todo o mundo. Leio agora (https://www.dn.pt/vida-e-futuro/interior/aldeia-da-nova-zelandia-quer-banir-gatos-para-proteger-outras-especies-9776842.html ) que «a aldeia de Omaui, na costa sul da Nova Zelândia, quer proteger a vida selvagem de aves e de outras espécies da região e vai avançar com uma medida radical: a proibição de gatos domésticos». E a jornalista termina explicando: «A questão se os gatos são ou não uma ameaça para alguns ecossistemas não é nova. Há cientistas que alertam há muito para o impacto de gatos selvagens que circulam na rua sem dono. Peter Marra diz haver 63 espécies em vias de extinção devido à atividade dos felinos. “Parece extremo”, afirma, “mas a situação ficou fora de controlo.” Marra defende que os donos de gatos precisam de trabalhar uma nova mentalidade: os animais devem ser adotados, sempre que possível, mas castrados e treinados, através de brinquedos, para que aprendam a lidar com outras espécies». A castração parece-me uma óptima ideia. Já desde há mais de um século que os partidários da eugenia defendiam a castração dos seres humanos considerados nocivos e parece haver hoje candidatos presidenciais com as mesmas simpáticas intenções. Igualmente boa me parece ser a ideia de ensinar os gatos, «através de brinquedos, para que aprendam a lidar com outras espécies». Com efeito, é urgente fazer com que os animais carnívoros se tornem herbívoros. Talvez se pudesse começar, por exemplo, treinando os leopardos a comer eucaliptos.
ORDEM DO DIA AOS LEOPARDOS & OUTROS FELINOS
É chegada a vossa hora de comer burgueses e eucaliptopalitar os dentes com gestores!
as.: Exército Simbiótico de Transemancipação Humanimal
JB, concordo plenamente com suas análises. Mas, sem querer paracer que estou simplesmente provocando, quando você diz que os capitalistas “não gastam dinheiro em vão”, e se “Por aqui se pode aferir a demagogia de quem afirma que a agricultura orgânica familiar fornece alimentos para os pobres. Pelo contrário, são os pobres a fornecer alimentos para os ricos” e já que, da mesma forma que há uma produção do proletário, há uma produção do burguês, isso não poderia significar que o alimento orgânico “em si” não seria melhor para o consumo do que o produzido em larga escala (assim como outros tantos recursos, como o educacional, que difere imensamente daquele produzido em larga escala para o proletariado daquele produzido para a burguesia)? E em relação à afirmação de “Quando uma técnica começa a não funcionar ou a ocasionar efeitos paralelos nocivos, o próprio capitalismo dispõe de mecanismos de alerta e de correcção”. Mas a mesma Volkswagen que financia os ecológos é aquela acusada de fraudar os testes de poluentes de seus carros (além de tantas outras atividades vis, como o apoio à ditadura militar de 1964), numa veradeira atualização da fraude dos pães que Marx denunciava no Capital. Parece que o espírito do “empreendor capitalista” não se alterou muito desde então e, se eu não estiver enganado, nem poderia se alterar, senão, deixaria de ser capitalista, ou seja, além da violência e da exploração, a fraude não continuaria inerente ao modo de produção capitalista? Essas são de fato dúvidas e não provocações.
Heitor,
1) Não me parece que a produção em grande escala implique a má qualidade dos produtos. Pelo contrário, um dos êxitos do capitalismo é ter conseguido uma produção em massa com qualidade e segurança, a tal ponto que hoje convivemos com familiaridade e sem medo com máquinas muito complexas. O exemplo que mais me fascina é o dos automóveis, nós tranquilamente na calçada e eles a passarem velozmente a escassos centímetros de distância, sem que tenhamos medo de que repentinamente se descontrolem e nos atropelem ou expludam com efeitos catastróficos. E isto para tudo. A familiaridade que temos com a máquina demonstra o êxito da produção em massa.
Para além deste limiar genérico, é certo que dentro da produção em massa há enormes diferenças de qualidade e, portanto, de preço. Mas há também diferenças que se devem sobretudo a questões de status e de estilo de vida que, por si só, vale como uma demonstração de status. É nestas que eu insiro os tais produtos orgânicos.
a) Aliás, antes de mais, é curiosa a credulidade dos consumidores desses produtos, idêntica à dos fiéis das Igrejas, porque basta anunciar que o produto é orgânico para as pessoas acreditarem.
b) Mais fundamentalmente, não creio que os produtos orgânicos façam melhor à saúde ou sejam sequer mais saborosos do que os outros, e tratei deste aspecto no quarto artigo desta série.
c) Um grande êxito do marketing ecológico foi convencer as chamadas classes médias de que consumir produtos orgânicos faz parte de um estilo de vida politicamente correcto. Isso tem o seu preço, que as ditas classes médias pagam com a mesma alegria com que os crentes dão dinheiro nos peditórios das igrejas.
2) Quanto aos mecanismos capitalistas de alerta e correcção dos efeitos nocivos de algumas técnicas, é conveniente não esquecer que quando o alerta surge ele deve-se, explícita ou disfarçadamente, a empresas concorrentes. Uma coisa em que o mercado funciona muito bem é na delação recíproca. Passa-se na economia o mesmo que na política.
No entanto, eu referia-me neste artigo a uma questão de âmbito mais geral, a de que o capitalismo suscita capacidades técnicas capazes de corrigir rapidamente os eventuais defeitos de outras técnicas. Uma boa parte da actividade dos cientistas destina-se precisamente a isso. Para não prolongar inutilmente este comentário, aconselho os leitores interessados a consultarem na 3ª versão do meu livro Labirintos do Fascismo (https://archive.org/stream/jb-ldf-nedoedr/BERNARDO%2C%20Jo%C3%A3o.%20Labirintos%20do%20fascismo.%203%C2%AA%20edi%C3%A7%C3%A3o#page/n0 ) as págs. 1380-1382.
Será coincidência, ou não, o fato de nas últimas décadas a ascenção dos movimentos ecológicos (e por que não dizer também identitários e multiculturalistas…) também ter vindo acompanhanda do brutal aumento das desigualdades sociais (desigualdades sociais! eis o termo chave…!), ou seja, 1% da população global detém mesma riqueza dos 99% restantes? Será coincidência, ou não, que a ampliação do “empoderamento” ecológico (ou identitário, ou multicultural…) não ocorreu ao mesmo tempo da brutal precarização do trabalho e, portanto, do trabalhador (trabalhador, eis outra palavra chave)? Será coincidência, ou não, que num mesmo movimento de ascensão da “consciência ecológica” (ou identitária, ou multicultural…), 7 em cada 10 (alunos) do ensino médio não dominam Português e Matemática (http://tvbrasil.ebc.com.br/reporter-brasil/2018/08/mec-7-em-cada-10-do-ensino-medio-nao-dominam-portugues-e-matematica)?
Algo não cheira bem, e não é apenas o bafo de cebola dos ecólogos cabeças de batatas…
João Bernardo,
Veja este documentário que é excelente Por que os gigantes do petróleo conquistaram o mundo
https://youtu.be/VzkX-I4pzAU
Neste documentário mostra as estratégias políticas e ideológicas para o controle populacional produzidas pelos oligopolistas do petróleo que são sustentados pela burocracia internacional (ONU e as suas agendas). Aqui mostra exemplarmente a transição entre a eugenia e o ambientalismo e a atuação do poder tecnocrático.
Há poucos dias o site Cogito publicou um artigo muito interessante, com o título «O nuclear vai salvar a ecologia?», que contribui para esclarecer uma digressão que efectuei no § 6. Para poupar aos leitores o esforço de um click, reproduzo-o aqui:
«A China tem uma economia de elevado crescimento e transformou-se no maior emissor de gases com efeito de estufa do mundo. Como é o país mais populoso e o nível de vida de parte da sua população é ainda baixo, o seu consumo energético irá continuar a aumentar nos próximos anos.
Por isso, a China é o maior investidor mundial em energia renovável, tanto em eólico, como fotovoltaico, como hidroelétrico. E, como as suas necessidades são enormes, até novas e muito poluentes centrais a carvão, continuam a ser construídas. No entanto, os compromissos de baixar as emissões impõem que o carvão deixe de ser aposta e para tal, a China está também a avançar com fortes investimentos em energia nuclear.
Isto é particularmente interessante porque muitos países desenvolvidos praticamente deixaram de investir em novas centrais nucleares e por isso deixaram de desenvolver a esta tecnologia.
Há muito que as centrais salinas, que dispensam o arrefecimento a água, utilizam tório e urânio 233 ao invés de urânio 235 e plutónio, são muito promissoras. As vantagens são múltiplas já que permitem usar matérias primas mais abundantes, dispensam a necessidade de água e reutilizam os resíduos radioativos reduzindo os resíduos.
Estamos perante um enorme evolução tecnológica que poderá permitir maior facilidade de implementação, menor custo, maior segurança e impacto ambiental baixo.
Na verdade, este tipo de centrais já foi testado há algumas décadas no ocidente, mas na altura não existia tecnologia para resolver algumas das dificuldades e é isso que a China se propõe fazer avançando com a construção de uma pequena central de 2 MW, capaz de alimentar 1000 casas. Este é apenas um passo intermédio para o plano final, que visa construir até 2030 uma central de 370 MW, capaz de alimentar mais de 185 000 residências.
O mundo olha com expectativa para este avanço porque, caso se confirmem as suas vantagens teóricas, poderá ser a melhor forma de produzir energia – pelo menos até que a fusão nuclear se torne uma realidade – resolvendo-se assim o problema das emissões de CO2 emitidas na produção de energia e isto sem as dificuldades de intermitência que a energia renovável tem».
João,
Os ecologistas falam, instrumentalmente e para efeitos de propaganda, em seguir a ciência na questão das alterações climáticas (aquecimento global), mas desprezam as reais soluções tecnológicas de ponta que permitiria solucionar o problema: a energia nuclear. Até do ponto de vista económico, a vantagem do nuclear implica empregos qualificados e de base tecnológica. Ora, os ecologistas não podem defender o nuclear porque: 1) acabaria (ou controlaria) com uma das suas razões de existência (o aquecimento global); 2) ainda mais importante, são uma das pontas de lança dos gestores ideológicos e, por isso, defendem medidas tributárias de modalidades meta-capitalistas. O seu modelo social e económico arcaico não se coaduna com a mais-valia relativa ou com o progresso tecnológico e científico.
João Aguiar,
Já em The Skeptical Environmentalist (Cambridge: Cambridge University Press, 2001), Bjørn Lomborg observou que assim como o movimento ecológico alerta para tudo o que considera riscos de poluição e ataques à natureza, opõe-se firmemente a tudo o que poderia mais facilmente resolver esses problemas. Isto, com a condição de que tais problemas existam realmente. Basta lembrar os relatórios alarmistas provenientes dos lobbies ecológicos acerca da construção de pontes, portos ou quaisquer outras infra-estruturas, que logo depois foram esquecidos, quando se revelaram infundados. Mas surgem sempre novos alvos, para manter a histeria em ebulição.
O que os ecológicos nunca anunciam é o custo das medidas que propõem, porque esses não serão as empresas que os pagam, mas os consumidores (no aumento dos preços) e os trabalhadores (na deterioração das condições de trabalho). Ultimamente, na Europa, assistimos a um enorme aumento do custo da energia, bem visível quando olhamos para a factura da electricidade. E é hilariante ouvir nos parlamentos português, espanhol, francês e por aí adiante aqueles mesmos partidos que mais vigorosamente propõem medidas destinadas a restringir a emissão de CO2 derramarem agora lágrimas de crocodilo pela subida do preço da electricidade.
No principal editorial do seu último número, com data de amanhã, The Economist escreve: «A mudança do carvão para a energia renovável deixou a Europa, e especialmente a Grã-Bretanha, vulnerável ao pânico relativamente ao fornecimento de gás natural, que num certo momento desta semana fez os preços à vista subirem mais de 60%. O aumento dos preços aplicados às emissões de carbono na União Europeia dificulta o recurso a outras formas de energia poluentes. Vastas regiões da China enfrentaram cortes de energia devidos ao facto de algumas províncias se precipitarem para obedecer a normas ambientais estritas».
Seria interessante que os movimentos ecológicos anunciassem claramente à população, com contas e números, o montante que ela deverá pagar por cada nova cruzada.