Por Roberto César Cunha e Paulo Henrique Schlickmann

 

Uma nação tem papel importante no mundo, não somente pela sua unidade, sua soberania, seu povo, e/ou sua história, mas também pela capacidade de planejar seu desenvolvimento, de programar estratégias de progresso e de obter um processo tecnológico.

Como sabemos historicamente, as mudanças que já ocorreram no país não foram por substituição de classes por outras, mas por mudanças de atitude e dissidências no seio das próprias classes dominantes, perdendo características conservadoras e ganhando elementos progressistas, sem apagar o caráter burguês. É por isso a necessidade angular de uma opção consciente por um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento (NPND) baseado em parâmetros científicos, para conhecermos nossa dinâmica interna e sem muletas teóricas de outras formações econômicas e sociais. Trata-se de almejar uma mudança de maior envergadura, como a Independência, a Abolição/República e a Revolução de 1930.

Como Vigotsky demonstra, o ser humano não nasce pronto; um NPND também não é feito da noite para o dia, exige um processo de lapidação crítica, incorporação de conteúdo e um viés progressista. É necessária vasta discussão e elaboração teórica, investigação rigorosa do real concreto, infatigabilidade do debate de ideias quebrando cânones enrugados. É preciso ir além da aparência, que é de fácil sedução, ir à etiologia, na essência. Deve romper-se com os arraigados vícios ideológicos, com os preconceitos do senso comum, não flertar com a vaidade e nunca abandonar ideias genuínas. O grande sistema de investigação que deve dar o pontapé inicial ao NPND é o marxismo-leninismo científico, por carregar em si o materialismo histórico dialético, que, para Althusser, não vai acima das ciências, pois é a própria teoria da prática científica.

O marxismo-leninismo é uma posição política, uma posição científica da realidade, o mais alto rigor científico da verdade. Nesse sentido, refuta-se o popperianismo romantizado pelos tubos de ensaios, as matematizações ideais abstratas que fogem do real, ou o dependentismo gerado por fantasmas que se “envergonhavam” por terem nascido no terceiro mundo. O marxismo-leninismo científico pode ser um instrumento letal para romper com os ranços tradicionais do passado, além de ajudar a compreender a formação econômica e social complexa brasileira. Serve também, como último recurso teórico, para se libertar dos “mitos da onisciência divina ou das profanas religiões dogmáticas” de nossos planejadores, intelectuais e políticos.

Hoje em dia se lê por aí que “o marxismo-leninismo representa o sentimento e o sofrimento dos trabalhadores”, “o marxismo-leninismo é feito por meio de uma forte disciplina interna, está preparado para todas as formas de luta”, “o marxismo-leninismo é concepção de aliança da classe operária com o campesinato”, etc. Alguns divagam no “leninismo contemporâneo” recheado de adjetivações, tão comum nessa fase crítica da pseudo pós-modernidade. Outros usam o marxismo-leninismo do Que Fazer? e de Esquerdismo, doença infantil do comunismo. Isso explica alguma coisa no real?

Gostaríamos de entender o porquê se resiste a encarar a obra de maior fôlego de Lênin: Desenvolvimento do Capitalismo na Rússia? Por que se tem medo de interpretar a realidade concreta? Por que perdemos tempo em querer transplantar o que Álvaro Cunhal e Gramsci escreveram sobre seus países para o Brasil? Isso não passa de marxismo-leninismo de pires. Só através do conhecimento real de nossa formação econômica e social (Brasil) teremos condições de traçar estratégia e tática para o NPND; sem isso, apenas emascularemos o marxismo-leninismo científico.

Ora! Na atual ordem das coisas, nada mais fácil do que abandonar a análise de economia política, em consequência do fascínio academicista em moda. Atualmente, a receita é tatear outras explicações ecléticas para os fenômenos, parecendo o weberianismo mais simples. Entendamos que em ultima instância o econômico, sempre! Em ultima instância o marxismo – leninismo é a ciência.

Marxismo-leninismo científico não é realidade virtual como, por exemplo, os pequenos agricultores, os sem terras e uma maioria que sai em defesa da reforma agrária distribuidora de microlotes. Estes estão lastreados na pequena propriedade privada da terra, artifício utilizado pela burguesia no século XVIII. Nada mais falso do que essa pretensa argumentação. Assim como a defesa do cooperativismo e do solidarismo, ambos os aspectos utilizados para acabar com os restos feudais. Cooperativa não supera o capitalismo, muito pelo contrário, ela serve para acabar com zonas atrasadas ao capital, e isso que vale?

O marxismo-leninismo científico é saber que o campesinato deixa de existir, se destrói e é substituído por novos tipos de estabelecimentos rurais (agronegócios), que constituem a base de uma sociedade dominada pela grande produção capitalista. O marxismo-leninismo científico não é a defesa irresponsável da quase santa “agricultura familiar”, em que se colocam lado a lado os pequenos produtores, baseada na mais-valia absoluta (alta concentração de mão-de-obra, jornadas de trabalho de até 18 horas por dia, baixa produtividade e etc.) com a empresa familiar, fornecedora, e com especialização tecnológica subordinada às grandes empresas.

O marxismo-leninismo científico é aquele que estuda a circulação ampliada do capital na agricultura, é aquele que estuda as engenharias financeiras e as políticas de crédito da produção do campo dos pequenos, médios e grandes produtores. Para isso utilizam-se como aporte as cooperativas capitalizadas, mas não tendo nelas o alardeado neo-socialismo. O que dizer das cooperativas capitalizadas do Oeste de Santa Catarina, que dinamizaram a vida rural arcaica e que hoje compõem grandes cotas exportadoras do país?

Basta analisar a pujança das pequenas produções mercantis, que carregavam o germe da melhoria de vida ao camponês, o qual hoje está apto para entender e lutar contra as contradições do capital. Marxismo-leninismo para o NPND deve levar em consideração as dinâmicas diferenciais de desenvolvimento das áreas de latifúndio e da pequena produção. Entender que ambas transitam ao capitalismo e carregam o germe do desenvolvimento, superando a miséria e gerando uma estrutura dinâmica, com uma classe possivelmente progressista na nação. Trata-se da superação do trabalho braçal familiar intensivo, da “domesticação” e racionalização da natureza, da compreensão do movimento da burguesia e de sua técnica de dominação, para compor na prática o planejamento voltado para o Brasil.

No Maranhão, por exemplo, o marxismo-leninismo científico não é o anti-sarneysismo, um simbolismo da incompreensão da origem das relações sociais de produção e da formação econômica e social. O mainstream político e acadêmico fala abertamente que isso se reduz o antagonismo de classe no Maranhão e que essa é a tradição. O marxismo-leninismo científico é saber a gênese e o desenvolvimento de ocupação do estado para entender o caráter progressista dos agronegócios do Sul do Maranhão, que representará o fim das reminiscências feudais e da oligarquia retrógrada. É saber como a Balaiada (levantamento de cafuzos, crioulos, mulatos e pretos, de vaqueiros e agricultores, de escravos fugidos e soldados desertores, de bandidos e vagabundos, sem uma figura maior que os chefiasse, sem um único elemento do clero, da nobreza, da burguesia, da oficialidade de linha, da magistratura, do funcionalismo, à sua frente), a República de Pastos Bons e a Revolta de Bequimão ajudaram nas raízes do nacionalismo brasileiro e no caráter revolucionário da industrialização de Getúlio Vargas.

O marxismo-leninismo científico é estudar a pequena produção mercantil, a dinamicidade de nossa industrialização, para saber como nosso desenvolvimento econômico nacional foi dependente máximo de substituição de importações. É entender como de “cada volta do parafuso”, pouco a pouco se construiu nosso poderoso departamento I da economia. É estudar como que nas fases A (fases expansivas) do ciclo longo (ciclos de Kondratiev), o país e sua economia rompiam com o relativo atraso perante o centro dinâmico do capitalismo. Além de entender que, devido a nossa produção ser voltada para as exportações, nas fases B (depressivas), em consequência da crise de demanda pelo centro dinâmico, houve a obrigação de se fazer força com a substituição de importações, o que representou crescimento na crise. Assim, historicamente, nossa industrialização segue, e no meio dessa característica, os serviços de utilidade pública (infraestrutura urbana, transportes, energia, etc.) aparecem hoje como os possíveis motores da base produtiva e da assimilação tecnológica. Pois, como dizia Marx, nenhuma produção é possível sem trabalho passado e acumulado.

O marxismo-leninismo científico não é ser contra as concessões de serviços de utilidade pública para empresas privadas, sem saber a origem desses serviços e o porquê do estrangulamento: o esgotamento da capacidade de endividamento do país. O leilão de Libra, por exemplo, foi uma gigantesca oportunidade de investimentos e pode representar assimilação técnica sem precedente para o país, além da articulação estratégica com o centro dinâmico do capitalismo e com o centro dinâmico do comunismo. O marxismo-leninismo científico quer saber como, atualmente, os serviços e a incorporação de tecnologia são os pontos de estrangulamento de nossa economia.

É mister no Brasil concessões dos serviços de utilidade pública a empresas privadas, pois esses setores (portos, estradas, ferrovias, aeroportos, linhas de metrô, transporte coletivo, nas cidades) são subinvestidos e acarretam prejuízo de montante a jusante de todos os setores produtivos, e as consequências são os estrangulamentos. Essas concessões devem ser lincadas com uma política macroeconômica desenvolvimentista, que favoreça um efeito multiplicador em todos os setores da economia brasileira. Favorecerão, em última instância, a geração de emprego nas indústrias de bens de capital e, consequentemente, nas de bens de consumo, resultando no maior poder de compra da classe dos trabalhadores como um todo.

Por fim, o NPND lastreado no marxismo-leninismo científico é conceder parques e praças (de árvores podres, velhas e feias) das grandes e médias cidades à iniciativa privada para construção de estacionamentos subterrâneos e em cima refazer um paisagismo moderno e sofisticado à la Burle Marx (RANGEL, 1987). É pensar grande, é estudar com largueza para não sermos profetas de panaceia anticientífica, antiprogressista, antinacional e antipopular.

É imprescindível para um NPND o desapego dos automatismos de linguagem e voluntarismo estéril. Sabe-se que o hábito não basta para fazer o monge. Ignácio Rangel foi um dos poucos que não temeu a infungibilidade do marxismo-leninismo científico, pois não teve medo do cadafalso da história e desvendou, no seu tempo, esse organismo vivo chamado Brasil (a dualidade básica da economia brasileira, a inflação brasileira, a questão agrária, a capacidade ociosa, etc.).

Como disse Danton a caminho do cadafalso “é melhor ser guilhotinado do que guilhotinar”. Quem estará disposto à enfrentar a infungibilidade do marxismo-leninismo científico, uma vez que a história é implacável no encalço do progresso?

Referência

RANGEL, Ignácio: Da infungibilidade das árvores. Folha de São Paulo. Tendências/Debates. São Paulo, 27 Fev. 1987.

Nota

Os autores são, respectivamente, geógrafo pele UFMA e geógrafo e mestre pela UFSC.

O título deste artigo é idealizado a partir do texto “Da Infungibilidade das árvores” publicado na folha de São Paulo em 27/02/1987 por Ignácio Rangel, maior marxista leninista das Américas.

As fotografias que ilustram o artigo são de Ansel Adams.

20 COMENTÁRIOS

  1. THE WALKING DEAD
    Expressão delirante do eMeerReoit8ismo acadêmico e nacional-populista furibundo.

  2. Não me parece haver nada de científico em afirmar que o “marxismo-leninismo científico” (e poder-se-ia trocar por “anarquismo científico” ou “pós-modernismo científico”) é o que estuda isso, aquilo e aquilo outro, como faz o texto. Oras, qualquer um pode vir a afirmar que o “marxismo-leninismo científico” é, pelo contrário, o que estuda outra coisa, com a mesma razão.
    O que determina se algo é científico é o método e não o objeto.

    Fora isso, o que também merece ser estudado cientificamente é esse fenômeno em cursos de geografia no Brasil, onde um desenvolvimentismo nacionalista tem tanta força.

  3. Pensamento fossilizado. Beira uma quixotada e/ou humores do gênero.

    Já que os autores falam num precedimento de análise baseado no “real concreto”, seria interessante eles demonstrarem o real funcionamento dos Estados Nacionais nos dias de hoje.

    Ou então, o que temos aqui é mais uma briga contra os moinhos de vento.

  4. Pra esses nacional-desenvolvimentistas se tornarem nacional-bolcheviques é meio passo.

  5. Por Paulo Henrique Schlickmann:

    Em respostas aos camaradas acima, proponho desenvolver 2 pontos:

    1) Questão do método que determina o científico: trata-se de um equívoco, pois atualmente, a epistemologia tem a ciência como dinâmica, mutável, reavaliável e nesse ínterim o método adentra como meio para se atingir o científico, não é o científico em si. O científico é mais amplo. O marxismo leninismo é sinônimo do método marxista da formação econômica e social (contribuição a crítica da economia política), que tem no real concreto o ponto de partida a ser contraposto ao método de análise supracitado. Trata-se portanto de um método dinâmico, que serve, não para construir a realidade que lhe convém para autocomprovação e reafirmação, mas como aporte para entender cientificamente a realidade dinâmica. Por isso atrelar o científico ao método é supervalorizar o método, não dar valor ao problema e desqualificar a análise, a teoria, o histórico e o real.

    2) Questão nacional: O aspecto nacional está ligado diretamente a questão da escala de análise (espaço, região, território), nisso entende-se a escala como dinâmica, ou seja, as relações sociais e as forças produtivas extrapolam o caráter nacional, entretanto isso não invalida a análise nacional. No método marxista leninista a questão nacional está ligada diretamente a luta de classes; centro X periferia; imperialismo; nesses rumos também os aspectos globais interferem diretamente no local, que deve ter a capacidade de pensar e agir taticamente diante as investidas extranacionais. Não se trata de fascismo ou nacionalismo, mas de pensar o território nacional. Isso é diferente do nacionalismo do século XX démodé na atualidade. Do mesmo modo somente a categoria nacional não constitui o nacionalismo, outras características foram necessárias. P. ex. os Estado Unidos sempre valorizou o aspecto nacional, mas teoricamente não desenvolveu nacionalismo.

  6. Paulo Henrique Schlickmann escreveu que se deve partir do concreto porque o método é dinâmico, mutável é reavaliável; e que o que interessa é, não construir, através da teoria, a realidade que convém para autocomprovação e reafirmação, mas entender a realidade dinâmica. Mas tudo o que os autores fizeram neste artigo foi tentar provar por A mais B que o marxismo-leninismo (“científico”) é, em si, a própria verdade, e ponto final. Isto é, tudo o que fizeram foi, de fato, construir uma realidade que convém para autocomprovação e reafirmação (do “marxismo-leninismo científico”… Sabe-se lá do que se trata).

    Mas o artigo contém mais problemas do que, meramente, a afirmação de que o marxismo-leninismo (“científico”) é «o mais alto rigor científico da verdade». Por exemplo, o trecho em que se afirma que «é mister no Brasil concessões dos serviços de utilidade pública a empresas privadas, pois esses setores (portos, estradas, ferrovias, aeroportos, linhas de metrô, transporte coletivo, nas cidades) são subinvestidos e acarretam prejuízo de montante a jusante de todos os setores produtivos, e as consequências são os estrangulamentos. Essas concessões devem ser lincadas com uma política macroeconômica desenvolvimentista, que favoreça um efeito multiplicador em todos os setores da economia brasileira. Favorecerão, em última instância, a geração de emprego nas indústrias de bens de capital e, consequentemente, nas de bens de consumo, resultando no maior poder de compra da classe dos trabalhadores como um todo».

    Fica evidente, não só que os autores estão na contramão das principais reivindicações dos movimentos anticapitalistas que lutam para que os serviços públicos no Brasil sejam um direito social efetivamente exercido pelos trabalhadores, mas que o nacionalismo, seja qual for sua roupagem externa ou seja lá como se o pretende florir, resulta sempre na defesa de um caráter supostamente progressista de certos setores do capital. Os projetos nacionais de desenvolvimento, trate-se dos “velhos” ou dos “novos”, resultam sempre na proposta da colaboração de classes, e todos sabemos onde é que as coisas vão dar quando os trabalhadores se propõem a colaborar ativamente com o capital: eles se f…

  7. Historicamente no Brasil sempre houve duas opiniões: as que o Brasil está no abismo e as que acham que o abismo não existe ou que o Brasil é maior que o abismo. Ou seja, uma omissão e a outra a capitulação dos problemas que o país tem. Acho que foi Hegel que disse que não devemos cair no ¨ardil do conceito¨ ou sempre ver a aparência de que as coisas não mudam. O desconhecimento de economia sempre levou o que Enrico Ferri dizia, ¨os revolucionários praticam reformas, os reformistas conservam o status quo e os conservadores recuam¨. Porém no Brasil a diferença é os revolucionários pregam, mas são os conservadores que as praticam. Perigoso isso.

    No nosso processo de desenvolvimento econômico, os serviços de utilidade pública passou por 3 tipos de enquadramento jurídico. Serviços utilidade pública cedidos a empresas estrangeiras (ferrovia do contestado, Percival Farquhar e a Ferrovia Tereza Cristina), serviços públicos com administração direta do estado  e serviços públicos cedidos a empresas públicas (REFFSA – Rede Ferroviária Federal e o exemplo mais pitoresco a Mafersa).

    Nossa economia recheada de capacidade ociosa e em paralelo com setores subcapitalistas. A capacidade ociosa é comandada pelo incentiva privada (industria automobilística, capacidade pela metade) e os último pelo estado. Ou seja na capacidade ociosa tem que gerar poupança,  e o estado,nos setores subcapitalizados, gerar investimentos. Lembrando à la Keynes, Marx, Kalecki, Rangel poupança e investimento são irmãos siameses. Se não houver financeirização ambos não se materializam e a crise chega e como epifenômeno a inflação aparece. Ou o tomate é o gerador da inflação?
    Isso não quer dizer que as concessões sejam generalizada por todo setor público. Ora a luta de classes existe em alguns formatos (Capital x trabalho, trabalho x trabalho, capital x capital), ora a luta capital x capital (industriais x financeiros), os primeiros exigem a estatização do comercio exterior e os segundo querem continuar mamando como estão até agora. 

    Assim como na natureza, na economia há leis e isso é independente da vontade dos homens. O Brasil de 1930 à 1980 cresceu 27 vezes sua indústria e se fomos ver bem de perto, a industria de automóveis, todos estrangeiras, com a medida 113 da SUMOC, deu ao país uma gigantesca indústria de auto peças (COFAP, etc). Então demonizar avanços de desenvolvimento é negar historicamente as lutas de classes, em suas várias modalidades, que ocorrem e ocorreram no
    Brasil.

  8. a) não existe construção ou desfiguração da realidade para reafirmar o marxismo leninismo, apenas uma caracterização bem modesta de elementos concretos; Se não se sabe o que é o marxismo leninismo pode-se consultar: O Pensamento de Lenine do Levebvre; A formação social como categoria e método de Milton Santos; formação econômica e social de Emílio Sereni; além de toda obra de Arrmen Mamigonian.

    b) não se trata de se estar na contramão da luta anticapitalista, muito pelo contrário, não vejo as lutas dos movimentos sociais brasileiro como anticapitalista. O que tenho visto é uma aristocracia trabalhista no poder; e uma massa pequeno burguesa urbana que é reformista, a la socialismo clerical, solidário e do bem estar social. O movimento reformista no Brasil é aquele da agonia urbana, é ambicioso, quer altos salários e não a superação dele. Não quer romper com as relações capitalistas, nem abrir mão do bem estar relativo que o capital produziu até então. Trata-se de uma esquerdinha criativa porém reformista e “suave”, que utiliza conceitos vagos do tipo “não violência” na sua pseudo luta. Sem o entendimentos das articulações econômicas e políticas os movimentos não chegarão nem a atravessar a avenida Brasil, tão menos serão anticapitalistas.

  9. Engraçado, nesse site só vejo ensaios que criticam a esquerda marxista. Não vejo ensaios criticando o neoliberalismo e o neofascismo. Me parece coisa de quinta coluna ou de ‘terceira posição’

  10. André,
    Sugerimos-lhe que consulte as tags/etiquetas «Capitalismo», «Economia», «Extrema-Direita», «Nacionalismo» e o dossiê «Nunca Antes na História deste País». Encontrará um bom número de artigos sobre o fascismo e o neofascismo, tal como sobre o neoliberalismo.

  11. O marxismo-leninismo eu sei muito bem o que é. O que fiz foi ironizar com o termo «marxismo-leninismo científico», utilizado no artigo. Enfim… Ter que explicar o que está bem claro, pelo menos para quem sabe ler e escrever em português, é desapontante.

    Talvez o Paulo Henrique Schlickmann queira, então, nos esclarecer, a todos nós, sobre como é que se pode «romper com as relações capitalistas», o que, segundo ele, os movimentos sociais brasileiros, a «esquerdinha criativa porém reformista e “suave”», são incapazes de fazer.

    Essa acusação de reformismo é, quase sempre, feita por representantes da esquerda ortodoxa, a qual merece, e muito, ser criticada, tanto quanto os fascistas, os neoliberais e os neofascistas. Mesmo porque uma observação da ideologia e das práticas dessa esquerda possibilita encontrar momentos de convergência entre esta e aqueles.

    Agora, essa falsa dicotomia entre reforma e revolução foi criticada – numa obra que já é, hoje, um dinossauro, mas que continua útil – por Rosa Luxemburgo: «lutar dia a dia, no interior do próprio sistema existente, pelas reformas, pela melhoria da situação dos trabalhadores, pelas instituições democráticas, é o único processo de iniciar a luta de classes proletária e de se orientar para o seu objetivo final, quer dizer: trabalhar para conquistar o poder político e abolir o sistema salarial. […] a luta pela reforma social é o meio, a revolução social é o fim (Rosa Luxemburgo, “Reforma social ou revolução?”, São Paulo: Global, 1986, p. 23).»

    Caso contrário, como é que vamos fazer, então, a revolução? Desenhando um “projeto nacional de desenvolvimento”, um que seja “novo”? Descobrindo pontos de estrangulamento na economia nacional? E para quê? Ou será que o faremos concedendo serviços de utilidade para a iniciativa privada? A concessão de serviços de utilidade pública para a iniciativa privada, por exemplo, faz parte de uma estratégia de busca de novas fontes de acumulação para o setor privado; de introdução de processos de trabalho melhor monitorados e com uso de tecnologias mais avançadas, capazes de incrementar a produtividade do trabalhador e, por conseguinte, de incrementar a sua exploração pelo capital; de aumento da soberania das grandes corporações em detrimento do Estado; de enfraquecimento do sindicalismo do setor público; de precarização dos contratos de trabalho e de ataque a benefícios trabalhistas, conquistados a duras penas… Como é que tudo isso contribui para a revolução eu não sei. Me parece que contribui para manter inalterado o sistema de trabalho e as relações de poder vigentes.

    Os autores do artigo, todavia, parecem mais interessados em refletir sobre a melhor maneira de se gerir o capitalismo – tal como já o fazem empresários, administradores de empresas, técnicos, burocratas e políticos profissionais – ou, talvez, em se mostrarem qualificados para fazê-lo. Na contramão vem, geralmente, a «esquerdinha criativa porém reformista e “suave”».

  12. Os autores dizem com todas as letras que o melhor para o trabalhador é o capitalismo. E que os dotados do “marxismo-leninismo cientifico” tem a melhor maneira para gerir o capitalismo.

    Ora, o discurso denuncia seu carácter de classe. Trata-se da classe dos gestores em que muito bem foi desvelada na esquerda marxista ortodoxa através da série de artigos de João Valente Aguiar aqui: http://passapalavra.info/2013/09/85889

  13. Por Paulo Henrique Schlickmann e Roberto César Cunha

    Sempre gostamos de caminhar por terra, ou seja, a partir da terra se chega no céu. O mundo é como ele é e não como gostaríamos que fosse.
    Um país que já teve séculos de escravidão, ainda possui fulcros de servidão e hoje uma grande massa de assalariados e dizer que que o capitalismo é melhor para o trabalhador é no mínimo redundante. Não somos fãs do Gramsci, mas reconhecemos suas virtudes em: ¨Americanismo e fordismo¨ e seu carácter progressista. A ¨pobreza¨ não tem haver com a riqueza de poucos como diz toda esquerda burra. Não podemos mensurar pobreza e riqueza simplesmente apenas pela sociedade humana. Quando se trata de Brasil, é preciso ter em mente que riqueza ¨social¨ é tudo aquilo que é gerado com ampla divisão do trabalho. E essa produção de riqueza ¨social¨ não é puramente social, requer relações entre a sociedade e um elemento que tem suas próprias leis: a natureza. A distribuição da riqueza é estritamente social e só há distribuição se houver meios de transportes (matéria-prima, mercadorias, mão-de-obra tem que se movimentar) e só existe divisão do trabalho se houver infraestrutura e fábricas, e isso representa acúmulo de capital. A produção da riqueza é diretamente proporcional ao domínio das ciências da natureza, biologia, química e física. No Maranhão, com fulcros visíveis de modo de produção medieval, não consegui se quer fazer uma máquina de quebrar o coco babaçú sem quebrar as amêndoas para avançar internamente nas relações sociais de produção. Por outro lado, no sul do estado, temos uma divisão do trabalho superior, Capitalismo financeiro (com engenharias financeiras de ponto e biotecnologia avançada), onde não há limites entre rural-urbano, campo-cidade, assalariamento, etc. No Maranhão (um peão no xadrez Brasil) o processo de formação de capital é lento e gradual, devido, mix de relações atrasadas e dinâmicas, com isso o capital social é consumido improdutividade (ver o alto consumo em luxos importados da burguesia) e a parte não consumida não é aplicada na produção (sem investimentos em equipamentos nas subsidiários da Vale e Alumar). O lado dinâmico do Maranhão é interessante. A agricultura de ponta no sul é um gigantesco potencial instalado e não instalado, mas é tragado pelo desfavorável comércio exterior do estado. As possibilidades são muitas, hoje o varejo é a bola da vez, e o estado tem vários estabelecimentos genuinamente maranhense, isso prova que nossos empresários são dinâmicos à la Delmiro Gouveia. O mercado interno foi historicamente prejudicado pela superpopulação rural e depois da abertura do complexo rural a superpopulação nas grandes cidades des-subempregada. O crédito, uma prática milenar ainda é o melhor forma de inversões nas forças produtivas. Não entender como funciona o mecanismo de economia nacional é não entender a composição das classes sociais. E isso acarreta confundir ¨black Bloc¨ com massa trabalhadora assalariada consciente, isso é confundir expropriação dos meios de produção com guerrilha urbana e simplesmente confundir o céu com a terra. Produção, Circulação, Distribuição e Consumo gera confusão quando isolados. São uma totalidade indivisível, portanto, a produtividade refletirá na distribuição e no consumo; porém não fará diferença caso tenha data marcada para iniciar a revolução da nova reforma do capital, que refletirá apenas ao capital e a sua ideologia dominante (ou os maiores vitoriosos das manifestações no Brasil não é o monopólio da informação e imprensa?). E gera confusão através de escolhas que fazemos, por exemplo, preferir o ¨Que Fazer?¨ do Lênin (o céu) do que ¨o Desenvolvimento do Capitalismo da Rússia¨ (a terra), ou ¨O Manifesto Comunista¨ do Marx e Engles (o céu) do que ¨ O Capital¨ (a terra), e “Reforma social ou revolução?¨ da Rosa Luxemburgo (o céu) do que ¨A acumulação do Capital¨ (a terra). Fizemos nossa escolha: a terra.
    Por fim, não fica clara a ironia, a não ser que, não se sabe do que trata marxismo leninismo científico. Nesse sentido presumimos que se trata de um artifício de linguagem, que quando é favorável se sai pela tangente da ironia, não pela capacidade de se fazer entender.

  14. Isso é uma gozação com o Passa Palavra, não me parece que os autores queiram outra coisa.

  15. louvável a valorização da análise econômica.
    no entanto, como escrito político tanto texto quanto comentários dos autores parecem ter mais interesse tomar a análise como uma bússola para a gerência do capital do que para a organização da classe trabalhadora.
    Afastar-se da sedução romântica do socialismo da miséria é justo, lúcido; mas tomar a divisão do trabalho como a lógica da erradicação da miséria é ser mais capitalista que os capitalistas. Uma dialética do esclarecimento lhes cairia bem.

  16. No artigo acima elaborado, foca-se a obra de Alvaro Cunhal, mas toda a obra do camarada Alvaro Cunhal, foi elaborada especificamente à realidade Portuguesa, e nunca pertendeu que o seu trabalho teórico fosse adoptado a outro tipo de realidades sociais, políticas e económicas. A análise da realidade da Sociedade Brasileira terá e deverá ser feita pelos Comunistas Brasileiros, porque um dos princípios MARXISTAS-LENINISTAS, é para cada situação concreta, uma resposta concreta. A grande virtude do camarada Alvaro Cunhal, foi partindo da realidade da sociedade fascista que então se vivia em Portugal, propor medidas e propostas, que no desenvolvimento da REVOLUÇÃO DO 25 DE ABRIL, se vieram a provar que eram ajustadas. Eu sendo Militante do Partido Comunista Português, tal como o meu saudoso camarada, e todo o Partido Comunista Português, sempre defendemos que cada Partido Irmão, deverá ser autonomo nas sua acção e nas questões programáticas. Os camaradas sabem perfeitamente, que o nosso Partido, sendo Patriótico, é intrinsecamente INTERNACIONALISTA, e desde sempre fomos somos e seremos solidários duma forma activa com todos os outros Partidos irmãos e as lutas dos respectivos povos. E sendo nós tanto programáticamente, como na acção profundamente MARXISTAS-LENINISTAS sabemos que como os grandes teóricos MARX e ENGELS, a teoria por eles descoberta o MARXISMO que diziam que a sua teoria não era um dogma, mas um guia para a acção, e portanto partindo desse princípio devemos utilizá-lo dialéticamente, e temos que partir da realidade, indo à raíz do problema, que é o capitalismo, para encontrar a resposta concreta e que solucione o problema, que é a realização da REVOLUÇÃO SOCIALISTA, IMPONDO A DITADURA REVOLUCIONÁRIA DO PROLETARIADO E DO CAMPESINATO, CONSTRUINDO A SOCIEDADE SOCIALISTA E COMUNISTA. Tambem não deveremos esquecer este principio de LENIN, de que todos os países virão ao SOCIALISMO de maneiras diferentes, tendo em conta o seu desenvolvimento económico, social, político e fundamentalmente a consciência das massas populares. Para terminar camarada gostaria de afirmar que tanto o nosso camarada Alvaro Cunhal, bem como todo o Partido Comunista Português não pertendemos ter um sentimento de superioridade em relação a qualquer outro Partido Irmão, portanto camarada contarás sempre com a mais activa solidariedade COMUNISTA do PARTIDO COMUNISTA PORTUGUÊS, BEM COM A TODOS OS PARTIDOS IRMÃOS E REVOLUCINÁRIOS. VIVA O SOCIALISMO E O COMUNISMO.

  17. Um mínimo de coerência exigiria que o título dessa catadupa de baboseiras fosse DA INFUNGABILIDADE DO MIASMÁTICO DIAMAT EXCREMENTÍCIO.

  18. Texto vigoroso. Um alívio em meio a mesmice da esquerda atual, com seus chavões que já não dizem mais nada. Texto vigoroso, em estilo e conteúdo.

  19. Fiquei me perguntando o porque deste caras publicarem ESTE texto NESTE site. Pensei que queriam causar um polemicazinha só para ter o que fazer na internet durante o verão.
    Mas aí um passarinho me lembrou que nada se faz a toa nesse mundo. Pois bem, é só acessar os links abaixo ir na sessão “produção bibliográfica” e ver a questão DA INFUNGIBILIDADE DO ACADEMICISMO-PICARETA CIENTÍFICO.

    http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=S4970377

    http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4256910H4

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