Alunos são proibidos de participar do grêmio

Tirem suas mãos dos nossos grêmios!

Um grupo de alunos da Escola Estadual Dr. Ayres Neto, que fica no Parque Dorotéia, Zona Sul de São Paulo, foram proibidos de participar do grêmio estudantil. Eles faziam parte da chapa Resistência, que pretendia disputar as eleições para a entidade. Mas segundo o professor que coordena as atividades do grêmio, a chapa Resistência não poderia participar porque seus membros não eram “Ficha Limpa”, isto é, eram considerados alunos “problemáticos” para a escola. Inconformados, os alunos escreveram uma carta aberta pedindo esclarecimentos sobre a exclusão deles do processo eleitoral (veja abaixo um trecho da carta).


Diante da pressão dos alunos, o tal professor mudou de discurso, afirmando que na verdade eles podiam participar do grêmio sim, mas que o prazo para as inscrições de chapas já havia passado. Mas os alunos não caíram nessa conversa afiada e decidiram continuar com a chapa e disputar as eleições de forma paralela. Divulgaram suas propostas e denunciaram a exclusão da chapa deles, defendendo a independência do grêmio perante a direção. Em forma de protesto, os alunos escreveram “Resistência” na cédula de votação.
Na apuração, veio a surpresa! A chapa Resistência ficou em 2° lugar, com mais de 450 votos. Os alunos haviam entendido a mensagem e mandaram um recado para a direção da escola: só eles tinham o direito de escolher quem faria parte do grêmio!
Os alunos da Resistência não conseguiram anular a eleição, mas moralmente foram vitoriosos. Ridicularizaram completamente a farsa eleitoral que haviam montado contra eles. E eles prometem continuar lutando, fazendo oposição ao grêmio e cobrando a direção. Estão construindo na prática um grêmio livre, autônomo e democrático!

Trecho da carta à direção:

“Escrevo-vos essa carta para falar do Grêmio Estudantil, principalmente para falar sobre a chapa vetada, a Chapa da Resistência. Quero saber os motivos e os porquês de a nossa chapa ter sido vetada, na realidade o que quero é conversar com a direção ou com o organizador do Grêmio para entender melhor e saber por que a chapa foi banida da eleição…

O Grêmio Estudantil é um direito previsto na LEI Nº 7.398, de 4 de Novembro de 1985, sancionada pelo então Presidente José Sarney. Também há no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) alguns capítulos falando sobre os direitos das Crianças e Adolescentes e dentre deles está o direito de organização e participação em entidades estudantis como o Grêmio…

A escola deve sim colocar limites nos seus alunos e zelar pela ordem e hierarquia (direção, coordenação, professores, funcionários, alunos), mas em nenhum momento pode interferir na livre associação do Grêmio. Quem deve decidir isso tudo é nada mais, nada menos que todos os alunos, eles vão decidir quem é bom ou ruim para assumir o cargo do Grêmio, o que não é o caso de meus colegas da Chapa. A diretoria também deve deixar o Grêmio ter autonomia e não manipular ou forjar por trás as suas decisões. Se não, de nada vai adiantar vivermos num país democrático e ouvir nas aulas de Filosofia e História que somos seres livres e políticos, sendo que a escola fala isso mais não nos dá nenhuma noção disso na prática.
Espero que esse Grêmio seja realmente para colaborar com alunos e com seus problemas, não para ser manipulado, para ser uma forma de “status” para escola ou qualquer outra coisa. Espero também que aceite nossa Chapa como oficial. Não estamos pedindo regalias e sim o direito de pedir o voto dos nossos colegas de escola sem repressão. Se vocês quiserem ouvir nossas propostas eu e meus parceiros de Chapa estarão ao dispor de vocês de manhã ou à noite, para uma conversa civilizada, sem gritos, sem histeria. Se não continuaremos resistindo sem a ajuda de vocês.
Bom Dia!

Publicado no jornal O Mal Educado.

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