Era o primeiro congresso estadual daquele partido após as manifestações de junho. Um dirigente toma a palavra: ”Queria parabenizar a nossa juventude, que se destacou na onda de mobilizações, mostrando que nosso partido é uma alternativa para a mudança… Queria parabenizar sobretudo os dirigentes da juventude, que roubaram a cena das manifestações, deram várias entrevistas à jornalistas da TV…” Pois é, pensei comigo, se um deles teve algum tipo destaque só pode ter sido roubando a cena das manifestações mesmo. Passa Palavra

4 COMENTÁRIOS

  1. Quatro memórias cariocas despertadas por esse relato

    dia 1 (acho que 17 de junho): Passando pela coluna dos Partidos, onde havia um carro e um megafone, ouço partidários dizendo que devem pensar bem em qual grito de guerra entoar, já que eles eram os “dirigentes de tudo isso aqui”. 400 mts depois um não-partidário tenta entoar um grito de guerra por si mesmo, os partidários tentam retomar o megafone, o megafone quebra no meio da pancadaria, e a massa passa então a entoar gritos de guerra por si mesma, sem megafone.

    dia 2 (20 de junho, o dia que a repressão interna comeu, via P2 e protofascistasordemeprogresso contra bandeiras levantadas): Depois de aguentar a pancadaria com gente sem farda por 50 minutos o caminhão do Partido (salvo engano Psol) finalmente percebe que o pau comia em sua traseira e, e, than than than than ordena que os partidários baixem as bandeiras para “evitar que alguém se machuque”. Os obedientes baixam, os fascistas ganham moral com essa “vitória” e, than than than, espancam vários dos que saem em disparada separados. No meio do desespero vejo o Partidário do dia 17 perseguindo uma jornalista da Record, como quem não quer nada, até que ela e o cameramen colocam ao vivo e o partidário dá entrevista, fingindo que foi coincidência estar ali.

    dia 3 (acho que dia 23 de junho): Primeira passeata depois do dia 20, Partidos, centrais sindicais e movimentos sociais presentes, Assembléia com 3 mil pessoas no dia anterior havia definido trajeto, bandeiras erguidas e sensação de purificação depois do estranhamento da micareta do dia 20 com todo aquele verdeamarelo e cheiro de gel e perfume. No meio do caminho movimentos organizados erram o trajeto. Dos 40 mil presentes cerca de 15 seguem o trajeto conforme tirado em Assembléia. Buscando avisar os organziados que o trajeto era à esquerda, descubro que não foi erro algum, e sim que os partidos haviam “analisado a situação, percebido o número alto de contingente policial no local de destino da passeata e optado por não completar o trajeto a fim de preservar a integridade física de seus militantes”. Pergunto: e a integridade física de toda aquela gente ali? (aponto pras pessoas seguindo o trajeto tirado) Ao que o dirigente me responde: “O quê, tem gente do Partido lá?” Abro a boca, reviro os olhos pra cima e sigo em direção à massa desorganizada cuja integridade física vale menos que a dos militantes (em debates posteriores partidários chegaram a confirmar que essa é a ideia). Quando passa por outro aglomerado de partidários ainda tenho tempo da cereja do bolo. Ouço outro dirigente ao microfone: “Eu queria parabenizar os nossos militantes que fizeram essa passeata linda, mostrando que o espírito de 17 está vivo e que onde houver luta ali estaremos”.

    dia 4: Agosto de 2014: amiga partidária me conta que está lendo os materiais pra uma reunião do partido.
    – Que tema?
    – Balanço da atuação do partido em junho”.
    – De 2013?
    – É claro, teve outro?
    – E qual foi o balanço?
    – Não posso te contar, você não é do Partido. Só posso te dizer que o balanço foi positivo.

  2. ESPETACULOSE:
    É a [in]variante pós-moderna, tardobolchevique, do substituísmo recuperador.

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