Ele, que revisava seus escritos a cada nova notícia de jornal, curiosamente escreveu livros cujo conteúdo é repetido como se tratasse do eterno. Por Pablo Polese

BzRyeP2IIAAKQtzKarl Marx foi um pensador nascido em 1818 que passou tanto tempo sentado estudando que teve furúnculos na bunda. Ao que tudo indica, portanto, Marx era de carne e osso. Apreciador de um bom cachimbo, tinha no canto da mesa de estudos uma pilha de 30 centímetros de altura de fósforos usados. Costumava se concentrar a tal ponto com a leitura que seu cachimbo se apagava inúmeras vezes, constantemente forçando-o a reacendê-lo,​ não sem reclamar consigo mesmo. Quando o médico lhe receitou maneirar na dose de trabalho sem interrupção, ele voltou para casa e seguiu a rotina de trabalho de antes. Marx foi um velho teimoso e resmungão. A curiosa corrosão do carpete do quarto de estudos de Marx, formando um círculo, se explicava pelo fato de que, não aguentando se sentar, Marx seguia o ritmo de trabalho lendo em pé. Assim que conseguisse usar a cadeira e empunhar sua pena (sim, pena de ganso, e só no fim da vida uma embrionária forma de caneta-tinteiro) aquilo que ele estava a ler enquanto andava em círculos seria destroçado por sua poderosa capacidade crítica. Marx construiu sua teoria escrevendo com uma pena e sem ler nenhum marxista, salvo o camarada Engels. Imaginem só que loucura!

Marx teve um filho com a criada da família, filho este que Engels assumiu e que foi dado à adoção. Marx foi um canalha com a esposa, o amigo, o filho Freddy Demuth e a amante. Mas nem todo canalha é pura canalhice. Para entreter as filhas durante longos passeios ou viagens de carroça Marx narrava apaixonadamente combates épicos e tragédias gregas, fazia barquinhos de papel e os incendiava ilustrando as histórias. As filhas adoravam. Marx foi pai numa época em que não existia televisão. Quando morreram quatro dos sete filhos que teve com sua camarada Jenny, Marx se apegou ainda mais à amada para se reerguer e seguir sua luta, e quando chegou a vez de também ela partir, em 1881, o implacável militante comunista adoeceu e nunca mais se recuperou, falecendo 15 meses depois. Além de cérebro, Marx tinha coração.

mental6-6fComo homem de carne e osso que tinha furúnculos,​ um poderoso cérebro e um enorme coração, Marx viu o mundo com sensibilidade e por isso foi comunista. Em sua prática política, elaborou textos e comprou brigas homéricas em uma época em que não havia Facebook e algumas disputas eram feitas na forma de duelos de espadas para salvaguardar a honra de cavalheiros que compartilhavam o amor de uma mesma dama, por exemplo. É de se avaliar o quanto os produtores de espadas, adagas e caixões não devem odiar a trilogia da desavença moderna: curtir, comentar, compartilhar. E nesse tempo estranho, no entanto, Marx escreveu coisas interessantes,​ que até hoje se lê com certo fascínio entre um post e outro. Por algum motivo, que o poderoso cérebro e sensibilidade comunista do gênio e canalha Marx não previu, seu lema “duvidar de tudo” recebeu dos marxistas o acréscimo “exceto do que Marx escreveu”. A luta contra o Capitalismo,​ que ele esperava empolgar e fundamentar cientificamente com seus escritos, foi substituída pela disputa exegética sobre o que Marx publicou e o que era apenas rascunho, o que ele disse, teria dito ou teria pensado em um dia quiçá dizer, se tivesse visto o que não viu, ou lido o que não leu, e foi assim que tudo que ele escreveu, desde livros mil vezes revisados até rascunhos e cartas pedindo uma grana para Engels, terminou, por fim, recebendo não a crítica roedora e sincera dos ratos, mas a adoração cabível à tábua laica dos mil mandamentos.

E foi assim que uma das obras mais críticas e autocríticas do século XIX se converteu no caminho, a verdade e a vida da esquerda: ninguém vai ao Pai senão por mim, classe operária. Ele, que revisava seus escritos a cada nova notícia de jornal, curiosamente escreveu livros cujo conteúdo é repetido como se tratasse do eterno. E embora tenha acertado em algumas coisas, o homem dos furúnculos dotado de uma poderosa capacidade crítica chegou, dizem as más, muito más línguas, a errar. Dias antes da Comuna de Paris ser implantada ele a considerava algo impossível,​ mas ao que parece este teria sido um único deslize, talvez calúnia da oposição, já que seus escritos previram detalhadamente todo o desdobrar dos séculos posteriores. Escreveu em um tempo em que não existia ainda a eletricidade,​ televisão, cinema, liquidificador,​ geladeira, carro, motocicleta,​ sacolinha de plástico, aparelho de som, computador, celular, internet, celular com televisão, aparelho de som, computador e internet, antitranspirante,​ vibrador de silicone ou rock and roll, mas ainda assim o que aquele velho barbudo escreveu é perfeitamente válido para os dias atuais. Segura essa, Chronus!

existential-marxEnquanto os capitalistas em um carro com ar-condicionado e DVD Blu-Ray pausam o divertido filme antigo de Chaplin e contratam por meio de um aplicativo de celular conectado à internet engenheiros que serão pagos por cartão de crédito para aplicar modelos matemáticos a fim de calcular o ganho de lucratividade decorrente da colocação de uma mulher negra em um cargo de chefia da empresa, a esquerda segue convicta de que apenas o suprassumo da classe trabalhadora, com suas mãos calejadas de suor produtor de mercadorias palpáveis, poderá fazer parar esse sistema abrangente que a tudo integra e condiciona.

Enquanto o Google e Facebook coletam dados capazes de serem compilados de modo a formar um perfil mais preciso do que o relatório de nosso psicólogo ou a memória de nossa mãe, e vendem estes dados para as empresas e governos, a fim de aprimorar tanto a vigilância quanto os métodos de propaganda assentada nos nossos desejos inconscientes,​ a esquerda debate o que é trabalho produtivo e improdutivo em termos de lei da gravidade e tira daí implicações sobre o sujeito revolucionário ter que ter calos nas mãos.

Mas nem só de Marx se faz a extrema-esquerda. Há ainda outra grande tribo, igualmente espelhada em um barbudo, este banguela e fofoqueiro, mas que tanto quanto a outra também procura o camponês sujo de terra e o operário sujo de graxa. Enquanto a tribo do furúnculo aponta o dedo para tudo quanto é lado a tribo do banguela descobre o espelho e trata ela mesma de sujar as mãos de terra e graxa para se sentir infinitamente vândala e rebelde e comprometida com a revolução radical da adoção individual de novos hábitos politicamente corretos.

chickenkarlmarx2E enquanto os gestores unidos pensam estratégias de enraizamento cultural das empresas, de olho no século XXII, a esquerda e suas tribos não tira os olhos do século XIX e passa os dias a buscar os dramatis personæ geneticamente revolucionários para aplicar as receitas emancipatórias que julgam ter sido descobertas por gênios canalhas que há mais de 150 anos tiveram furúnculos, dentes apodrecidos e pensaram criticamente. E enquanto os capitalistas formulam sedutoras antinovilínguas para um mundo dinâmico, as palavras mal-lidas daqueles velhos resmungões geniais que viveram num mundo que não existe mais continuam sendo repetidas como um mantra que a tudo ilumina e aquece. E aqueles que comparam livros e jornais e questionam as palavras dos profetas não passam de pós-modernos reformistas revisionistas desprezíveis. Pois é. Mesmo que só para um dos lados das lutas de classes, o século XIX tem sido um longo século.

11 COMENTÁRIOS

  1. Muito interessante o quanto clamamos pela humanidade no homem e o quanto a condenamos quando a encontramos… Não só os movimentos multiculturalistas são permeados por esta contradição, mas a crítica em geral também…

    É bem verdade que certos olhares do passado não servem mais para interpretar algumas imagens do presente – e, frise-se bem, “imagens” do presente – mas também é certo que muito daqueles olhares pretéritos fundamentam, com considerável margem de precisão, muitas destas imagens atuais. Da mesma forma que a teoria marxista previu a constante produção e acumulação do capital, hoje representada por 99% das riquezas produzidas nas mãos de apenas 1% da população ou que apenas “62 pessoas possuem tanto capital como a metade mais pobre da população mundial” (segundo o relatório da Oxfam 2016), afirmou que essa realidade só teria fim com o próprio fim da luta de classes, ou seja, com uma sociedade sem classes, comunista.

    A título exemplificativo da atualidade de Marx, o tal “gênio canalha que há mais de 150 anos tivera furúnculos”, mesmo sem ter rádio, TV, computador, celular, etc., já afirmava: “Todo homem se dedica a criar para o outro uma necessidade nova para forçá-lo a um novo sacrifício, para colocá-lo numa nova dependência e empurrá-lo para um novo modo de fruição, e desse modo, para a ruína econômica. Cada um busca criar uma força essencial estranha que domina os outros homens para encontrar aí a satisfação de sua própria necessidade egoísta. Com a massa de objetos aumenta também o império de seres estranhos ao qual o homem está submetido e todo o produto novo reforça ainda mais o engano recíproco e a pilhagem mútua” (MARX, Karl. Manuscritos Filosóficos)

    Neste sentido, são pertinentes as observações de algumas ideias de Michael Foucault: (…) é o próprio trabalhador que aparece como uma espécie. (…) Uma economia feita de unidades-empresas (obs minha-modo forma- aparência essência), uma sociedade feita de unidades-empresas: é isso que é, ao mesmo tempo, o princípio de decifração ligado ao liberalismo e sua programação e racionalização tanto de uma sociedade como de uma economia. (…) O homo oeconomicus é um empresário, e um empresário de si mesmo. Essa coisa é tão verdadeira que, praticamente, o objeto de todas as análises que fazem os neoliberais será substituir, a cada instante, o homo oeconomicus parceiro da troca por um homo oeconomicus empresário de si mesmo, sendo ele próprio seu capital, sendo para si mesmo seu produtor, sendo para si mesmo a fonte de [sua] renda. (FOUCAULT, Michel. Nascimento da Biopolítica: curso dado no Collège de France (1977-1978). Martins Fontes, 2008, p.310/311.)

    Assim, se de um lado a instrumentalização do trabalhador vai tomando formas distintas no decorrer da história, estas transformações se operam justamente em virtude da acumulação constante do capital e da luta de classes, aquela mesma revelada há mais de 150 anos, que sob formas diferentes, mantém a mesma essência, portanto, se as lutas emancipatórias da classe trabalhadora reivindicam alguns novos paradigmas, também se fundamentam numa acumulação teórica e histórica imprescindível para a superação da realidade presente:

    “Existe uma coletividade de fazedores, um fluxo do fazer através do tempo e do espaço. O fazer passado (o nosso próprio e o dos outros) se converte no presente nos meios do fazer. Qualquer ato, sem importar quão individual ele pareça, é parte de um coro de fazeres em que toda a humanidade é o coro (ainda que anárquico e discordante). Nossos fazeres estão tão entrelaçados que é impossível dizer onde termina um e começa o outro” (HOLLOWAY, John. Como mudar o mundo sem tomar o poder. São Paulo: Viramundo, 2003, p. 42.).

  2. Caro Padaqui, não condenei a humanidade de Marx, ressaltei a genialidade dele, que pensou criticamente há mais de 150 anos, e se usei com ironia pormenores da vida pessoal dele foi apenas para ressaltar que ele era humano e, portanto, para criticar aqueles que o endeusam e tratam sua teoria de modo ortodoxo e dogmático, bem diferente do modo como ele mesmo tratava tudo que lia. No mais concordo com o sentido da reflexão que vc fez.

  3. Caro Pablo,

    eu havia entendido sua ironia. Mas achei importante ressaltar que, embora haja a necessidade constante, aliás como você bem colocou, de reavaliações da teoria e da práxis de nossas lutas. Infelizmente, segundo meu “olhar”, tenho percebido “olhares”, via de regra, em extremos: ora uma negação ao marxismo, ora uma afirmação incondicional, exatamente nos termos do seu texto.

    E isto me parece um problema sério, especialmente quando nos deparamos com a realidade, como por exemplo, neste exato momento, em que a crise política brasileira parece nos colocar numa “encruzilhada da ordem e da revolta”… somada à crise das esquerdas mundo a fora.

  4. Meu entendimento: fazendo um “resumão”, Marx é tão atual quanto anacrônico. Porque ainda que as tecnologias e, usando os termos do citado de Padaqui, “biotecnologias” estejam hoje a serviço do capitalismo, este apesar de ir para a sua quarta revolução industrial, também ainda é um modelo do século XVIII, pois segue em novas roupagens as teorias de Adam Smith sobre mercantilismo.

    Acho que marxistas não-bíblicos conseguem fazer uma “atualização” da teoria marxiana à luz do século XXI, de certa forma. Mas o que pega mesmo são as resistências de interdisciplinarizar, transversalizar a teoria marxiana com contextos próprios da sociedade atual em prol de um purismo, um academicismo e um sindicalismo que fala somente consigo e com o século XIX.

  5. Caro Pablo,

    Muito Bacana o texto!

    “Ele, que revisava seus escritos a cada nova notícia de jornal, curiosamente escreveu livros cujo conteúdo é repetido como se tratasse do eterno.

    […]

    Por algum motivo, que o poderoso cérebro e sensibilidade comunista do gênio e canalha Marx não previu, seu lema “duvidar de tudo” recebeu dos marxistas o acréscimo “exceto do que Marx escreveu”.

    […]

    E enquanto os capitalistas formulam sedutoras antinovilínguas para um mundo dinâmico, as palavras mal-lidas daqueles velhos resmungões geniais que viveram num mundo que não existe mais continuam sendo repetidas como um mantra que a tudo ilumina e aquece.”

    Lembrei algumas cenas da peça “Vida de Galileu de Brecht” escrita entre 1938-39, manja?

    “Galileu — Meus senhores, a fé na autoridade de
    Aristóteles é uma coisa, e os fatos, que são tangíveis, são outra.
    […] Meus senhores, eu lhes peço com toda a humildade que
    acreditem nos seus olhos.

    O Matemático — Meu caro Galileu, por mais antiquado que pareça ao
    senhor, eu ainda tenho o hábito de ler Aristóteles, e lhe garanto
    que acredito nos meus olhos quando leio.

    Galileu — Eu me acostumei a ver como os senhores de todas as
    faculdades fecham os olhos a todos os fatos, fazendo de conta
    que não houve nada. Eu mostro as minhas observações e eles
    sorriem, eu ofereço o meu telescópio para que vejam, e eles
    citam Aristóteles.”

    Em certa medida, (talvez tu não concorde) suas assertivas estão bastante afinadas com o ensaio o “O novo tempo do mundo: a experiência da história numa era de expectativas decrescentes” recentemente escrito por Paulo Arantes – se pah, tu já conheça o texto.

    A crítica a sociedade burguesa desenvolvida pelo camarada comunista Marx é o que melhor temos hoje. Porém, a necessidade de atualizar (não sei se é a expressão correspondente) suas categorias constantemente é hipotecada por uma esquerda ou por tradições marxistas muito importantes.

    Por ora, isso é sina do nosso tempo. Tempos esses que não deixam de ser “interessantes” por isso.

  6. Quando publiquei meu último texto aqui em meio ao debate sobre a centralidade da tática (ou sei lá o que), temi, pois geralmente a crítica se torna estéril quando toma “partido da dúvida”, tanto que aqueles que querem respostas, se frustram e não encontram o bombom da verdade desejado ao fim da leitura.
    Nunca vou me esquecer que certa vez estando em meio a trotskistas lendo A Revolução Permanente lancei a dúvida hipotética: – Camaradas! – eu disse – Tudo bem… compreendo que a revolução teria que ser internacionalizada e que o destino dela se centrou no triunfo da Revolução Alemã que fracassou… todavia, façamos um breve esforço… Havia duas teorias que, mais que teorias, eram disputas políticas pelo comando do Estado que se formava sobre novas bases – Silêncio constrangedor no ar – sabemos que acabou vencendo a de Bukharin (salvo engano) adotada por Stalin. Mas, se acaso tivesse triunfado a Revolução Permanente quais as bases concretas que possibilitariam que a revolução se espraiasse por mais países? E quais eram as condições que uma Rússia em frangalhos teria para enfrentar isso?
    – Mas, isso é uma falsa questão! Não é o que está em questão aqui – responderam. (Risos).
    Quando li o texto de Polese pude contemplar que há uma nova orientação que não coloca Marx no pedestal, mas reconhece a importância de seu pensamento e método. E, por fim, não me senti mais sozinho! (Risos).

  7. Enquanto uns ficam sentados escrevendo um monte de blá blá blá outros militam e vão pra realidade de fábricas, escolas, bancos. Enquanto uns ficam posando de bom moços escrevendo lindos artigos sobre feminismo outros se prestam a estarem na luta lado a lado com suas companheiras. Enquanto uns vivem de artigos acadêmicos pífios outros procuram entender a vida pois a vivem. SSaia da cadeira e vá pra vida real. Marx assim como Lenin e outros procurou viver ou melhor procurou ir pra realidade pois sabiam que a realidade era fundamental nas suas elaborações. Saia da cadeira.

  8. Texto muito interessante, aponta como muitos reificam tanto Marx quanto Bakunin e como é prejudicial a luta. Afinal, já diziam esses “canalhas” a revolução social deve buscar sua poesia no futuro.

    Abraços

  9. Em um dos prefácios de O Capital, que li sentado em uma cadeira, Marx diz que depois das derrotas das Revoluções de 1848 “foi obrigado a se recolher ao quarto de estudos”. Depois da derrota da Revolução Russa de 1905 Lênin disse que foi obrigado a ir estudar a Ciência da Lógica, de Hegel, a fim de entender melhor a dialética do desenvolvimento e da superação. Talvez eu e muitos outros estejamos com a bunda na cadeira (e olha que nem é o tempo todo, eim?) por conta das últimas derrotas dos últimos anos, por exemplo 2013. Talvez seja melhor estar com a bunda na cadeira tentando entender o por quê das derrotas do que de pé atuando nas organizações assimiladas ao sistema, rumo a repetir pela enésima vez os mesmos erros de sempre, a começar pelo fetiche tarefista e movimentista, num tempo em que a contra-revolução não significa imobilizar a classe, e sim colocá-la em movimento. Daí estar se mexendo não significa lá grande coisa, para além do fato de que sentados nas cadeiras também estamos a nos mexer.

  10. Já dizia cartola: Preste atenção, o mundo é um moinho
    Vai triturar teus sonhos, tão mesquinho
    Vai reduzir as ilusões a pó…

    Também Orwell já alertava os revolucionários para os”moinhos”:

    (…) No terceiro domingo após a expulsão de Bola-de-Neve, os bichos ficaram um tanto surpresos ao ouvirem Napoleão anunciar que o moinho de vento seria, afinal de contas, construído.
    (…)Um domingo de manhã, quando os bichos se reuniram para receber as ordens, Napoleão anunciou sua
    decisão de encetar uma nova política. A partir daquele dia, a Granja dos Bichos passaria a comerciar
    com as da vizinhança; naturalmente, sem qualquer objetivo de lucro, mas com o fito único de obter
    algumas mercadorias urgentemente necessárias. As exigências do moinho de vento deviam sobrepujar
    tudo mais, disse.
    (…) Visão terrível se apresentava aos seus olhos: o
    moinho de vento estava em ruínas.
    (…) Hoje mesmo, de manhã, recomeçamos a construção do moinho de vento e trabalharemos
    por todo o inverno, com sol ou com chuva. Mostraremos a esse traidor miserável que ele não pode
    desfazer nosso traba1ho assim tão facilmente. Lembrem-se, camaradas, não deve haver modificações
    em nossos planos: serão cumpridas à risca. Para a frente, camaradas! Viva o moinho de vento! Viva a
    Granja dos Bichos!
    (…) O moinho de vento afinal, fora concluído com êxito e a granja possuía uma
    debulhadeira e um elevador de feno próprio, e construções novas se haviam erguido. Whymper
    comprara uma aranha. O moinho de vento, entretanto, não era usado para gerar energia elétrica.
    Usavam-no para moer cereais, coisa que dava bom dinheiro.(…)

    O fetiche tarefista e movimentista, como bem colocou o Pablo, muitas vezes, ergue os moinhos que nos trituram…

  11. Devia ser leitura obrigatória em todo curso de sociais e de formação de militantes, visto que é tendência dominante a criação e propagação de ídolos, incriticáveis.

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