O desenvolvimento dos Comitês de Fábrica desde 1917 até o início da supressão dessas organizações pelos bolcheviques pouco depois de outubro. Por Peter Rachleff

As possibilidades de desenvolvimento da Revolução Russa de 1917-1921 não foram determinadas pelas concepções das organizações políticas em disputa, mas pelos objetivos e capacidades dos grupos sociais envolvidos. Enquanto toda a população em revolta dividiu o objetivo político da abolição do despotismo czarista, as diferentes classes sociais e grupos tinham por outro lado diferentes necessidades econômicas. A pequena burguesia estava naturalmente interessada em condições que possibilitassem a expansão do capital russo. Os camponeses, a esmagadora maioria, eram forçados a trabalhar os campos dos grandes proprietários de terras e de pagar rendas exorbitantes por pequenos lotes de terra, desejando a expropriação das grandes propriedades e o estabelecimento de um sistema de pequenas propriedades, fazendas privadas próprias. Por outro lado, os trabalhadores, pequenos em número e concentrados nas áreas urbanas da Rússia europeia, foram confrontados por baixos salários, insegurança econômica e condições de trabalho terríveis, problemas que exigiam alguma forma de socialização da indústria e um ambíguo “controle operário da produção”.

Esses objetivos eram mutuamente incompatíveis. Além do óbvio conflito entre trabalhadores e burguesia, um sector agrícola capitalista organizado não poderia coexistir com um pequeno setor industrial socializado. Devido ao baixo nível de produtividade agrária, um mercado agrícola de pequena escala fornecia uma base insuficiente para o desenvolvimento da indústria, além de flutuações violentas de ano para ano que impediam o planejamento econômico.

Os objetivos políticos compartilhados pelas grandes classes sociais poderiam ser realizados. Mas não apenas os seus objetivos econômicos eram incompatíveis, como nenhum deles poderia servir como o princípio organizacional para toda a sociedade. A sociedade regulada pelos desejos e necessidades dos trabalhadores foi descartada pela sua posição de minoria, enquanto a economia de mercado capitalista foi impossibilitada pela fraqueza da burguesia e sua dependência do Estado, a desorganização, a pobreza e o analfabetismo do campesinato e, finalmente, pela força política alcançada pelo partido bolchevique depois de 1917.

“Política” e “economia” não são fenômenos distintos, mas diferentes aspectos das relações sociais de poder. A questão da forma política a emergir do processo revolucionário era para ser decidida pela conquista do poder social e, portanto, econômico por um dos grupos que competiam naquele cenário. Como se viu, esta não foi realizada nem pela burguesia, nem pelo campesinato, nem pelo proletariado, mas pela fração da intelligentsia, que é formada pelos membros do Partido Comunista. A façanha dos bolcheviques era definir uma nova estrutura social pela subordinação da economia à esfera política por eles controlada, realizada através da tomada do poder como classe dominante sobre capitalistas, camponeses e trabalhadores. Antes deles conseguirem tal objetivo, montados sobre as ondas de rebelião e de organização popular, os trabalhadores russos foram capazes de desenvolver formas de luta e de reconstrução social que transcendiam em importância as limitações do local e do momento em que surgiram. O seguinte artigo traça brevemente a história dos dois tipos de instituições – os sovietes e os comitês de fábrica – que continuam a ser de maior interesse para os revolucionários de hoje.

O desenvolvimento capitalista na Rússia antes da Primeira Guerra Mundial tinha assumido uma forma bastante semelhante ao que existe em muitos países subdesenvolvidos hoje. Quase toda a indústria estava sob o controle do capital estrangeiro e localizava-se em algumas áreas urbanas. Embora a classe trabalhadora fosse extremamente pequena em relação à população total (a estimativa de 10% por Trotsky é a mais alta de todas as contas), a indústria – e, portanto, a classe trabalhadora – era muito concentrada. A maioria das fábricas eram grandes e construídas ao longo de modernas linhas. A classe operária tinha crescido rapidamente nas três décadas anteriores à guerra, e um sentido de classe vinha desenvolvendo aos trancos e barrancos desde a virada do século.

Ao longo do final do século XIX, trabalhadores industriais russos muitas vezes gastavam apenas parte do ano nas áreas urbanas, ganhando seu sustento nas fábricas. Eles também passavam parte do ano em suas antigas aldeias, trabalhando a terra, e os seus laços primários permaneciam com suas atividades agrícolas e vida da aldeia. No entanto, o rápido desenvolvimento da indústria viabilizou logo o emprego durante todo o ano sempre de um maior número de trabalhadores. Eles e suas famílias se mudaram para as áreas urbanas, quebrando seus antigos laços rurais e locais. Entre 1885 e 1897, a população urbana cresceu 33,8%, e Moscou, por exemplo, cresceu 123%.[1] Essas pessoas começaram a pensar a si mesmas principalmente como trabalhadores, não mais como camponeses que trabalhavam parte do ano nas fábricas. Seus problemas não eram mais os de endividamento, para com os senhores de terras, ou ligados à agricultura, mas tornaram-se aqueles relacionados a salários, a condições de trabalho e custos das necessidades da vida. A falta de uma tradição artesanal contribuiu para o crescimento deste novo sentimento de pertença a uma classe trabalhadora, pois as divisões entre os trabalhadores eram poucas e a maioria enfrentava problemas semelhantes. Concentrados juntos em grandes fábricas, vivendo juntos em áreas de crescimento urbano acelerado, os trabalhadores descobriram que compartilhavam um conjunto muito específico de problemas, bastante diferentes dos de sua existência rural anterior. Desta forma, um novo sentido da classe cresceu junto com a indústria russa.

Os acontecimentos de 1905 foram possíveis graças ao desenvolvimento deste sentimento de classe, e estimulou-o. Mais de 100.000 trabalhadores fabris de São Petersburgo tinham entrado em greve em janeiro daquele ano. Poucos dias depois, os trabalhadores e suas famílias protestaram contra as condições de fábrica e sua falta de representação política, apresentando uma petição ao czar, pedindo-lhe para aliviar seus problemas e conceder-lhes uma Assembleia Constituinte. A manifestação em frente ao seu Palácio foi alvo de tiros pelos soldados do czar. Greves de massas se espalharam por todas as cidades industriais do país, envolvendo mais de 1 milhão de pessoas ao longo de um período de dois meses, atingindo, pelo menos 122 cidades e localidades.[2] Greves, manifestações e reuniões públicas continuaram esporadicamente durante os meses da primavera e do verão, apesar da severa repressão. Trabalhadores elegeram comitês em todas as áreas urbanas para organizar as greves.[3]

Em meados de setembro, tipógrafos e impressores em Moscou lançaram uma greve de toda a indústria. Mais de 50 estabelecimentos foram fechados. Outras indústrias na cidade começaram a fechar em apoio aos tipógrafos. No início de outubro, tipógrafos em São Petersburgo iniciaram uma greve de três dias para mostrar a sua solidariedade com os companheiros trabalhadores de Moscou. No final da primeira semana deste mês, os trabalhadores ferroviários em toda a Rússia europeia decidiram entrar em greve, e apelaram a uma greve geral nacional, exigindo jornada de oito horas, liberdades civis, anistia e uma Assembleia Constituinte. A greve começou a se espalhar em todas as áreas urbanas, conseguindo parar todas as atividades produtivas por 12 dias, salvo setores necessários para o sucesso da greve, tais como tipografias, trens carregados de delegados dos trabalhadores etc. O governo respondeu com concessões e repressão.

Iniciando em 10 de outubro, as fábricas em São Petersburgo começaram a enviar delegados às reuniões do que viria a se tornar o Soviete. No início, não mais do que 30 ou 40 delegados participaram. Em 13 de outubro eles enviaram um chamado para uma greve geral política, leia-se, para uma Assembleia Constituinte e sobre os direitos políticos, solicitando para todas as fábricas o envio de delegados. Trabalhadores imediatamente compreenderam os princípios de tal representação com base nos locais de trabalho. Existiam as experiências de envio de representantes da fábrica à Comissão de Shidlovski (que estava estudando as condições de fábrica) e os comitês de greve dos últimos nove meses sobre os quais se inspiravam. Anweiler escreve:

Quando a onda de greves se propagou de Moscou a São Petersburgo, e quando, em 11 de outubro, as primeiras fábricas pararam de funcionar, os trabalhadores sentiram a necessidade de reunirem-se a fim de decidir em comum o caminho a seguir. Foi com esta finalidade que os delegados foram eleitos em várias fábricas – Putilov e Obukhov trabalhando entre os delegados, – dos quais mais do que um deles tinha sido membro da comissão de greve ou um ex-representante da Comissão de Shidlovski.[4]

Mais e mais delegados foram eleitos. Dentro de três dias havia 226 delegados representando 96 fábricas e oficinas (o princípio era de geralmente um delegado para cada 100 trabalhadores de uma fábrica). Foi decidida a admissão de representantes dos partidos socialistas (bolcheviques, mencheviques e social-revolucionários). Em 17 de outubro, este grupo decidiu pelo o nome de “Soviete de deputados operários” e elegeram uma comissão executiva provisória de 22 membros (dois para cada uma das sete áreas da cidade, dois para cada um dos quatro sindicatos mais importantes) e decidiram por publicar seu próprio jornal, “Notícias do Soviete de deputados operários”. O Soviete, em princípio, não executava nenhuma outra tarefa além de organizar e dirigir a greve, transformando-se ao longo de vários dias em um órgão de representação geral e política dos trabalhadores, no centro do movimento revolucionário da classe operária na capital. Ele rapidamente se tornou um “parlamento dos trabalhadores”, que tentou permanecer mesmo após o término da greve no final de outubro. De acordo com Anweiler, “esta mudança não era nem deliberada ou conscientemente expressa. Depois de ter no seu auge engendrado o Soviete, o movimento revolucionário surgiu, com maior impetuosidade do que nunca, e o órgão que tinha criado o acompanhou em seu caminho.”[5] O Soviete tinha sido formado pela necessidade – a de organizar e manter a greve geral. Ninguém precisava convencer os trabalhadores de que tal organização era crucial.

Organizações semelhantes apareceram em meio a greves em todas as áreas urbanas da Rússia europeia (e em algumas aldeias maiores também), algo entre 40 e 50 delas surgiram em outubro. Embora a maioria só tenha funcionado por um curto período, a sua importância não deve ser subestimada. Esta foi a primeira experiência de democracia direta para a maioria das pessoas envolvidas. Os sovietes foram criados a partir de baixo, pelos trabalhadores, camponeses e soldados, e refletiram seus desejos – que foram expressos em resoluções não-sectárias. Nenhum partido político dominou os sovietes, e muitos trabalhadores se opuseram a permitir a representação dos partidos políticos. De qualquer forma, a maioria dos sovietes foram criados por trabalhadores para resolver os seus problemas imediatos – vencer a greve, a jornada de oito horas e os direitos políticos. Eles se preocupavam com os problemas diários enfrentados pelos trabalhadores.

As concessões do czar (a concessão de um parlamento, a Duma) combinadas com repressão seletiva quebraram a greve e, em seguida, destruíram os sovietes restantes. No entanto, apesar do fracasso aparente, a revolução de 1905 abriu o caminho para os eventos de 1917. Os sovietes haviam sido formados sobre uma base fabril e executou as funções de um parlamento dos trabalhadores, sindicatos e comitês de greve e tinham fornecido aos trabalhadores um senso de autogoverno. Essas experiências iriam ser invocadas em face dos graves problemas de início de 1917, quando os trabalhadores encontraram-se em uma situação de crise social profunda.

Os problemas enfrentados pela população russa no início de 1917 foram graves, de fato. Os efeitos da participação da Rússia na Primeira Guerra Mundial começaram a se tornar insuportáveis. Sua dependência por matérias-primas da Europa ocidental a aleijava. A inflação, a usura e escassez de suprimentos alimentícios atingiram proporções de crise. A produção despencou. O tamanho do projeto levou a uma escassez de mão de obra especializada na indústria e a uma escassez de trabalhadores agrícolas. O combustível se tornou cada vez mais difícil de obter, tanto para uso pessoal (aquecimento) quanto para a produção industrial. Não havia esperança aparente para as massas do povo russo, especialmente a classe trabalhadora industrial. Voline escreve a partir de sua experiência pessoal:

Em janeiro de 1917, a situação tornou-se insustentável. O caos econômico, a pobreza dos trabalhadores e a desorganização social da Rússia eram tão agudas que os habitantes de várias grandes cidades – nomeadamente de Petrogrado – começaram a sofrer não só com a falta de combustível, roupas, carne, manteiga e açúcar, mas até mesmo de pão. Em fevereiro vi as piores condições, não só a população urbana foi condenada à fome, mas o abastecimento do exército tornou-se inteiramente defeituoso. E, ao mesmo tempo, um completo fiasco militar foi alcançado.[6]

Dissensões apareceram no exército e na marinha com o avanço da guerra. Camponeses no exército começaram a se rebelar contra o despotismo dos oficiais e a camaradagem foi desenvolvida entre os recrutas em face da situação militar cada vez pior. As discussões entre trabalhadores e camponeses espalharam-se entre os militares. O início de 1917 viu as forças armadas fervendo de revolta. Em 23 de fevereiro uma greve começou entre as mulheres trabalhadoras têxteis em Petrogrado (ex São Petersburgo). As manifestações, que foram praticamente motins por pão, se distribuíam por toda a cidade. As tropas que tinham esmagado manifestações semelhantes em 1905 recusaram-se a acabar com a revolta, e muitas a ela aderiram. Até o final do mês, após três dias de manifestações espontâneas e uma greve geral, Petrogrado estava nas mãos de sua classe operária. Victor Serge, um participante nos eventos, escreveu:

A revolução surgiu na rua, desceu das fábricas com milhares de trabalhadores em greve, com gritos de “Pão! Pão!” As autoridades viram isso acontecer impotentes; não estava em seu poder superar a crise. A confraternização das tropas com as manifestações de trabalhadores nas ruas de Petrogrado foi consumada com a queda da aristocracia. A velocidade dos acontecimentos surpreendeu as organizações revolucionárias.[7]

Mesmo Trotsky vai longe, ao ponto de admitir que as organizações revolucionárias que agiram em fevereiro foram obstáculos para a classe trabalhadora:

Assim, o fato é que a Revolução de Fevereiro foi iniciada a partir de baixo, vencendo a resistência das suas próprias organizações revolucionárias, a iniciativa foi tomada por conta própria por parte dos mais oprimidos e injustiçados do proletariado – as mulheres trabalhadoras têxteis, entre elas sem dúvidas muitas esposas de soldados.[8]

A revolução se espalhou por toda a Rússia. Camponeses tomaram a terra; a disciplina no exército entrou em colapso; marinheiros tomaram os seus navios no porto de Kronstadt, na costa do Báltico e assumiram aquela cidade; a forma soviete de organização reapareceu, pela primeira, vez em áreas industriais, em seguida, entre soldados, marinheiros e camponeses.

Um governo provisório chegou ao poder quando o czar abdicou. Composto por membros da burguesia e da aristocracia, este grupo em primeiro lugar buscou instituir uma monarquia constitucional. Eles estavam prestes a desistir dessa ideia, mas, independentemente de suas proclamações, leis, debates etc., eles não conseguiram chegar a soluções para os problemas experimentados pela maior parte da população, tanto trabalhadores quanto camponeses. Os sovietes, que tinham surgido em todo o país, eram vistos como o governo legítimo por parte dos trabalhadores, camponeses e soldados, que vieram a eles como parte de seus próprios problemas.

No entanto, um olhar mais atento sobre a formação e organização dos sovietes indica que eles não eram órgãos de massa que ofereciam aos trabalhadores e camponeses os meios para exercer poder sobre suas atividades diárias. O mais famoso de todos os sovietes – e um bom exemplo de sua estrutura organizacional e funcionamento – foi o Soviete de Petrogrado. Esta organização foi formada de cima para baixo por um grupo de intelectuais liberais e radicais que se uniram em 27 de fevereiro e constituíram-se como “Comitê Executivo do Soviete de Petrogrado.”[9] Eles então chamaram as eleições para o próprio Soviete. Em 28 de fevereiro, em resposta a uma proclamação deste “Comitê Executivo”, as eleições foram realizadas nas fábricas. Por volta da uma hora da tarde mais de 120 delegados se reuniram para a plenária. No entanto, esta reunião – e posteriormente as futuras – foi caótica: as credenciais não puderam ser verificadas e pouco pode ser feito. Todas as decisões essenciais foram feitas dentro da “intimidade estrita” do Comitê Executivo.[10] Algumas destas decisões, como a de 02 de março, afirmando que a União Soviética não iria cooperar com o Governo Provisório, foram submetidas ao Soviete para ratificação como um todo. A maioria das decisões, no entanto, não foram encaminhadas.

Sukhanov, jornalista e membro deste Comitê Executivo, descreve o funcionamento deste Soviete:

Até hoje, eu, um membro do Comitê Executivo do Soviete, sou completamente ignorante do que o Soviete estava fazendo no decorrer daquele dia. Nunca me interessou, naquele momento ou mais tarde, porque era evidente que todo o trabalho crucial prático tinha caído sobre os ombros do Comitê Executivo. Quanto ao Soviete naquele momento, na situação dada, com a sua composição quantitativa e qualitativa, era claramente incapaz de qualquer trabalho, mesmo como um Parlamento, e desempenhou funções meramente morais.

O Comitê Executivo teve de realizar por si só todo o trabalho corrente, bem como dar ensejo a um sistema de governo. Em primeiro lugar, passar este programa através do Soviete era claramente uma formalidade; em segundo lugar, essa formalidade não era difícil e ninguém se importava com isso…

“E o que está acontecendo no Soviete?” Lembro-me de pedir a alguém que tinha vindo de trás da cortina. Ele acenou com a mão desesperadamente: “Uma reunião de massa! Qualquer um se levanta e diz o que quiser!”[11]

A característica mais interessante deste Soviete foi a comunicação pessoal entre os delegados dos trabalhadores e dos soldados em um só corpo. A presença de muitos delegados dos soldados deu ao Comitê Executivo mais poder do que ao Governo Provisório, pois contou com o apoio das tropas locais.

Mais de 3.000 delegados eram membros do Soviete no final de Março: dois terços deles eram soldados. Os delegados foram eleitos na base de um representante para 1.000 trabalhadores, um para cada fábrica com menos de 1.000 trabalhadores, e um delegado para cada unidade militar. Em meados de abril, sob sugestão do Comitê Executivo, o Soviete votou a favor de sua reorganização, que por conta do seu tamanho havia se tornado lento e pesado. O novo corpo tinha cerca de 600 membros, metade soldados e metade trabalhadores. Esta reorganização foi realizada por uma comissão especial, designada pelo Comitê Executivo, que enxugou o Soviete através da exclusão de “delegados ocasionais” e de grupos que tinham sido reduzidos em seu tamanho. No entanto, o poder ainda permanecia nas mãos do Comitê Executivo. Esta era a situação desde o início, e continuou a ser o caso em toda a primavera e verão de 1917.[12]

O Comitê Executivo expandiu o seu papel. Ele criou vários comitês para lidar com problemas diferentes – a publicação de jornais, supervisionar vários serviços etc. Com o aumento do número desses comitês, a base do Soviete perdeu mais e mais do seu poder. As reuniões se tornaram menos frequentes e rapidamente o próprio Soviete tornou-se nada mais do que um fórum aberto, onde os trabalhadores e soldados podiam se reunir, expor os seus pontos de vista, conhecer outras pessoas como eles e manter os seus constituintes informados sobre o que estava acontecendo. Ele oferecia às pessoas que nunca tiveram a oportunidade de falar para fora, fazê-lo. Mas ele não representava o poder da classe trabalhadora. Antes de qualquer coisa, ele representava a sua própria impotência.

Este Soviete parece bastante característico dos Sovietes de toda a Rússia – tanto nas áreas urbanas quanto na zona rural. Muitas vezes os trabalhadores ou camponeses entraram em conflito com os seus Sovietes. Nem este órgão nem o governo provisório podem ser considerados como instrumentos de poder da classe trabalhadora. No entanto, os trabalhadores foram capazes de criar um instrumento – a comissão de fábrica.

Considerando que os sovietes eram principalmente preocupados com questões políticas, por exemplo, a estrutura do governo e a continuação da guerra, os comitês de fábrica tratavam unicamente dos problemas da continuidade da produção dentro de suas fábricas. Muitos surgiram em face do lock-out ou tentativa de sabotagem por parte dos proprietários de fábrica. Era através dessas comissões que os trabalhadores esperavam resolver os seus problemas iniciais – como começar a produção mais uma vez, como prover a si e suas famílias no meio do caos econômico. Muitos trabalhadores foram confrontados com a escolha de assumir a produção por eles próprios ou morrer de fome. Outros trabalhadores que tinham relativa certeza que os empregos seriam mantidos foram influenciados tanto pela explosão de atividade que caracterizou a revolução como pelo agravamento da situação econômica. Se fosse para se manterem seguros, eles tinham que ter uma maior influência na gestão de suas fábricas. Eles perceberam que precisavam de organizações ao nível da fábrica para proteger seus interesses e melhorar a própria situação.

Os sindicatos não poderiam ser de nenhuma ajuda nessas questões. Até a virada do século, os sindicatos eram ilegais. A tradição de alianças, que tinha sido um precursor importante do sindicalismo na Europa Ocidental foi escassa, devido ao fato de que a indústria ainda era ainda bastante jovem na Rússia. Apenas dos trabalhadores mais politicamente engajados poderia ser esperado interesse no sindicalismo em condições repressivas, e tais trabalhadores estavam geralmente mais aptos a se juntarem às organizações políticas radicais já existentes. Em 1905, os sindicatos existentes haviam desempenhado um papel insignificante na convulsão. Muitos deles foram esmagados na repressão dos anos seguintes. Apenas uns poucos foram selecionados para continuarem a funcionar, mas apenas sob a supervisão da polícia. Até o momento do levante Fevereiro de 1917 vários sindicatos existiam como organizações nacionais, mas poucos tinham qualquer influência dentro das fábricas. A maioria dos líderes sindicais foram mencheviques, que rejeitaram a noção de que os trabalhadores devem ter uma palavra a dizer sobre os assuntos internos de uma fábrica. Durante os primeiros meses de 1917, a adesão dos sindicatos aumentou de algumas dezenas de milhares de pessoas para 1,5 milhão. A maior parte deste aumento de adesão foi puramente formal, ou seja, tornou-se uma questão de princípio para os trabalhadores radicais pertencer a sindicatos. A atividade real foi representada pela incrível proliferação de comitês de fábrica, órgãos constituídos por e controlado pelos trabalhadores dentro de cada fábrica. Foi através dessas comissões que a maioria dos trabalhadores procuraram resolver os seus problemas.

Estas comissões foram vistas como meios para fornecer a estrutura organizacional através da qual os trabalhadores poderiam enfrentar – e esperançosamente resolver – o seu primeiro problema: a retomada da produção dentro de suas fábricas. Somente através de órgãos como os comitês de fábrica, diretamente controlados por todos os trabalhadores reunidos dentro de uma fábrica, poderiam os trabalhadores desenvolver a organização, a solidariedade e o conhecimento compartilhado necessário para gerenciar a produção. (Como os sovietes estavam preocupados principalmente com as questões “políticas” e porque suas reuniões eram geralmente caóticas, eles ofereceram pouca ajuda para resolver os problemas urgentes dos trabalhadores). Tais comissões apareceram em cada centro industrial em toda a Rússia europeia. A associação a uma comissão somente se constituía por trabalhadores que permaneciam naquela fábrica. A maioria das decisões importantes seriam feitas por uma assembleia geral de todos os trabalhadores da fábrica. Os trabalhadores procuraram manter o seu próprio poder dentro da fábrica a fim de resolver seus problemas preeminentes. Ninguém mais poderia fazer isso por eles. As comissões foram utilizadas pelos trabalhadores nos primeiros meses da revolução para apresentar as suas exigências, e, em alguns casos, para começar a agir com o fim de realizar essas demandas. Paul Avrich descreve o funcionamento de alguns comitês de fábrica nos primeiros meses do levante:

Desde o início, as comissões de trabalhadores não limitaram as suas exigências sobre aumentos de salários e menos horas de trabalho, embora estas questões estivessem no topo de cada lista, o que elas queriam, além de benefícios materiais, era uma voz na gestão. Em 04 de março, por exemplo, os trabalhadores da fábrica de calçados Skorokhod em Petrogrado, de fato, recorreram a seus superiores para que estes lhes concedessem jornada de oito horas e um aumento salarial, incluindo o pagamento do dobro por hora de trabalho extra; mas eles também exigiam o reconhecimento oficial da sua comissão de fábrica e o direito a controlar a contratação e demissão de trabalhadores. No Fábrica Radiotelegráfica de Petrogrado, uma comissão de trabalhadores foi organizada expressamente para “trabalhar fora das regras e normas da vida interna da fábrica”, enquanto outras comissões de fábrica foram eleitas principalmente para controlar as atividades dos diretores, engenheiros e capatazes. Durante a noite, formas incipientes de “controle operário” sobre a produção e distribuição apareceram nas grandes empresas de Petrogrado, em particular as plantas metalúrgicas estatais, dedicadas quase exclusivamente ao esforço de guerra e empregando talvez um quarto dos trabalhadores da capital.[13]

À medida que a situação econômica tornou-se ainda mais grave após a Revolução de Fevereiro (a inflação continuou, a produção estava apenas começando a funcionar, e ainda assim esporadicamente), os trabalhadores mudaram da formulação de exigências em matéria de salários, condições de trabalho e princípios de “controle operário” para realmente assumir a operação de um número cada vez maior de fábricas. Os trabalhadores teriam que agir se fosse para encontrar uma maneira de sair da crise que ia se aprofundando. O problema imediato que confrontou os trabalhadores foi experimentado no nível de fábrica – como começar de novo (sob sua própria direção) a produção de suas fábricas. Uma vez que este problema inicial foi confrontado, e os trabalhadores, através de seus comitês de fábrica, começaram a resolvê-lo – por meio de, em muitos casos, começar do início da produção sob a sua própria gestão – um problema novo e ainda mais difícil apareceu.

Nenhuma fábrica poderia ser autossuficiente. A produção necessária de matérias-primas e produção contínua exige uma estrutura de distribuição. Muitos comitês começaram a competir com os comitês de outras fábricas, tanto para a aquisição de matérias-primas quanto para a distribuição de seus produtos. Uma tal solução para estes graves problemas se mostrou insatisfatória. Nem todas as fábricas poderiam adquirir as matérias-primas necessárias. A concorrência levou para cima os preços das matérias-primas. Mais e mais fábricas que tinham recomeçado a produção apenas recentemente se viram ameaçadas de serem obrigadas a fechar devido à sua incapacidade de obter os materiais necessários e novas máquinas. A necessidade de federação tornou-se visível. Ou seja, os trabalhadores perceberam – alguns um pouco mais rapidamente do que outros – que eles teriam que desenvolver um meio de cooperação e coordenação com os trabalhadores de outras fábricas e regiões: aqueles com fornecimento de matérias-primas, outros que produziam os produtos e aqueles ainda que precisavam de seus produtos. A “propriedade” de uma determinada fábrica pelos seus próprios trabalhadores não podia resolver os problemas econômicos urgentes. Somente um esforço coordenado em larga escala pelos trabalhadores em muitas fábricas poderia fazê-lo. O isolamento de trabalhadores dentro de suas próprias fábricas teria que ser superado, e os trabalhadores viraram-se para os seus comitês de fábrica para criar métodos para operação de uma rede industrial e coordenação regional.

Ao mesmo tempo, o Governo Provisório procurou impor suas próprias ideias sobre a gestão da produção. Ele procurou minar as atividades dos comitês de fábrica, limitando-as a supervisionar as condições de saúde e segurança no interior das plantas fabris. Toda coordenação deveria estar sob a supervisão do Governo Provisório e suas agências. Isto proporcionou outro impulso para os comitês de fábrica se unirem. Sozinhos, eles poderiam ser despojados de seu poder pelo governo. Unidos, eles poderiam apresentar uma força que não poderia ser destruída – a menos que o governo estivesse disposto a parar toda a produção, uma ação bastante improvável. A primeira reunião de um grupo de comitês de fábrica parece ter ocorrido em meados de abril, em Petrogrado. A maior resolução desta conferência foi uma forte reafirmação do direito dos trabalhadores de controlar a vida interna da fábrica em questões “como a duração da jornada de trabalho, salários, contratação e demissão de trabalhadores e empregados, folhas de faltas, etc.”[14] No entanto, não parecem ter sido realizados tantos progressos nas comunicações entre os comitês de fábrica com o objetivo de organizar a produção no nível da rede municipal.

O governo provisório também atuou em abril. No dia 23 daquele mês, estatutos foram promulgados reconhecendo os direitos dos comitês de fábrica para representar os trabalhadores em negociações com a administração e para supervisionar as condições de saúde dentro da fábrica. O objetivo principal desses estatutos era “conter a importância e o papel dos comitês de fábrica e para limitar o seu poder.”[15] Mas o governo provisório não tinha poder para fazer cumprir estes estatutos. Trabalhadores em toda a Rússia reconheceram rapidamente o que o Governo Provisório procurou fazer, e eles responderam com força. De acordo com Pankratova – historiador bolchevique do movimento das comissões de fábrica -, cada grande fábrica e cada grande área urbana foi cenário de atividade espontânea em resposta a esses estatutos. Os trabalhadores rejeitaram os novos regulamentos do governo e tomaram medidas para fortalecer seu próprio poder dentro de suas fábricas. Novas tentativas de comunicação e coordenação entre as fábricas surgiram. Tudo isso não foi somente uma resposta contra as ações do governo, mas também porque a situação econômica continuava a deteriorar-se.[16]

Em 29 de maio, houve uma conferência de comitês de fábrica em Kharkov, que resultou em uma forte afirmação dos princípios da autogestão dos trabalhadores, mas que não conseguiu resolver os graves problemas de coordenação da oferta, produção e distribuição. No dia seguinte, uma conferência de todos os comitês de fábrica em Petrogrado e seus arredores se reuniu na capital. Cerca de 400 representantes dos comitês participaram. Uma declaração que explicava a progressão de eventos até aquele momento foi adotada no decurso da conferência – indicando como esses eram compreendidos pelos trabalhadores que estavam neles envolvidos.

Desde o início da Revolução, as equipes administrativas das fábricas tinham abandonado seus postos. Os operários tinham na prática se tornado os mestres. Para manter as fábricas avançando, os comitês de trabalhadores tiveram de assumir a gestão em suas próprias mãos. Nos primeiros dias da Revolução, em fevereiro e março, os trabalhadores deixaram as fábricas e foram para as ruas. As fábricas pararam de trabalhar. Cerca de quinze dias depois as massas de operários voltaram ao seu trabalho. Eles descobriram que muitas fábricas haviam sido abandonadas. Os gerentes, engenheiros, generais, mecânicos, contramestres tinham razões para acreditar que os operários iriam realizar sua vingança sobre eles, e por isso tinham desaparecido. Os operários tiveram que começar a trabalhar sem pessoal administrativo para guiá-los. Eles tiveram que eleger comissões que gradualmente reestabeleceram um sistema normal de trabalho. As comissões tiveram de encontrar as matérias-primas necessárias e tomar para si todo tipo de funções inesperadas e que não tinham costume fazer.[17]

A resolução final da conferência descreveu os comitês de fábrica como “organizações que lutam, eleitos na base da mais ampla democracia e com uma liderança coletiva”, cujos objetivos eram “a criação de novas condições de trabalho… A organização aprofundada do controle do trabalho sobre a produção e a distribuição”. Além disso, esta resolução também comentou as questões “políticas”, exigindo que houvesse uma “maioria proletária em todas as instituições que tinham poder executivo”.[18]

A conferência procurou ir além de uma mera afirmação dos princípios da autogestão dos trabalhadores para tentar formular planos preliminares para uma maior coordenação da produção. Representantes na conferência voltaram-se para os sindicatos para obter assistência. Como vimos anteriormente neste ensaio, os sindicatos, embora fracos e inconsequentes quanto ao curso dos acontecimentos, até o momento tinham uma estrutura pan-russa (isto é, nacional), que era baseada sobre relações entre indústrias e regiões. Esperava-se, nesta conferência, que esta estrutura pudesse ser aproveitada para coordenar as atividades das bastante desiguais atividades dos comitês. Embora dúvidas fossem expressas sobre a transformação para qualquer outra organização de assistência coordenada (fossem eles partidos políticos, sindicatos, ou qualquer um senão os próprios comitês de fábrica), a gravidade da crise econômica impressionou os representantes sobre a necessidade de ação rápida, e a adoção de uma estrutura já existente pareceu mais fácil do que a criação de uma totalmente nova.

Começando por esta época (ou seja, início de junho), a influência do Partido Bolchevique dentro dos comitês de fábrica passou a crescer. Eles foram um grupo relativamente pequeno de revolucionários profissionais que discutiram, sob a liderança de Lênin, que uma “revolução socialista” seria possível na Rússia. Até o retorno de Lênin do exílio em abril, eram bastante isolados dos eventos que ocorriam. Lênin, no entanto, rapidamente mudou a orientação do partido. Nos primeiros meses da revolução, os bolcheviques vacilaram na questão do controle operário da produção, da divisão de terras entre os camponeses, do apoio ao Governo Provisório, e da continuação da guerra – todas as questões consideradas cruciais pelos trabalhadores e camponeses. Lênin, não sem dificuldade, trouxe o partido em torno de posições claras sobre todas estas questões, e, ao fazê-lo, colocou o seu programa em consonância com as exigências já articulados da classe operária (por exemplo, o controle da produção pelas comissões de fábrica, poder político a ser exercido pelos soviéticos, o fim da participação na Primeira Guerra Mundial) e do campesinato (por exemplo, o fim da guerra e a divisão de terras entre aqueles que nela trabalhavam). Nenhum outro partido político colocou-se abertamente em favor das ações e demandas das massas russas. Assim, em face de tentativas por parte do Governo Provisório para minar suas realizações e as tentativas de ampliar o próprio poder, muitos trabalhadores viram o Partido Bolchevique como um aliado bem-vindo. De acordo com a maioria dos relatos, os bolcheviques eram uma forte influência nesta conferência, favorecendo a união dos comitês de fábrica (para apresentar um contrapoder aos sovietes dominados pelos menchevique).

Dentro de algumas semanas, tornou-se evidente que os comitês de fábrica não podiam contar com os sindicatos para fins de coordenação. No final de junho, houve uma conferência sindical em Petrogrado. Ali ficou claro que os sindicatos desejavam subordinar os comitês de fábrica existentes ao seu controle. Sua concepção de “coordenação” era que os órgãos nacionais deveriam tomar todas as decisões fundamentais em matéria de produção e distribuição, e os comitês de fábrica (que viriam a ser institucionalizados dentro dos sindicatos) deveriam implementar estas decisões. Em outras palavras, “coordenação” através dos sindicatos significaria o controle dos sindicatos.

Até o final de junho, um processo de polarização parecia estar em curso na Rússia. As linhas divisórias não eram nitidamente traçadas, nem foram necessariamente percebidas pelos participantes. A linha mais importante foi a que separou os comitês de fábrica de todas as outras instituições existentes – os sovietes, os sindicatos, os partidos políticos e do Governo Provisório – que estavam todos tentando de diferentes maneiras controlar as comissões. Houve também diferenças óbvias dentro do último grupo procurando estabelecer a sua hegemonia sobre os demais. (Apenas os bolcheviques, entre os partidos, apareceu ao lado das comissões). Os trabalhadores envolvidos nas comissões de fábrica não viram os sovietes como inimigos, mas se desencantaram com as suas vacilações relativas à extensão de controle das comissões sobre toda a produção e sua falta de vontade em confrontar abertamente o Governo Provisório sobre a questão do poder político.

No início de julho, o descontentamento das massas com o Governo Provisório e as suas políticas (a continuação da guerra, suas tentativas de minar os comitês de fábrica) e com o que os sovietes estavam fazendo (ou, mais exatamente, não fazendo) toma forma de violentas manifestações de massa e apreensões de terras camponesas. Em 03 de julho, um grupo de soldados e operários armados invadiu o Soviete de Petrogrado (enquanto um grupo muito maior se manifestava em frente) e atacou seus membros por se comprometerem com a burguesia e hesitarem em tomar o poder do governo provisório. Eles exigiam que todo o poder deveria ser tomado pelos Sovietes, que toda a terra deveria ser nacionalizada, que vários ministros burgueses deveriam ser removidos, e que a participação na guerra deveria terminar.[19] Todo o mês de julho viu manifestações de massa e greves em todas as áreas urbanas do país. O Governo Provisório procurou culpar os bolcheviques por estes distúrbios. Na verdade, os bolcheviques tinham tentado parar algumas destas manifestações, argumentando contra elas em seus diários e exigindo que os membros do partido não participassem. Como resultado, eles passaram a ser vistos com desconfiança por grupos de trabalhadores, e alguns trabalhadores que pertenciam ao partido rasgaram seus cartões do partido por desgosto.

No início de agosto, uma greve geral teve lugar em Moscou apresentando principalmente demandas “políticas” – o fim da guerra e que os sovietes deveriam substituir o Governo Provisório. O Soviete de Moscou opôs-se à greve, sua liderança era ainda hesitante em se colocar uma alternativa para o Governo Provisório. Além disso, em face dos problemas econômicos graves, os Sovietes estavam se tornando cada vez mais preocupados com a continuidade da produção. Esta greve foi organizada pelas comissões de fábrica da cidade, que rapidamente transformaram-se em comitês de greve, “informando e educando os trabalhadores, recolhendo dinheiro, dando subsídios”, e elevando a demanda por controle da produção pelos próprios produtores, exercido através dos comitês de fábrica.[20] A polarização entre os trabalhadores e os sovietes foi acirrada.

Entre o sétimo e o décimo segundo dia de agosto ocorreu a segunda conferência das comissões de fábrica de Petrogrado e áreas circunvizinhas. Esta conferência:

…fez uma tentativa definitiva para a construção de uma eficiente central de trabalhadores dos comitês de fábrica unidos para resolver que 1/4 dos salários dos trabalhadores representados por comitês de fábrica deveria ser posto de lado para apoiar o Soviete Central das Comissões de Fábrica. Isto era para dar ao Soviete Central um meio de apoio, independente do Estado e dos sindicatos.[21]

Houve um consenso de que os sindicatos não poderiam ser usados para organizar e coordenar a produção. Os bolcheviques, que compunham a maioria dos delegados nesta conferência, viram claramente este Soviete Central como um corpo com uma função muito diferente que a mera coordenação. Deveria, na sua opinião, ter considerável poder para tomar decisões em matéria de produção e distribuição, decisões que seriam impostas aos comitês de fábrica.[22] Muitos dos outros delegados viram que tal órgão poderia minar o já existente (e em expansão) controle do processo de produção pelos próprios produtores, tomando de suas mãos decisões importantes. Houve assim, considerável ambivalência sobre a criação deste Soviete Central, que resolveria o problema de coordenação apenas pelo enfraquecimento do poder dos próprios trabalhadores e suas comissões de fábrica. A resolução final, que afirmou que “todos os decretos dos comitês de fábrica eram, em última análise, dependentes das sanções do Conselho Central, e o Conselho poderia abolir qualquer decreto dos comitês de fábrica,”[23] representou uma verdadeira derrota para aqueles que se opunham ao controle das comissões por qualquer organismo constituído acima deles. Mais ou menos ao mesmo tempo – início de agosto – houve uma conferência das comissões de fábrica de todas as cidades em Moscou. Aqui também houve uma tentativa de encontrar uma estrutura de coordenação, mas novamente através da forma de uma “centralização” sob o controle do conselho regional.

Enquanto estas tentativas de coordenação estavam sendo feitas, os comitês de fábrica continuaram a tentar resolver os seus problemas iniciais – a tomada do aparelho produtivo e da sua operação pelos próprios produtores. A necessidade de fazê-lo foi se tornando cada vez maior à medida que os preços dos itens básicos (por exemplo, alimentos, roupas e sapatos) aumentaram duas a três vezes mais rápido que os salários, e mais e mais donos de fábricas tentaram encerrar a produção.[24] O Governo Provisório ficou alarmado com as atividades dos comitês de fábrica e lançou um ataque legal total sobre eles. O nível em que o Governo sentiu a necessidade de destruir as comissões nos dá um indício do quanto estes comitês deveriam fazer. Em 22 de agosto, Skobelev, o ministro do Trabalho, emitiu uma carta circular onde afirmou que:

O direito de contratação e demissão de todos os outros empregados pertence aos proprietários dessas plantas… Medidas coercivas por parte dos trabalhadores com a finalidade de despedir ou de empregar certas pessoas são consideradas como ações a serem criminalmente punidas.[25]

Outra carta circular de 28 de agosto proíbe a realização de reuniões de comissões de fábrica durante o horário de trabalho. No entanto, como o governo não tinha o poder de impor estas novas leis, elas foram geralmente ignoradas pelos trabalhadores. Os comitês de fábrica ofereceram aos trabalhadores o melhor meio de manter a produção e controlá-la para seu próprio benefício. Desta maneira, os trabalhadores não estavam dispostos a ceder aos decretos inexequíveis do Governo Provisório. Na queda de 1917 esta luta continuou, uma luta que só poderia terminar com a destruição de um protagonista ou do outro. Pankratova toma nota da lógica desta luta:

A passagem de controle passivo a ativo foi ditada pela lógica da preservação. A intervenção das comissões de trabalhadores na contratação e demissão foi a primeira etapa para a intervenção direta dos trabalhadores no processo de produção… Depois, a passagem para formas superiores de controle técnico e financeiro tornava-se inevitável. Isto colocou o proletariado diante de um novo problema: tomar o poder, estabelecendo novas relações de produção.[26]

No entanto, os trabalhadores e as suas comissões de fábrica não conseguiram ver a importância de sua luta pelo poder social. Seus esforços permaneceram dentro da esfera da “economia”. “O poder político” era um problema para os Sovietes. Os trabalhadores esperavam que os Sovietes em breve arrancassem “poder político” do governo provisório e permitissem que os comitês de fábrica e as suas organizações regionais em expansão gerenciassem a produção industrial. Em outubro, tais conselhos de comissões de fábrica existiram em muitas partes da Rússia: Noroeste: Petrogrado, Pskov, Nevel; Região Central industrial: Moscovo, Ivanovo-Vosnesensk; Províncias do Volga: Saratob, Kazan, Tsaritsin; Ucrânia: (Distrito de Mineração Meridional): Karkhov, Kiev, Odessa, Iuzovka; Sudoeste e Cáucaso: Rostov, Nakhichevan-on-the-Dan, Ekaterinodar; Urais e da Sibéria: Irkutsk.[27] As conferências das comissões de fábrica locais em Petrogrado e Moscou, no final de setembro e início de outubro, reafirmaram a necessidade de prosseguir com seu papel na produção – gestão de todo o processo produtivo – e no desenvolvimento de cada vez melhores métodos de coordenação.

Pouco tempo depois, a primeira “Conferência Panrussa das Comissões de Fábrica” foi convocada. ( “Panrussa” é um pouco enganador porque as comissões existiam apenas nas áreas urbanas industrializadas.) Os membros do Partido Bolchevique fizeram 62% dos delegados e foram a força dominante. Até aquele momento, o Partido esteve no firme controle do recém criado Conselho Central das comissões de fábrica e o usou para seus próprios propósitos. De acordo com um relato:

…o trabalho do Conselho provou ser muito limitado. Os bolcheviques, que entraram no Conselho Central em um número considerável, e quem de fato o controlavam, aparentemente deliberaram obstruir o trabalho do Conselho Central como um centro de luta econômica por parte dos trabalhadores. Eles usaram o Conselho principalmente para fins políticos, a fim de fortalecer a campanha para ganhar os sindicatos.[28]

Os bolcheviques conseguiram nesta conferência aprovar uma resolução criando uma estrutura organizacional nacional para as comissões. No entanto, esta estrutura limitava explicitamente a atividade dos comitês de fábrica na esfera da produção e sugeria um método de luta que incorporava uma divisão rígida de atividades – os comitês de fábrica, sob a supervisão de sua organização, iria continuar as suas atividades no local da produção; os Sovietes (agora sob controle bolchevique – muitos membros dos Sovietes viram os bolcheviques como apoiadores das demandas dos trabalhadores e dos camponeses, além de muitos outros membros, especialmente os soldados, que haviam apoiado os partidos mais liberais, deixando as cidades para retornar às suas aldeias; enquanto eles alcançavam a maioria) poderiam contestar o poder político do Governo provisório; e os bolcheviques poderiam reunir as atividades destes organismos, bem como das diferentes lutas da classe operária e do campesinato. Os delegados não-bolcheviques – e os trabalhadores por eles representados – não rejeitaram este novo plano. Poucos perceberam a necessidade de unir os aspectos “políticos” e “econômicos” da luta de classes.

Os bolcheviques, agora à beira de conquistar “o poder do Estado”, começaram a lançar as bases para a consolidação de seu controle sobre a classe trabalhadora. Já não incentivam o aumento da atividade das comissões de fábrica. A maioria dos trabalhadores e as suas comissões aceitaram esta meia-volta, acreditando que a nova estratégia seria apenas temporária e que, uma vez que os bolcheviques tivessem conquistado o poder “político”, poderia ser-lhes dado o livre reinado dentro da esfera econômica.

Pouco tempo depois, os bolcheviques tomaram com sucesso o poder do Estado, substituindo o governo provisório pelos Sovietes sob seu firme controle. O efeito sobre os trabalhadores foi tremendo. Eles acreditavam que essa nova revolução lhes daria luz verde para expandir as suas atividades, para expropriar os capitalistas restantes e para estabelecer estruturas fortes de coordenação. E. H. Carr descreve o que aconteceu imediatamente após a tomada do poder:

A inclinação espontânea dos trabalhadores para organizar comitês de fábrica e para intervir na gestão das fábricas foi inevitavelmente encorajada por uma revolução que levou os trabalhadores a acreditar que a maquinaria produtiva do país pertencia a eles e poderia ser operada por eles com seus próprios critérios e para sua própria vantagem. O que havia começado a acontecer antes da Revolução de Outubro agora já acontecia com mais frequência e de forma mais aberta; e, para o momento, nada poderia represar a maré de revolta.[29]

Fora desta explosão de atividade, veio a primeira tentativa dos comitês de fábrica em criar uma organização nacional própria, independente de todos os partidos e instituições. Tal organização representava uma ameaça implícita ao novo Estado bolchevique, embora os envolvidos ainda vissem a sua organização se referindo apenas à “economia”. Os bolcheviques, buscando fortalecer sua posição, perceberam que tinham de destruir as comissões de fábrica. Eles agora tinham à sua disposição os meios para fazê-lo – algo que ao Governo Provisório tinha faltado. Ao controlar os Sovietes, os bolcheviques controlaram as tropas. Sua dominação sobre os conselhos de comissões de fábrica regionais e nacionais deu-lhes o poder de isolar e destruir qualquer comissão de fábrica através da negação de matérias-primas, por exemplo. Os sindicatos, agora um apêndice do Estado bolchevique, foram usados para suprimir o poder das comissões de fábrica. Isaac Deutscher descreve como os bolcheviques utilizaram os sindicatos para castrar as comissões dentro de alguns meses após a revolução.

Os bolcheviques agora chamavam os sindicatos a prestar um serviço especial para o Estado Soviético nascente, para disciplinar as comissões de fábrica. Os sindicatos foram contra a tentativa das comissões de fábrica em formar uma organização nacional própria. Eles impediram a convocação de um planejado Congresso Panrusso das Comissões de Fábrica e exigiram total subordinação por parte das comissões. As comissões, no entanto, eram fortes demais para se render por completo. Em fins de 1917 foi alcançado um compromisso segundo o qual as comissões de fábrica aceitaram um novo status: Elas poderiam formar as organizações de base sobre a qual os sindicatos se sustentariam; mas, por isso mesmo, é claro, foram incorporadas aos sindicatos. Aos poucos eles desistiram da ambição de agir, quer localmente quer a nível nacional, em oposição aos sindicatos ou independentemente deles. Os sindicatos agora se tornaram os principais canais através dos quais o Governo foi assumindo o controle sobre a indústria.[30]

Grupos de trabalhadores lutaram em várias fábricas e localidades (a revolta de Kronstadt foi a mais famosa destas batalhas), mas eles foram rotulados de “contrarrevolucionários” e esmagados pelas forças da ordem controladas pelos bolcheviques. Em breve, até mesmo os sindicatos deveriam ser destruídos, como se os bolcheviques se movessem no sentido de eliminar qualquer possível oposição ao seu poder. Este espaço me proíbe de entrar em detalhes sobre como os bolcheviques consolidaram a sua posição, mas existem numerosos relatos e a maior parte são de acesso relativamente fácil.[31]

Olhando para trás ao longo do curso dos acontecimentos, várias características se destacam. A revolução foi determinada – mesmo que apenas passivamente – pela grande população camponesa. Os comitês de fábrica representavam apenas uma pequena parcela da população e nunca poderiam ter gerenciado com sucesso toda a produção russa. A incapacidade dos trabalhadores em romper com as viseiras que os levaram a ver seu papel nos termos estreitos da “economia” era de se esperar. No entanto, isto limitou as suas atividades e permitiu que suas realizações fossem destruídas pelos detentores do poder “político”. Por outro lado, os eventos russos mostram claramente que, em determinadas circunstâncias, as pessoas que trabalham são capazes de criar suas próprias organizações de luta, organizações que podem funcionar como meios pelos quais os produtores podem controlar diretamente o processo de produção a partir do interior de suas fábricas. Mas o “controle operário” sobre o processo de produção a partir de locais individuais de trabalho é insuficiente. A próxima etapa, de coordenação destas organizações, ou seja, da tentativa da classe trabalhadora de gerir toda a produção da sociedade, é muito mais difícil. Vários outros grupos invariavelmente irão se colocar a tarefa de fazer isto pela classe trabalhadora, e se eles forem aceitos irão tentar controlar as atividades dos trabalhadores. Tais organizações são potenciais novas classes dominantes e devem ser combatidas como tal. Como escreveu Karl Marx, como a primeira premissa do Regulamento de Associação da Primeira Internacional Trabalhadores: “a emancipação da classe trabalhadora deve ser conquistada pela própria classe trabalhadora.”

Notas:

[1] Trotsky, 1905, pp. 38-14.

[2] Ibid., p. 81.

[3] Oskar Anweiler, Les Soviets en Russie, 1905-1921, pp. 43-47. Ele escreve: “A gênese desses conselhos durante a revolução de 1905 irrefutavelmente mostra que esses órgãos tinham como seu objeto original a defesa dos interesses dos trabalhadores com base na fábrica. Isto porque os trabalhadores buscaram unir suas lutas fragmentadas e de lhes dar uma direção, e não é porque viram a conquista do poder como ações políticas que os primeiros conselhos apareceram“. (p. 47)

[4] Ibid., p. 54-55. Ele observa que, dos primeiros quarenta delegados, apenas quinze nunca tinham sido nem delegados na Comissão Shidlovski ou os membros dos comitês de greve.

[5] Ibid., p. 57.

[6] Nineteen-Seventeen, p. 39.

[7] L’An Un de la Revolution Russe, pp. 55-56.

[8] The Russian Revolution, p. 98.

[9] Anweiler, op. cit., p. 128, informa que nenhum destes homens era um delegado de fábrica.

[10] Ibid., p. 129.

[11] Sukhanov, The Russian Revolution 1917, pp. 186-187, também citada em Roger Rethybridge (org.), Witnesses to the Russian Revolution, pp. 123-124. As recordações de Sukhanov são corroborados por Anweiler, op. cit., e “The Political Ideology of the Petrograd Soviet in the Spring of 1917”, In Richard Pipes (org.), Revolutionary Russia; Chamberlin, The Russian Revolution, p. 109; Browder e Kerensky (orgs.), The Russian Provisional Government, Volume I, p. 71; e Trotsky, History of the Russian Revolution, Volume I, pp. 216-217.

[12] Anweiler, Les Soviets en Russie, pp. 131-137, cf. também Chamberlin, op. cit., p. 84; Irakli Tseretelli (um membro do Comitê Executivo), “Reminiscences of the February Revolution,” The Russian Review, Vol. 14, Nos. 2, 3, and 4; George Katkov, Russia 1917: The February Revolution, p. 360.

[13] Paul Avrich, The Russian Anarchists, p. 140-141.

[14] Resolução citada em Robert V. Daniels, The Conscience of the Revolution, p. 82, cf. also, Anna Pankratova, “Les Comites d’ Usines en Russie a l’Epoque de la Revolution,”, originalmente escrito em russo em 1923 e reimpresso em francês In Autogestion, #4, December 1967, pp. 8-l0.

[15] Pankratova, ibid., p. 12, cf. Também Frederick Bolshevik, Ideology and the Ethics of Soviet Labour, p. 48.

[16] A concorrência entre as comissões de fábrica e os trabalhadores que roubavam tudo o que pudessem carregar contribuiu, em muitas regiões, para o caos econômico.

[17] Resolução aprovada entre 05 maio e 30 junho na Conferência das Comissões de Fábrica de Petrogrado, citado em S.O. Zagorsky, State Control of Russian Industry During the War, p. 174.

[18] Fragmentos de resolução contidas em Maurice Brinton, The Bolsheviks and Workers’ Control, p. 5.

[19] Trotsky, History of the Russian Revolution, Vol. II, p. 19.

[20] Pankratova, op. cit., p. 30.

[21] Kaplan. op. cit., p. 66.

[22] De acordo com Kaplan, os bolcheviques estavam interessados ​​na criação deste Soviete Central por razões outras do que o melhor funcionamento da produção. Ele escreve: “Os bolcheviques pareciam querer reforçar o Conselho Central para que eles pudessem manipular a organização operária capaz de dar um lugar ao lado dos sindicatos e em oposição a outras organizações não-trabalho,” Ibid., p. 67.

[23] Ibid., p. 75.

[24] Muitos trabalhadores entenderam as alternativas e as tarefas que os confrontavam. Pankratova cita uma resolução aprovada na conferência das comissões de fábrica da indústria têxtil no final do verão. Os delegados viram que sua escolha era “submeterem-se à redução da produção ou correrem o risco de serem demitidos por intervirem ativamente na produção, tomando o controle e a normalização do trabalho na empresa”. Eles resolveram: “Não é nem pelo caminho burocrático, ou seja, através da criação de uma instituição predominantemente capitalista, nem pela proteção dos lucros capitalistas e seu poder sobre a produção que nós podemos nos salvar da catástrofe. O caminho para escapar está exclusivamente no estabelecimento do controle real dos trabalhadores”. op. cit., p. 40.

[25] Citado em Browder e Kerensky, op. cit., vol. 11, p. 722.

[26] Pankratova, op. cit., p. 48.

[27] Kaplan, op. cit., p, 81.

[28] Browder e Kerensky, op. cit., p, 726.

[29] E.H. Carr, The Bolshevik Revolution, Vol. II p. 69. Cf.. também Paul Avrich, “The Bolshevik Revolution and Workers’ Control in Russian Industry,” In Slavic Review, March, 1963.

[30] Deutscher, Soviet Trade Unions, p. 17.

[31] Os melhores são: Brinton, op. cit.; Avrich, o artigo op. cit.: Daniels, op. cit.; Leonard Schapiro, The Origin of the Communist Autocracy; James Bunyan, The Origin of Forced Labour in the Soviet Union, 1917-21; Alexandra Kollentai, The Workers Opposition; Marya Gordon, Workers Before and After Lenin; e muitos outros.

As obras que ilustram o texto são da autoria de Kasimir Malevich. Tradução feita pelo Passa Palavra.

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