Por Jane Doe
Eu trampei no Ritz em 2011 e eles faziam umas coisas absurdas do ponto de vista trabalhista e também de assédio moral, parecia que contavam com o fato de que a maioria que trampa lá é no geral primeiro emprego e não manja das paradas. Mesmo assim, eu sei que um pessoal da minha geração até abriu processo.
Comigo fizeram uma parada que na época eu não sabia que era proibido: eles pegaram minha carteira de trabalho e ficaram com ela retida pelos três meses e meio. Diziam que iam devolver depois de passar o período de experiência de 3 meses. Só que aí o que eles faziam? Não assinavam nesses três meses e aí, claro, tinham mais 3 meses de experiência de verdade.
Uma colega minha da época se demitiu depois de três anos pedindo para tirar férias e eles não deixavam, aí acabou se demitindo.
Eu fiquei muito pouco tempo, mas vi um tanto de coisa.
Além disso, no período de treinamento, que era de 15 dias, você recebia cerca de 15 reais por dia (que eram pagos só depois) e não levava caixinha. Em qualquer momento eles podiam decidir que você não servia e tchau! Isso antes de eles sequestrarem a carteira de trabalho, então no fim você trabalhava sem vínculo três meses e meio.
Dispensaram uma menina que fazia o treinamento comigo por que a gerente ouviu ela dizer no vestiário que não achava justo o sistema de caixinha, que era tipo, se você ganhasse 50 reais de um cliente, você tinha que entregar no caixa e esse valor seria dividido por todos os garçons no fim (mas sei lá, né? Eu nunca vi a conta final, a gente só recebia a grana em espécie no final do dia ou no dia seguinte). Eu nem sei se eu acho injusto, mas ela tava conversando com a gente, a gerente passou, ouviu e demitiu a menina dez minutos depois.
Teve um menino uma vez que foi trabalhar doente, e disseram que não era pra ele ficar indo trabalhar “de ressaca”. Uma vez me obrigaram a ir trabalhar doente, por que achavam que eu tava dando migué. Foi no dia 2 de janeiro. Eu tinha folgado dia primeiro, mas só porque o restaurante estava fechado. Mas antes, eu estava trabalhando que nem maluca no final de ano, no dia 31 trabalhei muito, estava bem pesado. Aí na minha folga fiquei doente. A gerente me obrigou a ir porque achava que eu estava dando migué por causa do fim do ano. Aí eu cheguei morrendo, obviamente não estava lotado o restaurante, ela acabou me liberando mais cedo (e cortando a minha caixinha).
Isso falando só nos exemplos de problema trabalhista!
O assédio moral também corria solto, não eram todos os gerentes. Na minha época tinha um específico, no meu primeiro dia, no briefing que eles faziam sempre antes de abrir, ele estava passando um puta esporro nas pessoas porque elas não estavam limpando direito os pratos recolhidos antes de colocar no lugar que a cozinha pegava pra lavar e falou LITERALMENTE: “se vocês não conseguem fazer um trabalhinho fácil desses, ó, se mata!” e imitou como se tivesse cortando o próprio pulso. Ele era gay e tinha um problema específico com as funcionárias mulheres, vivia dizendo coisas tipo “peitinho no prato não pode”, porque você tinha que andar com o prato sempre com a mão estendida longe do corpo, e isso é super pesado! Você era proibida de apoiar o cotovelo na barriga quando estivesse carregando o prato. Também não podia usar bandeja para carregar as coisas por que “não é bonito”, então eles queriam que você carregasse tipo 4 pratos ao mesmo tempo nas mãos.
É muita história em muito pouco tempo, imagino quem trampou muito tempo lá…
Quando um garçom errava o pedido da mesa, eles faziam ele pagar o preço DO CARDÁPIO! Ou seja, eles lucravam em cima da caixinha do garçom para punir o erro. Mesmo assim os garçons não podiam comer, eles jogavam no lixo, ou, pelo que a gente sabia, subiam os pratos para uma sala da gerência onde eles comiam. Uma vez uma menina comandou dois atuns selados (era o prato mais caro do cardápio, na época custava uns R$ 69,00 se não me engano) errado. Ela ia ficar tipo dois dias sem receber! Aí os outros garçons fizeram uma vaquinha do dinheiro da nossa caixinha, por que ela de fato precisava muito.