Por acácio augusto‏ 

Ontem o ato explicitou questões complicadas no campo das lutas sociais hoje. E a questão central está entre a potência dos movimentos anti-autoritários, autonomistas e anarquistas X a vontade de poder de todos os outros agentes que têm o Estado como categoria do entendimento.

Está claro que enquanto não se ultrapassar a luta pelo controle do Estado e por hegemonia nada de novo vai se produzir. E essa disputa por hegemonia está diretamente relacionada ao controle das ruas. Tudo que envolveu o ato dos secundas pela educação explicita isso.

Primeiro, é sabido o quanto junho de 2013 se produziu como acontecimento precisamente porque a tática deliberada era perder o controle em favor de uma revolta popular. Algo que nenhum agente político quer, pois vivem de governar seus nichos.

Segundo, e como consequência do primeiro, agentes da esquerda institucional não gostaram que grupos autônomos chamassem um ato fora do, digamos assim, controle do carro de som. Pois do contrário, a potência iria transbordar o poder de controle das ruas.

Terceiro, os agentes que hoje ocupam o governo, tampouco querem gente livre na rua. Assim, mobilizam, com toda a expertise acumulada no pós-junho de 2013, as forças policiais para evitar que algo ingovernável tome as ruas.

Em decorrência desses três pontos, o que tivemos? O ato estava numericamente menor do que se esperava (poder), mas os poucos presentes tinham bem claro a vontade e a decisão de fazer algo que incomode (potência) e não um espetáculo para alimentar narrativas.

A polícia, formada e informada no pós-junho 13, claramente tinha ordens de não brutalizar contra o ato. Sob o risco da indignação alimentar a gana das pessoas por estar nas ruas no dia 30/5. Mas ao mesmo tempo, tinha que impedir o ato. O cálculo de governo abriu uma brecha.

Nessa brecha se instalou a potência dos presentes. Driblaram mais de uma vez a PM e, entre fugas e reagrupamentos, o ato aconteceu e parou a Avenida Paulista. E isso foi uma vitória dos que buscam tornar autônoma a luta pela educação e não moeda de troca no mercado da política.

Assim, mesmo sem bombas e cassetetes sendo disparados, o que ocorreu ontem foi uma extrema brutalidade da polícia, dentro dos limites da lei e, sobretudo, orientada por seu objetivo estratégico: governar as ruas. Foi uma caça, por vezes meio cômica, mas extremamente brutal.

A PM, talvez até de maneira não programada, inaugurou ontem uma nova modalidade de Caldeirão de Hamburgo (ou Kettling), introduzido no Brasil durante repressão aos atos contra a Copa do Mundo FIFA de 2014. Conteve a manifestação com a PM do BAEP (Batalhão de Ações Especiais de Polícia) e a “deixou” seguir sob seu controle, segundo seu itinerário.

Como é sabido, toda produção de hegemonia governamental sugere a combinação entre coerção e consenso. Assim, ao modo típico das democracias securitárias, seguimos na liberdade regulada, liberdade sob o governo. Esta permite um certo tipo de manifestação e de manifestante (dito pacífico), precisamente porque quer a luta social reduzida à disputa dentro do mercado da política.

Por isso digo que a junho [de 2013] ainda está sendo. Pois todas as forças que agem para suprimir a potência ingovernável de atos como os de ontem (esquerda institucional inclusa) estão estrategicamente orientadas pelo mesmo objetivo: manter a disputa entre desgoverno e bom governo. Obstruindo o que pode vazar desse campo, cada vez mais mercadológico e espetacular sob a inteligibilidade econômica da racionalidade neoliberal hiper-securitizada.

E assim, segue o Estado como categoria do entendimento, o tribunal como espaço de decisão e a polícia como dispositivo privilegiado de controle na distribuição racional da violência. Tudo para obstruir a revolta e a potência do ingovernável, este que é o começo e o fim da política.

Por enquanto é só. Fecho com esta imagem para não esquecermos:

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