Por Visíveis do Sudão

Em 15 de Maio, estudantes, professores, centrais sindicais, movimentos populares e outros apoiadores entoaram gritos de lutas, em defesa da educação das Universidades e Institutos Federais, e contra a reforma da Previdência. Muitos foram às ruas, mas não foi só nas ruas que o embate foi feito, e talvez seja nesses pequenos espaços, onde poucos notam que as lutas mais importantes foram travadas. Existem relatos de lutas e paralisações de escolas públicas e privadas por todo o Brasil, talvez o caso aqui em questão não seja único, mas foi marcante e demonstra que a luta, que começou dia 15, tem um potencial maior do que um aglomerado de massas indo às ruas sem qualquer organização política a logo prazo.

Essa história se passa no “CEPI (colégio estadual de período invisível) do setor que ‘não pode ser nomeado’, onde alunos “que não podem ser nomeados” tentaram por iniciativa própria realizar um abaixo-assinado, visando mostrar que a maioria era favorável à adesão da paralisação do dia 15. De boca a boca a história foi rodando, cada vez mais alunos apoiaram e entendiam a importância de paralisar. Mas como o esperado, a gestão mostrou um posicionamento completamente contrário a tal ato. E é a partir daí que o interrogatório recomeça: alunos sendo chamados na sala da direção e pressionados a explicar a situação.

Mas a história não para por ai, os estudantes insatisfeitos com a posição da direção, que demonstrou uma total falta de apoio a luta a favor de uma educação de qualidade, e a favor de um direito básico como a aposentadoria, resolveu se organizarem independente da decisão da gestão, de apoio ou não em relação a paralisação. Estudantes invisíveis elaboraram um panfleto e distribuíram explicando o motivo da paralisação e como isso se relacionava com a condição precária de ensino dentro do colégio de período integral, além do autoritarismo ao qual eram, ou, aliás, ainda são submetidos.

Aí se deu o estopim. Com verdades “ocultas” vindas à tona, os alunos se mostraram cada vez mais insatisfeitos e já não suportavam mais a situação a qual estavam sendo sujeitos.

“Nossas reivindicações passaram a ser não apenas por questões gerais, mas pela série de acontecimentos desgastantes que ali ocorrem, afinal, os alunos só podiam ter voz e protagonismo quando eram em benefício da gestão. Então, se não poderíamos ir às ruas, lutaríamos no nosso próprio espaço, tornando ainda mais fortes e visíveis nossas reivindicações.” (Aluno invisível do colégio que não é o CEPI SUDOESTE)

“Foi decidido que, durante o horário de almoço iriamos nos reunir no ‘recanto’ e ali permaneceríamos após o sinal, mesmo com a repressão por parte do grupo gestor. Assim fizemos, nos sentamos e continuamos por lá, até o momento em que a tenda de circo se armou e nossa queridíssima diretora, que não começa com A, entrou no picadeiro.” (Aluna invisível do colégio que não é o CEPI SUDOESTE)

A conversa em roda que inicialmente era proposta dos alunos, foi tornada um palanque, onde a diretora que não começa com A, na verdade tornou uma cadeira um palco. O show onde ela se apresentava e exibia com maestria sua máscara de melhor amiga foi armado, dando continuidade à política do príncipe, que quando não conseguia mais ser temido, tentou ser novamente amado. Mas será mesmo? Fica aí a indagação, vocês amam ou apenas temem?

O que ali foi dito, se pegarmos por base as atitudes recorrentes da diretora, que deixando claro, não começa com A, e sua impressionante capacidade de distorcer fatos, tudo transpareceu muito confuso, afinal ela prega uma política de miragem: visto de longe, uma beleza estonteante, mas ao se aproximar, percebemos que nada daquilo é real. Nada mais similar a Black Mirror, ou qualquer tentativa de tornar aquilo que está nas redes sociais como verdade. Mas será mesmo? Bom, vejam o vídeo a seguir e tomem suas próprias conclusões.

Enquanto isso a história se repete… Bombons e espelhinhos… O príncipe bonzinho. O jogo continua o mesmo.

“Mas e nós?” Bom parece pouco, mas disso surgiu o entendimento de que se nós queremos algo, podemos conquistar a partir da luta coletiva, e que nós alunos, juntos, somos fortes, para reivindicar e conquistar o que quisermos. Dessa luta, conseguimos amenizar a política de terrorismo da direção além da conquista dos armários, que chegará até junho (caso contrário estaremos aqui novamente na luta!) e de coisas aparentemente banais como a volta da liberdade na hora do almoço, com a possibilidade de uso da quadra do colégio para a prática de esportes. Afinal o que é um banho de sol para quem passa o dia todo trancafiado em uma sala gerando índices para o governo?

Além disso, hoje, acabamos tendo que lidar com uma repressão e perseguição forte por parte da diretora que está anunciando que “quem denunciar distribuidores de panfletos não sofrerá retaliação”. Vê-se que o teste da força dos alunos aumentou a aposta da luta e, caso consigam nos pegar antes de distribuir os panfletos, também disponibilizamos por aqui o que queríamos discutir com os trabalhadores e alunos da nossa escola.

8 COMENTÁRIOS

  1. Vão estudar ao inves de ficar boicotando a aula! Querem direitos mas os próprios nao fazem por onde!! Falta do que fazer! Sentem incomodados com o que? Estudar?? Duvido que ao trocar de escola e ver a realidade da outra ,nao aguentariam 1 semana! SE POUPEM. Bando de atoa querendo prejudicar a escola,tal qual nunca precisou parar por greve e sempre foi rigida e com alta qualidade de ensino,pois preza a continuação das aulas,o que é bem mais importante do q ficar sentado na grama ou no meio das ruas gritando pra chegar no final e nao ganhar nada! kkkkkk #aquinao #inveja?

  2. Essa reportagem (se é que pode chamar isso de reportagem), é muito tendenciosa e parece mais com um ataque aos gestores e professores da escola por alguém que não tem a capacidade de enfrentar os problemas e está usando alunos para espalhar o caos e o terror. Estranho que nenhum outro colégio da cidade vem sofrendo esse ataque enfurecido e visivelmente contra uma pessoa específica. Basta olhar as fotos que trata-se de uma escola bem cuidada, nota-se a dedicação para que os alunos tenham um ambiente mais aconchegante. O ser humano é complexo, se a escola não oferece nada aos alunos, estes reclamam; se fazem lembrancinhas para agradá-los, os funcionários são tachados de fazerem a “política do príncipe”. Me consterna saber que um veículo de comunicação, que pretende engajar as pessoas num debate sério, se presta ao dissabor de simplesmente repassar “boatos” e informações desencontradas apresentadas apenas em fragmentos sem ir a fonte e “beber água limpa” (a não ser é claro que algum adulto raivoso com más intenções esteja por trás disso). Sugestão: converse com os pais dos alunos, converse com os àpróprios alunos, converse com os professores, não apenas com “meia dúzia” de alienados anarquistas. Enfim, à página, humildemente ouso citar Aristóteles: “Os sábios buscam a verdade, os medíocres gostam de fatos, os cretinos falam de si”.

  3. Graciane, vulgo A, não era você que dizia ser transparente???

    Muito me entristece ver a própria gestão chamar os seus alunos de atoa diante de uma manifestação tão organizada. Se continuarem pensando como você, que paralisação não muda nada, os professores vão continuar tendo que tirar do bolso para sustentar um colégio PÚBLICO, assim como você disse no vídeo. Aliás estou assustado com as verdades reveladas sobre a escola que escolhi para educar meu filho. Se os outros colégios são piores, não seria mais um motivo para lutar por melhorias de forma geral? Ou acredita que apenas o seu colégio irá suprir a necessidade de todo o Estado? Por que não aproveita o fato de seus alunos serem, ao contrário do que você diz, tão bem formados (aliás deveria ser um mérito e não um problema), e não discute com eles também o porque de terem fechados duas turmas no seu colégio? Dos colegas de nossos filhos, negros, com cara de “favela” ou homossexuais estarem sumindo do colégio sem sabermos o real motivo? Será por simplesmente não se adaptarem ao “padrão” do integral?

    Só mais uma coisa, deve ser inveja mesmo né? O Brasil todo paralisou no mesmo dia por inveja a sua bela gestão. Poupe-nos! #aredesóaumenta

  4. Graciane Alves.
    A senhora poderia tentar responder sobre, por exemplo, as acusações de perseguição e a prática de delação na escola. Mas parece que ao invés prefere se esquivar dessas acusações e atacar os alunos. E explicar também porquê os professores tem que tirar dinheiro de seus salários para gastos com “lembrancinhas”.

  5. Graciane Alves,

    Seu comentário é muito interessante. Vamos começar por uma das suas primeiras afirmações, a de que os alunos querem direitos mas não fazem por onde. Ora, para que um direito funamental, como a educação, seja exercido, não são necessários quaisquer requisitos. Vamos então, por isso, analisar alguns direitos garantidos na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/1996), que você, mais do que qualquer outra pessoa, devia saber de cor. Bem, no art. 1º dessa lei está escrito que:

    “Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.”

    Você leu “movimentos sociais” e “organizações da sociedade civil” ali em cima? Bem, se leu, ótimo. Acho que já dá para entender onde quero chegar. Talvez você não saiba, mas a lei que define o que é a educação no nosso país — e você é quem devia estar dizendo isso — diz expressamente que faz parte da educação a participação em movimentos sociais e organizações da sociedade civil. Pergunto: você quer privar seus alunos do aprendizado que essa experiência proporciona, agindo contra a lei? Quero acreditar que não. Mas vamos ler agora, para dar continuidade à nossa reflexão, outro artigo da mesma lei, o art. 2º:

    “Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.”

    Você leu acima que a educação tem por finalidade o preparo do educando para o “exercício da cidadania”? Pois bem, a mobilização dos seus alunos — se você estiver acompanhando o meu raciocínio, estritamente limitado pela legislação em vigor, e espero que esteja — está sendo muito mais compatível com os princípios e fins da educação previstos em lei, e com a própria definição de educação do art. 1º, reproduzido acima, do que as ideias expressas no seu comentário.

    Eu poderia ficar aqui te dando uma aula de legislação educacional, contribuindo para a sua própria formação e o seu pleno desenvolvimento como pessoa, afinal a educação não termina para uma pessoa só porque ela já chegou na idade adulta, nem muito menos porque ocupa um cargo de gestão, não é mesmo? Mas não. Vou apenas comentar mais um artigo de um dispositivo legal do qual você certamente já ouviu falar, mais conhecido como Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Vejamos o art. 9º:

    “Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender.”

    Se você está acompanhando meu raciocínio, você deve estar percebendo que seu comentário vai na contramão de um direito social assegurado pela Constituição do país em que você vive. Veja bem: quem decide se é necessário entrar em greve, e quais interesses serão defendidos em greve, são os trabalhadores. Você, na sua escola, permite que eles façam essa decisão? Pelo bem da legalidade, espero que sim. Afinal, você, como qualquer outra autoridade, deve se pautar pela legalidade, na gestão da sua escola.

    Bom, vou ficar por aqui. Dê o exemplo para as crianças e adolescentes sobre as quais você é responsável, aprendendo em primeiro lugar a viver num Estado democrático de direito, e defendendo o direito dos seus alunos de exigir melhorias e liberdade.

    Passe bem.

  6. Na verdade, o comentário da Graciane é lamentável!

    Primeiro: bom essa não foi a única escola a paralisar, como deixou claro “Um pai indignado”. Há escolas e mais escolas no Brasil todo que paralisaram. Aliás, impressionante o fato dos alunos dessa escola conseguirem para além de simplesmente aderir a uma paralisação nacional, entender como isso impacta dentro da própria realidade deles. Isso mostra que esses meninos possuem muita maturidade para entender a realidade em que vivem. Uma pena que a gestão da escola não apoie!

    Segundo: muito me estranha após assistir o vídeo a fala dessa pessoa (diretora?), o comentário da Graciane de dizer que a escola nunca precisou parar. Se falta verbas, se os professores e inclusive ela precisa tirar do próprio bolso para manter a escola, isso não seria um motivo para paralisar? Aliás, a escola não parou mesmo com a falta de pagamento de dezembro? Pois sabemos que em Goiás houve paralisações devido a falta de salário. Nessa escola foi diferente? Todos receberam? Ou isso não é motivo para paralisar? Ou será que os professores não puderam por “algum motivo” paralisar?

    Para finalizar, fiquei sabendo do ocorrido pelo post no facebook da página da Mobilização dos Professores de Goiás, e pelo visto a situação que vive essa escola não é exclusiva de lá, ocorre em outros lugares também, e com certeza não só em Goiás. Deixo aqui a sugestão de se trazer relatos de outras escolas também. A verdade tem que vir a tona! Com certeza se não fossem esses alunos tomarem a coragem de enfrentar essa situação essa seria só mais uma escola que ninguém sabe o que se passa lá dentro!

    Para acrescentar a quem interessar:

    “A Associação Mobilização dos Professores de Goiás despreza atitudes autoritárias como as que estão ocorrendo no Centro de Ensino Integral (CEPI) Sudoeste em Goiânia. Estudantes e professores estão supostamente sendo coagidos por mobilizarem a escola para participação nas manifestações contra as reformas do governo federal e por denunciar práticas autoritárias da atual gestão. Condutas como essas são comuns na rede estadual, pois alguns diretores sentem-se verdadeiros “capitães do mato”, esquecendo-se de suas profissões de professores, que inclusive serão uma das categorias mais afetadas com as reformas do Bolsonaro. Somos a favor de uma educação emancipadora e libertária, e, portanto, desprezamos práticas como as do CEPI Sudoeste. Gestões autoritárias não passarão!” Nota do MPG – GO.

  7. MAIS UM DIA DE ????? (CENSURADO) no CEPI Sudoeste

    Depoimento de um Invisível do Sudão

    Cheguei na escola e o clima estava estranho. Alguns colegas tinham sumido de vez. Minha colega de cabelo colorido sumiu semana passada. Os “alunos problema” – colegas de pele negra, mais pobres…sumiram. Mas hoje teve novidade.

    Duas professoras sumiram. Sumiram.

    Não tinha acreditado quando minha mãe me falou que elas tinham saído da escola no meio do semestre. A professora de sociologia, filosofia e história e a de redação e inglês. Mandei mensagem pra minha mãe. Ela me explicou que uma professora saiu porque a diretora achava que ela “agitava a escola demais”. Deu uma desculpa que era pra outro professor assumir. Era a de sociologia. Ela tinha parado de falar de temas de ‘revolta’ do nada depois que a gente paralisou. Descobri que “pediram humildemente” pra que ela pulasse o conteúdo do currículo sobre política e democracia.

    Não terminamos Maquiavel. Por quê? Nossa diretora diz que está sendo perseguida, mas o que o Maquiavel tem a ver isso?

    Falaram pra essa professora que além de ser demitida ela não ia conseguir emprego em lugar nenhum… porque estava sendo investigada pela polícia civil. Foi aí que a segunda professora não aguentou e se demitiu também. Ainda bem que elas avisaram nossos pais. Senão elas teriam apenas sumido do nada, que nem meus colegas. Aliás, todos os professores estavam sendo investigados. Por quê? Por que a gente, os alunos, fizemos uma paralisação? O clima aqui ficou tão pesado depois disso… apesar de nos ensinarem que tínhamos que ser cidadãos. Minha mãe tá preocupada comigo. Com esse clima na escola. A polícia aparece aqui todo dia agora.

    Eu quero minhas professoras de volta. Quero meus amigos de volta. Que crime a gente cometeu?

    É VERDADE ISSO DAQUI???? POIS O QUE A DIRETORA FALOU FOI QUE ELAS SAIRAM POR OUTROS MOTIVOS, MAS NÃO É O QUE O MEU FILHO ESTÁ COMENTANDO.

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