Photo by: John Nacion/STAR MAX/IPx 2020 2/27/20 People wear protective masks to fend off the Corona Virus, while street vendors pedal hand sanitizer and other disinfecting products in Queens, New York.

Por Maiara de Proença Bernardino

Vinte e sete de março de 2020, a pandemia do coronavírus já se espalhava pelos territórios do globo, infectando milhares de populações das diferentes classes sociais, gêneros e etnias. Neste dia, já havia considerável número de óbitos e as medidas de contenção eram projetadas nos espaços urbanos. Porém, para as trabalhadoras do fruto da exploração dos seus corpos e sexualidade, essa realidade se apresentou diferente. Em Madrid o prostíbulo Delicias estava de portas abertas para homens-consumidores que esporadicamente durante o dia “fugiam” do isolamento social. Este acontecimento foi gravado e denunciado no Twitter pela imprensa Madrid Directo neste mesmo dia.

Em Mallorca, uma ilha da Espanha e grande centralidade turística atratora de capitais para este país, o jornal Ultima Hora publicou neste mês a situação em que se encontram as mulheres exploradas sexualmente neste local. Segundo esta informação, as medidas de contenção dos fluxos nos espaços se mostram desiguais para essas mulheres, mais uma vez evidenciando a desigualdade produzida pelo capital: mesmo em tempos pandêmicos essa máquina segue em funcionamento de forma abstrata ou não. O fato é que, nesta ilha de Mallorca, muitas mulheres que têm de vender o seu corpo para sobreviverem estão sendo expostas ao coronavírus, pois residem em seu local de trabalho e exploração. Segundo denúncia dos Metges del Món, uma instituição de atendimento aos vulneráveis de Palma, existem homens exigindo a prática sexual dessas mulheres. Eles aproveitam uma ida ao mercado ou uma saída para comprar tabacos e exigem o trabalho sexual dessas mulheres. Segundo essa organização, houve aumento no número de anúncios referentes às fêmeas que praticam esse serviço sexual na ilha.

“Prostitutas”, Daniel Garcia

Esses fatos corroboram as reflexões de que as medidas de contenção dos comércios não se realizam de forma homogênea nos espaços, há ainda aqueles setores das indústrias capitalistas, como a sexual, em pleno funcionamento. E mais uma vez as trabalhadoras exploradas diariamente por seus patrões-cafetões somam-se à população mais vulnerável no momento, pois seu tipo de exploração envolve contatos físicos sexuais com seus consumidores.

Uma das trabalhadoras relatou nesta notícia uma necessidade de se “reinventar” para ter de alimentar a sua fome:

“Estou morrendo de fome há duas semanas e tive que achar um caminho. Eu ganho muito pouco, mas pelo menos tenho o que comer. Eu não podia imaginar que, na minha idade, aos sessenta anos, eu teria que comer comida de cachorro”, diz Jane ao jornal, e continua: “há homens que pedem para me ver. Eles acham que estou desesperada e vou fazer sexo sem camisinha. Existem sempre aqueles que tentam abaixar os preços e eu como macarrão todos os dias”.

A mídia brasileira fecha os olhos para essa realidade (intencionalmente?). Nos meses em que o coronavírus se alastrou por nosso território, muitos jornais têm noticiado ideologicamente as perdas das indústrias do sexo durante a pandemia. É uma cena trágica, pois a desigualdade socioespacial nos apresenta dados contrários. Quem perde? As perdas recaem mais sobre os corpos dessas mulheres, onde suas condições de vida e existência no mundo são expropriadas pelo grande capital, e as condições para existir se baseiam na exploração de seus corpos e sexualidade.

A ideologia dominante evidentemente se instaurou nas camadas liberais da sociedade, principalmente nas cabeças das esquerdas que defendem a não abolição da prostituição. Nos últimos anos tais pensamentos liberais de maneira misteriosa enxergam poder de escolha partindo dessas mulheres que são exploradas por seus patrões-cafetões.

É uma consequência da modernidade em nossas sociedades: o não sedentarismo nas grandes cidades urbanas permitiu nossa mobilidade nos territórios. Assim como as trocas fluem pelos espaços em níveis globais, nossos corpos-mercadorias escorrem pelos espaços, vendemos a força de trabalho em diversos pontos do território numa falsa impressão de que somos livres em nossas escolhas.

Neste mundo burocrático e medido com as numerações das réguas, as tentativas de regular opressões são frequentes, pois colaboram para a continuidade das mesmas e para o aumento dos números de capitais. Os setores da esquerda mais abertos às ideias liberais, cegos de que possuímos liberdade em algum âmbito da nossa vida, se deixam capturar pela lógica hegemônica das grandes empresas. Aqueles que enxergam a abolição da prostituição como impossível, tornam possível a exploração diária dessas mulheres mesmo em tempos de pandemia. Quem pode guardar seu corpo no isolamento o faz, porém aqueles que não, como os motoristas e entregadores de aplicativos, trabalhadores(as) das periferias, continuam expostos fisicamente ao coronavírus e ao segundo vírus e talvez o mais pandêmico que é o capital.

“Great Plague of London” (1926), Kitty Shannon

Esses ideais enviesados ideologicamente pelas concepções das empresas privadas fazem com que os liberais conservem a normalidade de um mundo pautado nas opressões base para a economia capitalista. “Somos anticapitalistas, e vamos lutar para que não haja nenhum pobre no mundo, mas no que diz respeito às prostituições, nós temos uma lei para regular isso”. Regularizar a prostituição (leia-se exploração) de mulheres não seria prezar por sistemas coloniais/patriarcais de ordenamento da sociedade? Talvez não seja nisso que uma crítica radical da realidade se basearia para romper as correntes que nos prendem e as mordaças que nos calam.

Para que mulheres como a Jane e o entregador de aplicativo não sejam mais vítimas do enriquecimento de poucos escolhidos, mesmo em tempos de pandemia, é preciso ir além. No sentido de imaginar outro mundo possível, traçando possibilidades para inverter os rumos da nossa sociedade desigual, um mundo no qual desejamos habitar nos próximos anos ou no qual aqueles que virão irão habitá-lo.

“O processo de tomada de consciência — já vimos — não é homogêneo, nem segundo os lugares, nem segundo as classes sociais ou situações profissionais, nem quanto aos indivíduos. A velocidade com que cada pessoa se apropria da verdade contida na história é diferente, tanto quanto a profundidade e coerência dessa apropriação. A descoberta individual é, já, um considerável passo à frente, anda que possa parecer ao seu portador um caminho penoso, à medida das resistências circundantes a esse novo modo de pensar. O passo seguinte é a obtenção de uma visão sistêmica, isto é, a possibilidade de enxergar as situações e as causas atuantes como conjuntos e de localizá-los como um todo, mostrando sua interdependência. A partir daí, a discussão silenciosa consigo mesmo e o debate mais ou menos público com os demais ganham uma nova clareza e densidade, permitindo enxergar as relações de causa e efeito como uma corrente contínua, em que cada situação se inclui numa rede dinâmica, estruturada, à escala do mundo e à escala dos lugares (SANTOS, 2012, p. 169)”.

Se desejamos romper com estruturas coloniais e patriarcais hoje ainda existentes em parte dos territórios, ou com a eliminação das diferenças por sua exploração, há uma necessidade de enxergar que essas problemáticas contribuem para um todo que é muito maior do que podemos compreender separadamente.

É preciso que possamos enxergar a interdependência dessas partes que por um momento parecem se realizar autonomamente, mas que colaboram para a realização da totalidade. E, por isso, há essa necessidade representada pela reflexão de apresentarmos uma via possível contrária às opressões humanas, partes da totalidade hoje perversa, mas amanhã liberta por nosso projeto de pensamento. Ou da maneira como muito se tem feito, a continuidade daquilo que “sempre foi assim” privará essa única liberdade que nos resta, a de sonhar com um mundo mais humano completado por boas condições de vida e de existência.

Referências

SANTOS, Milton. Por uma outra globalização. 22. ed. Rio de Janeiro: Record, 2012. 174p.

Maiara de Proença Bernardino reside no interior de São Paulo, mais precisamente na periferia. É graduanda em Geografia na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Atualmente é bolsista de iniciação científica no Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq). É pesquisadora de temas da área de Geografia Humana e Geografia Urbana.

A imagem de destaque do artigo foi reproduzida da emissora CNN.

4 COMENTÁRIOS

  1. A repetição do moralismo de cunho religioso sexual é uma constante na esquerda. Na revolução espanhola em 36, enquanto as Mujeres Libres militavam pela abolição da porostituição, as trabalhadoras sexuais tomavam e autogeriam os puteiros, se vendo como trabalhadoras.

    No texto acima, não precisa nem argumentar muito. A autora expõe o seu ‘dois pesos e duas medidas’, e assim o seu moralismo sexual, ao escrever “Para que mulheres como a Jane e o entregador de aplicativo…”, sendo que, no entanto, apenas levanta a bandeira da abolição do trabalho sexual e não do trabalho de entregas. Por que será?

    Outro lugar comum hoje em dia é afirmar que os que não são contra a abolição da prostituição defendem concepções liberais. Talvez até seja, mas quando se trata de conservadores ou reacionários com moralismo sexual racionalizado, o liberalismo é sem dúvida um avanço e um progresso. Entre o liberal e o conservador não é difícil para um progressista escolher o lado, se é essa a questão.

    De todo modo, desse ponto de vista da autora, todo o movimento socialista histórico consequente foi e é liberal. Afinal, ele se baseia na luta do trabalhador, enquanto trabalhador, mesmo que tenha como horizonte a abolição do trabalho (do trabalho, não apenas da sua profissão).

    Óbvio que as trabalhadoras e trabalhadores sexuais não tem escolha, não são livres. Mas assim são todos os proletários da Terra. Uns com mais liberdade de escolha do trabalho e de suas condições, outros menos. Mas todos sob o constrangimento de venderem sua força de trabalho para sobreviverem.

    Me parece que quem contesta assim o que seria um liberalismo deveria ser radical. Radical significa ir à raiz da questão. E a raiz da questão é a condição social que obriga o ser humano a vender sua força de trabalho para sobreviver. Dessa necessidade ou obrigação é que na vida de cada um se apresentará as possibilidades, ou a falta delas, de escolha de venda da sua força de trabalho. O artigo em questão até aponta nesse sentido. O que o torna contraditório.

    Em suma, não faz o menor sentido falar de abolição de uma profissão específica, mas sim da condição que obriga alguém a eventualmente exercer essa e qualquer outra profissão em que se esteja obrigado a vender a força de trabalho para sobreviver. E essa abolição da sua condição de proletário vai ser tarefa dos próprios trabalhadores. E dos próprios trabalhadores questionando a sua função e o objetivo da sua produção.

    De pastores e pastoras o mundo já está cheio.

    Isso para não tocar que quando se fala de abolição da prostituição, se está pedindo que isso se dê nas condições atuais. Trata-se de uma política com implicações práticas conhecidas. Na Suécia e em outros países da Europa, segundo a onda conservadora que atravessa também todo o espectro da esquerda, a prostituição vem sendo “abolida”, ou seja, ilegalizada. Ou seja, as que não tem escolha ficam mais vulneráveis e invisíveis. O discurso da abolição da prostituição tem suas consequências práticas sobre as trabalhadoras e trabalhadores sexuais: a de dificultar o trabalho e piorar as condições de trabalho. Serve apenas à consciência puritana da classe média que não precisa exercer a profissão. Que o puritanismo fique na frente do interesse concreto de uma categoria de trabalhadores, vemos a que ponto o conservadorismo de origem religiosa está presente na esquerda.

  2. A legalização da prostituição se provou falha em vários países, o que não cabe a mim lista-los (pelo menos não nesse momento). O discurso de que a prostituição é uma forma de trabalho antiga é em si antimarxista. Se desejamos o fim das opressões e explorações de todas as classes, temos que olhar para elas, é sabido que entre a população explorada sexualmente estão em sua grande maioria mulheres negras e crianças. O discurso de que a exploração das mulheres pela prostituição é o “trabalho” mais antigo, e de q a defesa de sua legalização irá fazer com que essas mulheres se tornem as donas dos meios de produção ou lhes darão melhores condições de vida, é em si falho e redutor da realidade, pois uma vez imersa na vida da prostituição essas mulheres não conseguem sair dela muito fácil, vide a Jane. Friedrich Engels já comprovou muito bem a origem da propriedade privada na sociedade capitalista e suas relações intrínsecas com o consumo, venda e corpos das mulheres nesse sistema posterior a sistemas matriarcais. E para além de Engels, qualquer leitura de Marx comprova que a exploração dessas mulheres não pode ser considerada trabalho produtivo, assim como muitos conservadores de esquerda desejam apagar tais explorações dando novos nomes como “trabalho sexual”.

    Sempre irão tentar dizer que as esquerdas radicais que defendem a abolição da exploração dessas mulheres é moralista, justificando de que é uma profissão das mais antigas ou que há suposta liberdade sexual e dos corpos. O que não passa de um conservadorismo e moralismo, uma cega visão da realidade concebida dentro de algum gabinete. Onde pretende conservar essas estratégias de dominação das classes consideradas subalternas, justificando ser uma profissão antiga e de que as esquerdas radicais estão agindo como pastores ao tentar imaginar um mundo onde não haja a exploração dos corpos dessas mulheres (ou de outros corpos) como forma da existência das mesmas.

    O que estou cobrando no texto, é o uso da nossa imaginação (hoje bem condicionada) para tentar projetar um mundo sem qualquer tipo de exploração. Se isso é ser moralista e conservadora, poderia dizer o que não é? Não ser conservadora seria continuar a repetir que muitos são explorados sem ter a vontade de mudar a situação? Não ser conservadora é acreditar que pq mulheres se prostituíam elas devem dar continuidade à essa exploração por sempre ter sido assim? Não ser conservadora é não se questionar por que essa condição se coloca mais fortemente entre as mulheres, cuja 70% delas estão na linha na pobreza? Não ser conservadora é aceitar essa realidade?

    E consequentemente não abordei a abolição dos sistemas de entregas, pois meu texto tomou outros rumos, mas, com certeza sou a favor da abolição dessa exploração o que deveria ter podido ser concluído sem ser necessário explanar para os quatro cantos. Tais reflexões não se encerram em um texto, elas tem sua continuidade fora dele.

    Me desculpe, mas moralista e conservador é a pessoa que comentou acima, tentando transpassar uma falsa liberdade sexual e escondendo o objetivo do texto que é explanar o conservadorismo dos comentários como esse e propor uma necessidade em pensar a transformação da sociedade. Onde se esquecem as condições em que vivem essas mulheres, muitas delas já no fim da vida como a Jane e que ainda continuam em situações precárias, mesmo que esses pensamentos conservadores queiram transpassar que a vida dessas mulheres é repleta de liberdades. O que nos mostra uma confusão, pois, esses pensamentos moralistas e conservadores, mascarados críticos dos que eles consideram moralistas, tentem engaiolar a reflexão alheia pela falsa concepção de liberdade, indicando que qualquer pessoa que queira refletir sobre a transformação da sociedade por abolição de sistemas escravistas e patriarcais sejam conservadores.

  3. O comentário acima da autora não sei ao certo com quem dialoga, quando fala sobre marxismo, trabalho produtivo e a prostituição ser profissão antiga. Afinal, no meu comentário não argumentei nada sobre isso ou com base nisso.

    “A legalização da prostituição se provou falha em vários países, o que não cabe a mim lista-los (pelo menos não nesse momento).” Falha para que? Ora, a legalização dela busca evitar o pior, que vem com a invisibilidade e menor proteção na ilegalidade. E isso vale para outras profissões também.

    O número de falácias lógicas no comentário é muito grande para eu me estender aqui. Quando não de afirmações baseadas no nada, como esta: “é sabido que entre a população explorada sexualmente estão em sua grande maioria mulheres negras e crianças”.

    Aqui, a autora discute com um espantalho (falácia do espantalho): “Sempre irão tentar dizer que as esquerdas radicais que defendem a abolição da exploração dessas mulheres é moralista, justificando de que é uma profissão das mais antigas ou que há suposta liberdade sexual e dos corpos. ”
    Eu, por exemplo, não baseei meus argumentos em prostituição ser profissão antiga e muito menos em liberdade sexual da mulher. Mas parece que quem me respondeu foi um bot.

    Empregadas domésticas são o resquício de sociedades escravocratas. Uma profissão com menores de idade trabalhando, com relações de trabalho precárias em geral, e para cuja atividade existem rede de tráfico de pessoas. Mas você, leitor, pode esperar sentado um discurso abolicionista dessa profissão. E ainda bem, porque é algo que não faz sentido, na medida é meio de vida de inúmeras proletárias em codições ainda consideradas aceitáveis pros nossos valores e patamares atuais. A esquerda e as lutas sociais consequentes levam à ampliação de direitos das empregadas domésticas, como se deu anos atrás com a PEC das domésticas.

    E vou dizer por que você nunca verá as pessoas que levantam a bandeira da abolição do trabalho sexual levantarem da mesma forma a bandeira da abolição do trabalho doméstico ou do trabalho de entrega: porque obviamente as condições de trabalho e a precariedade da prostituição é só uma racionalização, como constatamos por comparação. O grande problema com a prostituição para os e as abolicionistas é que se trata de SEXO. Isso é que em essência diferencia esse trabalho e faz historicamente, mesmo na esquerda, o discurso abolicionista ser alimentado.

    Pelo jeito para essas feministas a essência da mulher é o sexo, e por isso deve ser mantido intocado, protegido das relações mercantis ou capitalistas.. mantido na sua pureza. Amém.

  4. “Ora, a legalização dela busca evitar o pior, que vem com a invisibilidade e menor proteção na ilegalidade. E isso vale para outras profissões também.” Evitar o pior em que sentido? Sendo que os lucros dos programas vão direto para o bolso dos patrões e mulheres como a do texto continuam passando fome? Para quem vale a legalização? É para evitar o pior para quem? Não vejo outro grupo a não ser os empresários industria sexual, da pornografia, do tráfico de mulheres e crianças que terão mais liberdades para tal exploração.

    “Quando não de afirmações baseadas no nada, como esta” Não há informações baseadas no nada, e podem ser observados para isso dados da ONU e outras instituições que elaboram diferentes dados. Talvez você seja o bot entre os comentários.

    E sim, o uso das mulheres para serem empregadas domésticas é um resquício da nossa sociedade escravocrata, assim como a venda e comercialização de corpos de mulheres e crianças são resquícios, dessa sociedade e da sociedade patriarcal (ambas funcionam em conjunto) originárias da propriedade privada. “A esquerda e as lutas sociais consequentes levam à ampliação de direitos das empregadas domésticas, como se deu anos atrás com a PEC das domésticas.” Minha mãe é empregada doméstica, quando essa lei saiu ela perdeu o emprego pois a patroa dela não quis pagar os direitos previstos em CLT, como é o caso de muitas mães de famílias brasileiras dentre elas vizinhas e amigas da família. Hoje ela está desempregada há mais de 5 anos, recebemos auxílio da Assistência Social da cidade, pois agora com a pandemia, especialmente para as mulheres, não há trabalho. Das empresas que trabalhou, todas foram terceirizadas e não ficavam com ela por muito tempo, além de terem aplicado diferentes golpes contra a CLT para não pagarem direitos, a última empresa da qual ela fez parte foi a Ômega, na qual ela ainda espera a liberação dos direitos pela justiça. Hoje segue desempregada, até antes da pandemia fazia uma faxina de lá, outra de cá, ganhando entre 50,70 reais e vivendo com o que dá. Então, não sei até que ponto essa ampliação de direitos se mostrou real, ou se foi apenas na aparência para pessoas como o comentador acima acreditarem e darem como fato.

    “E vou dizer por que você nunca verá as pessoas que levantam a bandeira…” Nunca diga nunca, a sociedade se transforma à todo momento, e existem sim movimentos pró-abolição dos sistemas de entrega e por melhores condições de trabalho dessas populações, muitos deles constituídos pelos próprios entregadores no último caso e outros por políticos.

    “O grande problema com a prostituição para os e as abolicionistas é que se trata de SEXO” Não citei em nenhum momento que o problema se trata de SEXO, e sim que a realidade material nos mostra grandes contradições quando o assunto é prostituição de mulheres. No próprio exemplo do texto, com a Jane, não se está tentando dizer que o problema é sexo, e sim dizer que essas mulheres ainda vivem em situações muito precárias, o que poderíamos considerar sub-humanas visto que passam fome mesmo que residam nos bordeis e exerçam o dito “trabalho mais antigo do mundo”. O que se coloca não é um problema moral, em privar o uso da sexualidade, mas sim a realidade material da nossa sociedade que é capitalista, onde o corpo e a sexualidade dessas mulheres servem para uma lógica de funcionamento do capital, no caso a industria sexual e suas ramificações.

    “Pelo jeito para essas feministas a essência da mulher é o sexo, e por isso deve ser mantido intocado…” Isso se trata de uma má interpretação da sua parte, pois em nenhum momento foi dito que o problema é sexo, e sim a realidade material, que é perversa, e se coloca sobre essas mulheres exploradas diariamente em nosso sistema ainda patriarcal e escravista.

    No mais, não irei mais responder, pois demanda o uso de tempo e tenho outras demandas para cumprir. O debate é interessante. Abraços.

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