Por Padrone di merda

O que aconteceu? No início da manhã de hoje (18/05) em Bolonha, na Itália, alguns trabalhadores e precários que se recusaram a ser explorados e enganados por seus patrões de merda foram acordados por oficiais de polícia, que informaram medidas preventivas contra eles: cinco receberam a ordem de sair de Bolonha e um deles foi proibido de se aproximar de seu ex-local de trabalho e de seus ex-chefes. Ao menos 13 trabalhadores também foram acusados.

Ainda que todos saibam que a proteção de jovens precários nunca foi sua prioridade, a polícia apareceu sem luvas ou máscaras e sem respeitar as regras de distanciamento social, colocando sua saúde em risco. Quando um trabalhador precário reclamou, o oficial de polícia respondeu, para a diversão do seu colega: “Não se preocupe, com esse mandado você vai terminar bem distante!”. Eles estão zombando da mesma regulação de saúde que eles estavam impondo com multas e penas durante o lockdown.
O que é o mandado? É uma medida preventiva (isto é, lançada de forma arbitrária por um juiz e cumprida imediatamente sem um julgamento, quer dizer, sem nenhuma prova ou “culpa”) que obriga aqueles que a receberam a abandonar a cidade de Bolonha e não voltar por um período indefinido. Não importa que eles tenham amigos, namorados e em alguns casos famílias na cidade. Não importa que isso irá limitar ainda mais a renda precária desses trabalhadores. Não importa que estamos no meio de uma pandemia, que limita a mobilidade por razões de saúde pública. Eles claramente não se importam com a disseminação do vírus e a possibilidade de infecção. De uma hora para a outra, esses trabalhadores que antes não podiam deixar suas casas, tiveram que deixá-las e ir para sabe-se lá onde e sabe-se lá por quanto tempo. Eles devem ir para a casa de amigos ou parentes, pondo em risco sua saúde e a dos demais? Eles devem alugar uma casa fora de Bolonha, quando já está difícil pagar o aluguel da própria casa dentro da cidade? As mesmas pessoas que dizem querer proteger nossa saúde agora mostram que nunca se importaram de fato. Só lhes importa o estado de saúde dos lucros dos patrões. 
A quem essa medida se dirigiu? Um trabalhador de uma cooperativa social em Bolonha, que foi forçado a continuar trabalhando durante o lockdown, por um baixo salário e sem proteção adequada; um funcionário de um bar, que deveria retornar hoje ao trabalho; o sócio de uma pequena empresa, que se recusou a transmitir a crise aos seus trabalhadores e, por esta razão, não recebeu um único euro do Estado ou do governo local; um estudante que precisa trabalhar ilegalmente para pagar o curso na universidade; um motorista que se viu obrigado a continuar trabalhando durante a quarentena para sobreviver. Para além de todos esses, um antigo empregado do Nails Café, que está no centro do caso, foi também proibido de se aproximar do seu antigo local de trabalho ou dos seus ex-chefes. Estes patrões de merda são culpados de não terem pago milhares de euros devidos a um empregado. A mensagem para os trabalhadores é: deixem que estes patrões vos explorem e vos enganem em paz.
De que estão eles a ser acusados? De assediar os patrões que não pagam o que devem. A partir desta manhã, exigir o seu salário passa a se chamar extorsão! A partir desta manhã, protestar contra seu chefe, contra a fraude e o assédio, perturbando assim seus negócios, passa a se chamar violência!
No dia de reabertura de vários negócios, depois de meses de lockdown, a palavra de ordem é “recuperação da economia”, mas a mensagem é clara: essa recuperação é apenas para os patrões. Ninguém liga para os jovens, precários e trabalhadores explorados, que em geral não receberam um centavo durante este período. Esta economia, que funciona à base de trabalho ilegal e mal pago, deve se recuperar rapidamente e os trabalhadores que protestam se tornam um grande problema para todos os chefes que pretendem passar os custos da crise para seus empregados.
Não adianta tentar identificar nossos nomes ou nos sair à nossa caça, pois há muita gente atrás destas máscaras brancas: todos os trabalhadores precários que escolheram vingar-se dos seus exploradores; todos os trabalhadores que se reconheceram numa das muitas histórias de chantagem, fraude e assédio que contamos. Ainda mais agora que estamos em plena crise económica, para cada chefe explorador haverá mais mascarados dispostos a sair para a rua. Para cada trabalhador forçado a sair de casa, haverá gente pronta a se espalhar pela Itália, porque esses patrões de merda estão por toda parte.
Quando as instituições dizem #andràtuttobene (tudo ficará bem), nós sabemos o que isso significa: tudo ficará bem para os patrões, os únicos que são realmente protegidos. É por isso que a vingança contra eles não vai parar. É tempo de colocarmos de novo nossas máscaras. 

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