Por Alfredo Lima

Conforme os estados foram decretando aos poucos medidas de isolamento social, diversas atividades deixaram de se tornar rotineiras. Dentre elas, as academias de ginástica. Para achatar a curva, era necessário desaprovar a circulação pela cidade de pessoas para a realização de serviços não essenciais. Mas as academias brasileiras, junto dos salões de beleza e barbearias, passaram a ser serviço essencial, conforme decreto do Presidente Jair Bolsonaro.

O decreto, além de ir contra as recomendações da Organização Mundial de Saúde, é tido mais como um constrangimento aos estados e municípios, que deverão responder politicamente pela decisão de abrir as academias. Dias atrás o Supremo Tribunal Federal determinou que os estados e municípios devem ter autonomia para decidir sobre a implementação das medidas de isolamento social. Mesmo assim, o presidente ameaçou denunciar os que “descumprissem o decreto” para a Advocacia-Geral da União.

Um apoio conveniente

“foi um baita reconhecimento. Se você olhar em termos de doença e saúde, tem atos preventivos e corretivos. E somos o preventivo, porque você consegue diminuir os riscos com hábitos saudáveis. De alguma forma, é um reconhecimento da importância desse serviço” — EDGAR CORONA, sobre o decreto que torna academias de ginástica serviço essencial.

Edgar Corona faz essa declaração no dia 13 de maio, demonstrando que a rede Smart Fit tenciona reabrir. Já no dia 18 de maio o Conselho Regional de Educação Física do Rio de Janeiro faz uma nota de protesto contra o governo do estado, que insiste em manter as academias fechadas, e tem, junto aos municípios do estado, a responsabilidade pelo isolamento.

O que vemos desses movimentos é um grupo investindo contra adversários políticos que estão endossando a quarentena, fazendo de tudo para as academias voltarem a gerar receita. O prefeito Marcelo Crivella declarou, dias atrás, que as redes de academias no Rio de Janeiro empatam com as de São Paulo em termos de participação econômica. Dias à frente, após reunião com o Presidente, já declarou estar estudando o retorno do comércio e do setor de serviços, apesar de a curva de contágio ainda apresentar ascensão.

Mas quem compartilha essa posição?

Um cliente preocupado publicou no Passa Palavra que houve, em decorrência da pandemia, demissão em massa e corte de salários de funcionários. Em meio a isso tudo, os profissionais de educação física estão receosos de voltar ao trabalho e se expôr ao vírus, ou ficar em casa e ter seus contratos ainda suspensos devido à MP 936/2020, que permite interrupção de contrato e corte no salário. Sabem ainda que não são todas as academias que têm estrutura para reabrir com cuidados sanitários adequados, mas as pequenas academias de bairro também vão querer abrir. Não parece haver uma categoria dividida, mas sim um jogo político em que o lado mais fraco não é nem o político pró-isolamento nem o negacionista, mas sim o trabalhador, o que paga pela política de deslocamento irresponsável da força de trabalho.

Além disso, a rede Smart Fit não está assegurando que os muitos clientes possam desfazer suas matrículas, e continua cobrando preços abusivos mesmo com as academias fechadas. Então, estão chantageando os clientes para manter sua receita ativa e colocando contra a parede os trabalhadores! Os eugenistas que nos querem mortos em nome da economia dão passos largos em direção a seus interesses, que não são tão pessoais assim. Para isso, terão um apoio conveniente. A menos que pautemos a nossa sobrevivência contra Edgar Corona e os demais gestores de academias, a situação será catastrófica.

2 COMENTÁRIOS

  1. A Smartfit é a Amazon em terras tupiniquins,a diferença está apenas nas dosagens que a Casa Grande local adiciona na equação. Tido como referência se sucesso a ser copiada, é cantado em versos até na borracharia da esquina.

  2. Acho que cabe destacar que esse senhor Edgar Corona, dono da Smartfit, além de ser um dos mais importantes empresários que apoiam Bolsonaro, apareceu na lista do STF, ao lado do famigerado “Véi da Havan”, como um dos suspeitos de financiar o chamado “gabinete do ódio” na disseminação de Fake News. A relação de proximidade destes cidadãos respeitáveis com o governo federal salta à vista e parece estar por trás dessa reconhecimento humanitário do Bolsonaro de que as academias são serviços essenciais.

    *Lista de alvos do STF mistura expoentes da tropa bolsonarista e figuras laterais; veja quem é quem
    https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/05/lista-de-alvos-da-pf-mistura-expoentes-da-tropa-bolsonarista-e-figuras-laterais.shtml

    *Donos da Centauro e da Smart Fit deixam grupo de empresários que criticou Bolsonaro
    https://www1.folha.uol.com.br/colunas/painelsa/2020/05/donos-da-centauro-e-da-smart-fit-deixam-grupo-de-empresarios-que-criticou-bolsonaro.shtml

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