Por 1010010

O último passo para entender o funcionamento de um celular são os aplicativos.

O que é um aplicativo? É o WhatsApp, é o Signal, é o Facebook, é o Twitter, é o Candy Crush, é o Angry Birds, é o Clash Royale… em resumo, é todo “programa” que você baixa para usar em seu celular.

O aplicativo serve para satisfazer alguma necessidade nossa, e funciona como um conjunto de “ordens” dadas ao aparelho. Exemplo: quando a tela for tocada, o aparelho fará aparecer o relógio. Outro exemplo: quando a câmera estiver aberta e você “abrir os dedos” na tela, o aparelho vai aproximar a imagem. Um aplicativo é um monte de “ordens” juntas, que dizem ao celular como reagir a um comportamento seu para atender a uma necessidade sua.

Por praticidade, nós não vemos estas “ordens”. Vemos as imagens, as figuras, os desenhos, as teclas, mas não as “ordens” por escrito. Um desenvolvedor, um programador, sabem como ver estas “ordens”, e sabe como juntar várias “ordens” para criar um aplicativo.

Acontece que alguns aplicativos não permitem que nenhum outro desenvolvedor possa ver como as “ordens” funcionam, e que “ordens” são realmente dadas ao aparelho. É como um bolo: ele está lá para nós comermos e matarmos nossa fome, mas o cozinheiro não diz o que tem nele porque é “segredo”. Só diz para confiarmos que o bolo é gostoso.

Apesar da semelhança, existem grandes diferenças entre a receita de um bolo e o código do aplicativo (ou seja, às “ordens” apresentadas de uma forma que um desenvolvedor possa ler e entender). Um bolo malfeito causa no máximo uma dor de barriga; um aplicativo malfeito pode criar vários problemas no aparelho. Não aceitamos pedaços de bolo de qualquer pessoa, mas um aplicativo pode ser tão necessário que somos forçados a aceitá-los mesmo quando nos prejudicam.

A melhor forma de saber se um aplicativo realmente cumpre o que promete, ou se faz alguma coisa escondida, é analisar o código. Quando um aplicativo permite que outros desenvolvedores (além de quem o criou) possam analisar o código, dizer se ele faz aquilo para que foi feito, comparar com outros aplicativos parecidos, propor mudanças etc., este aplicativo é chamado de software livre, ou aplicativo livre.

No que diz respeito à privacidade e segurança, a principal característica de um software livre é que ele pode ser auditado. Com isto, desenvolvedores independentes podem analisar todo o seu funcionamento, encontrar falhas de segurança ou de funcionamento, propor mudanças e apresentar relatórios de auditoria ao público, recomendando o uso ou alertando para problemas.

Chamamos a atenção para alguns que consideramos essenciais:

  • F-Droid: aplicativo que serve como um repositório de aplicativos livres; ou seja, é o lugar onde desenvolvedores de aplicativos livres colocam seus produtos (quase todos gratuitos) à disposição do público. Instale, pesquise e encontre o aplicativo que precisa.
  • Aurora Store: aplicativo que anonimiza seu acesso à Play Store do Google.
  • Signal: faz a mesma coisa que o WhatsApp (mensagens, áudio, vídeo, fotos, chamadas, arquivos anexos etc.), tem outras funções (criptografar SMS, por exemplo) e é muito mais seguro.
  • Briar: mensageiro em puro texto (sem fotos, vídeos, áudios, anexos etc.) que troca mensagens por meio de uma rede protegida e criptografada. Tem muitas outras funcionalidades como um leitor de RSS, grupos privados, fóruns públicos acessíveis somente por meio dele, e serve inclusive para trocar mensagens sem internet (via bluetooth ou pela rede do modem, quando os celulares conectados estão próximos).
  • K9: aplicativo para acessar e-mails que, combinado com o aplicativo OpenKeychain, permite uso de chaves de criptografia em seu celular.
  • Feeder: agregador e leitor de notícias (usa tecnologia RSS) que, bem configurado, substitui Feedly, Flipboard etc.
  • SealNote: bloco de notas criptografado e bloqueado por senha.
  • RiseupVPN: mantenha sempre ligado para adicionar uma camada extra de privacidade à conexão de internet de seu celular.
  • Orbot: liga a rede TOR em seu celular, permitindo camadas extra de segurança no uso de internet.
  • TOR Browser: navegador Firefox adaptado para acessar a rede TOR.
  • DuckDuckGo: serviço de pesquisa que, diferentemente do Google, não guarda histórico de suas pesquisas para o resto da vida, nem classifica suas pesquisas de acordo com seu “perfil”.
  • Jitsi: aplicativo para teleconferências gratuitas e criptografadas que substitui o Zoom e o Meet, com a vantagem de não exigir login ou senha para participar nas reuniões — garantindo assim mais uma camada de segurança — e, em computadores, pode ser acessado de qualquer navegador (Firefox, Chrome, Opera etc.) sem precisar instalar nada.
  • OnlyOffice: suíte completa de escritório para substituir Google Docs, Microsoft Office, Adobe Acrobat Reader etc. em seu celular.
  • Frost: substitui o aplicativo do Facebook, permitindo acessar esta rede social minimizando os riscos à privacidade de seu aparelho.
  • Twidere: substitui o aplicativo do Twitter, permitindo acessar esta rede social minimizando os riscos à privacidade de seu aparelho, e permite também acessar a rede social federada Mastodon.
  • NewPipe: acessa vídeos no Youtube sem exigir login, reproduz em segundo plano e ainda lê as listas de reprodução que você salvou em sua conta. Existe também a versão Legacy para celulares mais antigos (Android 4 ou menos).
  • VLC: reprodutor completo de mídia, que ainda permite reproduzir mídia compartilhada dentro de uma rede.
  • OONI Probe: aplicativo de testes de rede que reúne testes de velocidade, testes de bloqueio de sites, testes de bloqueio de Whatsapp e Telegram…
  • Escapepod: reprodutor de podcasts (só RSS, não lê do Spotify nem de serviços similares).

Se você quiser avançar ainda mais na proteção à segurança e privacidade de seu aparelho e tiver os conhecimentos técnicos adequados, pode aventurar-se a trocar o Android que veio instalado de fábrica em seu aparelho por algum sistema operacional livre como LineageOS, CalyxOS, ReplicantOS ou PostmarketOS — mas ATENÇÃO: se não tiver os conhecimentos técnicos necessários, não faça a operação, pois seu aparelho pode ficar inutilizado. Feita do modo adequado por quem tenha os conhecimentos técnicos necessários, esta troca pode inclusive estender a vida útil de seu aparelho em dois anos ou mais, porque as atualizações do Android padrão encerram-se cerca de dois anos depois de lançado o aparelho, enquanto nestes sistemas haverá atualizações enquanto houver desenvolvedores interessados em fazê-las e lançá-las.

Uma última recomendação: apesar das indicações, lembre-se que não é um aplicativo que resolverá seus problemas de privacidade e segurança. É a sua atitude com o aparelho, é o seu cuidado com o que guarda nele, com o que conversa usando-o, com onde o conecta, com quem tem acesso a ele, é isso, no fim das contas, que garantirá sua segurança e privacidade muito mais que qualquer aplicativo.

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