Por Cridom

Beatriz teve um namorado na adolescência, o Marcos. Por conta disso, seu pai a fez ir morar em outra cidade, e disse:

— Beatriz, você já está dando problemas, vai!

Beatriz dizia que nem chegou a perder o cabaço com ele. Mesmo indo embora para a casa de uma tia, irmã de seu pai, pediu a uma amiga, a Margarete, que desse ao seu namorado o seguinte recado:

— Eu quero é ficar com você!

Margarete talvez nem tenha dado o recado. A amiga se casou com Marcos. Virou ex-amiga de Beatriz. Marcos, que virou marido de Margarete, era amigo do futuro marido de Beatriz, o Damião, que então virou ex-amigo de Marcos. Beatriz começou a namorar com Damião só para fazer pirraça para Marcos, que nesta altura já estava com Margarete.

Margarete, durante uns dez anos, tinha o sócio do seu marido como seu amante. Margarete, há uns oito anos, engravidou do amante, o Paulo. Marcos é estéril. Ela contou ao marido que aquilo era um milagre de Deus, que ela havia feito uma promessa; chegou até a pagar a tal promessa. E por anos ele acreditou, ou fingia acreditar na história. O filho dela é a cara do seu ex-amante.

Há cerca de um ano Margarete chegou à casa da mãe do amante e surpreendeu Paulo com sua namorada, resultado, deu tanta porrada nela que todos foram parar na delegacia. Depois que Margarete saiu da delegacia ela foi direto para a igreja. Pediu socorro ao padre, que chegou a acompanhá-la até a sua casa para ajudá-la a contar tudo ao marido. Marcos não estava e demorou tanto a chegar que o padre foi embora. A irmã de Margarete chegou à sua casa primeiro que Marcos. Brigou tanto com ela que ela, vendo que a própria irmã estava decidida a contar tudo ao cunhado, assumiu que ela mesma contaria, e contou. Marcos então passou a mão no telefone e ligou para o sócio. Conversaram por mais de uma hora. Marcos ficou sabendo de detalhes, inclusive que os dois, por várias vezes, haviam trepado na cama do casal. A sociedade de Marcos e Paulo foi desmanchada. O casamento de Margarete e Marcos, não. Margarete perdeu o amante. Paulo contou tudo para Marcos na esperança do casal terminar o casamento e Margarete querer de vez ficar com ele. Isto não aconteceu.

O marido de Beatriz, o Damião, ex-amigo do Marcos — aquele seu namorado da adolescência —, sofreu sete acidentes na vida; no último ele morreu. Caiu num jogo de futebol. Brincadeira entre os amigos no clube da cidade. Cabeça contra o chão, uma semana na UTI, morte.

Sempre que Damião jogava bola com os amigos, naquele pequeno clube, daquela pequena cidade, e encontrava Marcos em campo, jogando do lado oposto, enciumado dava nele carrinhos para machucá-lo. Beatriz sabia do que se tratava.

O falecido da Beatriz, o Damião, também tinha uma amante. A amante de Damião viu a cena quando o amado morreu. Amiga de Beatriz e filha de um colega de trabalho de Damião, foi na UTI e tudo. No enterro, chorou mais que a própria Beatriz; amante apaixonada.

Beatriz perdeu o marido. Depois de quase vinte anos Beatriz teve a primeira conversa com Margarete e Marcos. A ex-amiga ofereceu a ela o Marcos, assim:

— Beatriz, se você quiser o Marcos de volta é só pegar. Pode ficar com o meu filho também. Te devolvo o Marcos com juros pagos!

O falecido da Beatriz havia feito um seguro alto. Morrendo, deixou a viúva muito bem. Com a grana do seguro ela comprou uma casa, um sobrado e um sítio.

Certa feita, pouco tempo antes da morte de Damião, Beatriz contou à sua amiga Rafaela, a que era amante do seu marido e ela não sabia, que tinha vontade de trepar com o seu professor de hidroginástica e, também, com um colega de trabalho; um cabeludo muito gentil que com ela trabalhava no salão de beleza. Rafaela contou isso para Damião, que então cercava Beatriz o quanto podia.

Depois que ele morreu, uns três meses, ela começou a namorar com um médico, o Aristides. Ela já o conhecia, um pouco, há uns bons dez anos; era o mesmo médico que havia feito o seu pré-natal quando do segundo filho. Em pouco tempo o namoro dos dois se foi; ele não aguentou a ex-sogra dela — Idelmina, mãe do falecido Damião. Isto porque Idelmina boatava na pequena cidade que o médico Aristides era um assassino, que havia mandado alguém desligar os aparelhos que mantinham o filho dela vivo só para que ele pudesse ficar com Beatriz. Essa história rendeu até exumação do corpo do falecido Damião; deu em nada.

Há poucos dias o Marcos, aquele namorado da adolescência, apareceu sozinho na casa de Beatriz. Ela acha que ele, ao contrário de um outro namorado que ela teve na adolescência, o Edvaldo, está bonito. Eles conversaram um pouco, se abraçaram, choraram e tremeram juntos, e se beijaram no rosto carinhosamente. Marcos prometeu voltar. Não voltou. Beatriz mandou uma mensagem para o celular dele: “Todo o amor que sinto por você, e que estava adormecido, acordou!” Nem assim ele voltou; não ligou; não mandou mensagem. Beatriz encontrou Marcos numa das ruas da cidade. Ele disse que havia recebido a mensagem dela, e só.

Hoje, Beatriz procura uma nova casa para morar, bem longe de Marcos, em outra cidade, outra região; e dessa vez de frente para o mar. Quer ficar longe e acha que assim será melhor para ela e para ele. “Se ele me ama, e me quer, ele virá atrás de mim. Não é verdade?” Dizia Beatriz a um estranho qualquer que veio ter com elas na praia, numa noite de verão, na cidade que Beatriz acreditava estar prestes a abraçar de vez. Beatriz estava ao lado de uma moça, a Pietra. Enquanto os três conversavam ela e a moça dividiam as cervejas que bebiam e os cigarros que fumavam. Beatriz, bela e razoavelmente sensual, aparenta ter por volta de 40 anos; a moça, uns 20. Pietra contava que está para começar a faculdade de Turismo.

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