Por Victor Silva

Dá para falar, sem qualquer exagero, que acabou de acontecer a maior e mais longa mobilização grevista de trabalhadores de aplicativo da história do Brasil.

Tudo começou com um novo teste da iFood na gestão do trabalho dos entregadores. Hoje a iFood tem duas modalidades de entregadores: os “Nuvens” e os OL (Operador Logístico). Qual a diferença entre os dois? O “Nuvem” é o entregador “clássico” sem horário e sem escala. Já o OL tem uma empresa terceirizada que define escala determinada semanal que pode ser cobrada ( mas que dizem ser voluntária), tem seu salário repassado pela empresa, assim como os benefícios e também tem chefia direta. A única coisa que não tem é direitos.

A iFood distribui as entregas para os entregadores, formalmente, a partir do score que eles tem. O score é o desempenho deles: taxa de realização de entregas, satisfação dos clientes etc. É considerado um critério “justo” por muitos porque “recompensa trabalho duro”.

No entanto, “todo mundo sabe” que são priorizados os entregadores OL na hora de fazer a entrega e render um extra. Esse seria um atrativo para entrar na modalidade com bem menos liberdade. Pois bem, desde 1 de julho esse desequilíbrio aumentou subitamente.

Entregadores nuvens que faziam 30 entregas/dia estão fazendo 6 entregas/dia. E entregadores OL estão tendo que se subordinar a uma sub-praça, isto é, um perímetro geográfico bem determinado, para conseguir as entregas. Que são muitas pra quem se enquadra nos critérios.

Diante dessa injustiça de dar entregas apenas para os que se submetem ao OL e ao regime de sub-praça, os entregadores “nuvens” organizaram essa paralisação. Começou no Park Shopping, em Campo Grande, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Se espalhou na terça feira para a Zona Norte.

Os entregadores “nuvens” fizeram, no total, uma paralisação entre domingo e quinta feira de múltiplos estabelecimentos. Começou fechando dois shoppings na Zona Oeste, depois mais dois shoppings na Zona Norte e muitos estabelecimentos como McDonald’s.

Na quarta feira, quando viram que a tendência da paralisação era enfraquecer pela ausência de um fundo de greve e de uma campanha de solidariedade, os entregadores fizeram uma manifestação que chegou até em frente ao SBT para obter visibilidade. Três entregadores foram detidos.

Os entregadores inovam muito nas formas de ação utilizadas: o piquete motorizado também é uma forma de manifestação de rua e rapidamente uma manifestação se torna um piquete que pode se deslocar para qualquer localidade.

Os trabalhadores organizaram essas ações e essa paralisação de 4 dias de forma autônoma, sem sindicato nem partido. Estão experimentando na tora aprender a fazer política, construir alianças, lidar com milícias e com os estabelecimentos e no geral, foram muito bem.

Essa mobilização pega no centro de uma experiência importante da classe trabalhador brasileira: a precarização e a pressão pelo desemprego pressionando pela deterioração das condições de trabalho e da liberdade de negociar seus bicos pra complementar renda.

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