O Talibã, superando talvez suas antigas tendências anti-soviéticas, envia seus emissários à China, que superando talvez sua islamofobia genocida, ativa a máquina de propaganda estatal para legitimar esta curiosa amizade. Ou talvez não tenham superado nada disso, mas estejam de fato nos superando… juntos. Passa Palavra

1 COMENTÁRIO

  1. Caríssimos integrantes do Passa Palavra,

    Como sempre, vale a pena (ou não) checar as opiniões da seita de malucos comandada por Rui Costa Pimenta, que insiste em chamar a si própria de um partido a favor da causa operária acerca do assunto:
    https://www.causaoperaria.org.br/rede/dco/opiniao/polemica/apoiamos-o-pt-o-chavismo-e-agora-o-taliba/
    https://www.causaoperaria.org.br/rede/internacionalismo/africa-e-oriente-medio/somos-todos-taliba/

    (O título deste artigo é elucidativo acerca da postura desse partido: “Vitória do Talibã é uma vitória das mulheres
    https://www.causaoperaria.org.br/rede/internacionalismo/vitoria-do-taliba-e-uma-vitoria-das-mulheres/ )

    Algumas coisas me chamam a atenção. Em primeiro lugar, a questão do “programa marxista de apoio aos povos oprimidos contra o imperialismo”. Sem querer, de maneira alguma, dizer quem é verdadeiramente marxista ou não, acho curioso que o termo “classe trabalhadora” esteja ausente e, em seu lugar, encontremos o termo nebuloso e ambíguo “povo” (visto que une classes opostas num mesmo corpo social), já que é baseado numa identidade, (seja ela étnica, nacional etc). A segunda coisa que me chamou a atenção foi a ausência do termo “exploração” e, em seu lugar, encontremos o termo opressão. A outra coisa que me chamou a atenção foi o fato de o PCO ignorar que quem mais sofre com as barbaridades de grupos como o Talibã, o Daesh e o Boko Haram não são aqueles que vivem nos países dos continentes europeu e americano (para onde nossos olhos frequentemente mais se voltam), mas os trabalhadores dos próprios países de onde esses grupos se originam. Assim, quando nós, que aqui vivemos em países de tradição cristã, onde grupos de extrema-direita de viés religioso não islâmico (por exemplo, certas igrejas neopentecostais, a KKK nos EUA etc) são mais fortes do que os que afirmam professar o islã, derramamos lágrimas por atentados terroristas do Daesh em território francês (e com razão, pois é algo realmente bárbaro), frequentemente ignoramos que as populações mais aterrorizadas por esses grupos são os trabalhadores em Síria, Iraque, Afeganistão e Nigéria (para citar alguns exemplos). E quando digo que ignoramos, digo no sentido de muitas das vezes sermos realmente ignorantes relativamente ao que acontece em países não-centrais do capitalismo (ou fora de nossas fronteiras, como é o caso do Brasil).

    Portanto, o PCO, quando fala da “vitória do povo afegão contra o imperialismo estadunidense”, ou qualquer besteira dita por motivos puramente ideológicos, esse partido ou não sabe, ou esquece (espero que, pelo menos, não seja o caso de estarem tentando distorcer os fatos, o que revelaria um grau muito avançado de cretinice) de como é viver sob um regime desses, dia após dia, como pode ser constatado em veículos de mídia ligados à luta dos trabalhadores em países onde esses grupos fundamentalistas têm como base. É só ver o estrago social causado pelo Daesh e pelos grupos salafistas apoiados pelo estado turco após 9 anos de conflito em território sírio e iraquiano (note-se: não que o regime Baath do clã Assad seja flor que se cheire; por outro lado temos, felizmente, a Federação do Norte da Síria como uma boa alternativa, embora não perfeita).

    Eu poderia dizer que o PCO na verdade é apenas uma exceção no meio da esquerda, mas se eu dissesse isso, estaria errado. É que eles são mais loucos e histéricos; a diferença é de grau, não de conteúdo. É só ver como uma parte da esquerda ligada ao stalinismo/neostalinismo se posiciona em relação ao conflito em Donetsk e Luhansk que, em oposição aos neonazistas pró-Kiev e forças regulares ucranianas, se posicionam ao lado dos neofascistas e duginistas pró-Rússia, ao mesmo tempo que negam o genocídio perpetrado pelo estado soviético que atende pelo nome de Holodomor. Também poderia falar de como se posicionam e se posicionaram em relação às guerras de dissolução da Iugoslávia, a China e sua política genocida contra os Uyghurs (como o coletivo bem lembrou neste Flagrante Delito), a defesa do regime de Saddam Hussein por uma parte dessa esquerda (regime este que, por sinal, ativamente perseguiu e massacrou comunistas). Os exemplos abundam.

    A reconstrução não é impossível, mas vai ser bem difícil; nadar contra a maré nunca foi.

    Abraços solidários do
    Antonio

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