Por Rest of World

21 de setembro de 2021

Em Seul, os aplicativos de entrega de comida competem entre si para entregar uma refeição na “velocidade da luz”, enviando entregadores como Jang Hyuk pela cidade, correndo contra o relógio em rotas pré-planejadas por um algoritmo. O mesmo acontece em Bogotá, onde o imigrante venezuelano Lisandro Linarez corre contra o tempo, o crime e alguns cães irritados por $9/dia, se ele tiver sorte, trabalhando para a Rappi, o super aplicativo de entrega de comida.

O trabalho precário mediado digitalmente aumentou ao longo da última década. A Organização Internacional do Trabalho contou 489 plataformas de corridas e entregas ativas  em todo o mundo em 2020, dez vezes o número que existia em 2010. A natureza fluida da força de trabalho significa que há poucas estimativas consistentes de quantas pessoas estão envolvidas nesta categoria de trabalho, mas alguns pesquisadores acreditam que cerca de 10% da força de trabalho global agora se envolve em algum tipo de trabalho precário em plataformas.

Enquanto o modelo de “economia de compartilhamento” realmente começou a decolar nos EUA, as plataformas agora são globais, adaptando — ou não — seus modelos para contextos totalmente diferentes. Para tentar entender como é este tipo de trabalho fora do Ocidente, Rest of World falou com trabalhadores de plataforma em todo o mundo. Através de uma pesquisa com mais de 4.900 trabalhadores, realizada em parceria com a empresa de pesquisa Premise, e de entrevistas com dezenas de outros trabalhadores, temos tentado captar suas experiências. Encontramos grandes semelhanças: o trabalho precário em plataformas é estressante e frágil; paga relativamente bem, mas também tem custos elevados devido aos gastos com combustível, internet e seguros. Os trabalhadores, seja dirigindo um táxi na Etiópia ou um caminhão na Indonésia, não sentem que podem recusar as demandas, o que significa que raramente o trabalho é tão flexível como as empresas dizem.

Os problemas em comum que os trabalhadores precários em plataformas enfrentam, seja em Manhattan ou Mumbai, Joanesburgo ou Londres, estão estimulando a criação de um verdadeiro movimento global. Motoristas e entregadores estão se juntando através das fronteiras, pressionando as empresas e governos a reconhecerem um fato simples: trabalho precário é trabalho, e precisa ser melhor remunerado.

Médicos, motoristas, entregadores: as verdadeiras vozes do trabalho precário em plataformas

Colômbia

53,9 quilômetros

A distância percorrida em um dia por Lisandro Linarez, entregador da Rappi na Colômbia.

 

Sri Lanka

25%

O valor pago por Nangahami Premawathi, motorista de tuk-tuk, para os aplicativos de corrida no Sri Lanka.

 

Indonésia

5.0

A avaliação perfeita do motorista de caminhão Apriansa.

 

Índia

1.000 chamadas

O número de consultas online feitas em um mês pelo médico indiano Girikumar Venati.

 

Coréia do Sul

21.300 won

Cerca de $18,50. Isso é quanto o entregador Jang Hyuk ganha por hora na Coréia do Sul.

 

África do Sul

400 rand

Cerca de $28,00. Isso é quanto o faxineiro Nomagugu Sibanda ganha por dia na África do Sul.

 

Etiópia

13 horas

A jornada de trabalho do motorista Ashenafi Alemseged na Etiópia.

O trabalho nas plataformas é precário por natureza. Mesmo que mais da metade de todos os trabalhadores dependam dele para a maior parte de sua renda, 40% deles ganham menos do que o salário mínimo. Mas não se trata apenas de dinheiro. É sobre fragilidade e insegurança. Dia a dia, os trabalhadores precários se preocupam com sua saúde, sua segurança, e se eles vão ou não fazer o suficiente para cobrir seus custos. Mais de 60% dos trabalhadores querem desistir dentro de um ano. Esse tipo de trabalho é pior para as mulheres, que ganham menos nas plataformas do que os homens. Enquanto isso, embora as maiores plataformas estejam remodelando a força de trabalho global, poucas dessas empresas mostraram que podem ter lucro de forma sustentável, dependendo de investidores para estimular seu crescimento.

Traduzido por Marco Túlio Vieira.

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