Os três companheiros de trabalho combinaram de fumar maconha na praça próxima ao escritório depois do expediente. Entre risadas, cada um contava suas pequenas estratégias para trabalhar menos ou expropriar migalhas da empresa. A moça contava que levava para casa pequenos objetos, como o apoiador de guardanapos. Ah, disse o outro, eu descobri o truque perfeito! Pego um maço inteiro desses pratos de plástico que ninguém usa. Os outros dois não entenderam bem a genialidade. Claro, porque assim em casa já não tenho de lavar os pratos! Termino de comer e direto para o lixo! Passa Palavra

7 COMENTÁRIOS

  1. No meu trabalho uns colegas me aplicaram no assalto à cozinha. Em algum horário de menor movimento nos corredores, alguém que sacar o momento propício dá um salve no wahtsapp e dois ou mais dão uma pequena ronda e ficam vigiando os acessos, enquanto outro vai para a cozinha e pega o espólio.
    Em um dia de muita correria, a chefe do setor, que era uma megera e assediadora moral, encheu muito o saco de um colega. Ele estava muito cansado e muito puto no dia. Tão cansado e tão puto que nem seguiu os protocolos e foi sozinho assaltar a cozinha. E lá achou uma tupperware com o nome da chefe e levou para nossa sala. Era uma torta de frango feia, mas o colega a devorou de um jeito que parecia um transe de ritual canibalístico. E o humor dele melhorou para aguentar o resto da jornada! E o estômago da chefe que ronque.
    Tinha um outro cara lá que virou gerente e para fazer jus a um novo ciclo de vitórias na vida, resolveu deixar de ser gorducho e virar bombadinho (já tinha até a tattoo maori mal feita). Aí entrou naquela rotina de academia e dieta. O bonitão simplesmente ocupava o congelador da geladeira inteiro só com as marmitas fitness low carb dele! Esse cara era um babaca autoritário, arrogante, burocrata de merda, playboy mandão que adorava mostrar para trabalhador que era ele quem tinha o relógio no pulso e o chicote na mão.De tempos em tempos, quando era algum dia D e hora H nós formávamos nossa força tática e assaltávamos a geladeira para roubar as marmitinhas. Um dia levei para a casa uma dessas marmitas. Cheguei do trabalho (como sempre por volta das 23h e com fome), tomei um banho relaxante, depois abri uma cerveja e coloquei a comida no microondas. Depois levei a comida para a mesinha de centro, sentei no sofá e fumei um só pra dar aquela apertada na larica. Coloquei luzes baixas tipo de restaurante chique, uma musiquinha e aí entrei no transe do ritual canibalístico. Dei sorte que essa marmita tinha um carboidrato (arroz integral e grãos), duas almôndegas no molho de tomate e uns legumes cozidos. A comida era sem tempero, bem ruim, mas comi com prazer.
    Em outra ocasião era um evento que estava rolando na empresa, com palestrantes e chefes todos bem vestidos e maquiadas. E nós lá com a roupa de sempre e na correria pra fazer tudo acontecer, e os chefes como sempre só falando e fazendo pose para fotos. Uma colega da faxina nos contou que depois de tudo haveria um lanche mas só para os chefes e convidados, depois que o público fosse embora e enquanto nós estivéssemos além do horário cuidando de recolher equipamentos e organizar as coisas. Enquanto o evento rolava e as atenções estavam todas no auditório, os caminhos para a cozinha estavam limpos. Lá fomos nós pra ver o que tinha, abrimos a porta, ligamos a lâmpada e nos deparamos com o banquete de Babette: coxinhas, empadinhas, risólis, enroladinhos de queijo, enroladinhos de salsicha, mini kibes, mini pizzas, pasteizinhos, croquetes, bolinhas de queijo, uns com uvas passas que nem sei o nome, Coca-Cola, Fanta, Guaraná, Schweppes, sucos La Fruit… De forma bem rápida e com a adrenalina lá em cima nós pegamos pratinhos e montamos alguns kits para distribuir entre os colegas que ficariam de fora da festa. Distribuimos e combinamos: se ficarmos, vamos trabalhar além do horário normal para organizar tudo e estamos com o flagrante aqui, seria constrangedor. Como vamos esconder os kits de salgadinhos e as garrafas de refri e as caixinhas de suco? O melhor era assinarmos o ponto no horário normal, sairmos enquanto as atenções estivessem em algum palestrante chato e depois justificarmos dizendo que já tinha dado o horário. Amanhã a gente arruma a bagunça e limpa os restos que deixarem na cozinha.
    Essas molecagens, assim como sabotagens, os pequenos vandalismos, e as malandragens de conseguir uns minutinhos extras de descanso, não vão nos levar a lugar nenhum. Na verdade é bem arriscado e pode dar algum tipo de perseguição ou punição. Mas num contexto de tanta desorganização, apatia, colegas que são individualistas e não querem ir à luta, chefes folgados, de tantas derrotas… é com a molecagem que vamos aguentando a chatice que é trabalhar ali.

  2. No banquete de Francesco só a marmita do (trabalhador) opressor? Ação direta na geladeira da piãozada? Então, nesta mesma toada…: Troféu Lumpen às (trabalhadoras) “feministas” por seus escrachos aos (trabalhadores) machistas. Troféu Lumpen aos (trabalhadores) negros contra os privilégios dos (trabalhadores) brancos… e assim por diante… No tempo de Raul Seixas, dois homens fumando junto era muito arriscado… Hoje é digno de Troféu Lumpen… (com direito a self na internet!!!). São estes os novos caminhos escavados pelas Novas Toupeiras? Creio que das Velhas Toupeiras não os são…

  3. Parafraseando Vandré:
    … Ainda fazem do “base” seu mais forte refrão
    E acreditam no “base” vencendo o canhão…

  4. Jean-Jacques Rousseau: “Quando o povo não tiver mais nada para comer, comerá os ricos”.
    Ação Direta: “Com ou sem comida, comamos os ricos”!

  5. Saudades de quando era moleque e fazia essas “traquinagens”, como dizia o meu avô.

    Mas um dia caiu na minha mão uns livros doidos… Manifesto, O que fazer?, Veias abertas.

    Hoje só voto na esquerda e não dou trela pra reaça.

    Nosso dia vai chegar, teremos nossa vez.

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