Por professores anônimos

Às mães, pais e demais responsáveis e interessados pela educação,

Levando em consideração comentários e dúvidas que recebemos nos últimos dias ou que observamos circular nos grupos de comunicação e redes sociais, nós, professores e professoras, gostaríamos de responder algumas questões. Levaremos essas respostas até vocês de forma anônima, para evitar represálias. Além disso, salientamos que esta carta aberta não é uma comunicação do SINPRO. Por motivos óbvios, se você fizer as mesmas perguntas a um docente da escola de seu filho ou filha ele provavelmente não responderá ou o fará de forma a tangenciar a pergunta, posto que terá receio de ser identificado ou de ter sua posição exposta. Essas mesmas perguntas feitas a um dono de escola particular, diretor, coordenador ou a um membro do SINEPE, muito provavelmente teriam uma resposta linda, de que tudo está bem, que amam os direitos dos professores, que dariam suas vidas para defendê-los e que os professores são uns tolos manipulados pelo SINPRO. Então, sem delongas e tentando ser didático como os professores buscam ser, vamos às perguntas.

1. A mobilização dos professores se refere a alguma demanda salarial?

NÃO! O reajuste desse ano já foi dado (ficando em cerca de 4,5%) na maior parte das escolas. A categoria raramente se mobiliza de forma tão intensa por conta de reajuste salarial, a não ser quando a defasagem em relação à inflação se acumula em demasia, ou quando o sindicato patronal oferece reajustes escandalosamente abaixo do IPCA (sobretudo em anos de IPCA elevado).

2. Então qual é o grande incômodo da categoria?

O SINEPE (sindicato que representa as escolas particulares) propõe retirar ou alterar a redação de artigos importantes da convenção coletiva, sobretudo os que afetam a isonomia salarial, os dias de férias e recesso e a única progressão de carreira que temos (o quinquênio). Essas cláusulas são absolutamente FUNDAMENTAIS, sem elas professores correm muito risco de terem seus rendimentos e empregos dilapidados a médio e longo prazos. É uma questão de FUTURO da profissão e da educação. O SINEPE afirma que quer “modernizar a redação dos artigos da convenção”, mas as alterações propostas por eles sempre geram a possibilidade de interpretar os artigos da convenção de modo a torná-los não obrigatórios. Apesar de toda a ginástica retórica, nada mais é que acabar com as garantias jurídicas para os professores. Queremos que a convenção seja renovada com os artigos redigidos como estão, dando segurança e previsibilidade que se transformam em tranquilidade e motivação para exercermos nossa profissão na sala de aula junto aos jovens e crianças.

3. E as escolas que afirmam que manterão os direitos dos professores? Mesmo com essas instituições existe motivo para insatisfação?

Não existe motivo para insatisfação com nenhuma instituição de ensino em específico. No geral, os professores gostam do ambiente de trabalho, nossa profissão oferece momentos muito satisfatórios, os colegas de trabalho, os estudantes, os desafios e a dinâmica da sala de aula são maravilhosos. Mas o que garante que teremos respeitados nossos direitos é a convenção coletiva, pois ela oferece segurança jurídica (para as instituições e para os docentes). Desse modo, qualquer negociação direta entre escola e professores que não passe pela Convenção Coletiva é incerta e instável. Nossa categoria não tem estabilidade de emprego, porque estamos no setor privado e, no ano que vem, qualquer professor (por diversos motivos) pode ser levado a trabalhar em outro colégio. A realidade econômica de uma escola pode ser alterada, bem como seus gestores e sua visão administrativa. Ou até mesmo ela pode ser comprada por algum grupo financeiro. Tudo isso pode fazer com que uma escola que mantinha direitos da convenção passe a não os manter. A única GARANTIA, portanto, é o documento válido legalmente para TODAS AS ESCOLAS. Ou dependeremos da boa vontade e do favor dos outros. Não trabalhamos por favor, isso é retroceder em termos civilizacionais, é se acomodar na tradição personalista da cultura brasileira, de apadrinhamentos, de favorecimentos, de beneficiar de quem se gosta e excluir de quem se desgosta. Não há espaço para isso em uma sociedade que se pretenda moderna! As escolas garantem os direitos hoje justamente por serem isso, DIREITOS. Não é uma escolha da escola, não é um favor, é uma condição pactuada na convenção (que a escola responderia em tribunal caso não respeitasse). Portanto, uma escola que afirma “aqui nós já garantimos os direitos dos nossos professores” está distorcendo a situação, nenhuma escola tem esse poder individualmente e tal colocação não tem força legal, não é, portanto, uma GARANTIA. A atitude significativa mesmo seria essas escolas pressionarem e alterarem a posição do SINEPE, que as representam (ainda que falem o contrário, é o sindicato das escolas)! Do ponto de vista dos professores, a convenção coletiva tal como ela está é o ponto central da questão. Não importa a escola afirmar que discorda do SINEPE, que garantirá os direitos mesmo se eles deixarem de ser direitos (o que é absurdo, inclusive), a única segurança que os professores têm, em QUALQUER ESCOLA, hoje e no FUTURO – sempre incerto – é a Convenção Coletiva.

4. O que leva os professores de algumas escolas a aderirem a greve e outros não?

Pressão, medo de retaliações e assédio. Nenhuma instituição vai admitir essas práticas, não adianta perguntar para a escola se ela assim procede. Muito pelo contrário, as instituições nas quais os professores se mobilizaram e engrossaram o movimento provavelmente estão entre aquelas que respeitam seus profissionais de forma mais completa (então valorize estas escolas e esses professores)! Em todas as escolas existem professores insatisfeitos com a proposta do sindicato patronal, em todas o professorado reluta ao máximo em paralisar suas atividades e os docentes querem que a situação se resolva o mais rapidamente possível. Por isso o acolhimento da comunidade ou ao menos a compreensão da situação (ainda que não apoie) é fundamental, pois muitas vezes é o único alívio para o medo e a tensão, justamente num momento em que os professores se veem obrigados a uma luta absurda e ridícula: lutar simplesmente para não ter sua vida materialmente e simbolicamente prejudicada.

5. Vocês têm algum sonho? (essa pergunta é uma brincadeira, claro)

Sim! Que a convenção seja renovada por mais de um ano, não queremos esse desgaste todo ano, é muito chato! Que as reuniões de “negociação” (não é negociação, já que nenhuma reivindicação dos professores é aceita, apenas se propõe retirar ou alterar a redação de artigos da convenção de modo a torná-los não compulsórios, e já foram 19 reuniões de negociação neste ano!) entre SINEPE e SINPRO sejam transmitidas numa live ou gravadas, imagina o quanto seria esclarecedor para as famílias! Que as escolas que afiançam defender os direitos dos docentes atuem coerentemente com essas afirmações, pois até agora não vimos alteração nenhuma na postura do SINEPE. Que as famílias compreendam a situação, que é chata e gera alterações na rotina, e quem sabe até possam simpatizar com os docentes. E finalmente, que nossos estudantes alcancem seus sonhos, tenham uma vida próspera e se realizem como seres humanos!

 

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