Por Alguns dos funcionários demitidos

 

ÀS FAMÍLIAS DA COMUNIDADE CASTANHEIRAS

Nos dias 14, 15 e 18 de dezembro fomos surpreendidos com a demissão em massa de mais de quarenta dos nossos colegas.

Foram demitidos

  • mais de 22 professores entre unidocentes e especialistas (os que “optaram” por se desligar não entram nesta conta);
  • entre professores assistentes, auxiliares de sala e assistentes de práticas inclusivas foram pelo menos 14;
  • monitores, ao menos 7;
  • uma profissional da enfermaria;
  • o coordenador de Fundamental 2 e Médio;
  • a orientadora educacional de 1º e 2º (Fund. 1), a orientadora educacional de 6º e 7º (Fund. 2) e a orientadora do ensino médio (o orientador de 8º e 9º também saiu, mas por opção).

Na reunião de 12 de setembro, portanto três meses antes das demissões, o novo projeto da escola foi apresentado e, certamente, os educadores que sairiam já estavam definidos. Por que fazer as demissões às vésperas do Natal, quando muitas das melhores vagas nas escolas já foram preenchidas? Os processos seletivos mais concorridos e com melhores salários ocorrem normalmente entre outubro e novembro. Por que não nos foi dada a possibilidade de participar desses processos? Em reuniões com a equipe docente, havia a promessa de que em outubro já saberíamos nossas cargas horárias e frentes de trabalho para 2024. Por que isso não aconteceu?

Na reunião com os pais que aconteceu no dia 19 de dezembro, a nova diretora afirmou que houve professores desligados por não poderem trabalhar em tempo integral na escola. Porém, na verdade, os professores não foram consultados em nenhum momento sobre suas disponibilidades para 2024. Muitos professores tiveram sua carga horária reduzida arbitrariamente. Outros foram simplesmente demitidos sem consulta nem explicação.

Processos de seleção para a Castanheiras já haviam sido divulgados nas redes sociais no mês de novembro, porém, internamente, fomos comunicados em reunião geral de que se tratavam de contratações complementares às já existentes. Na reunião de alinhamento do ano de 2024 que aconteceu nesta segunda-feira, dia 18/12, compareceram professores contratados já nesse processo.

Docentes e demais funcionários que têm filhos na escola foram informados no ato da demissão que não poderiam mantê-los como bolsistas no próximo ano, o que não era a conduta adotada até então, tampouco nas escolas de mesmo porte ou valor de mensalidade. As famílias tomaram conhecimento disso nos dias 14 e 15 de dezembro, após o tempo ideal de matrículas, próximo ao recesso, sem chance de preparação para uma mudança desse porte, que requer estudo, pesquisa, assim como visitas a instituições. Nesse sentido, a manutenção da bolsa desses alunos não se trata de um “prolongamento do luto” pela saída de seus familiares da escola, mas sim de um período necessário para a elaboração desse luto e para sua reestruturação pessoal e familiar.

Outros casos críticos estão relacionados à perda do plano de saúde para casos em que a troca do plano, por conta da carência, acarretará prejuízos imensos, como no caso da gravidez de uma dependente e da cirurgia já marcada de uma funcionária.

Motivações para as demissões

Em cartas abertas à comunidade e em mensagens enviadas a grupos de pais e mães, a escola se pronunciou afirmando que as motivações para as demissões dos professores visam a melhoria do ensino e a implementação do currículo IB para todos os anos. Infelizmente, as justificativas não se sustentam.

Afirma-se no e-mail enviado às 19h de domingo, dia 17 de dezembro:

  • que haverá aulas de Circo uma vez por semana, omitindo que esta aula de Circo será uma das duas aulas de Educação Física da semana. Ou seja, o que antes eram três aulas de Ed. Física, serão agora uma aula de Ed. Física e uma aula de Circo;
  • que haverá “revisão da proposta de inglês”, omitindo que o sistema de nivelamento adotado desde o ano passado para as turmas do Fundamental 2 será extinto, diminuindo o número de professores no quadro e aumentando o número de alunos por sala;
  • que haverá “reorganização do Diploma IB”, omitindo que diversos profissionais que dominam o inglês e tiraram os certificados do IB (subsidiados pela escola) foram mandados embora—entre esses, três dos oito professores da disciplina de Língua Inglesa;
  • que haverá introdução de aulas de Produção de Texto dentro do aumento da carga horária de Língua Portuguesa, o que nos deixa sem entender por que motivo a professora de Produção de Texto que já estava na escola foi demitida.

Estas são apenas algumas das contradições que podem ser facilmente detectadas por quem viu o processo acontecer de dentro dos muros da escola.

Para que ocorra o aumento da carga horária de disciplinas mencionadas acima, há a necessidade da diminuição de outras. No caso dos currículos de 6º e 7º anos, as aulas de Ciências Naturais, em 2024, serão apenas duas por semana. Uma perda significativa, uma vez que, no ano de 2023, foram três encontros semanais que possibilitaram a vivência em laboratórios em conjunto com os momentos em sala de aula, promovendo um aprendizado mais dinâmico e expressivo. A disciplina de STEAM passará a ser ministrada em inglês a partir do 1º ano do Fund. 1. Qual a justificativa para o desligamento dos atuais professores da área, todos com formação em Ciências? A interdisciplinaridade inerente ao STEAM requer um corpo docente capacitado. A dispensa de profissionais, incluindo um com certificação IB e proficiência em inglês, levanta questionamentos.

Outra imensa perda está no currículo de Ciências Humanas destas duas séries: a partir de 2024, o currículo de Geografia e História será fundido em apenas uma disciplina, com duas aulas semanais. Salientamos uma perda profunda, pois no ano de 2023, o currículo era composto por três aulas de Geografia e três de História, totalizando seis aulas na área de Ciências Humanas. Por conta dessa diminuição de carga, professores dessas disciplinas foram demitidos. O que se espera de um currículo voltado às noções de cidadania e conhecimento tanto espacial como histórico será gravemente prejudicado.

Além desta grave diminuição da carga horária de Ciências Humanas, a subjetividade e criatividade dos alunos terá espaços limitados. A Castanheiras, notória por cuidar de aumentar o repertório cultural de seus alunos, terá uma redução drástica no quadro de aulas de artes, reduzindo aulas de música, teatro e artes visuais para alunos a partir do 4° ano. Devido a essa diminuição de carga horária, professores dessas disciplinas perderam aulas, outros foram demitidos.

O corpo docente da Castanheiras, já conhecido por todos como grupo de competentes realizadores de projetos que engajam ativamente os alunos e encantam as famílias, não foi ouvido neste processo e será descartado como se não pudesse se adequar a quaisquer demandas da comunidade, como já se adequou de forma bem sucedida tantas vezes no passado a novas tendências educacionais e aos desafios da pandemia.

Precarização do organograma

A partir do início da vigência da direção geral que iniciou as mudanças mais drásticas e recentes na escola, pudemos perceber diversas instâncias em que o corpo docente e os funcionários sofreram perdas significativas. É importante frisar que a escola historicamente mantinha um colegiado de caráter consultivo que deixou de existir em 2022, momento em que as decisões passaram a ser unilaterais.

Em relação à hierarquia da escola, nos últimos dois anos, decisões tomadas prejudicaram o trabalho de todo o corpo docente. Além das diversas funções que eram atribuídas a docentes que estavam dentro de sala de aula, foram demitidos dois coordenadores pedagógicos e dois diretores pedagógicos que trabalhavam em 2022 diretamente com os professores em sua formação, nos planejamentos de currículos, nos projetos de série, nos trabalhos de campo e nos eventos pedagógico-culturais da escola. A direção pedagógica foi substituída por uma direção geral que não participou das discussões pedagógicas, voltando suas atenções à operação financeira da escola.

As coordenações pedagógicas, que antes eram separadas por ciclo, foram substituídas por apenas um coordenador pedagógico para o Fund. 2 e Médio, que teve que lidar com a sua própria adaptação a uma nova escola, ao novo sistema Totvs, e aos projetos que já estavam em andamento, além de conhecer os alunos. Este coordenador foi demitido na semana passada.

Ao final deste ano, todos os orientadores educacionais de Fund. 2 e Médio serão substituídos. O prejuízo futuro para a cultura escolar e para o sentimento de pertencimento de alunos e funcionários não pode ser medido. Os vínculos serão desmanchados e esse longo processo de construção começará da estaca zero, com orientadores novos que não conhecem os alunos, além de chegarem com a responsabilidade de cuidar de um número maior de séries, e com coordenadores e docentes novos que não conhecem o projeto da escola.

Apesar das afirmações recentes de que os professores não se enquadram no perfil da instituição, considerando todas as dificuldades enumeradas, sabemos que a continuidade do trabalho se deu este ano por conta do corpo docente flexível e qualificado que sabe tocar os projetos que já fazem parte da cultura escolar da Castanheiras.

Precarização dos contratos de trabalho

No ato da demissão, alguns professores foram informados de que os novos contratos de trabalho para a docência na Castanheiras serão similares ao modelo conhecido como “pacote de horas”, que consiste em um contrato de 40 horas semanais que são distribuídas em horas de sala de aula e horas-atividade. Professores foram demitidos com a justificativa de que seus horários e salários seriam incompatíveis com o que seria praticado dali para a frente. Farão parte do corpo docente professores anteriores a essa nova leva, com remuneração, carga horária e benefícios diferentes dos novos contratados. Lembramos aqui que diversos professores que permanecem tiveram suas cargas horárias reduzidas—não lhes foram oferecidas opções nem aumento de carga horária.

Os assistentes e monitores foram em sua maioria demitidos. Na reunião marcada entre a nova diretoria e os pais, ocorrida no dia 19 de dezembro, afirmou-se que os novos monitores serão mais qualificados. Também foi dito que os assistentes terão funções pedagógicas, como cuidar dos alunos durante o intervalo. Se a função dos novos assistentes é ficar na sala de aula integralmente e durante os intervalos, em que horário farão suas pausas? Em que horário se prepararão para as próximas atividades? Em que horário poderão conversar com os professores sobre as práticas de sala de aula?

Em relação aos contratos de trabalho, dentro deste curto período, foram percebidas mudanças que representam mais responsabilidades e mais carga horária, mas com menor remuneração. Isso é preocupante não só pela qualidade do trabalho que será desenvolvido, mas também por motivos de saúde que são cada vez mais frequentes no mundo da educação.

Sendo realistas, devemos considerar que a remuneração competitiva da Castanheiras era um fator crucial para seu alto nível de recrutamento. Por conta do contrato de trabalho atrativo, profissionais se deslocam diariamente desde São Paulo e outras cidades do interior, chegando a dirigir mais de 100 quilômetros por dia. Alguns resolveram se mudar de suas cidades para regiões vizinhas à escola. Sem dúvida, as mudanças nas condições afetarão a posição da escola no mercado de trabalho. Se a escola planeja fazer ajustes nesses aspectos, é fundamental realizar uma análise cuidadosa dos possíveis efeitos sobre a força de trabalho e a reputação da instituição.

Por fim, considerando a forma como se deram as demissões ao fim deste ano, tememos pelos colegas que permanecem na escola em relação à atmosfera de apreensão e insegurança que se instalará entre os educadores.

Nosso objetivo

Nós, alguns dos funcionários que fomos desligados desta escola, tínhamos como objetivos primordiais na escrita desta carta:

  • informar a comunidade sobre os acontecimentos recentes;
  • pedir a manutenção das bolsas para os estudantes no ano de 2024;
  • pedir a manutenção do plano de saúde dos funcionários que têm casos críticos em andamento.

Fomos informados durante a escrita desta carta que a direção se comprometeu em manter as bolsas dos filhos de funcionários. Acreditamos que isso tenha acontecido por força da pressão que o grupo de pais exerceu nos administradores da escola. Por isso acreditamos no poder desta carta, que pode também servir como forma de reação em nome de funcionários que ainda poderão sofrer com o desligamento.

Os planos de saúde de funcionários demitidos estarão vigentes até meados de janeiro de 2024. No entanto, casos seríssimos, como o de uma dependente grávida e o de uma cirurgia já agendada estarão descobertos.

A administração da empresa informou aos funcionários que a portabilidade entre planos pode ser feita sem carência pelo sistema da ANS, o que tem sido tentado sem sucesso pelos funcionários, gerando angústia e insegurança. Além da demissão, prejuízos financeiros imensos estão à espreita em 2024. Pedimos que a manutenção dos planos de saúde nesses casos sejam considerados e que sua vigência seja estendida.

A Escola Castanheiras, que sempre prezou por valores humanitários, civilizatórios e justos, não pode defendê-los apenas em abstrato. A bandeira só tem significado quando as ações de quem a carrega refletem este significado. Este é um dos momentos em que esses valores devem tornar-se ação. O bom educador sabe que o exemplo é a maior lição. A escola tem a oportunidade agora de dar esse exemplo.

Assinam essa carta alguns dos funcionários demitidos pela Escola Castanheiras em dezembro de 2023

20 de dezembro de 2023

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