Por Alan Fernandes

Sete anos se passaram desde o movimento de ocupações de escola no Rio. O cenário da educação está muito diferente daquele que nos deparamos. Uma reforma do Ensino Médio foi aprovada e o NEM (Novo Ensino Médio) deu cara nova e novos desafios ao movimento estudantil e ao corpo docente.

Apenas a título de exemplificação, uma das pautas do movimento secundarista era garantir dois tempos das disciplinas de sociologia e filosofia no currículo. Naquela época a medida chegou a ser aprovada, mas o NEM impôs que a obrigatoriedade dessas disciplinas fosse revogada. No lugar, entraram itinerários formativos pouco claros como “O que rola por aí”, “Projeto de vida” e afins.

Há tempos, também, não havia eleição para diretores nas escolas e quem administrava era, geralmente, um indicado da SEEDUC/RJ (Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro). Assim que a regularidade das eleições foi retomada, algumas escolas optaram pelas mesmas direções do período anterior às ocupações. Um caso emblemático é o da Escola Estadual Prefeito Mendes de Moraes. Os ocupantes conseguiram, depois de muita luta, a exoneração de seu diretor autoritário, uma pauta deles, para que meses depois a escola elegesse o diretor adjunto, ou seja, o sucessor do exonerado. Isto pode ser explicado pela polarização gerada durante aquele ano com a ascensão do movimento político “Desocupa Tudo”, formado por estudantes contrários ao movimento de ocupação. Na leitura destes, partidos políticos de esquerda “politizaram” a escola sem se importar com a formação e benefício dos próprios alunos.

Passados todos estes anos os prédios, as escolas, continuam ali, sendo administrados à sua maneira. Os ex-alunos seguiram diversos caminhos. Alguns se filiaram a partidos da esquerda, outros se organizam em coletivos apartidários, alguns simplesmente foram para o mercado de trabalho e “esqueceram essa coisa de política”. Alguns que tinham a clareza de que era preciso estar mais atento à situação da educação e da democracia na escola, ironicamente, escolheram para o seu futuro a farda do exército e muitos ajudaram a eleger Bolsonaro em 2018. Há aqueles também que seguem acreditando em todas aquelas pautas, mas dizem que “o esforço não compensou”.

Um documentário recém-lançado pelo Centro de Mídia Independente (CMI-Rio) combina registros de 2016 com algumas entrevistas mais recentes sobre o saldo dessas ocupações. O ouvinte não encontrará nele um apanhado histórico preciso, também não disseca os desdobramentos das ocupações nos dias de hoje. Não. Mas aposta no relato direto destes estudantes como uma fonte de esperança nas lutas do futuro. Só isso já é um mérito exemplar.

 

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