Por M.h.
1.
arranque minha cabeça fora,
meu cérebro não se interessa se
está desconecto, ele não se importa;
vai passar um filme, sente para assistir
toda nossa história juntos.
arrancaram minha cabeça fora e
mesmo assim eu senti saudade,
meu cérebro nem lembrou de ter
sido subtraído do meu corpo,
ele lembrou de tudo.
eu chorei por você
por uma última vez.
2.
descansar nos braços do
meu (abusador) amado
é meu deleite de rosas
brancas.
eu sei que ele sente meu
corpo tremendo, ele sabe
a dor que me causa mas
me abraça como se
meu campo florido e
(morto) vivo fosse abrir
os braços como as flores
fazem para receber a chuva.
3.
antes elas se guardavam e faziam
até uma escada para competir quem
chegava ao topo dos meus conflitos.
a primeira vez que experimentei
a droga papel e caneta houve gritos
de negação e muita revolta entre elas.
não pude mais controlar, se tornou um
parque aquático e elas estavam no
tamanho certo para descer no escorrega.
não entendi a rebelião, elas mesmas resolveram se tornar grandes, e minha
vingança foi a exposição.
4.
no pequeno campo de girassóis o sol batia e reluzia, jurei que não deixaria nada
tapar esse brilho.
mas você chegou.
como uma praga escura que contaminou todo meu esforço.
“pare de ser tão insegura, não há nada com que se preocupar aí dentro, saia desse
casulo enorme pintado de amarelo”
mas queria que você parasse de falar tanto, queria que deixasse apenas o vento
bater em nossos rostos e deixasse eu te perguntar uma única vez:
“se ele reluz como antes, se não há nada com que eu deva me apavorar, por que
sempre que piso um pé para dentro eu encontro alguns dos meus girassóis
mortos?”
5.
todos os malditos dias em que eu descansava no pé da janela, quando o pincel
invisível enjoava do azul acinzentado e as estrelas se mexiam para uma coreografia
que ninguém além delas sabia;
eu as observei tanto que me irritei, elas sempre estavam como se posando para
uma maldita fotografia infinita;
todo maldito dia em que eu descansava no pé da janela, elas nunca mudaram de
lugar.
isso até eu me cansar e me mudar.
como eu exigiria mudança de algo natural que dança a própria melodia sem olhar
aqui para baixo?
6.
acho que preciso dele em
todos os aspectos. acho que
não quero mais dividir uma
mesa com o nada e pedir
uma prato de casal, não quero
mais que ninguém entre
pelas portas do fundo se
não for ele. fingir que
estou feliz nesse mesa
vazia sendo que tudo o que
eu quero é sorrir para ele.
estou escondendo o que meu
ser realmente quer.
ele. preciso fugir sem pagar
a conta e ir atrás do lugar
onde ele está, é tão longe mas
tão perto e quanto mais eu
corro de mais calma eu preciso.
ele. eu preciso dele em todos os
aspectos e é ele com quem eu
não quero mais esconder as
minhas tristezas. é com ele.
eu quero ouvir tudo, seja ruim
ou bom. contando que seja
algo falado por ele.
ele.
7.
um espelho e a separação entre
sombra e luz da sala chamada de
casa. nunca deixar a sombra te consumir
por inteiro e às vezes brincar de
fada e voar no imaginário da sua
cabeça. escutar que você é incrível e
que não faria mal algum a si mesma.
acreditar tanto na mentira que as
crueldades feitas por essas delicadas
mãos passassem acenando feito uma
princesa. então o choque vem e você
percebe que é má, quando a sombra
está grande demais para assustar a
última fresta de luz que ainda tinha
esperança. nunca deixar a sombra te consumir por inteiro e você só lembra disso
quando ela já consumiu e quando
você nem lembra mais onde deixou
as asas de fada.
A pintura em destaque é de Vincent Van Gogh (1853–1890).
M.H., justamente no momento certo! Estive me perguntando quando viria a próxima dose dilacerante das tuas palavras. Há algo entre elas, no qual me vejo. As imagens de sua escrita é nítida, vívida e única, como meu espelho de tempos atrás. Os sentimentos nunca mortos, mas transmutados dentro de nós, sempre procuram escapes para fora deste parque aquático através de algum maldito tobogã, se refletindo em arte. Nós somos arte, tal qual tudo que fazemos. Obrigado por compartilhar a sua conosco.
P.S.: Não se intimide com o sangue que escorre na dança entre o papel e a caneta. A música que toca aqui é totalmente sua, de mais ninguém.
Eu agradeço imensamente a você, momento vivere.
Fico muito feliz que minha escrita atravesse meu leitor, é exatamente o que busco escrevendo, mais uma vez, muito obrigada!